O problema da autoconsciência na Psicologia de Aristóteles (1865) e na Psicologia do Ponto de Vista Empírico (1874) de Franz Brentano
Gabriel L. Duarte
A presente comunicação tem como objetivo expor o problema da autoconsciência segundo as obras Psicologia de Aristóteles (1865) e Psicologia do Ponto de Vista Empírico (1874) de Franz Brentano. Investigaremos dois pontos relevantes para a compreensão do assunto: primeiro no que diz respeito a raiz comum do problema segundo Aristóteles e em segundo lugar os elementos de mudança na concepção de percepção interna em 1874. Brentano primeiramente tratou o problema na sua Psicologia de Aristóteles considerando uma passagem do De Anima onde o Estagirita afirma que já que percebemos que vemos e ouvimos, é necessário que seja ou pela visão ou por outro sentido que se percebe que se vê. Neste primeiro momento, o filósofo responde à questão de acordo com as interpretações clássicas de Tomás de Aquino, admitindo a existência de um sentido interno cujo objeto próprio seria a percepção em si, baseando-se no princípio aristotélico da individuação dos sentidos a partir dos seus objetos específicos. Em 1874 o filósofo posiciona-se contra a admissão de um sentido interno em vista da consequência de (a) uma complexidade infinita de atos e (b) a existência de fenômenos psíquicos inconscientes. O problema consiste em atribuir a consciência do fenômeno psíquico a um segundo ato distinto, pois, neste caso, ou (a) seria necessário admitir um terceiro ato que torna o segundo consciente e assim sucessivamente ou (b) seria necessário admitir que a consciência do ato não é ela mesma consciente. Brentano resolve este problema baseando-se em uma passagem do décimo livro da Metafísica do Estagirita, onde ele afirma que o conhecimento, a sensação, a opinião e a reflexão parecem sempre se relacionar com algo diferente de si mesmos, mas apenas acidentalmente consigo mesmos. Assim, o filósofo assume que a consciência de algo como objeto e a consciência dessa consciência não são dois fenômenos psíquicos distintos, mas dois aspectos de um mesmo fenômeno psíquico, elaborando a distinção entre o objeto primário e o objeto secundário da consciência, chegando à conclusão de que, uma vez que todo ato é simultaneamente o objeto secundário de si mesmo, não existem fenômenos psíquicos inconscientes. Além de evitar a consequência de uma complexibilidade infinita de atos e de fenômenos psíquicos inconscientes, a segunda solução de Brentano o serviu para explicar a condição da inefabilidade da percepção interna. Brentano afirmará que a admissão de um sentido interno é insuficiente para explicar a evidência imediata da percepção interna porque ela não poderia ser imediatamente evidente se ela tivesse como objeto um estado que fosse completamente diferente do próprio estado em questão. Mas porque nela o ato e o objeto estão completamente fundidos, e, deste modo, o ser e o aparecer do objeto coincidem completamente, a evidência imediata da percepção interna está garantida.