Pristimantis relictus: Nova espécie descrita para o Bioma! Confira!
Physalaemus cicada cantando, em Jaguaribe, Ceará, e na ESEC Seridó, Serra Negra do Norte, RN. Vídeo Willianilson Pessoa. Fotos Diego J. Santana e Adrian Garda, gravação a seguir, Adrian Garda (ESEC Seridó).
Descrita em 1966 por Werner Bokermann a partir de animais coletados no município de Maracás, Bahia (Bokermann, 1966). Espécie emblemática para a Caatinga, apesar de ocorrer também marginalmente em áreas do Bioma Mata Atlântica e, principalmente, no Cerrados de Minas Gerais (Silva et al., 2013). Seu canto, em coros intensos após chuvas mais fortes, é sua característica mais marcante, lembrando um coro de cigarras (daí o nome cicada, que faz referência à superfamília Cicadoidadea) pela intensidade e frequência com que os indivíduos vocalizam (veja vídeo ao lado).
A morfologia externa do girino de P. cicada foi descrita a partir de amostras de São João do Cariri, na Paraíba (Vieira e Azarbe, 2008), e é bastante similar as de larvas outras espécies do gênero, como P. albifrons e P. cuvieri. Com efeito, uma morfologia larval externa conservada é uma característica das espécies do gênero Physalaemus, e algumas espécies são discernidas apenas pelos cantos dos machos ou por análises moleculares. Da mesma maneira, as larvas desse gênero também se assemelham quanto à morfologia oral interna (Ruggeri e Weber, 2012). A estrutura dos cromossomos da espécie foi descrita em um trabalho de citogenética, demonstrando-se também muito semelhante à de outras espécies do gênero (Vittorazzi et al, 2016). Os pesquisadores acreditavam, com base em evidências morfológicas, que a espécie fazia parte do grupo P. cuvieri (Nascimento et al., 2005). Todavia, trabalhos usando marcadores moleculares sugerem que a espécie talvez não pertença a esse grupo (Lourenço et al., 2015).
Relativamente poucos trabalhos foram feitos com a ecologia e a história natural dessa espécie. Physalaemus cicada é uma espécie de reprodução explosiva que deposita os ovos em ninhos de espuma fabricados durante o amplexo (Arzabe, 1999). Um trabalho analisando a dieta da espécie em Lençóis, Bahia, encontrou como principais presas cupins e formigas (Santana e Juncá, 2007), enquanto outro, ao comparar a dieta de 3 espécies de Physalaemus (P. cicada, P. albifrons e P. cuvieri) encontrou, além de formigas e cupins, besouros como uma das presas mais abundantes. Além disso, detectou de uma alta sobreposição entre os nichos tróficos entre essas espécies (Oliveira et al., 2021).
Dois trabalhos avaliaram a espécie no contexto da comunidade de anfíbios onde elas ocorriam. O primeiro mostrou que essa era uma das espécies mais abundantes no Cariri Paraibano, partilhando locais de vocalização semelhantes aos de P. albifrons, Pleurodema diplolister, Dermatonotus muelleri e Corythomantis greeningi. O segundo avaliou a comunidade de anfíbios em Cabaceiras, Paraíba, mostrando que P. cicada não só usa sítios semelhantes, mas sobrepõe significativamente nos seus períodos de vocalização com P. albifrons, agregando-se em conjunto e cantando ao mesmo tempo (Protázio et al., 2015). Oliveira et al. (2019) avaliaram a fauna de helmintos parasitas encontrada nessa espécie e em duas outras do Bioma caatinga, P. albifrons e P. cuvieri.
Arzabe, C. (1999) Reproductive activity patterns in two different altitudinal sites within the Brazilian Caatinga. Revista Brasileira de Zoologia, 16, 851–864. Link
Bokermann, W.C.A. (1966) Notas sôbre três espécies de Physalaemus de Maracás, Bahia (Amphibia, Leptodactylidae). Revista Brasileira de Biologia, 26, 253–259.
Lourenco, L.B., Targueta, C.P., Baldo, D., Nascimento, J., Garcia, P.C., Andrade, G.V., . . . Recco-Pimentel, S.M. (2015) Phylogeny of frogs from the genus Physalaemus (Anura, Leptodactylidae) inferred from mitochondrial and nuclear gene sequences. Molecular Phylogenetics and Evolution, 92, 204–216. Link
Nascimento, L.B., Caramaschi, U. & Cruz, C.A.G. (2005) Taxonomic review of the species groups of the genus Physalaemus Fitzinger, 1826 with revalidation of the genera Engystomops Jiménes-de-la-Espada, 1872 and Eupemphix Steindachner, 1863 (Amphibia, Anura, Leptodactylidae). Arquivos do Museu Nacional, 63, 297–320. Link
Oliveira, C.R., Ávila, R.W. & Morais, D.H. (2019) Helminths associated with three Physalaemus species (Anura: Leptodactylidae) from Caatinga Biome, Brazil. Acta Parasitologica, 64, 205–212. Link
Oliveira, C.R., Cavalcante, L.A., Machado, H.T.d.S., Morais, D.H. & Ávila, R.W. (2021) Diet of three sympatric Physalaemus (Anura: Leptodactylidae) from the Brazilian semiarid region. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi - Ciências Naturais, 16, 13–19. Link
Protázio, A.S., Albuquerque, R.L., Falkenberg, L.M. & Mesquita, D.O. (2015) Acoustic ecology of an anuran assemblage in the arid Caatinga of northeastern Brazil. Journal of Natural History, 49, 957–976. Link
Ruggeri, J. & Weber, L.N. (2012) A survey of the internal oral features and external morphology of Physalaemus larvae (Anura, Leptodactylidae). Zootaxa, 3200, 1–26. Link
Santana, A.S. & Juncá, F.A. (2007) Diet of Physalaemus cf. cicada (Leptodactylidae) and Bufo granulosus (Bufonidae) in a semideciduous forest. Brazilian Journal of Biology, 67, 125–131. Link
Silva, M.C., Oliveira, D.B., Oliveira, H.F., Roberto, I.J., Morais, D.H., Brito, S.V. & Ávila, R.W. (2013) Geographic distribution of Physalaemus cicada Bokermann, 1966 (Anura: Leiuperidae) in Northeastern Brazil. Check List, 9, 1119–1121. Link
Vieira, W.L.S. & Arzabe, C. (2008) Descrição do girino de Physalaemus cicada (Anura, Leiuperidae). Iheringia, 98, 266–269. Link
Vittorazzi, S.E., Lourenco, L.B., Solé, M., Faria, R.G. & Recco-Pimentel, S.M. (2016) Chromosomal analysis of Physalaemus kroyeri and Physalaemus cicada (Anura, Leptodactylidae). Comparative Cytogenetics, 10, 311–323. Link