Gravidez em meio a pandemia: medos, aflições e cuidados indispensáveis
Gravidez em meio a pandemia: medos, aflições e cuidados indispensáveis
Em meio ao caos da pandemia de Covid-19, três mulheres “abrem o jogo” sobre suas dificuldades e medos em relação a experiência gestacional nesse período
Gabrielly Ribeiro e Stéfanny Manoelita
Junho de 2021
Neste último sábado, dia 26 de junho, foram entrevistadas três mulheres que passaram por uma gravidez em meio a pandemia. Sem direito a chá de bebê, com muitas dúvidas e medos, e para fechar com "chave de ouro", um isolamento total, as três recentes mães contam um pouco sobre suas gestações e como está sendo o período pós-parto.
É certo que a pandemia de Covid-19, anunciada em março de 2020, mudou a vida de muita gente e trouxe muitos desafios para todos. Em especial para as gestantes desse período, que se viram cercadas pelo medo e pela insegurança.
Pensando nessas mães, que estão encarando essa nova realidade, tivemos a oportunidade de conversar com algumas delas. Déborah Ribeiro, Bárbara Gonçalves, ambas de 34 anos, e Bruna Chagas, 30 anos, dividiram conosco, um pouco de suas rotinas complicadas e cuidados essenciais.
Início da gestação
Moradoras de diferentes cidades do estado de Minas Gerais, as três mães entrevistadas engravidaram em momentos distintos. A jornalista Déborah Ribeiro, 34 anos, engravidou em outubro de 2020, momento em que o nível de contaminação havia caído na cidade de Belo Horizonte, onde ela reside. A jornalista diz que “foi uma gravidez tranquila, com relação à minha saúde, mas tive atenção em estar no meio da pandemia e ter algumas privações”. No caso da nutricionista Bárbara Gonçalves, 34 anos, moradora de Uberlândia, interior de Minas Gerais, a situação foi um pouco diferente. Bárbara engravidou antes da pandemia, em novembro de 2019, sendo assim, ela já estava na metade da gestação quando a pandemia teve início. Ela ressalta que teve muito receio de contrair o vírus, pois tudo era muito novo e a empresa em que trabalha possui muitos funcionários e não foi permitido a ela a migração para o home office. Por último, temos a mamãe Bruna Chagas (30), arquiteta e residente da cidade de Araxá. Bruna descobriu estar grávida de 2 meses em abril de 2020 e relata que foi uma experiência boa, pelo fato de não ter sido infectada, mas que o medo era grande, pois “era uma doença muito nova, para qual não se tinha perspectiva de vacina até então”. Desse modo, ela ficou isolada quase todo o período da sua gestação.
Medos e inseguranças
Como já se podia imaginar, todas as mães compartilharam dos mesmos receios, medos e angústias acerca da gravidez. Contrair o vírus e passar para algum familiar ou até mesmo ter alguma complicação na saúde, advinda do COVID-19, são alguns exemplos. Em meio a tantos riscos, a arquiteta Bruna evidencia seu maior medo ao revelar que “tinha muito medo de ser infectada e a minha nenê nascer com algum problema ou alguma consequência dessa doença, que era muito nova, até então. Esse era meu maior receio, já que nenhum médico sabia me explicar muito bem quais seriam as possíveis sequelas no pós covid”.
Essa preocupação, infelizmente, não é infundada, uma vez que em MG, mais de mil mulheres já tiveram a doença, e o crescimento nos casos de um ano pra cá foram notados. De acordo com uma pesquisa feita pelo OOBC (Observatório Obstétrico Brasileiro de Covid-19), em 2020, 1141 grávidas contraíram o vírus, e neste ano já são 1197.
Rotina pós-parto e rede de apoio
Em relação a rotina do pós-parto, Déborah e Bárbara se sentem mais tranquilas, pois já tomaram a vacina contra a Covid-19. Contudo, elas deixam claro que ainda estão seguindo os protocolos de distanciamento e higiene, a fim de resguardar sua saúde pessoal e de seus bebês. Bárbara detalha o fato de que seu filho teve que ficar internado por uma semana assim que nasceu, e como ela tinha que ir ao hospital todos os dias, isso trouxe mais uma vez, insegurança em relação ao vírus. Hoje em dia, ela dispõe de uma babá que fica com seu filho enquanto precisa estar no trabalho. Entretanto, contratar uma babá não foi uma decisão muito fácil, mas Bárbara precisou tomá-la, junto ao seu marido, devido ao fato dos dois trabalharem e a ajuda ser necessária. No caso da arquiteta Bruna, desde o seu parto, ela só saía de casa para levar sua filha para tomar as vacinas e fazer as consultas necessárias. No momento, ela está trabalhando em home office e sua principal rede de apoio é sua mãe, pois o pai de sua filha reside em outro estado.
Como lidar com o emocional?
A pandemia afetou a saúde mental de grande parte da população. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país que possui maior prevalência de depressão na América Latina e o isolamento social, decorrente da Covid-19, agravou essa situação. No caso das mulheres grávidas, que já possuem diversas alterações hormonais nesse período, a reclusão é mais um fator negativo para a saúde mental delas e das mulheres no pós-parto. Como mostrou um recente estudo realizado pelo Departamento de Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp), estresse e ansiedade, seja de forma leve ou moderada, foi constatado em 25% das mulheres grávidas que participaram da pesquisa.
Déborah concorda com o fato de o isolamento prejudicar sua saúde mental e afirma que, cuidar de sua saúde física, assim como da mente, é um de seus maiores desafios. “A gente sente muito essa questão do isolamento”, afirma. E a jornalista ainda ressalta a dificuldade em relação a não poder pedir ajuda aos outros, principalmente, no período do pós-parto. Diferente de como foi em suas gestações anteriores, onde se podia conviver com a família e amigos, a gravidez no período pandêmico trouxe junto essa sensação de se estar sozinha. E para ela, essa foi a principal diferença entre suas gestações anteriores a essa, além de ser o que mais afetou seu emocional. “Não poder estar perto das pessoas que você gosta, não poder pedir ajuda, principalmente nesse período de pós-parto, para evitar o contato, contágio e transmissão de vírus, tanto para as pessoas como para a minha recém nascida e pra mim, isso é sem dúvida, a maior dificuldade”.
Cuidados médicos
Para este assunto, conversamos com a ginecologista e obstetra, Marcelle Flausino, que atende atualmente na cidade de Araxá (MG), que nos passou algumas orientações que as gestantes devem seguir para se protegerem, alguns deles também vale para as mulheres puérperas, isto é, as mulheres que já deram à luz a seus filhos.
Segundo a obstetra, a gestante se enquadra no grupo de risco, no que diz respeito ao vírus. Portanto, deve-se evitar sair de casa sem necessidade, evitar aglomerações e receber visitas. Sempre que precisar sair, fazer o uso da máscara, lavar sempre as mãos e usar álcool em gel. É muito importante fazer também a higienização dos alimentos e produtos que vierem do mercado. Além disso, deve-se manter o acompanhamento do pré-natal regularmente, pois ele é essencial para a prevenção dos riscos. Em resumo, os cuidados são os mesmos para todos, mas se tratando das gestantes, eles devem ser reforçados.
Por fim, Marcelle, juntamente com o Ministério da Saúde, aconselha às mulheres que planejam uma gravidez nesse momento, que adiem um pouco seus planos. Principalmente por causa do vírus, mas também para que desfrutem de uma gestação mais tranquila e com menos riscos.
Texto produzido na disciplina de Apuração, redação e entrevista, ministrada pela professora Marialice Nogueira Emboava - PUC Minas.