Mário Ângelo Noé

Mário Ângelo Noé – Bairro Inês Grôppo - Função na FEMAC: Coordenador Geral - Período de atuação na FEMAC: 1994 a 2003 e 2011 até a data atual.

"Espero que tenhamos uma FEMAC mais dinâmica e atuante, com uma estrutura física e humana capaz de dar uma resposta mais efetiva as demandas das comunidades".

FEMAC 25 anos - Como conheceu a FEMAC e porque atuou no movimento.

Mário Noé – O Presidente da Associação do Bairro Inês Grôppo, na época, Geraldo de Assis Fernandes Morais já participava das reuniões a convite do coordenador Geraldo Faria e fui convidado por ele a participar

também. Na época era secretario da AMAJIG. Ao conhecer o trabalho despertou o interesse em fazer parte da FEMAC e a partir dai procurei participar mais das reuniões como forma de fortalecer o trabalho na minha comunidade.

FEMAC 25 anos - Saberia nos informar qual era a realidade do movimento comunitário antes da criação da FEMAC e o que aconteceu com o movimento depois da sua criação?

Mário Noé - O movimento comunitário surgiu na esteira dos movimentos sociais que despontaram com maior força a partir dos anos 60 em resposta ao regime ditatorial. Embora em alguns estados já houvesse um movimento mais organizado, em Ubá, havia algumas associações comunitárias que faziam um trabalho isolado e muitas vezes atrelada ao poder público, sem autonomia e sem assessoria. Com a vinda de Pe. Sebastião e Ir. Marisa houve a criação de outras associações que começaram a despertar para uma consciência mais ativa em relação ao seu papel de interlocutora da comunidade. Isso culminou na criação da FEMAC que veio dar um novo sentido para o movimento comunitário quando se propôs a organizar as associações numa entidade que pudesse fortalecer mais o trabalho e articular as ações em conjunto.

FEMAC 25 anos - E sobre os Bairros: sabe nos informar a realidade dos bairros/ do seu bairro/ da sua região antes da FEMAC e o que aconteceu após a criação da FEMAC ou em função da atuação do movimento comunitário nos bairros e consequentemente na cidade?

Mário Noé - Havia ainda muitas carências nos bairros, a política da época priorizava algumas regiões que geravam mais votos, em detrimento de outras áreas. Não existia um movimento comunitário capaz de organizar as associações. As comunidades se valiam de vereadores para conseguir alguma melhoria ou da boa vontade do Executivo. A partir da criação da FEMAC houve um despertar de consciência das lideranças que entenderam que as melhorias nos bairros não eram favor de nenhum político, mas direito do cidadão que contribui com seus impostos para ter o retorno em obras. Houve um avanço significativo quando se propôs a discutir, dialogar e negociar as prioridades para os bairros.

FEMAC 25 anos - É competência estatutária da FEMAC contribuir com a organização/formação e capacitação de dirigentes comunitários. A FEMAC realizou muitos eventos e atividades desta natureza. Pode enumerar alguns eventos realizados ao longo dos 25 anos que marcaram a trajetória da FEMAC e por quê?

Mário Noé - Foram muitos eventos: Curso de Liderança (Líder Cidadão) em parceria com o SEBRAE e outro com o Helder Carneiro, realizamos várias conferências (Saúde, Saúde da Mulher, Igualdade Racial etc.) com palestras, Seminário de Educação, Fórum Social Cristão, participação em Congressos da CONAM, promovemos encontros sobre políticas públicas, palestra sobre a Reforma Trabalhista, Segurança Pública, Palestra com contador para informar sobre certificação digital das associações, regularização do CNPJ, Declaração de Imposto de Renda.

FEMAC 25 anos - Nesta linha de eventos o Fórum Social Cristão foi importante para o movimento, por quê?

Mário Noé - Entendo que o Fórum Social Cristão foi um momento forte de integração de várias entidades sociais que se propuseram a discutir as questões que afetam a todos. Foi um momento de formação que permitiu compreender e a identificar com maior consistência as verdadeiras raízes dos problemas sociais e discutir com mais profundidade questões como saúde pública, emprego, educação, moradia, cidadania e outros, à luz dos princípios cristãos.

FEMAC 25 anos - a FEMAC desenvolveu muitas parcerias ao longo de sua existência com sindicatos, igrejas, associações e órgãos públicos. Pode falar de alguma destas parcerias: importância e resultados?

Mário Noé - Destaco a parceria com a Câmara Municipal na realização do Dia do Líder Comunitário, Prêmio Mérito Mulher Cidadã Ir. Marisa Costa, nos cursos promovidos pela Escola do Legislativo, na realização da Câmara nas Comunidades, na cessão do plenário para nossas reuniões e palestras, nas cotas de impressão de documentos para as associações e outros eventos. Essa parceria foi fundamental devido à falta de estrutura física e carência de recursos da FEMAC. Conseguimos realizar todos esses eventos e encaminhar nossos documentos com mais tranquilidade.

FEMAC 25 anos - a FEMAC teve também muitos apoiadores ao longo da história de 25 anos. Um importante apoiador foi o Dr Antônio da Paixão Carneiro, presidente do Sindicato Rural de Ubá. Sabe nos falar sobre as lutas deste período e a importância desta personalidade para a FEMAC.

Mário Noé O Dr. Antônio da Paixão Carneiro, foi, sem dúvida um verdadeiro cidadão e que muito contribui com seu exemplo de lutador das causas sociais para a formação das lideranças da FEMAC. Teve um papel fundamental nas lutas por uma saúde de qualidade e, sua atuação incentivou muitos a participarem do Conselho Municipal de Saúde e ouvidoria.

FEMAC 25 anos - A Logomarca da FEMAC é constituída de um triângulo com as palavras: na base CIDADANIA, de um lado NEGOCIAÇÃO e de outro lado MOBILIZAÇÃO. Pode nos falar sobre o significado desta logomarca. E qual lado deste tripé foi mais destacado ao longo destes 25 anos na sua percepção. E se este tripé ainda atende as necessidades do movimento.

Mário Noé - O tripé MOBILIZAÇÃO, NEGOCIAÇÃO E CIDADANIA foi escolhido pelos membros da FEMAC e ficou como símbolo da entidade. É preciso fazer a MOBILIZAÇÃO, ou seja, chamar o povo para a organização, tirar do imobilismo, da acomodação, levantar as propostas de ação e ter a capacidade de fazer a NEGOCIAÇÃO, ou seja, de dialogar e buscar formas de solucionar as demandas com clareza do que se quer, sabendo ouvir, ponderando e avaliando bem as situações. Tudo isso vai se concretizar na conquista da CIDADANIA, ou seja, as ferramentas de mobilizar e negociar é que vão resultar na CIDADANIA ativa, ou seja, são meios e também princípios para se conquistar efetivamente os direitos e assumir os deveres como cidadãos. O triângulo foi inspirado na bandeira de Minas, que além de representar a Trindade Santa, ou os três princípios da revolução francesa: igualdade, liberdade e fraternidade, tem a cor vermelha que simboliza o espírito revolucionário, pois a conjuração mineira foi um ato revolucionário, assim como as lutas da FEMAC também significam revolução, mudança e essa mudança é um processo cíclico, portanto o circulo em torno do triângulo remete a todo processo contínuo, ou seja, constantemente precisa-se mobilizar, negociar e buscar a cidadania. Acredito que esse tripé atende as necessidades do movimento embora, como tudo se transforma, sugiro uma renovação da logomarca sem perder o seu significado inicial.

FEMAC 25 anos - A FEMAC e a sua ação institucional - Desde a sua fundação a FEMAC tem uma participação muito efetiva nos conselhos de políticas públicas. Como era antes da FEMAC e o que mudou. Quais foram os avanços ao longo destes 25 anos de atuação nos conselhos.

Mário Noé - Antes os conselheiros eram indicados pelo executivo e não tinham muita consciência de seu papel enquanto usuários dos serviços públicos. Os presidentes dos conselhos também eram indicados pelo Executivo e não havia o processo de eleição para composição dos mesmos. Com a criação da FEMAC houve mais discussão a respeito do papel do conselheiro, questionou-se a forma de escolha dos mesmos e passou a haver eleição para formação destes conselhos. Com mais consciência, houve mais avanço na efetivação das políticas públicas e maior formação das lideranças que passaram a entender melhor a importância dos conselhos e participar com maior empenho nos mesmos. Destacando o Conselho de Saúde, após este trabalho, vários companheiros de luta da FEMAC se tornaram presidentes deste Conselho e ouvidores.

FEMAC 25 anos - A FEMAC e Poder Executivo - Como foi à relação nestes 25 anos? Na sua vivência quais foram os momentos de maior tensão e por quê? Quais foram os fatos e momentos convergentes e por quê? Qual o aprendizado para o movimento comunitário?

Mário Noé - A FEMAC sempre pautou seu trabalho no respeito ao Executivo, mantendo sua isonomia e independência, pois entende que o Executivo está a serviço da população e, portanto não há subordinação e sim uma relação de respeito e cooperação. Os momentos de maior tensão foram quando precisamos cobrar uma maior atuação do Executivo, como no caso do contrato com a COPASA em que éramos contra o projeto que concedia a COPASA o serviço de coleta e tratamento de esgoto, pois iria onerar muito a população. Houve outro momento que questionamos o contrato com a Viação Ubá e, ainda, vários momentos em que cobramos algum retorno da prefeitura em relação a obras que deveriam ser realizadas e por outros motivos não foram. Mais recentemente, com a crise hídrica também cobramos da Prefeitura uma atitude para resolver essa questão junto a COPASA.

Os fatos convergentes dizem respeito à luta pela melhoria dos bairros onde sentamos e realizamos várias audiências públicas do orçamento. Levantamos varias propostas e formamos uma comissão do orçamento para fiscalizar e acompanhar o andamento das obras. Esse processo levou ao crescimento e amadurecimento do movimento comunitário, permitindo que as lideranças tomassem consciência de seu papel junto à comunidade.

FEMAC 25 anos - Poder Legislativo - Como foi a relação nestes 25 anos? Na sua vivência quais foram os momentos de maior tensão e por quê? Quais foram os fatos e momentos convergentes e por quê? Qual o aprendizado para o movimento comunitário?

Mário Noé – Assim como no Executivo, a relação com o Legislativo também se pautou pelo respeito, pela abertura ao diálogo e cooperação. Mantivemos um bom relacionamento e fomos parceiros em várias situações já mencionadas na questão seis. Um momento de tensão foi quando discutimos a proposta de aumento do numero de vereadores e outra proposta de aumento da remuneração dos mesmos. Ocasionalmente, pode ter havido algum desentendimento em relação a um ou outro vereador, quando este defende alguma posição contrária ao movimento comunitário ou quando toma para si o mérito da realização de alguma obra que foi objeto de discussão e aprovação no movimento comunitário. O aprendizado foi tomar consciência desse processo e ajudou a FEMAC a se posicionar melhor como entidade na defesa dos direitos e conquista da democracia.

FEMAC 25 anos - A sustentação financeira da FEMAC sempre foi um ponto de preocupação para os dirigentes, ao mesmo tempo, que as ações de arrecadação são também um ponto que une as lideranças. Pode nos falar sobre a prática da FEMAC no campo da arrecadação financeira ao longo dos seus 25 anos.

Mário Noé – Essa é uma questão crucial e que ainda não conseguimos resolver totalmente. Embora tenhamos feito um trabalho de conscientização da importância da contribuição das filiadas para sobrevivência do movimento comunitário, poucas contribuem e, com isso, temos que recorrer a outras formas de arrecadação como realização de bailes, rifas, exploração dos banheiros na festa da cidade e outros eventos. Esses eventos, embora una as lideranças, não envolve muitas pessoas, o que sobrecarrega apenas um grupo que assume esse trabalho.. Com relação a essa questão precisamos avançar ainda mais, otimizando a forma de arrecadação junto às filiadas, melhorando o controle, a contabilização e prestação de contas, para prestar um serviço com mais efetividade e qualidade.

FEMAC 25 anos - Nos últimos anos a FEMAC passou a receber subvenção pública pode nos falar deste tempo?

R- A partir da assinatura do Termo de cooperação com a Prefeitura, a FEMAC começou a receber subvenção pública e teve condições de assumir algumas despesas que possibilitaram uma melhoria no seu trabalho, como o aluguel de uma sede, despesas com energia, água, telefone, internet e uma funcionária. Porém o recurso ainda é muito limitado e temos que realizar outras atividades de arrecadação. Esse recurso é repassado e a entidade assume a obrigação de prestar contas do recurso utilizado.

FEMAC 25 anos - A FEMAC é uma entidade plural onde já conviveram as mais diversas correntes políticas e religiosas da cidade. Pode nos falar sobre a prática ecumênica e democrática no interior da FEMAC nestes 25 anos? Seus desafios e avanços.

Mário Noé - Conforme rege seu estatuto, a FEMAC é uma entidade civil, apartidária, sem fins econômicos, vedadas à discriminação ideológica, religiosa, racial, sexual e de condição social. Portanto, o respeito é um dos princípios fundamentais da FEMAC e nesse aspecto, sempre mantemos o respeito à diversidade, às várias religiões e opções políticas. Para tanto, evitamos o debate dessas questões, tentando focar apenas nos pontos convergentes. Embora tenhamos várias ideias e posições, os desafios são de conciliar e aglutinar as forças nas ações que priorizem o social, sem ferir os princípios individuais.

FEMAC 25 anos - Em função de que a FEMAC se viu dividida internamente ao longo dos últimos 25 anos? Como a FEMAC trabalhou as suas divisões internas ao longo dos seus 25 anos?

Mário Noé: Houve um momento de ruptura na FEMAC, quando, após discordância do modo de atuação da diretoria, um grupo resolveu separar e tentou criar uma nova entidade com as mesmas finalidades da FEMAC. A experiência mostrou que sem unidade não se consegue chegar a lugar nenhum. A entidade que foi criada, não sobreviveu porque desvinculou dos ideais e princípios da FEMAC. Nas questões em que há divisões, a FEMAC tentou uma forma de conciliação, pelo bem do movimento como um todo e não apenas em resolver questões individuais.

FEMAC 25 anos - A FEMAC foi ao longo dos últimos 25 anos uma grande articuladora de trabalho voluntário em prol de causas coletivas. (saúde, educação, saneamento, segurança etc.) Pode nos falar deste potencial mobilizador da FEMAC neste período de existência da entidade? Quais os atuais desafios. Quais as estratégias que o movimento comunitário utiliza hoje para mobilizar voluntários? Quais são os temas que a FEMAC prioriza hoje?

Mário Noé - A FEMAC sempre buscou mobilizar as pessoas para o trabalho voluntário. Nesse sentido, temos vários representantes da FEMAC nos conselhos de políticas públicas e outros vários como lideranças comunitárias. Esse potencial mobilizador deve-se ao fato de que a FEMAC não trabalha ações isoladas, mas o coletivo. Sua missão é construir cidadania a partir da organização das entidades e do despertar de cada cidadão para as lutas comuns. Os desafios hoje talvez sejam de vencer o imobilismo, o comodismo de algumas lideranças, melhorar a questão financeira e a capacidade física, operacional e humana da FEMAC. Atualmente os temas prioritários são a saúde, habitação e capacitação, sem esquecer-se dos demais.

FEMAC 25 anos - Como você vê a FEMAC nos próximos 25 anos? O que a FEMAC estará fazendo daqui a 25 anos e como?

Mário Noé - Penso que a FEMAC precisa se reestruturar e renovar alguns membros da sua Diretoria para se tornar mais eficiente em seu papel de representatividade do movimento comunitário. Com a nova reforma estatutária, buscamos enxugar a sua composição, tornando-a mais funcional e menos burocrática. Na questão estrutural, precisamos dotar a entidade de equipamentos e demais recursos físicos, humanos e materiais. Nosso propósito é construir a nossa própria sede, onde teremos um espaço mais adequado para desenvolver com mais eficiência nosso trabalho. Precisamos continuar a investir na capacitação de lideranças e aperfeiçoar a forma de arrecadação financeira.

Espero que tenhamos uma FEMAC mais dinâmica e atuante, com uma estrutura física e humana capaz de dar uma resposta mais efetiva as demandas das comunidades. Uma sede com uma secretária capacitada para atender e resolver as questões das filiadas, orientar e atualizar as documentações referente a registro, prestação de contas, arrecadação, pagamentos, contabilidade e outras funções. Um espaço para reuniões, seminários, encontros, palestras e outros eventos e onde, futuramente possamos desenvolver algum projeto social como alfabetização de adultos, oficinas de dança, música, artesanato ou outra atividade social. Que possamos melhorar o sistema de comunicação e buscar novas parcerias que acreditem no trabalho social e nos ajudem nessa tarefa. Em relação ao Executivo, continuar a manter o diálogo e a parceria, tendo em vista o bem de toda a coletividade.