José Geraldo Faria

José Geraldo Faria - Associação de moradores do bairro Palmeiras: Exerceu na FEMAC as funções de coordenador geral - vice-coordenador - secretário - tesoureiro e diretor de departamentos - Foi o primeiro coordenador da FEMAC quando exerceu dois mandatos consecutivos - voltou à coordenação geral novamente nesta década após 2010. Atualmente é o presidente do conselho municipal de saúde de Ubá-MG.

"Na FEMAC nunca tivemos só um modo de pensar ou uma forma unanime de organizar o movimento".

FEMAC 25 anos - Como conheceu a FEMAC e porque atuou no movimento.

José Geraldo Faria - Eu participava da associação de moradores do bairro Palmeiras, e ao participar de algumas reuniões mais amplas, deparava com algumas pessoas falando em nome das associações comunitárias, mas não sabíamos por quem aquela pessoa havia sido indicada para representar as associações. Numa reunião do conselho de saúde, um grupo de associações questionou esta postura e entenderam que as próprias associações deveriam discutir os seus problemas e fazer as indicações de quem deveria representar o movimento comunitário. Foi daí que começamos a nos reunir para discutir isso. Temos que lembrar de um grande incentivador que tivemos que foi o Paulo César da SUCAM - PC - Pensávamos diferente, mas ele foi um grande incentivador do grupo.

O Começo da FEMAC não foi fácil, depois fazer o compromisso de criar a FEMAC e ter as reuniões periódicas, eu me lembro de que uma das primeiras reuniões foi no bairro são domingos, num dia de domingo às duas da tarde e quando lá chegamos só tinha três ou quatro pessoas com a Dona Rita Emiliano que nos recebeu lá na igreja. Nós fomos insistindo, fazendo as reuniões e convencendo os presidentes aos poucos que o fortalecimento do movimento seria uma força, uma ferramenta para que eles tivessem as suas reivindicações atendidas. Teve um período que nós tivemos que nos reunir na Praça São Januário, por divergência com a administração local, que custou a entender o significado e os objetivos desta associação (FEMAC) e se negava a emprestar o salão vermelho. Um importante papel da FEMAC foi estar inserida nos bairros.

FEMAC 25 anos - Saberia nos informar qual era a realidade do movimento comunitário antes da criação da FEMAC e o que aconteceu com o movimento depois da sua criação?

José Geraldo Faria - Já existiam algumas associações. Eu fui conhecer a abrangência do movimento após a criação da FEMAC porque intensificamos as visitas e o contato com os líderes. Existiam também algumas comissões cujos presidentes eram indicados pela prefeitura, não havia democracia e participação dos moradores nestas escolhas.

FEMAC 25 anos - E sobre os Bairros: sabe nos informar a realidade dos bairros/ do seu bairro/ da sua região antes da FEMAC e o que aconteceu após a criação da FEMAC ou em função da atuação do movimento comunitário nos bairros e consequentemente na cidade?

José Geraldo Faria – A principal reivindicação era infraestrutura. Os bairros estavam começando na sua maioria, e quase na totalidade eram loteamentos irregulares. As associações brigavam muito por estas questões: calçamento, captação de águas, linha de ônibus etc. Estas primeiras associações tiveram que desafiar a cultura elitista de alguns prefeitos que não sabiam considerar o saber popular. Lembro-me de uma visita do professor Defilipo à comunidade do bairro Palmeiras, quando uma senhora que participava ativamente da vida da comunidade, lhe sugeriu que antes do calçamento deveria fazer a captação de águas. Ele a respondeu ironicamente que ela estava boa para ser prefeita.

FEMAC 25 anos - É competência estatutária da FEMAC contribuir com a organização/formação e capacitação de dirigentes comunitários. A FEMAC realizou muitos eventos e atividades desta natureza. Pode enumerar alguns eventos realizados ao longo dos 25 anos que marcaram a trajetória da FEMAC e por quê?

José Geraldo Faria - A FEMAC desenvolveu um trabalho muito importante na organização das associações de moradores. A gente organizava fóruns regionais com as lideranças para discutir problemas e realizar atividades de formação. A FEMAC organizou vários congressos muito importantes. E paralelo a isto a FEMAC realizou alguns fóruns populares de educação, saúde que foram muito interessantes. Vivíamos um momento da saúde muito difícil, com falta de médico, de exames, de consultas. A FEMAC sempre trabalhou a área da Saúde como prioridades. Nós realizamos um fórum da saúde e ali a gente tirou diretrizes para o movimento comunitário. Eram temas específicos: Depois fizemos de educação, de segurança pública e sempre tirava as recomendações para o trabalho das associações. Não só a coordenação da FEMAC trabalhava, mas associações também tinham com o que trabalhar na sua área de abrangência.

FEMAC 25 anos - Nesta linha de eventos o Fórum Social Cristão foi importante para o movimento, por quê?

José Geraldo Faria – O Fórum Social Cristão foi um grande marco porque as lideranças estavam envolvidas sabendo que não só o trabalho político das associações estava surtido efeito, era preciso formar lideranças. Era preciso trazer esta consciência mais ampla da política para as lideranças. Pena que não conseguimos dar seguimento, mas o encontro, o fortalecimento das lideranças foi motivador e muito interessante para aquele momento.

FEMAC 25 anos - A FEMAC desenvolveu muitas parcerias ao longo de sua existência com sindicatos, igrejas, associações e órgãos públicos. Pode falar de alguma destas parcerias: importância e resultados?

José Geraldo Faria - A FEMAC sempre teve parceiros importantes: Sind-Ute - sindicato dos marceneiros, sindicato rural, pastoral social da Diocese de Leopoldina.

FEMAC 25 anos - A FEMAC teve também muitos apoiadores ao longo da história de 25 anos. Um importante apoiador foi o Dr Antônio da Paixão Carneiro, presidente do Sindicato Rural de Ubá. Sabe nos falar sobre as lutas deste período e a importância desta personalidade para a FEMAC.

José Geraldo Faria - É difícil, relembrar: a emoção toma conta (pausa emoção) Foram duas personalidades importantes para nós no movimento. Porque os presidentes de bairro geralmente são pessoas mais simples e estas pessoas (Dr. Antônio da Paixão e Santinho Barreto) eram pessoas importantes da sociedade. A adesão delas ao movimento nos fortaleceu muito. Num encontro de saúde que nós tivemos na Vila Casal o Santinho levou um médico cubano. Ele estava sempre orientando e fazia questão de participar das nossas lutas. O Dr. Antônio, era um homem que reunia constantemente com a gente, fazia questão discutir os problemas na visão dele, e era comum após as reuniões da FEMAC ele estar nos esperando, conversávamos, às vezes ele concordava, às vezes não, mas o importante é que ele estava esperando a gente e participava da vida do movimento comunitário. Era um conselheiro de saúde, grande incentivador da nossa participação no conselho de saúde. Foi um guerreiro para a FEMAC, ajudou abrir muitas consciências, a ver as coisas de maneira diferente, a não se acomodar e enfrentar as dificuldades.

FEMAC 25 anos - A Logomarca da FEMAC é constituída de um triângulo com as palavras: na base CIDADANIA, de um lado NEGOCIAÇÃO e de outro lado MOBILIZAÇÃO. Pode nos falar sobre o significado desta logomarca. E qual lado deste tripé foi mais destacado ao longo destes 25 anos na sua percepção. E se este tripé ainda atende as necessidades do movimento.

José Geraldo Faria - A logo da FEMAC foi discutida e aprovada num congresso de educação com o professor Edmar. Nós discutimos neste congresso que nós precisávamos de uma referência. O círculo mostrava que a gente não tem lado, que a gente vivia em comunidades e com responsabilidade com o todo, com o mundo. Dentro deste círculo tinha um triângulo que mostrava que a gente estava inserido em Minas Gerais. O triângulo apontando para cima mostra que um dos nossos objetivos é a construção da cidadania ativa. E para construir esta cidadania a gente precisava de base, e para formar esta base deveríamos estar sempre em movimento, mobilizando e negociando. A negociação neste momento seria com os três poderes com quem nós temos sempre que atuar. Com esta visão nós estaríamos construindo a nossa cidadania.

Eu penso que a FEMAC trabalhou as três coisas, com destaque para a mobilização. A Logo é como se fosse um sobrenome, uma bandeira. Eu acho que ela é moderna e mostra que temos que estar em movimento, não pode ser uma coisa estática, ela responde o que somos e o que queremos fazer e ser. Não temos que mudar logomarca, não tem que fundar outra FEMAC, o que podemos fazer é discutir os objetivos da entidade: O seu principal objetivo é organizar as associações: Ela tem feito isso? Lembro que nós já chegamos a ter 55 associações em 90 bairros, hoje quantas associações nós temos funcionando? Depois vem a questão das políticas públicas. Eu tive uma discussão, há um tempo, porque mudaram o nome da FEMAC. Nós éramos Federação das associações comunitárias dos bairros e distritos de Ubá, mas para fazer um convênio para adquirir o carro, teve que mudar o municipal para esclarecer que não éramos entidade de governo. Parece-me que passou a ser federação de moradores das associações de bairros e distritos de Ubá. Nós somos uma federação de associações, e não de moradores. Mas falei isto com Mário Noé, atual coordenador, que precisamos consertar isso.

FEMAC 25 anos - A FEMAC e a sua ação institucional - Desde a sua fundação a FEMAC tem uma participação muito efetiva nos conselhos de políticas públicas. Como era antes da FEMAC e o que mudou. Quais foram os avanços ao longo destes 25 anos de atuação nos conselhos.

José Geraldo Faria - Eu gosto de uma coisa que nós fazíamos na FEMAC que era a leitura da conjuntura, não era um grupo grande, mas a gente estava sempre reunindo e lendo a realidade e perguntando o que queremos enquanto movimento e o que devemos fazer? Sempre apreciam ideias boas. Nestes encontros nós concluímos que era estratégico para o movimento atuar no controle do orçamento (processo do orçamento participativo) participar das reuniões da Câmara, e ter uma participação efetiva nos conselhos de políticas públicas e foi um grande ganho da FEMAC.

Começamos basicamente no conselho de Saúde, aliás, foi na saída de uma reunião da saúde que começamos a articular a fundação da FEMAC. Todos os conselhos que funcionaram a FEMAC teve participações efetivas. Nós preparamos as lideranças do movimento para participar e se possível ocupar as mesas diretoras destes conselhos. Penso que isto deu bons resultados. Nós fomos perseguidos e processados por causa do conselho de saúde, mas nós sempre tínhamos uma pauta de reivindicação da comunidade o que dava suporte para falar com propriedade. Depois nós fomos para o conselho de habitação, atuamos na organização e desenvolvimento do bairro Pires da Luz, do Bairro Altair Rocha. Realizamos encontros para discutir a política habitacional. Hoje a FEMAC juntamente com o Solano Trindade tem uma boa presença no Conselho de Assistência Social.

Tivemos uma grande participação na implantação dos CONSEPS na área da segurança pública. Segurança é um tema difícil, a comunidade tinha muito medo. Claro que o comandante Flávio fazia a diferença, ele deu uma abertura incrível para o movimento. Criou outra visão de polícia. Nosso entendimento sobre as funções, da polícia e das outras forças de seguranças e comunidade se ampliaram. Pena que foi uma política de comandante e não teve continuidade. Acabaram estes espaços de aproximação com a comunidade. Muitas lideranças comunitárias foram protagonistas neste processo - FEMAC na frente, e era uma responsabilidade muito grande. Teve o projeto despertar que visitava porta a porta. A tenente Lília realizava reuniões nos bairros e acreditava na construção da cidadania e do civismo.

FEMAC 25 anos - A FEMAC e Poder Executivo - Como foi à relação nestes 25 anos? Na sua vivência quais foram os momentos de maior tensão e por quê? Quais foram os fatos e momentos convergentes e por quê? Qual o aprendizado para o movimento comunitário?

José Geraldo Faria - A relação com o executivo sempre foi de altos e baixos. Ora abre, ora se fecha. Quando o governo é mais sensível à gente luta para conquistar e ocupar espaços. Nos momentos de embate que as portas se fechavam, havia cortes, a gente se voltava para dentro e fortalecia a parte dos estudos, da organização interna e da formulação de estratégias. Nós tivemos boicotes, perseguições, mas faz parte da vida do movimento.

FEMAC 25 anos - Poder Legislativo - Como foi a relação nestes 25 anos? Na sua vivência quais foram os momentos de maior tensão e por quê? Quais foram os fatos e momentos convergentes e por quê? Qual o aprendizado para o movimento comunitário?

José Geraldo Faria - Com o legislativo também nós tivemos dificuldade, sempre altos e baixos. Nós tivemos o primeiro bom momento de aproximação com a Câmara na organização das audiências públicas, num processo de discussão do orçamento, elaborado entre a Câmara e a FEMAC. O orçamento popular visitava as regiões, colhia sugestões e emendava o orçamento. A Câmara fez isto com muita propriedade e fortaleceu o movimento. Uma das causas que dificultava o relacionamento é que as lideranças comunitárias eram vistas como concorrentes dos vereadores. O objetivo do futuro do presidente de bairro é ser vereador, e isto gerava conflitos. Mas também nós tivemos muito progresso com a Câmara, passamos a fazer parcerias. A lei de reconhecimento do Líder comunitário foi muito interessante.

Uma coisa importante que a FEMAC fazia eram os informativos que sempre provocavam a discussão. É eu acho que está faltando: Nós éramos provocadores das discussões, hoje nós acompanhamos as discussões. Nós sempre tínhamos uma pauta em discussão. Lembro-me de um dos nossos primeiros embates com a Câmara foi quanto ao número de vereadores: ainda nos anos 90, quando tentaram aumentar o número de vereadores para 17. A FEMAC se posicionou, e isto fez a entidade conquistar o respeito junto à comunidade. A FEMAC sempre teve um olhar voltado não só para dentro do movimento, mas muito preocupada com os principais problemas da cidade. Fazia as discussões em congressos, seminários e externava a posição coletiva do movimento comunitário. Finalmente com a Câmara nós tivemos uma parceria na organização de seminários que foram concluídos com as cartilhas publicadas em conjunto com a FEMAC, sobre a da saúde e transportes públicos.

Uma parceria muito importante que câmara estabelece com o movimento comunitário são as cópias Xerox. Cada entidade tem uma cota de 30 cópias por semana, o que faz muita diferença para a organização do movimento.

FEMAC 25 anos - A sustentação financeira da FEMAC sempre foi um ponto de preocupação para os dirigentes, ao mesmo tempo, que as ações de arrecadação são também um ponto que une as lideranças. Pode nos falar sobre a prática da FEMAC no campo da arrecadação financeira ao longo dos seus 25 anos.

José Geraldo Faria - A FEMAC chegou a realizar uns três encontros específicos para tirar diretrizes sobre o olhar financeiro do movimento comunitário. Eu sempre gostei de trabalhar com alguns nortes. Um dos nortes destes encontros falava que o movimento comunitário deve ser sustentado pelo próprio movimento comunitário. Isso desatrela, você não fica preso com ninguém. Mas era muito difícil. Toda vez que você precisa de dinheiro e você tem que mobilizar um grupo, você já está fazendo divulgação. É mais fácil você prestar contas à comunidade do que prestar contas ao político, ou entidade que vai te cobrar uma posição política lá na frente. A FEMAC sempre pediu muitas coisas e a taxa de manutenção paga pelas associadas à FEMAC é simbólica, é apenas para manter vínculos. Nós fazíamos muitos eventos um deles era o estacionamento do horto. Mas eu vejo que isto não é problema mais, o trabalho no horto resolveu a questão financeira da FEMAC, apesar de ter pouco envolvimento das associações de moradores. Quando elas participam querem receber, penso que isto não é bom porque não demonstram o senso que responsabilidade e pertença com a FEMAC. Concordo que as associadas podem discutir a destinação do dinheiro em função da demanda delas.

Outra questão é que o dinheiro não melhorou a ação política da entidade. Penso que acomodou. Temos o dinheiro para manter a sede, guardar os documentos e equipamentos, fizemos estrutura, mais em termos de formação de liderança nós não conseguimos avançar. As lideranças de hoje são as mesmas antigas. Nós não conseguimos mobilizar a juventude. Não renovamos a participação nas associações. Isto é um problema grave que mesmo com mais dinheiro, não conseguimos resolver. Lembrei-me da questão da Rádio nós tínhamos um programa cidadania ativa na rádio ubaense que funcionou durante um tempo e era muito bom.

FEMAC 25 anos - Nos últimos anos a FEMAC passou a receber subvenção pública pode nos falar deste tempo?

José Geraldo Faria - É questão minha: a subvenção não ajudou a cumprir os objetivos da FEMAC. A pergunta é esta: eu estou cumprindo ao meu papel, estou aproximando dos meus objetivos. O que está atrapalhando o meu funcionamento. Alguns podem dizer que a FEMAC está viva por causa da subvenção, não sei. Não estamos mais conseguindo realizar os fóruns de acompanhamento dos conselheiros. Não estamos mais devolvendo para a sociedade o resultado da nossa ação e acho que isto nos desmobilizou. Penso que se gasta muito tempo, energia e dinheiro com a burocracia interna para administrar o convênio, sobra pouco e você fica devedor.

FEMAC 25 anos - A FEMAC se atrelou mais ou menos ou perdeu autonomia por causa do dinheiro?

José Geraldo Faria - Na minha opinião a FEMAC perdeu a autonomia, porque se você tem vergonha não vai bater em quem está te dando pão.

FEMAC 25 anos – Segundo outros entrevistados a presidente anterior Ângela Teixeira não se submetia?

José Geraldo Faria - Eu tenho visto que vai muito de governo: eu me lembro. Eu e o João Albino tivemos que mediar embates da Ângela com o Vadinho. Ela batia e recebia a subvenção, mas era um governo que entendia, mas se for um governo que quer punir ele tem todas as condições de mandar você calar a boca. Isso não me agrada, mas tenho que admitir que se não tivesse a subvenção pode ser que FEMAC estivesse igual a muitas associações, esquecida.

FEMAC 25 anos - A FEMAC é uma entidade plural onde já conviveram as mais diversas correntes políticas e religiosas da cidade. Pode nos falar sobre a prática ecumênica e democrática no interior da FEMAC nestes 25 anos? Seus desafios e avanços.

José Geraldo Faria - Eu acho que poder vir a ser um dos grandes problemas nossos futuramente. Eu tenho feito algumas críticas porque tem coisa que a gente já sabe que pode dar errada pela experiência que temos no movimento. Os cargos na FEMAC eram, preenchidos em função da atuação no movimento. Para ter um cargo na direção da FEMAC tinha que ter participação ativa em associação. Os cargos na Diretoria eram partilhados independente de partidos e ninguém estava preocupado com a visibilidade que o cargo dava. Com enfraquecimento da base estamos tendo uma tendência de seguir por este segundo caminho onde aparece muito mais o lado político partidário que o lado do serviço desinteressado a comunidade.

FEMAC 25 anos - Em função de que a FEMAC se viu dividida internamente ao longo dos últimos 25 anos? Como a FEMAC trabalhou as suas divisões internas ao longo dos seus 25 anos?

José Geraldo Faria - Na FEMAC nunca tivemos só um modo de pensar ou uma forma unanime de organizar o movimento. Desde as primeiras reuniões para a fundação nós tivemos a disputa interna com PC da SUCAM. Naquele momento não teve racha, mas tivemos que fazer composição entre as duas concepções de movimentos. Depois tivemos uma grande luta com a história da AMABAM. Atrito com o Governo em função dos problemas na área da saúde. Aí foi um racha que nós sentamos e avaliamos. A AMABAM se tornou parceira da gestão, tinha muito dinheiro e começou a cooptar as associações de moradores com dinheiro, com emprego a gente se manteve com o pessoal mais consciente. Na gestão do PT nós fomos muito lá em cima e muito lá em baixo. Nós achamos que ia coroar, que ia resolver os nossos problemas, que ia ser bem mais participativa do que foi. Foi um avanço, sem dúvida, principalmente para que já estava trabalhando nos conselhos pode ter sentido isso, a própria relação com a FEMAC, foi boa, mas não aconteceu da forma que gostaríamos. Um orçamento participativo melhor. Grande parte de nossas lideranças importantes, com formação, saíram para trabalhar no governo e fracassou a base da FEMAC.

FEMAC 25 anos - A FEMAC foi ao longo dos últimos 25 anos uma grande articuladora de trabalho voluntário em prol de causas coletivas. (saúde, educação, saneamento, segurança etc.) Pode nos falar deste potencial mobilizador da FEMAC neste período de existência da entidade? Quais os atuais desafios. Quais as estratégias que o movimento comunitário utiliza hoje para mobilizar voluntários? Quais são os temas que a FEMAC prioriza hoje?

José Geraldo Faria - De novo é a emoção, falar do voluntariado é lembrar-se dos companheiros que começaram com a gente e nós sentimos saudades: É lembrar-se da Dona Maria Bressam, da dona Rita Emiliano. Outro dia a gente disse que tem pessoas dessas que demora 100 anos para nascer outra igual. Eram pessoas que se dedicavam, se comprometiam, independente do seu lado político. No início da FEMAC houve muita solidariedade, muita troca e muita partilha do saber, do serviço, dos recursos, cada um trás mais um e acontecia. Uma certa visão que não buscávamos só os resultados imediatos. Hoje a falta de credibilidade da classe política, esta mudança na base, isto tudo está levando a gente a não realizar mais estes eventos, estes fóruns que realizávamos. Nós discutimos muito pouco os problemas da comunidade hoje.

FEMAC 25 anos - Como você vê a FEMAC nos próximos 25 anos? O que a FEMAC estará fazendo daqui a 25 anos e como?

José Geraldo Faria - Nós começamos discutindo como foi que surgiram as associações de moradores. Elas surgiram por causa da falta de infraestrutura, isso acabou, não precisa mais de associação se for só para isto. Ainda temos alguns problemas de saneamento básico, transporte coletivo, que tem que ser discutido, mas diminuiu muito. Hoje mudou isso, do presidente largar o serviço, agendar reunião para ir atrás destas coisas. Penso que os presidentes dos bairros também tem que usar essas ferramentas da comunicação, pois hoje quem usa é o cidadão que não participa, ou que quer desestabilizar. O papel da associação é organizar sua comunidade, promover os momentos de festa da sua comunidade, promover a cultura da comunidade, cada comunidade tem a sua cultura tem a sua história. Aprofundar sobre estas brigas de bairro com bairro. A associação tem que fazer a leitura permanente da sua comunidade. O que está acontecendo na sua comunidade. Hoje temos conselhos locais de saúde nas comunidades. Aumentou o leque de ações. Temos mudar os protocolos, as formas de reunião, as tecnologias também tem que está nas mãos dos dirigentes de bairro. Não podemos deixar fechar os espaços conquistados, como por exemplo, a reunião mensal com o prefeito.

Nos próximos 25 anos, provavelmente, não estarei mais aqui. Nós estamos contando 25 anos em pouco tempo, mas é uma grande história. Não falamos ainda do papel do Padre Sebastião e do papel importantíssimo Irmã Marisa ao andar de noite pelas comunidades, às vezes sem ônibus, para falar de associação de moradores. Naquele momento nós falávamos de comunidade, de melhoria para as comunidades, de vida em comum. Faz-nos lembrar que falta celebração. Uma grande característica lá do bairro meu sonho e a questão da celebração e a mistura de uma entidade com a outra. Uma fortalece a outra. Talvez faltasse a gente congregar esta mistura na FEMAC.

Nós precisamos fazer uma conversa para equilibrar esta transição que está acontecendo. Nós precisamos retornar às nossas bases, as nossas origens. Temos que continuar fazendo intercâmbio. Fazer planejamento a partir de uma boa leitura da conjuntura. Se você não faz uma boa leitura de conjuntura você não atua na causa, fica só atuando nas consequências e apagando incêndios. Buscar mais energias positivas.