João Batista Albino


João Batista Albino: Membro da associação dos moradores e amigos dos bairros ponte preta, olaria, meu sonho e mangueira rural e adjacências. Foi o segundo presidente da FEMAC no final da década de 1990, além de já ter exercido outras funções nas diretorias de patrimônio e de comunicação da entidade. Conselheiro municipal de saúde de Ubá e mobilizador do conselho local da sua região. Foi também o presidente do conselho de assistência social de Ubá.


"Eu tinha um fusquinha na época, eu entrava com o fusquinha e vocês com a gasolina e geralmente nos sábados e domingos fazíamos a mobilização dos presidentes nos bairros".

"A FEMAC nunca tirou posição de apoiar candidato, sempre os seus membros tiveram liberdade e a entidade apoia ideias e propostas".

FEMAC 25 anos - Como conheceu a FEMAC e porque atuou no movimento.

João Batista Albino - Sou um dos fundadores da FEMAC. Eu me lembro que eu você (Claudio Ponciano) e o Geraldo Faria que trabalhamos a criação da FEMAC. Não sei de quem foi a ideia, penso que pode ter sido do Padre Sebastião ou da Irmã Marisa. Eu fui chamado por você e pelo Geraldo Faria. Eu tinha um fusquinha na época, eu entrava com o fusquinha e vocês com a gasolina e geralmente nos sábados e domingos fazíamos a mobilização dos presidentes nos bairros. Estes bairros se encontravam muito desprezados sem asfalto, sem água. Nós ficávamos até meio dia fazendo as visitas convidando os presidentes para as reuniões.

FEMAC 25 anos - Saberia nos informar qual era a realidade do movimento comunitário antes da criação da FEMAC e o que aconteceu com o movimento depois da sua criação?

João Batista Albino - O prefeito que governou a cidade de Ubá no período entre 1989 e 1992 ganhou as eleições com uma proposta de chamar os presidentes de associação todos os meses na Prefeitura. Ele ganhou e cumpriu. Nós começamos a reunir uma sexta-feira por mês, na maioria das vezes com o vice Prefeito que era o Riane. Penso que foi aí que começamos a sentir a necessidade da FEMAC. Estas reuniões eram importantes, mas era uma pauta prioritária da prefeitura. Quando a gente chegava à reunião da prefeitura muitas decisões já estavam tomadas e nós achávamos que a comunidade é que sabe o que precisa. Com a finalidade de fortalecer um posicionamento das associações frente à prefeitura nestas reuniões nós convencemos um grupo de presidentes a realizar uma reunião prévia, paralela. O Padre Sebastião emprestava o salão da Igreja do Divino onde aconteceram umas seis reuniões deste grupo.

Aconteceu que alguém que frequentavam este grupo começou a passar para o prefeito e para vice os posicionamentos da reunião, foi quando a prefeitura nos chamou com o intuito de desmobilizar o grupo, reafirmando não haver a necessidade do mesmo, pois o fórum das associações era o criado por ele na prefeitura. Neste momento morreu esta reunião e nós continuamos na reunião do vice-prefeito. Mas não morreu a ideia de termos uma reunião dos presidentes sem executivo e sem legislativo.

FEMAC 25 anos - E sobre os Bairros: sabe nos informar a realidade dos bairros/ do seu bairro/ da sua região antes da FEMAC e o que aconteceu após a criação da FEMAC ou em função da atuação do movimento comunitário nos bairros e consequentemente na cidade?

João Batista Albino - Naquela época era mais fácil para reunir o povo exatamente por este motivo. A nossa avenida principal era de chão e só cascalhada, nas ruas nem cascalho tinha. Quando chovia o barro descia sobre a avenida, depois veio o calçamento da avenida, mas as ruas continuaram sem calçamento e assim foi. Nossas reivindicações naquela época eram ruas calçadas, avenida asfaltada. Primeiro brigamos pela avenida, depois pelas ruas. Também não tinha rede esgoto. O povo participava das reuniões porque tinha muita necessidade, na medida em que foi resolvendo as necessidades o povo foi diminuindo a participação. As nossas reivindicações eram a partir destas necessidades.

FEMAC 25 anos - A FEMAC desenvolveu muitas parcerias ao longo de sua existência com sindicatos, igrejas, associações e órgãos públicos. Pode falar de alguma destas parcerias: importância e resultados?

João Batista Albino - Nós tivemos dois tipos de parceria: Nesta época nós precisamos muito de parceria de trabalho, daqueles que vinham participar das reuniões e abraçavam a causa. Deste nível nós tivemos a parceria do Sind-Ute com o professor Edmar e a professora Zuleica; do sindicato dos produtores Rurais com o Dr. Antônio da Paixão Carneiro; do sindicato dos Marceneiros com o Luizinho e a Ângela; da OAB com a Dra. Marília Haikal, a Kika; e o Dr Horácio defensor público.

FEMAC 25 anos - A FEMAC teve também muitos apoiadores ao longo da história de 25 anos. Um importante apoiador foi o Dr Antônio da Paixão Carneiro, presidente do Sindicato Rural de Ubá. Sabe nos falar sobre as lutas deste período e a importância desta personalidade para a FEMAC.

João Batista Albino - A parceria forte mesmo da FEMAC era com o sindicato rural com o Dr Antônio e o Santinho Barreto.

FEMAC 25 anos - A Logomarca da FEMAC é constituída de um triângulo com as palavras: na base CIDADANIA, de um lado NEGOCIAÇÃO e de outro lado MOBILIZAÇÃO. Pode nos falar sobre o significado desta logomarca. E qual lado deste tripé foi mais destacado ao longo destes 25 anos na sua percepção. E se este tripé ainda atende as necessidades do movimento.

João Batista Albino - Na minha opinião, nós criamos esta logomarca exatamente a partir do trabalho iniciado e realizado nos primeiros anos de sua existência, e a logo corresponde aos três princípios que norteiam a entidade. Nós nos unimos para lutar pela nossa cidadania, e para conquistar cidadania nós precisamos reunir e negociar. O mais importante a meu ver foi à mobilização. Nós tivemos que mobilizar através de visitas aos domingos para explicar qual a razão de existir da FEMAC. Nós buscamos isso permanentemente nas capacitações, nos eventos e com as assessorias da irmã Marisa, do Padre Sebastião e do Nando, Dr. Fernando Fagundes. Mobilizamos e nos capacitamos para aprender a negociar com Legislativo e Executivo. A finalidade deste processo era buscar a cidadania que nós merecemos na área da saúde, educação, obras, social e segurança.

FEMAC 25 anos - A FEMAC e a sua ação institucional - Desde a sua fundação a FEMAC tem uma participação muito efetiva nos conselhos de políticas públicas. Como era antes da FEMAC e o que mudou. Quais foram os avanços ao longo destes 25 anos de atuação nos conselhos.

João Batista Albino - Foi no conselho de saúde que a FEMAC teve mais sucesso. Penso que depende um pouco do executivo. Como disse anteriormente o Professor Defilipo dava importância às associações. Com a saída do Defilipo, o próximo prefeito que veio não dava a importância que o movimento comunitário tem. Mesmo sem o reconhecimento, a FEMAC se organizava e corria atrás. O prefeito Dirceu dizia que não queria relações com a FEMAC. O Narciso às vezes ia aos congressos e ficava uns minutinhos e às vezes nem ia. A FEMAC fazia os ofícios exigindo que as vagas de representação de usuários nos conselhos fossem indicadas através da assembleia das associações. Poucos executivos criaram os conselhos, com exceção do da saúde. O conselho de assistência social demorou a ser criado, porque antes existia o CAS - Centro de Assistência Social que era uma composição das entidades com os vicentinos, mas sem a preocupação com a paridade.

FEMAC 25 anos - A FEMAC e Poder Executivo - Como foi à relação nestes 25 anos? Na sua vivência quais foram os momentos de maior tensão e por quê? Quais foram os fatos e momentos convergentes e por quê? Qual o aprendizado para o movimento comunitário?

João Batista Albino - Na administração do prefeito Narciso teve um conflito no congresso da Vila Casal, congresso da Saúde. Ele não foi e mandou o Vice-Prefeito, o Sebastião da Beolar. O vice chegou ao congresso e resolveu jogar a farinha no ventilador, o que saiu em toda a mídia da cidade na segunda-feira. O outro conflito foi a disputa pela presidência do conselho municipal de Saúde. O movimento reivindicava que o presidente deveria ser escolhido por eleição e o Poder Executivo queria que o secretário de saúde fosse o presidente nato. Este conflito foi solucionado por uma emenda à Lei Orgânica e posterior mudança no regimento interno do conselho, garantindo que o presidente fosse eleito entre os seus membros. Ubá foi uma das primeiras cidades de Minas Gerais em que a mesa do conselho de saúde é eleita, podendo concorrer qualquer conselheiro. A outra reivindicação da época era pela convocação da segunda conferência municipal de saúde. A primeira tinha sido realizada em 1989 e já eram quase nos anos 2000 e não tinha sido convocada a segunda. A conferência foi convocada para o horto e a FEMAC deu um show de organização uma vez que já tinha realizado várias conferências populares prévias e mobilizado uma multidão ubaenses.

A partir daí a FEMAC numa mais perdeu a mesa do conselho, somente na gestão do Vadinho Baião, a conselheira Sandra Kilesse, ocupando uma vaga da Gestão, dirigiu o conselho, mas numa composição que não houve a indicação do governo, de comum acordo com o movimento e com toda a bancada de usuários e trabalhadores.

FEMAC 25 anos - Poder Legislativo - Como foi a relação nestes 25 anos? Na sua vivência quais foram os momentos de maior tensão e por quê? Quais foram os fatos e momentos convergentes e por quê? Qual o aprendizado para o movimento comunitário?

João Batista Albino - Já com a Câmara é diferente porque tivemos vereadores eleitos que tinha contato com as comunidades. Teve um período que foi eleita uma bancada de Vereadores: Rosa Araújo, Geraldinho Calçado, Vadinho Baião, Ademir de Paula, Dr. Antônio Carlos Jacob, Fernando Fagundes, e nesta época a FEMAC entrou de vez na Câmara. Antes ela corria atrás, neste período a Câmara vinha até nós.

FEMAC 25 anos - A sustentação financeira da FEMAC sempre foi um ponto de preocupação para os dirigentes, ao mesmo tempo, que as ações de arrecadação são também um ponto que une as lideranças. Pode nos falar sobre a prática da FEMAC no campo da arrecadação financeira ao longo dos seus 25 anos.

João Batista Albino - A sustentação da FEMAC sempre foi às associações. Foi aprovada em assembleia uma mensalidade de dois reais, depois mudou para cinco reais e hoje são dez reais por associação. Nós também fazíamos rifas, almoços, bailes. Depois de um certo tempo a maior arrecadação da FEMAC passou ser a conquista que tivemos, ou seja, o direito de explorar o estacionamento do horto. Depois com a Ângela na presidência em substituição a uma chapa que não terminou o mandato, já no Governo do Prefeito Vadinho a FEMAC entrou para o Conselho de Assistência social.

FEMAC 25 anos - Nos últimos anos a FEMAC passou a receber subvenção pública pode nos falar deste tempo?

João Batista Albino - Um dos pontos de divisão é que algumas pessoas de importância na entidade entendem que a FEMAC não devia receber/depender de subvenção pública. Já a direção que tomou posse neste momento, com aprovação da maioria deu encaminhamento e conseguiu a inclusão no conselho em 2009 e a partir daí passou a receber a subvenção. Sobre esta possibilidade da FEMAC ficar “debaixo do balaio” por receber a subvenção posso afirmar que não. Isso vai da ideologia do grupo e a presidente Ângela nunca deixou de fazer críticas à administração quando foi necessário. Na minha concepção este dinheiro que entrou para a FEMAC nunca nos prendeu. É uma quantia muito pequena para prender. Acrescento que o que o valeu para a FEMAC foi o registro na Sedese em Belo Horizonte, porque ao se tornar uma entidade com este registro estadual ela adquiriu a possibilidade de fazer projetos e até receber subvenção através de indicação de deputados. Foi nesta gestão que conseguimos um carro, uma televisão, um computador, um retro projetor. Este registro fortaleceu a entidade.

FEMAC 25 anos - A FEMAC é uma entidade plural onde já conviveram as mais diversas correntes políticas e religiosas da cidade. Pode nos falar sobre a prática ecumênica e democrática no interior da FEMAC nestes 25 anos? Seus desafios e avanços.

João Batista Albino - A FEMAC sempre foi plural. Todos os seus membros são políticos no sentido mais amplo da palavra, mas isso nunca atrapalhou, pois cada um trabalha a sua ideologia. A FEMAC nunca tirou posição de apoiar candidato, sempre os seus membros tiveram liberdade e a entidade apoia ideias e propostas.

FEMAC 25 anos - Em função de que a FEMAC se viu dividida internamente ao longo dos últimos 25 anos? Como a FEMAC trabalhou as suas divisões internas ao longo dos seus 25 anos?

João Batista Albino - Teve um momento de divisão com a AMABAM, mas que não abalou a FEMAC, uma vez que era só um presidente. Ele não obteve sucesso porque a FEMAC era muito forte, unida e tinha o respeito da sociedade.

FEMAC 25 anos - A FEMAC foi ao longo dos últimos 25 anos uma grande articuladora de trabalho voluntário em prol de causas coletivas. (saúde, educação, saneamento, segurança etc.) Pode nos falar deste potencial mobilizador da FEMAC neste período de existência da entidade? Quais os atuais desafios. Quais as estratégias que o movimento comunitário utiliza hoje para mobilizar voluntários? Quais são os temas que a FEMAC prioriza hoje?

João Batista Albino - Eu penso que a FEMAC tem que fazer mais trabalho de conscientização sobre os direitos e deveres do cidadão e lutar por melhoria na educação, na saúde, na assistência social. Nós estamos com todas as ruas calçadas, asfaltadas então o que está precisando é melhorar a área de saúde. Temos que mobilizar o pessoal nesta área. E quando a gente corre atrás para mobilizar aparece a dificuldade porque o povo acha que é obrigação do prefeito e do vereador.

Temos as novas ferramentas: como mobilizar para reunião em tempos Facebook, Whatsapp. Antes quando tinha um buraco na rua e precisava mobilizar a comunidade fazia-se uma carta, entregava nas escolas, nas igrejas, falava no rádio. Hoje se tira uma fotografia, publica na rede social e em minutos muita gente fica sabendo. Eu acho que isso dificulta a reunião: para que ir à reunião se todas as informações da reunião já circularam na rede social. Antes era na reunião que se obtinha as informações.

FEMAC 25 anos - Como você vê a FEMAC nos próximos 25 anos? O que a FEMAC estará fazendo daqui a 25 anos e como?

João Batista Albino - A força do povo está na união, mas as pessoas hoje estão reunindo mais pelo Facebook e não é a mesma coisa que trocar informações e energia. Para você conquistar direito é preciso mobilizar um grande número de pessoas. Como fazer isto hoje com a tecnologia avançada e a política desacreditada.