Aldeir Augusto Ferraz

Aldeir Augusto Ferraz - Bairro São Domingos - Atuei como coordenador geral e exerci outras funções na diretoria da FEMAC.

Aldeir relembra citação do Dr. Antônio Paixão Carneiro nos 25 anos da FEMAC.

"Dr. Antônio atuava ombro a ombro com nossas lideranças em prol de um atendimento de qualidade nos serviços de saúde, abria sempre o espaço do programa do sindicato rural para as pautas do movimento comunitário e tinha ele aquela aura de militante chegando se declarar de forma descontraída ser um Zapatista (grupo revolucionário do México) e sempre usava uma frase de uma música de Chico Buarque pata mostrar sua disposição de luta".

“Quantas guerras terei de Vencer para ter um pouco de paz"

FEMAC 25 anos - Como conheceu a FEMAC e porque atuou no movimento.

Aldeir Augusto Ferraz – Conheci a FEMAC através da minha participação na associação de moradores e amigos do bairro São Domingos, onde fiz parte da diretoria, ocupei alguns cargos, inclusive a presidência.

Era um tempo de reafirmação da organização comunitária com muitas reuniões e encontros de formação.

FEMAC 25 anos - Saberia nos informar qual era a realidade do movimento comunitário antes da criação da FEMAC e o que aconteceu com o movimento depois da sua criação?

Aldeir Augusto Ferraz – A minha participação na FEMAC veio após 05 ou 06 anos de sua fundação, mas os relatos eram mais de mobilizações através das pastorais sociais e comunidades eclesiais de base o qual tenho orgulho de dizer que foi o berço da minha formação politica.

Com a criação da FEMAC muitos bairros se organizaram chegando a ultrapassar mais de quarenta associações de moradores.

FEMAC 25 anos - E sobre os Bairros: sabe nos informar a realidade dos bairros/ do seu bairro/ da sua região antes da FEMAC e o que aconteceu após a criação da FEMAC ou em função da atuação do movimento comunitário nos bairros e consequentemente na cidade?

Aldeir Augusto Ferraz – O meu bairro São Domingos, o mais populoso da cidade, sempre enfrentou muitos problemas de estrutura e graves questões sociais, mas sempre contou com a mobilização das lideranças que se organizavam para superar as barreiras como exemplo havia o Grupo de apoio ao Menor (GAM), a Escola de Samba...

Cada bairro tinha a suas lutas e suas experiências eram partilhadas nos encontros das lideranças organizados pela FEMAC.

FEMAC 25 anos - É competência estatutária da FEMAC contribuir com a organização/formação e capacitação de dirigentes comunitários. A FEMAC realizou muitos eventos e atividades desta natureza. Pode enumerar alguns eventos realizados ao longo dos 25 anos que marcaram a trajetória da FEMAC e por quê?

Aldeir Augusto Ferraz - As conferências municipais e encontros de formação sempre foram constantes, também os congressos tinham pautas importantes que levavam a informação e formação das lideranças.

Organizamos as eleições unificadas que levou a um fortalecimento do movimento e o reconhecimento por parte da sociedade do papel importante da Federação.

O dia do líder comunitário e o Premio Irmã Marisa Costa também foram momentos fortes de celebração da nossa história.

FEMAC 25 anos - Nesta linha de eventos o Fórum Social Cristão foi importante para o movimento, por quê?

Aldeir Augusto Ferraz - O Fórum Social Cristão de fato foi um dos mais importantes eventos que ligou nossa Fé Cristã a caminhada necessária da organização popular.

FEMAC 25 anos - A FEMAC desenvolveu muitas parcerias ao longo de sua existência com sindicatos, igrejas, associações e órgãos públicos. Pode falar de alguma destas parcerias: importância e resultados?

Aldeir Augusto Ferraz – A FEMAC sempre teve uma relação produtiva com a Prefeitura, Câmara de Vereadores, Sindicatos como o dos Marceneiros, o Sindicato Rural e o Sind-Ute, as igrejas tiveram um papel fundamental na organização.

Ações como orçamento participativo, a discussão do plano diretor e as conferências de saúde, de assistência social e outras sempre contaram com a contribuição popular através da nossa organização.

FEMAC 25 anos - A FEMAC teve também muitos apoiadores ao longo da história de 25 anos. Um importante apoiador foi o Dr. Antônio da Paixão Carneiro, presidente do Sindicato Rural de Ubá. Sabe nos falar sobre as lutas deste período e a importância desta personalidade para a FEMAC.

Aldeir Augusto Ferraz - O Nosso Antônio da Paixão Carneiro e também o Santinho Barreto na luta pelo SUS foram uma referência para nossa organização.

Apesar das suas atribuições de presidente de um sindicato patronal, Dr. Antônio atuava ombro a ombro com nossas lideranças em prol de um atendimento de qualidade nos serviços de saúde, abria sempre o espaço do programa do sindicato rural para as pautas do movimento comunitário e tinha ele aquela aura de militante chegando se declarar de forma descontraída ser um Zapatista (grupo revolucionário do México) e sempre usava uma frase de uma música de Chico Buarque pata mostrar sua disposição de luta:

“Quantas guerras terei de Vencer para ter um pouco de paz"

FEMAC 25 anos - A Logomarca da FEMAC é constituída de um triângulo com as palavras: na base CIDADANIA, de um lado NEGOCIAÇÃO e de outro lado MOBILIZAÇÃO. Pode nos falar sobre o significado desta logomarca. E qual lado deste tripé foi mais destacado ao longo destes 25 anos na sua percepção. E se este tripé ainda atende as necessidades do movimento.

Aldeir Augusto Ferraz - A busca da Cidadania plena sempre foi um desafio, pois lutar pelos direitos e ser cumpridor dos deveres nas cidades esbarra em processo cultural e também de sobrevivência. Viver nas cidades requer solidariedade cooperativa e infelizmente somos na maioria das vezes individualistas e no instinto de sobrevivência somos o cada um por si e Deus nos acuda.

A mobilização e a negociação sempre foram o forte da FEMAC

FEMAC 25 anos - A FEMAC e a sua ação institucional - Desde a sua fundação a FEMAC tem uma participação muito efetiva nos conselhos de políticas públicas. Como era antes da FEMAC e o que mudou. Quais foram os avanços ao longo destes 25 anos de atuação nos conselhos.

Aldeir Augusto Ferraz - Muito se contribuiu nos conselhos municipais através da participação das lideranças da FEMAC.

Habitação - Saúde - Assistência Social - Transito e Transporte - Desenvolvimento urbano e rural.

Cada conselho tem sua história marcada por luta com avanços e também enfrentamentos contra a tentativa de retrocessos.

FEMAC 25 anos - A FEMAC e Poder Executivo - Como foi à relação nestes 25 anos? Na sua vivência quais foram os momentos de maior tensão e por quê? Quais foram os fatos e momentos convergentes e por quê? Qual o aprendizado para o movimento comunitário?

Aldeir Augusto Ferraz - Cada Governo tem uma forma de agir e alguns agem com estilos mais autoritários e outros mais participativos.

Nos governos autoritários o enfrentamento é inevitável e infelizmente a sociedade acaba perdendo nestes períodos e a FEMAC sempre soube lidar com estas situações.

Nos Governos participativos tivemos a participação nas decisões orçamentárias, mas que não deixava também de gerar algumas tensões pelo fato das demandas serem maiores do que os recursos disponibilizados para serem aplicados.

FEMAC 25 anos - Poder Legislativo - Como foi a relação nestes 25 anos? Na sua vivência quais foram os momentos de maior tensão e por quê? Quais foram os fatos e momentos convergentes e por quê? Qual o aprendizado para o movimento comunitário?

Aldeir Augusto Ferraz - Tivemos alguns momentos de relação com o Legislativo meio tensos, principalmente por vereadores que enxergavam na FEMAC uma concorrente que atrapalhava os seus guetos eleitorais, mas no geral na medida do possível e do nível dos representantes no legislativo foi bom.

FEMAC 25 anos - A sustentação financeira da FEMAC sempre foi um ponto de preocupação para os dirigentes, ao mesmo tempo, que as ações de arrecadação são também um ponto que une as lideranças. Pode nos falar sobre a prática da FEMAC no campo da arrecadação financeira ao longo dos seus 25 anos.

Aldeir Augusto Ferraz - Tivemos uma experiência com a AMABAM (associação de moradores da Cibraci) que como OSCIP recebeu muitos recursos públicos e isso cresceu no imaginário que fazer movimento comunitário era importante receber recursos públicos. Credenciamos a FEMAC como OSCIP, mas internamente isso sempre foi um tabu, pois existe uma visão na qual compartilho de que não é nosso papel substituir o Estado nos seus deveres com a sociedade.

FEMAC 25 anos - A FEMAC é uma entidade plural onde já conviveram as mais diversas correntes políticas e religiosas da cidade. Pode nos falar sobre a prática ecumênica e democrática no interior da FEMAC nestes 25 anos? Seus desafios e avanços.

Aldeir Augusto Ferraz - A Democracia de fato é complicada, pois lidar com pensamentos diversos no que se diz respeito à política e religião é complexo, e na FEMAC isso também aconteceu, gerando alguns conflitos, mas que também geram aprendizados para aprimorar melhor o caminho.

Não podemos perder de vista os objetivos e se perder já não pode se considerar democracia.

FEMAC 25 anos - A FEMAC foi ao longo dos últimos 25 anos uma grande articuladora de trabalho voluntário em prol de causas coletivas. (saúde, educação, saneamento, segurança etc.) Pode nos falar deste potencial mobilizador da FEMAC neste período de existência da entidade? Quais os atuais desafios. Quais as estratégias que o movimento comunitário utiliza hoje para mobilizar voluntários? Quais são os temas que a FEMAC prioriza hoje?

Aldeir Augusto Ferraz - O Trabalho voluntário na organização das comunidades foi digno de louvor e destaco aqui o Pires da Luz na construção do salão comunitário, o bairro São João com suas noites do Pastel, os almoços comunitários e festas em todos os bairros, isso é muita energia positiva.

FEMAC 25 anos - Como você vê a FEMAC nos próximos 25 anos? O que a FEMAC estará fazendo daqui a 25 anos e como?

Aldeir Augusto Ferraz - Estamos vivendo um momento complexo da história e muita coisa precisa ser reinventada, acho que o movimento comunitário precisa se libertar de algumas amarras, incentivar a formação de associações comunitárias sem a burocracia de documentações, apenas com a organização em si dos moradores, buscar financiamento próprio sem subvenções públicas que muitas vezes são para substituir o Estado em seu papel.

Enfim, ser mais claro no seu papel de defesa do povo, enxergar o seu tamanho e importância, não se apequenar e lutar de fato por cidades mais justas e solidárias.

VIVA A FEMAC, VIVA O SEU POVO QUE RESISTE E UM SALVE A TODOS QUE NOS DEIXARAM AO LONGO DA CAMINHADA. SÃO O ESPIRITO DE ENERGIA QUE NOS FORTALECE.

Aldeir Ferraz