Inscrições de Curta-metragem 9 sessões

INSCRIÇÕES DE 10 A 22 DE OUTUBRO - VEJA TODAS AS CHAMADAS AQUI

SESSÃO 1 - Meio Ambiente; Mudanças Climáticas; Naturezas; Ruínas; Paisagens; Clima; Antropoceno; Vida; Biopirataria; Bioarte


Meio de tudo é meio dentro e meio fora do nada.

O meio não é começo nem fim.

O meio não encosta nas beiradas,

mas uma beirada já foi, onde hoje o meio é.

O meio é aquilo que apontamos o dedo.

O meio é o círculo que se faz com os dedos da mão

Num rabisco transparente no céu azul.

Meio da rua, meio campo, meia colher, meia chulé,

Meio cansado, meio desligado, meia tensão, meia dúzia,

Meia xícara de café, meio dia, meio ambiente. Casa.

Casa acabando, casa caindo, casa


As linhas que nos formam em paisagens estão cobertas de fuligem. Tudo à nossa volta está em chamas. O Cerrado, o Pantanal, a Amazônia, a Mata Atlântica, e… Nós também. A arte rabisca com todos esses sentimentos ardis que vêm queimando, numa tentativa de conseguir colorir a tela apenas com as cinzas do que sobrou da vida. Que ausências há nas imagens de paisagens brasileiras que vemos em fogo arder? Que capturas possíveis do impossível há?

Imagens de paisagens, capturas e drenagens.

É isso que chamamos de antropoceno, um período caótico, de catástrofe, que anseia por novas maneiras de restaurar as relações da terra.

Paisagens brasis. Vidas brasis. O mesmo em ruínas, adiantar o fim de um mundo, o nosso.

Impulsos invasores, a natureza que não cansa, está cansada. Nossos animais ardem em fogo, arte com fogo. Sementes queimadas pelo fogo, no primeiro pingo d’água, recebem mensagem da terra e quebram a dormência para poder germinar.

O que está faltando nisso que tudo que sobra da paisagem?

O fogo, que queima o mundo, reúne na paisagem modos de ser. Sem queimada, monocultura e pasto, as árvores retomam.

A cidade reúne agilidade, histórias humanas, fumaça, cansaço e fogo.

O fogo arde até o fundo da terra, todo fogo aceso um dia há de parar. A fumaça sufoca, arde, embaça e escurece o olhar. Não consigo respirar! Não insista na teima inumana eterna, o fogo queima.

O cinema e o audiovisual fazem mergulhos profundos em territórios onde as cinzas podem colorir. Tornam até mesmo o tempo que é efêmero, em imagem da eternidade.


SESSÃO 2 - Corpo e Território; Geografia; Cartografia; Regionalismo; Geopolítica; Tratados; Demarcação; Colônias; Favelas; Rua; Estradas


Etimologicamente, o conceito de “cultura” é um conceito derivado do de natureza. Situado entre a “lavoura” e “cultivo agrícola” (EAGLETON, 2000). Nassar e os cantos de trabalho não nasceram em Pindorama por acaso, a grande maldição ao sul do planeta é a esperança. Como Brown situou “Sonhar machuca”.

Ao perseguir a Terra sem Mal, dezenas de indígenas Mbyá chegaram a Santos. Mas diferente dos delírios de Sônia Silk à frente da paisagem carioca (que praguejou a própria fé declarando estar “cansada de ver Deus sob a sombra de 40 graus”), os nativos não perseguiam uma ideia, mas sim uma crença. De Itaparica à Vitória da Conquista, dois brasis distintos foram formados na criação. Na literatura João Ubaldo ousou com “Viva o Povo Brasileiro” e na tela grande Corisco berrava que “mais fortes são os poderes do povo!”. Mas que povo é esse? Diferentemente de outras culturas, a brasileira não possui o mito-fundador. Se Voltaire acertou ao dizer que seria necessário “criar Deus”, o Brasil pariu Macunaíma.

Cada uma dessas narrativas, ficcionais ou não, são sínteses dos muitos brasis possíveis. Perseguir uma identidade brasileira se tornou um esforço inconcebível e desonesto. “Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente” disse Oswald. As culturas regionais brasileiras formam o país a partir de sua descentralização. "A democracia é o ‘desreinado’ do povo", disse Glauber em leito tropical. Ainda que seja feita uma análise totalizante da cultura brasileira, falaremos de nosso regionalismo. E nessas regiões, vamos discutir nossa mobilidade urbana, favelas, ruas. É a paisagem política que define a própria criação. O Rio de Janeiro, por exemplo, é uma cidade que não converge, não convida e não centraliza. Se situa entre a matéria e o mito, o asfalto e a gira. Mas essa perspectiva não é compartilhada por todos, cada lugar e bairro possui uma carga histórico-cultural particular que é projetada em suas produções artísticas.

Assim, Lincoln Péricles compreende sua cinematografia pela necessidade de sua exibição, pois a política em suas obras não está restrita à militância mas a própria existência da periferia. E entender que o processo de identidade é a reafirmação da diferença, como Tomaz Tadeu da Silva discorre, é fundamental para que a representação não seja feita às bases de uma mimesis do colonizador, nem em reação às suas investidas, mas sim de uma compreensão das “relações recíprocas entre a luta pela liberdade e a formação da cultura nacional” (XAVIER apud FANON, 2019, p. 213). Pensar a cultura regional vai além do ato de representação formal, é uma necessidade de reflexão em torno das margens sociais e das convergências dominantes. Nossa situação de dependência faz parte de nossa formação. Pasolini discorre sobre o processo de “homologação cultural” que as classes dominantes impõem em um regime de “consenso”. O “consenso” é a base do fascismo. Ou seja, descentralizar nosso modo de representação, produção, distribuição e exibição é fundamental para que possamos manter a cultura viva, enquanto memória e resistência política. E demarcar o mito/rito a partir de nossa materialidade é entender o lugar da realidade e do fantasioso, da suspensão. O cinema não é a arte da classe dominante, mas foi apropriada pela mesma. Ocupar essa tela é um direito categórico. Que Brasil queremos representar? As lutas sociais nunca estiveram tão intrínsecas na produção audiovisual, a ocupação é urgente.


EAGLETON, Terry. A Ideia de Cultura.(2003). 2000.

XAVIER, Ismail. Sertão mar: Glauber Rocha e a estética da fome. 1ed. São Paulo, Duas Cidades; Editora 34, 2019.


Sessão 3 - Conexões Humanas; Encontros; Flash Back; Efeito Borboleta; Destinos; Carma; Corredores; Histórias Conectadas; Tramas; Dramas


O uso da palavra conexão evoca uma primazia muito particular do se fazer e consumir cinema. Sua origem está pautada na conectividade de histórias, sonhos e estéticas, uma narrativa universal, por exemplo, conecta a todos que assistem pelo sentimento compartilhado de subjetividades próximas, ainda que distintas em outros aspectos. O cinema é, portanto, uma conexão de significados.


Das muitas conexões do cinema podemos citar algumas para discorrer o texto: estética, narrativa, e mercado. Da estética estende-se assimilações visuais e suas reconfigurações; da narrativa, passamos por entrelaços subjetivos que exploram territorialidades, sexualidades e tantas outras dissidências; do mercado, um desafio assimétrico, um campo de disputa por poder e hegemonia cultural. No fim, são esses aspectos que nos trazem a luz de uma reflexão muito maior, muito mais densa e que dialoga diretamente com essa relação profunda entre nós e o desejo inerente de criação de novos mundo e possibilidades que o cinema é capaz de trazer com seu poder de imersão.


Quando falamos sobre os limites textuais de uma imagem, recorremos a uma gama de complexidade que poucas descrições dão conta, ela não é simples, nem tão pouco fixa. A imagem é anacrônica por si só. Dessa forma, quando pensamos em cinema e imagem, pensamos em variações de tempo, espaço e sentido artístico, portanto cultural e político, portanto social e econômico) , ambos se alteram e se influenciam em um relacionamento de puro hibridismo. Conexões firmes se fazem com uma imagem no cinema, são memória, são documentos e como defende Odin (2012), imagens tem caráter documental mesmo em seus maiores delírios ficcionais pois abriga um registro de pensamento, de conceito e de tempo à sua concepção. Quando vemos uma cena de melodrama, por exemplo, onde um frame, sem fala, exemplifica o furacão de emoções que a protagonista está passando, literal ou metaforicamente, estamos falando sobre uma capacidade inerente e subjetiva de conexão de nossas próprias bagagens de experiências, uma vida dentro da história; ainda que tais experiências se manifestem em menor ou maior grau. A estética do cinema é ainda um campo complexo e repleto de “se” cuja resposta nunca será encontrada efetivamente, pois a imagem que precede a estética é mutável e seu elo com cinema eterno.


A mesma conexão presente no poder na imagem também se estende a maneira de contar histórias, a ampliar o rastro da criação de mundos e possibilidades, e essa, tão mais que a imagem sozinha, consegue ser universal e seu modo de captar vivências. A narratividade é, portanto, um elo firme para nos ligar à arte do cinema, pois assim, cultivamos um caminho de “afetividade” através da identificação, admiração, desejo ou mesmo repulsa. Essa convergência de ligações apenas prova como o cinema é uma síntese de sentidos.


Por isso, narrativa e estética andam juntas, mesmo que funcionem separadamente também. Entretanto, quando pensamos em cinema, principalmente em um cenário independente latinoamericano, não há como não abordar a relação deste com o mercado. Autores como Butcher (2019) e Canclini (2007) já davam luz a esse debate por ser importante para a formação social e econômica de massas consumidoras de apenas um tipo de cinema, um tipo de cultura. O cinema enquanto mercadoria é hegemônico e estadunidense, mas não pode e nem deve ser limitado a isto, por isso o pensamento do mercado conectado às esferas narratológicas e estéticas cinematográficas compõe um cenário mais amplo sobre como podemos lutar contra essa alteridade cultural imposta pelo espírito comercial. As cláusulas mercadológicas (entre exibição e distribuição) do cinema devem ser consideradas mais amplas: festivais e mostras audiovisuais são resistências ao consumo programados de exibidores caros presos em salas de shopping, diferente do anterior, ao resistir a maneira de consumir privada e restrita criativamente falando, festivais e mostras independentes mostram-no como a visão de um cinema completo pode coexistir entre seus pilares e nossa escolha de viver a arte e suas facetas de entretenimento.


Por soluções amplas e criativas, por um cinema completo em recepção pensando em muitos, não somente em números. Por uma arte que seja cada vez mais próxima de quem produz e também assiste.


BUTCHER, Pedro. Hollywood e o mercado de cinema brasileiro: princípio(s) de uma hegemonia. UFF. 2019


CANCLINI, Nestor Garcia. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. 4 ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999/1996. ___________. Diferentes, desiguais e desconectados: mapas da interculturalidade. 2 ed. Rio de

Janeiro: UFRJ, 2007


ODIN, Roger. Filme documentário, leitura documentarizante. In: Significação, ano 39, no 37,

2012.

Sessão 4 - Vento e Movimento; Utopias; Sonhos; Desejos; Escolhas; Direitos Humanos; Estilos de vida; Mudanças de vida; Fantasia; Outros mundos; Distopia; Realidade múltiplas e paralelas


O que caracteriza o movimento? Pode partir de um grupo que se conglomera; uma mudança substancial integrada ao desenvolvimento; ou ainda, um ato de variação privado de qualquer significado profundo, como simplesmente se levantar da cama. A palavra em si explora vários ramos de significação, mas há um elemento que é indissociável de sua matéria: a ação. A ação é a essência que contorna a perspectiva de movimento, é aquilo que promove o deslocamento. A partir dela que se gera o movimento, e de todo esse processo surge a transformação.

O cinema é a arte do movimento. Foi a primeira arte que transgrediu a perspectiva básica do movimento como conteúdo estético, para torná-lo como matéria prima de sua constituição. No cinema a justaposição de fotografias falseia ao olhar uma impressão de movimento. É a partir daí que se faz possível o cinema. E é válido propor que essa essência de movimento se manifesta não só na tela, mas para o espectador. Toda obra cinematográfica se move, ao mesmo tempo que move o espectador. Ela se justapõe a ele para transformar as suas experiências para qual o mundo. Cria, junto ao público que a assiste, um movimento em construção. Não há espaço para destruição no cinema; a ação sempre visa a progressão. Mesmo quando o conteúdo artístico é passivo de um conteúdo destrutivo, sua influência no espectador se move em direção de uma transformação interna. O que se coloca aqui então é que o movimento é a essência natural do cinema, ao passo que o próprio cinema gera o movimento. Aquilo que sedimenta essa relação é a ação inicial que fabrica a obra. A ação inicial que vai gerar todo esse movimento. Diante de um contexto brasileiro que insiste na estagnação, na conservação, extermínio a força transformadora que jaz no cinema é esplêndida. A necessidade de mudança diante do paradigma de destruição passa pela necessidade de criação, pois toda força que visa a mudança carece de movimento. Todas as obras feitas para mostra expurgam esse júbilo da ação, atingiram a perspectiva de movimento e agora inspiram a tantos outros espectadores a se agitarem em direção à transformação.


Sessão 5 - Política; Governo; Golpe; Luta de Classes; Classes; Manifestações; Lutas; Minorias; Políticas Públicas; Direito; Leis; Ordem e Progresso; Partido; SEM partido; Estado; País; Paisagem


Estamos Queimando. Tínhamos respeito internacional mas através de intrigas política entramos em uma espiral de onde não conseguimos ver o fim, vivendo todos dias com noticias de má conduta médica, lobismo e problemas diplomáticos que deixam a Pandemia parecendo algo de segundo plano. Mas nossos corações queimam esperando um amanhã melhor, acompanhando a mais de 120 dias uma comissão que tenta destrinchar esquemas de corrupção para que tenhamos ao menos um segundo de paz. Nem mesmo os palpites de "O Mês que Não Terminou" (2019) e "Junho - O Mês que Abalou o Brasil" (2014) podiam prever o que estava por vir.


Estamos Queimando. Quando em mesas de bar o assunto sobre a linguagem neutra na língua Portuguesa é mais acalorado do que a indignação em relação a violência contra a comunidade LGBTQI+, queimamos quando pessoas são impossibilitadas de serem elas mesmas por mero narcisismo dos outros que acreditam que suas escolham ditam uma sociedade inteira. Mas queimamos essa condição imposta quando cada um conquista seu lugar de direito e tem sua voz ouvida, quando uma pessoa trans se torna diretora de uma escola pública na periferia mudando a vida de muitos jovens que descobrem que podem seguir os mesmos passos como uma das histórias mostradas em “O Meu Corpo é Político” (2017) de Yuri Amaral.


Estamos Queimando. Queimamos a ponto de estudantes se mobilizarem para ocuparem suas escolas e faculdades pedindo mais investimentos, melhores condições para alunos e professores, e a força destes estudantes foi tão grande que a tropa de choque e uso de instrumentos sonoros contínuos de privação de sono foi usada para tentarem dispersa-los. Enquanto vemos as demandas dos estudantes pelas lentes de Eliza Capai em “Espero Tua (Re)volta” (2019), vemos que o combustível que possuímos dentro de nós mesmo ainda pode queimar.


Estamos Queimando. Quando a Cinemateca Brasileira nós queimamos juntos, queimamos pois não foi falta de aviso, queimamos pois não foi um acidente e sim um crime já anunciado a tempos com objetivo do desmonte do setor audiovisual. Perdemos muitos arquivos e vídeos que jamais serão recuperados e ainda não nos preparamos para o próximo incêndio que poderá acontecer na sede da Cinemateca na Vila Clementino em São Paulo, com isso fica claro que a falha do governo com a nossa cultura é tempos. Vimos o Museu da Língua Portuguesa queimar em 2015, vimos o Museu Nacional queimar em 2018, e agora vimos uma parte da Cinemateca queimar em 2021. E mesmo entre escombros nos reerguemos, vemos os esforços em restaurar o Museu Nacional através de 18 relatos no documentário "Resgates" (2019) de Zhai Sichen, são trabalhadores do museus que sentiram na pele o abandono e usaram suas próprias mãos para começar a arrumar o que sobrou do espaço.


Somos pessoas que queimam, vivemos em um mundo que já está no limiar de seus recursos, em um país onde as políticas existem para proteger os os próprios políticos, mas também queimamos com nossa força de vontade de se agarrar a vida, de sermos melhores hoje do que fomos ontem. Mesmo com medo nós usamos nossas palavras como armas e pedimos por respeito, conversamos, influenciamos, somos professores e alunos de nós mesmos e daqueles a nossa volta, a cada dia que passa, queimamos, a cada dia que passa, (sobre)vivemos.


Sessão 6 - Educação; Ensino; Aprender; Escola; Não-escola; Professorxs; Infância; Giz; Chão; Brincadeiras; Didática; Formação; Universidade; Privado; Público; Experiências; Jogos; Livros; EJA; Pós; Academia; Pedagogia; Recurso


Quem nunca ouviu algum professor pedindo ajuda com o projetor ou impressora e que agora este mesmo professor está enviando arquivos em diversos formatos ao mesmo tempo em que utiliza no mínimo duas plataformas de ensino a distância para ajudar seus alunos durante o periodo pandêmico? Muita coisa mudou nos últimos anos de forma drástica, as escolas que dependiam de métodos de ensino ultrapassados precisavam ser modernizadas rapidamente, o que beneficiou a geração mais jovem, mas também foi abrigada a ver problemas devido à falta de estrutura tecnológicas em grande parte das casas brasileiras.


Os esforços dos professores foram nítidos durante este período, quanto mais adentramos na pandemia e quarentena, mais solitários ficamos e para reduzir o peso psicológico alguns educadores adaptaram as lições de casa para que os estudantes fizessem pequenos video-diários onde eles, através das telas, mantinham contato com seus amigos e colegas.


De certa forma, os professores estão sendo responsáveis não só pela educação formal como também são responsáveis a nova revolução digital que vamos presenciar quando a geração de estudantes sairem da pandemia com a capacidade de compreender que a internet serve como meio de aprendizado, algo que mesmo parecendo não é tão obvio assim.


Pelo trabalho da união entre professores e os responsáveis que sentem a dificuldade em ajudar o estudante dentro de casa, nasceu um processo ainda maior de inserir o filme como transmissor multidisciplinar. Para aqueles que aprendem visualmente, o filme se torna um excelente meio de expor conceitos sem as limitações que impedem o aprendizado, e ainda consegue mostrar perspectivas e situações históricas de uma forma que os livros não conseguem. O professor que consegue trazer essa visão dinâmica na sala de aula consegue motivar o aluno a pesquisa mais e aprender sobre outros assuntos, ajudando na expansão de discussões fundamentais para o desenvolvimento da sua cidadania, que é a base da escola.


Os filmes despertam a curiosidade a ponto do aluno descobrir que ele mesmo possui uma voz ativa na comunidade, não por menos, o número de video-diários aumentou exponencialmente durante este último ano. Cada um com sua visão única do mundo os micro-filmes nos mostrou a potência do cinema independente ao permitir que jovens ainda no ensino fundamental criassem pequenas ficções e documentários como uma forma de amenizar os efeitos psicológicos do distanciamento que foram obrigados durante o fechamento das escolas.


É incrível imaginar o que vai sair desses novos criadores de conteúdo que estão manipulando a linguagem cinematográfica como forma de terapia, seus primeiros passos foram dados graças aos esforços de um professor que acreditou neles e instigou sua curiosidade. Todos temos esse poder também, crescemos vendo filmes e decidimos agir de alguma forma, seja escrevendo sobre eles, discutindo ou criando, indiretamente inspirando o próximo a seguir o mesmo caminho, aqui vemos algumas das pessoas que se tornaram modelos para a próxima geração.


Sessão 7 - Gênero; Corpo; Sexualidade; Desejo; Prazer; Orientações; Gênes; Arco-íris; Ciclos; Toque; Pele; Órgãos; Músculos; Sexo; Gozo; Respeito; Liberdade; Pan; Bi; Trans; Non; Quuer; Cyborg, Bio-manipulação; Inteligencia Artificial; Biorobótica; Prótese; Dildo


Liberdade para ser o que você é.


Não são escolhas, são verdades.


No cinema, a aceitação deve estar presente, seja por filmes, curtas, atores, personagens, produção, criação, direção… O público quer representatividade, deseja se ver em tela.


É também conhecer a si mesmo.


Entender-se nesse mundo e nessa sociedade. Para uns, depravação. Mas imagina se manter fechado ao mundo, não enxergar nada além do que o padrão lhe fornece enxergar e conhecer. Tudo que o conhecemos e sabemos parte de algo já definido, seja do repertório imaginário ou do ensinado ou do decretado. Nos é imposto regras, seguimos papéis estabelecidos e limitados. Homem e mulher, heteros, família tradicional. A quem pertence essa realidade?

[...] para que um filme funcione para determinado público, para que ele chegue a fazer sentido para uma telespectadora, ou para que a faça torcer por um personagem, para que um filme a faça suspender sua descrença [na “realidade” do filme], chorar, gritar, sentir-se feliz ao final – a espectadora deve entrar em uma relação particular com a história e o sistema de imagem do filme. (ELLSWORTH, 2001, p. 14).

Ter uma câmera em mãos pode ser o poder de mostrar algo para o mundo, quebrar preconceitos e preceitos. É a liberdade de gênero, liberdade de corpo, liberdade sexual, liberdade de desejos, liberdade de prazeres. Mostrar a realidade é romper com estereótipos, é contribuir com a pluralidade. Propostas e ideias audiovisuais abrem portas, olhos e mentes. Novos olhares, novas realidades.


Câmera pode ser olho, elenco pode ser corpo e ideia é desejo e prazer.


ELLSWORTH, E. Modos de endereçamento: uma coisa de cinema; uma coisa de educação também. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Nunca fomos humanos. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p.7-76


Sessão 8 - Documentários; Documenteur*; Doc-FIC; Doc-romantico; Doc-ação; Doc-Terror; Doc-étnico; Doc-civil; Doc-amador; Doc-ambiental; Doc-Social; Doc-animação; Doc-policial; Doc-jornalistico


Seja para representar a sociedade ou para expor a evolução particular, o documentário consegue traduzir em imagens a visão única que possuímos no mundo a nossa volta. Podemos dizer que este gênero é o mais pessoal que existe pois nele encontramos histórias de denúncia sobre diversos assuntos, o documentário nasce de uma ideia ou necessidade do documentarista, usando recursos como imagens pesquisadas que ajudam a retratar um momento presente ou passado, imagens de arquivo que mostram as intensões do realizador ou até mesmo animação para atingir patamares cuja a limitação da realidade se faz presente, nos mostrando aquilo que acontece quando não estamos prestando atenção, seja para o bem como o famoso, e infelizmente ainda atual, “Ilha das Flores” (1989) exibido em todas as escolas, ou para o mal como “Triunfo da Vontade” (1935) maior propaganda nazista criada pela cineasta Leni Riefenstahl.

O documentário também é o gênero com maior pluralidade cinematográfica, Bill Nicholls autor do livro “Introdução ao Documentário” (2001) consegue o categorizar em seis subgêneros: poético, expositivo, participativo, observativo, reflexivo e performático. São subgêneros que acabamos reconhecendo em obras realizadas durante os últimos anos graças à democratização da cultura através do número crescente de pessoas que agora, com a pandemia e a forma lenta da passagem do tempo, mostram cada vez mais seus dias a dia nas redes sociais, criando assim um arquivo documental da nossa era atual.

Assim como diversos antropólogos e cientistas que criavam relatos de seus descobrimentos, o documentarista munido de muita pesquisa e coragem, vai atrás de histórias que precisam ser contadas. A falta de interesse em vendas que existiu por muitos anos na indústria cinematográfica fez com que o gênero do documentário tivesse a ideia de ser um gênero de nicho para estudos, distante da sociedade apesar de existir por conta dela, isso mudou em meados dos anos 70 com a chegada do Globo Repórter na televisão brasileira que audaciosamente exibia filmes documentários como "Retrato de Classe” de Gregório Bacic (1977) onde o documentarista encontra uma foto de uma classe de 2° ano fundamental e decide descobrir o que aconteceu com eles 22 anos depois da foto ser tirada procurando os estudantes e realizando entrevistas enquanto eles aproveitam para fazer uma festa de reencontro. O documentário demonstra como a sociedade mudou naqueles 22 anos, ao mesmo tempo que denuncia os resquícios deixados pela escravidão ao mostrar uma das antigas estudantes, que se tornou é empregada doméstica como sua mãe, sendo a única obrigada a entrar pelo elevador de serviço mesmo como convidada da festa de reunião dos alunos.

O gênero do documentário se sustenta por acontecimentos, a vida é o que interessa ao documentarista pois por si já é interessante o suficiente, o tom do filme segue de acordo com a ideia de seu diretor e montador pois somente ai que o roteiro consegue trabalhar da forma idealizada, porém, mesmo com tanto preparo o documentarista ainda precisa estar pronto para imprevistos que podem ocorrer durante as gravações, os chamados “acasos” que o tornam inusitado como Manuel Bandeira que recebe um ligação durante a filmagem de "O poeta do castelo" (1959) de Joaquim Pedro de Andrade, ou a demora de 17 anos do "Cabra marcado para morrer" (1964-1984) de Eduardo Coutinho, idealizado como reconstituição dramatizada de um assassinato político e que por conta da ditadura precisou ser paralisado, retornando como um documentário sobre os sobreviventes da primeira filmagem e a busca por Elizabeth Teixeira, viúva de João Pedro, que saiu da cidade para sobreviver naquela época de terror.

Estando no segundo ano da pandemia, o documentário se popularizou fortemente como uma ferramenta necessária para a transmissão de momentos históricos de nossa sociedade e como forma de se colocar no lugar do outro como sujeito, a pandemia mostrou de forma cruel o abismo ainda existente na sociedade através das lentes de nossos documentaristas, sejam de formação ou pela necessidade de expor acontecimentos. Estamos tão acostumados a ver documentários sobre pessoas em locais diferentes, com visões diferentes, expondo os problemas raciais, sociais, indagando governos e alertando sobre mudanças climáticas, que nem notamos. A pluralização do documentário ser fez graças as redes sociais que deram vozes a aqueles que antes não podiam falar, vivemos em uma época em que podemos participar de manifestações e ver manifestações contrárias as nossas ideologias de forma real e momentânea.

O documentário apresenta evidencias relativas ao seu tempo de forma parcial e subjetiva pois é feita a partir do ponto de vista do documentarista, ele é apenas um recorte da realidade o que o torna algo tão complexo como qualquer outro filme, talvez mais por se tratar da vida real, mesmo se for encenado como um mocumentário. A pesquisa é fundamental para a construção do documentário, garante que o conhecimento saia do superficial do tema ou questionamento, e isso, encontramos com os mais diversos tipos de duração dos documentários como os que vimos nesses meses da Mostra [Em]Curtas com temas “Em Casa”, “Livre” e “Fantástico” em que tivemos centenas de realizadores autorais que nos mostraram a complexidade do gênero. Convidamos agora a todes que apresentem o mundo de vocês através de suas lentes [....]


Sessão 9 - Em Casa; Pandêmico; Covid-19; Doença; Morte; Vida; Vacina; EPI; Saudade; Abraço; Saúde; Agulha; Ar; Inspiração; Adaptação; Home-Office; Mídias; Bilionários; O2; Rede; Tela; Janela; Pensados a partir fev/2020


Um ano, dois anos se passaram... Alguns saíram de suas casas, outros saíram de si. A quarentena nos mudou de alguma forma. Uma realidade em que o mais simples gesto de afeto significa perigo iminente não é mais a mesma cujo o cinema tanto capturou essas pequenas ações. Seja a sofisticação dos planos de Wim Wenders a simplicidade de Hong Sang Soo, o cinema sempre achou no gesto suas grandes catarses.


Mas o que ocorre quando tudo nos é tirado de forma tão repentina e por tanto tempo? Sem perspectiva de melhora, a forma como capturamos o nosso entorno está completamente comprometida. Se o cinema sempre foi sobre intermediar a captura e o objeto através de uma perspectiva, como definia Bazin, qual será o produto onde o mediador está cada vez mais animalesco? Um cinema movido por pessoas cuja mente está reduzida à cada vez mais complicada tarefa de estar vivo no dia seguinte.


Então, que se façam filmes que exalem tal instinto. Filmes que expressam essa perda através de suas lentes trêmulas e movimentos descoordenados; Um cinema de ruídos e granulados, que não possui ou não se permite às falsos clareios dos estúdios; Em que o formato não esteja mais dogmatizado à tela das salas, tão distantes de nós. O cinema do agora precisa ser diferente de tudo que veio antes, por que nada será como tal daqui em diante. Está na hora de embarcarmos em mais um adeus à linguagem.


Nunca o ensaio de Godard foi tão real e, ao mesmo tempo, uma premonição. No momento em que nossa noção do que é viver está tão dúbio, uma eterna espera para chamar o atual de pós, não precisamos de imagens limpas e orquestradas com os movimentos excessivamente ensaiados de um Bresson ou Hitchcock. Se vivemos uma vida reduzida, que se estruture um cinema reduzido de polimento.



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Mostra Audiovisual On-line livre, 2ª edição, 2021 - Mostra curtas Maio [em]casa.

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