ELAS, as poetas de Avril 2018
JUDITE CANHA FERNANDES
a fúria da loiça da china
judite canha fernandes
ni amo, ni estado, ni marido, ni partido
[adaptado de "La Voz de la Mujer", Buenos Aires, 1896-1897 ]
apenas séculos dividem os poemas
I - tudo existe a partir do meu corpo
II - gendered people and other stereotypes
III - a poética do concreto
IV - as violências têm nome
V - queridos camaradas, porra
VI - em luta | em repouso
VII - sem rumo | o mundo insubmisso
mapa do meu corpo I | apresentação inicial das minhas curvas
pés: anémonas
olhos: ondas
cabelo: andorinhas do mar
não tenho cérebro, evidentemente.
só asas e barbatanas.
braços: lulas gigantes
púbis: água
seios: peixes
umbigo: espuma
ventre: laminarias
costas: campos de corais (coralina)
nádegas: azuis (azul)
pescoço: boca
todo o meu corpo é marítimo.
localização do meu corpo na epistemologia crítica
o ponto de partida
- o meu corpo -
onde chego a todos os lugares do mundo
e todos os lugares do mundo chegam a mim,
ficará visível.
tomarei forma
dedo a dedo
curva a curva.
já não consigo
ser
mais pequena
nem maior
do que sou.
só do meu tamanho
me suporto,
e tenho de me livrar
das minhas histórias
para poder inventar outras.
sou insuportável
quando me calo.
acho as mãos a melhor parte do corpo
tudo passa por elas.
é das mãos que nascem as palavras,
especialmente arrancar as moscas pousadas nos ovários
faz-se pela via das letras e dos dedos.
não passo de um maremoto de palavras
contando estrelas
fico nua,
pego logo
numa caneta.
minha boca avinagrada
de mulher doce-ácida
logo que sente frio desata a escrever,
e são as mãos
que me dão de comer
poemas.
tenho muito prazer nas mãos.
tenho também
mais vidas que gatas
mais máscaras que poros
mais ar que vento
e confio haver nisso uma enorme pureza
de amanhãs.
sou límpida
como um céu de verão
numa tarde de chuva.
devo ser simples
devia ser simples
queria ser simples
simplesmente
não sou
simples
nem complicada.
sou apenas fácil.
simples,
estão a ver?
prometo não dizer mais palavrões
cada vez que os digo
da próxima vez
lavo a boca com corante de rosas.
tento
sempre
tentar
ter
tento
na língua.
a língua é o meu segundo lugar favorito do corpo
a voz comprimida sempre que explode ilumina,
não sou metade de costela nenhuma.
o calor e a sombra
na mesma medida,
dizia uma cadela que conheço,
distribuía o corpo dela
metade à sombra
metade ao sol
depois ia mudando
com o rodar do sol no céu.
gosto do meu fogo
de fêmea
- simples -
e os limites do meu corpo
hão-de ser água.
depois
- ainda este mês -
aprendo a dizer:
não.
a seguir contradigo a natureza.
natural
é tudo aquilo
que sempre foi assim e sempre assim será,
como por exemplo:
o bícep do tamanho de uma bola de futebol
o silicone
o espartilho
o abdómen definido
a depilação
a monogamia
a posição de missionário
as perucas
o bigode dos homens
as sobrancelhas pintadas
a tua tatuagem
o sexo dos gatos com as gatas
para reprodução
os pelos no peito dos pássaros
a destruição das florestas
a contaminação das águas,
e as folhas das árvores que caem,
tudo isto é naturalíssimo,
só a liberdade das pessoas é que não.
como sempre foi e sempre será
o mundo nunca sai do mesmo lugar,
só roda.
pormenor final do meu corpo:
a grande câmara europeia dos ensaios acústicos
parece o colo do meu útero visto de cima,
ou uma porta às avessas,
que abre e fecha pelo lado de dentro.
sou uma princesa de um reino ambulante
com uma bebedeira no coração
ou tenho urgência, ou infinita paciência,
foda-se!
não tenho meio termo
nem sequer entre as pernas.
a minha perna esquerda é claramente maior
que a direita,
e quando dizem
“estás naquela altura do mês?”
penso sempre que estão a falar do dia em que cai o empréstimo
do banco.
localizo finalmente o meu corpo:
as mãos, a voz, o colo, a língua, a água das fronteiras
- a voz é o maior corpo, logo a seguir à imaginação -
e ofereço-vos.
o resto fica comigo.
não me resta
senão o corpo
para escrever
e as suas linhas
navegantes
não são rectas
simples.
sem título
sou judite.
tenho uma irmã chamada salomé.
convenientemente,
somos ambas bíblicas
e nunca cortamos cabeças antes da página trezentos e setenta e
cinco.
relax.
o mais difícil do
capitalismo é encontrar o
sítio
onde pôr as bombas
judite canha fernandes
à imensa
massa
turva
de quem
só anda
à procura
do melhor de si
Índice
o mais difícil do capitalismo é encontrar o sítio onde pôr as bombas...............................
o que tens a dizer sobre o capitalismo?..........................................................................
o que tens a dizer sobre o capitalismo?.......................................................................................
no cimo do monte............................................................................................................................
o mais difícil do capitalismo é encontrar o sítio onde pôr as bombas................................
lista das coisas que se podem obter sem dinheiro.........................................................................
sem título.............................................................................................................................
sem título...............................................................................................................................
síntese II [poemas de bukavu].................................................................................................
sem título...............................................................................................................................
as cidades desertas..............................................................................................................
parti uma gaiola à procura de um pássaro............................................................................
fantasias....................................................
na entrada sumptuosa do palácio das árvores...................................................................
sem título..............................................................................................................................
azul......................................................................................................................................
coisas mais ou menos aceites.................................................................................................
todas as portas apitam.........................................................................................................
utopia....................................................................................................................................
artur......................................................................................................................................
pequenos projéteis não explosivos........................................................................................
reinação.................................................................................................................................
esclarecimento......................................................................................................................
selo de qualidade...............................................................................................................
bomba............................................................................................................................
a esperança são os animais.........................................................................................
merry christmas................................................................................................................
olhamos por si....................................................................................................
síntese......................................................................................................................
o país imaginário das uvas.........................................................................................
há pássaros entre a chuva........................................................................................
[revisitando antónio aleixo]........................................................................................
dúvidas estúpidas............................................................................................................
o preço de mercado do asno.............................................................................................
discussões com a insónia.............................................................................................
sem título [poemas da amadora]............................................................................................
perdão, natália...................................................................................................................
sobre os usos do eufemismo..............................................................................................
coleção sarah kay...................................................................................................................
o capital é...............................................................................................................................
férias é............................................................................................................................................
carta de amor II................................................................................................................................
manual de actos subversivos.................................................................................................
I. [atos de subtração]...............................................................................................................
II...................................................................................................................................................
III. [atos de coletivização e outros tipos de amor-ação]...............................................................
IV. [atos de ação (direta)].......................................................................................................
III...........................................................................................................................................
adenda. sobre o meu corpo...................................................................................................
I.............................................................................................................................................
II..........................................................................................................................................
III.......................................................................................................................................................
a geografia mais próxima..................................................................................................
o peso da manhã em cima.............................................................................................................
sou composta de demasiada esperança.............................................................................
há neste livro um poema coletivo - manual de atos subversivos
- escrito a 100 mãos. pedi - de favor, carinho e jeito - a pessoas
que gosto, um ato subversivo seu, unzinho só, contra o capital.
esse poema foi o que se acendeu. a toda esta gente bonita,
agradeço.
[tudo é real, até a ficção]
alison nielson | ana perovskaya | ana maría sanchez | andrea
duarte | andrea inocêncio | azevedo | azul | carolina eraso |
catarina fernandes | clarisse canha | célia | cuca | elsa
beaulieu bastien | gabi | gabriela mota vieira | javier robles
andrade | jean enriquez | joão carlos louçã | laura roque | lidia
fernandes | magda | mamadou ba | márcia das pombinhas |
marcio vitor | maría jose castro | maria magdala | marianna
bacci | maryjane | miren arangunen etxarte | morgane
masterman | papi | paula gil | princess nemenzo | raquel fontes
| rita silva | salomé lopes coelho | serena cacchioli | shahdwow
| steven chevalier | teresa gentil | tota alves | vânia
martins | vianinha | ximena senapelido | z
um agradecimento especial, pelos atos de subtração, a
Cata.Estrofe
o que tens a dizer sobre o capitalismo?
acho que me vou deitar no chão a ver passar as formigas.
(e fui.)
fiquei quieta três horas, vinte e dois minutos e nove segundos.
foi muito revolucionário.
o tecto, mapa falante,
corzinha desbotada nas fronteiras,
mãos a escorrer, vermelho ocre, árvores cinza,
só luzes no google maps.
nenhum continente em forma de giesta,
preferia mapa estelar.
cai uma estrela na minha perna
o estilhaço com feição de fronteira.
primeiro as tarefas ou escrevo?
a pergunta, insubordinada, sempre ali
sempre ali.
a primeira tarefa é pensar o capitalismo deitada no chão da
sala.
entram um homem, um cão e uma banana
uma mão estendida
um caixote, dois caixotes, cem caixotes à volta da praça
uma mulher com a cara rota
um ramo de rosas a um euro
- um euro, senhora! -
uma boca com frio polar
entram fantasmas, todos fardados.
sala cheia de estados, nações e poeira.
que me deu para escrever um livro
intitulado
o mais difícil do capitalismo é encontrar o sítio onde pôr as
bombas?
o mais difícil do capitalismo é pô-lo num verso.
o poema palavra prenhe
e eu a falar do cangalheiro.
morte é lugar comum, fome é lugar comum,
a diferença entre os sonhos e a minha conta bancária é lugar
comum,
miséria é exponencial, guerra cliché.
consumir está no ranking dos melhores verbos.
tudo se transforma num vasto exercício de retórica terminal
poesia efémera
banal
hiperbólica.
quieta. fica quieta.
aprende a ficar quieta.
aprende a ficar quieta e não palpitar.
aprende a ficar quieta e não ansiar.
aprende a ficar quieta e não calar o murmúrio.
aprende a não acelerar as nuvens.
qual heroína shoujo,
não te contamines com a pressa do planeta
tempo é partícula, não ponteiro.
repito o mantra à exaustão
no chão da sala um buraco só do desalinhamento dos chakras.
o que tenho a dizer:
a poética de um túnel de luzes pejado de drones é árida,
talvez começar por algum lado.
discussões com a insónia
quarenta euros e doze cêntimos no supermercado por semana
vezes quatro
vinte e três euros a água
trezentos euros a renda
sete e cinquenta uma ida ao hospital
duzentos e doze o empréstimo
dez no sapateiro
quarenta e oito à EDP
duas garrafas de gaz
cento e vinte e quatro euros e nove cêntimos para a segurança
social
mais as senhas da cantina
doze euros e cinquenta e seis na farmácia
sessenta e cinco para os passes
e quarenta e dois à MEO
não dá quinhentos e cinquenta e sete
sou composta de demasiada esperança
distingo mal o som da chuva
septo nasal torto em tímpano danificado.
a chuva tem nas moléculas um ácido de tristeza.
tu sangras à minha porta e dizes:
trago sangue nas mãos para oferecer-te histórias antigas
disfarçadas de memórias de infância
o meu sangue que não sangra
o meu sangue que não sabe a nada
o meu sangue que não sabe nada
salvo das suas dores dos seus enfizemas dos seus temores
do latejar provisório dos outros na paisagem enchendo rios e
bandeiras
o meu meu meu teu teu teu
nosso
sangue.
chove.
a chuva tem nas moléculas um átomo de amnésia, outro de
matéria.
eu grito a todas as portas e digo:
soube que tenho o sangue parado
como quem coagula para compreender seus sonhos de menina
como quem morre a dormir e escreve mecanicamente cartas de
amor
ouço bater ao fundo teu coração
vulto pequeno de tristeza e raiva lançando flechas gigantescas à
chuva
sobre os abismos dos finais incompletos.
sempre incompletos
sempre incompletos
posso repetir esta frase até ao nojo que ela nunca dirá mais
nada
serão sempre finais e serão sempre incompletos
não te fará sorrir
não nos dará paz ao presente
nem ao futuro.
vejo-te chorar nas tuas mãos
finalmente vamos lavar a estrada,
fazer em pedaços a hesitação da nossa voz,
atiçar a queimada que invadiu todas as ante-salas da casa
que quase tivemos
que sempre tivemos
que nunca tivemos.
sentadas na sala de madeira tu olhavas a janela
eu dizia:
o teu reflexo pinta no futuro da paisagem o meu sangue
tremelicante
imagino ver-te sorrir para dentro do meu corpo
o otimismo é a melhor parte da minha loucura
um dia a luz da nossa penumbra será perfeita.
por isso insisto
por isso imagino o som do mar lavar-nos as lágrimas.
IOLANDA ZUÑIGA
FRAGMENTOS DE AMOR AMÉN
“rabuño nas paredes
na busca da dor
firo a testa
contra o esquinal da mesa
ensanguento os nocellos
a golpes co armario
denúnciote polos malos modos
polo afecto escaso”
…............................................................
“contaxiáchesme adiccións
tabaco alcohol cocaína
a comecartos dos recreativos
o póquer o black jack a ruleta rusa
o revólver S&W calibre 44 cunha única bala
o teu alento na miña caluga
na madrugada
obscena
ti a peor dependencia
a máis tóxica”
…......................................................
“adormezo
exhausta de tanta furia
neste entorno tenro
de vento ferido
de sol voraz
que incendia a roupa no tendal
que murcha os xeranios nos balcóns
que precipita aos suicidas desde os viadutos
chámote ignórasme
insisto acéptasme
e cospes farsas
que che suplico
me inventes”
….....................................................
“adoutrínome
coas pelis porno de oferta
do quiosco do barrio
que traspasan esta semana
mentres boto ao clareo as prendas sepia
que non quedaron brancas
cinconoventaecinco
é o prezo do pracer puntual
sen ti sen ti sen ti
sen min incluso”
POEMAS SLAM
COMBATE ESTÉRIL
#GravaciónsRuínsNº1
Gañar quilos, canas, estrías...
Gañar unha cesta de Nadal!
Perder vista, cartos, ansia...
Perder, coma un quixote, a razón.
Perder as vísceras contra o asfalto (ou
Gañar, o forense, destreza).
Gañar afectos, máis ben mendigalos (a cambio de
Perder a dignidade).
Gañar, o nomenclátor dos ciclóns, estranxeirismos.
Perder isóbaras co anticiclón das Azores.
Perder o norte.
Gañar un susto.
Gañar un combate.
Perder o medo.
querer
Gañar unha noite noutras sabas.
odiar
Perder mañás baixo o cobertor.
Gañar masa muscular para
Perder credibilidade.
Perder graxa abdominal para
Gañar autoestima.
Gañar, o estómago dos océanos, plástico; os pulmóns da Terra, minas; o desexo das xentes, verdugos.
Perder(te) e non atoparte nin co TomTom.
Gañar rarezas, desconfianzas, misantropías...
Perder(te) e non acougar de ti nin afogada en gintonics.
Perder, no carné de conducir, puntos.
Gañar, na tómbola, a boneca Chochona!
Perder o fío da súa existencia, por mor do teu orgullo embriagado,
non significa
Gañar.
Gañar unha ausencia para contraatacar a súa indiferenza, malia proerche a ansiedade, non significa
Perder.
xa quixen
Perder as bragas e
Gañar un bombo.
xa quixera
Perder a timidez e
Gañarte cunha estratexia.
Perder o Vitrasa, e coller un taxi,
para
Gañar tempo
que
Perder na casa
para
Gañar descanso
que, ao cabo,
Perder no WhatsApp.
Perder unha mascota supón
Gañar un desgusto.
Gañar unha discusión co risco de
Perder un amigo.
Perder unha nai e
Gañar, o mar, non unha persoa, senón unhas cinzas.
Gañar un xuízo e
Perder, o fiscal, non un concidadán, senón un cliente.
Match point. Bingo. Goool!!!
Xaque Mate. Game Over. K.O.
sentirte
Gañador cando a ves triste.
sentirte
Perdedora cando o ves con outra.
Gañar(mos), con recheos, terreo ao mar: e
Perder(nos), do mar, o horizonte.
Perder(vos), con tretas, a arte do afecto: e
Gañar(des), do afecto, a desconfianza.
Perder(se) nunha canción:
♪ Voy a Perder la cabeza por tu amor... ♪
O que vas e a...
Gañar unha hostia.
Perder a Champions, a Eurocopa, a Copa, a Liga... pero
Gañar ao futbolín.
Gañar ao Apalabrados, ao Candy Crush, ao Family Farm... pero
Perder o móbil.
por
Perder o temple,
Gañar un cancro.
“Saber y
Ganar!”, de Jordi Hurtado. “La senda del
Perdedor”, de Bukowsky.
Perder decencia no alcoholímetro, conciencia na tapa dun retrete, gravidade excedendo o límite de velocidade; e non
Gañar serenidade.
Perder a infancia, a pubertade, a xuventude; e non
Gañar madurez.
Gañar nas rúas o que vas
Perder nas urnas.
Gañar optimismo o día que mercas un pack de 24 condóns.
Perder ilusión o día que caducan.
Gañei en estupidez 1 vez, hai 2 anos, cando crin 3 mentiras, ou 4, cuspidas en 5 minutos que me prometeron amor desbocado 6 días lectivos por semana nos que festexar os 7 pecados capitais, profanar as 8 marabillas... Cando 9 meses despois, ás 10, adurmiñaba cun Lexatín para evitar saír aí fóra, atoparte, e volverte
Perder.
Tanto combate... cando todo canto quixen contigo, corazón contendente, foi EMPATAR
VIGO ZONA CERO
Vigo Zona Cero
sempre fuxo de ti,
intermitentemente.
do teu alento pesado a Peixe petroleado,
da Ferralla oxidada aboiando na Marea contaminada,
do teu voo fracturado de Gaivota patiamarela desterrada,
da Forza centrípeta que propulsa esta Inercia que me devora,
da claustrofóbica gama de grises Formigón, Chumbo, Polución.
hainos que te reinventan.
prenden luces, penduran neons, empapelan paredes.
ou te engolen, dixiren, regurxitan.
publicitan días de gardar, noites de gozar, festas gastronómicas.
ou te maquillan e transfiguran.
de puta pervertida a vítima violada.
mais eu sei de ti. dos teus Vicios públicos,
Extravagancias íntimas, Obsesións manicómicas.
si, eu sei de ti. do teu carácter Feroz,
que ouvea por entre as fendas da miña debilidade.
sabes que eu sei de ti. conservas
a Rabia intacta, a Dor perenne, o Berro rudo
das amantes incomodadas.
habitámonos, inimizadas.
porque insistes en acurralarme.
e nin ti es confortable nin eu son domesticable.
paro un taxi libre:
persiga a ese coche matrícula da Coruña!
subo disposta a abandonarte
−nun resplandor do raiar, nunha sombra da bocanoite−,
para espirme do meu Calvario e abrigarme na súa Beiramar,
para afastarme das miñas Angustias e abeirarme á súa Primavera.
mais atópasme. e amordázasme.
alcatrán na tráquea, fochancas na paciencia, feísmo na modernidade.
tamén me atormentas.
son o extrarradio
das túas manobras.
es o meu abismo.
de porto e obra,
de caos e atasco,
de vómito e cólera.
irremediablemente,
sempre regreso a ti.
ESTÍBALIZ ESPINOSA
| lingua sobrenatural |
se abres unha mazá
se lle partes o corazón no medio
cun corte crocante
dos que desprenden olor
un cheiro rubio profundo por un silencio
a clorofila
se abres a mazá así entre as túas mans
de primate
esas mans que non coñezo e adoro de antemán
se cortas | a mazá | polo seu | eixo imaxinario | de mazá
o seu ecuador de mazá /a súa traxectoria dividida en dous/
no aire introvertido sobre a cabeza dun Newton que toquea
dun fillo de Guillermo Tell cunha espiñada
se abres a mazá de Turing
a mazá madrasta
a mazá mordida cun xersei de arco iris
se abres as mazás máis mazás de todas as mazás
e todas as mazás do mundo
ácidas e nucleicas
as camoesas que xamais probei
as de Paris volto Hespéride
ese mozo louco con roupa de muller
mazá travestida
con marcas de dentes e unha drupa fértil
até a voracidade
se o fas
se o fas
mete a lingua na estrela de cinco puntas que rodea o poema
★
la pomme
la pomme fatale
★
pebideiro de estrela
semente de cianuro
ácido azul a eslavar enlaces celulares
mete a lingua no que non se atreven outras
mete a lingua até a dor á fin das mazás en flor
estrela coa túa lingua na semente do abismo
é dicir
rompe a falar
rompe a falar dioivo vivo o que unha vez foi escuro
no centro explosivo dunha froita fetal feita na luz
a túa lingua
cara ao sobrenatural
☞Algún día, a través do famoso «teito de cristal»
veránsenos as bragas
☞As 3 Parcas
tamén
cosían para Zara
∫Quero facer contigo o que a primavera fai co fitoplancto
no golfo de Biscaia
∫Facer contigo o que a espiral logarítmica fai coa cuncha
das buguinas
| curiosa mente |
Curiosamente
tocounos aquí.
Tocástesme
e
toqueivos.
Nin cen anos antes nin cen despois. Tamén é casualidade. Na aira da antimateria e dos buracos negros sacamos a cabeza polo oco da mesma árbore.
Séndonos apenas un malentendido do carbono que así e todo se sobreentende coa luz
Curiosamente
na era en que a enerxía escura florece entre neuronas aínda falamos de guerra humanitaria ou de pobres de solemnidade. Coido que somos quen de paradoxos mellores, po-eticamente sostibles.
Se non reinventamos
curiosamente
rebentamos
Convivimos coas papuxas –esas aves a se orientaren polas estrelas, emigrantes de noite, cegadas de lumens–, e cos escaravellos peloteiros, tecnicamente entre merda e Vía Láctea. Cuspidiños a nós.
Igual son cábalas, pero as 88 teclas dun piano tócanse con 88 constelacións recoñecidas no ceo; e o eixo da Terra inclínase 23º como 23 pares de cromosomas no cerne das túas células. Tamén é casualidade.
Algo íntimo nos toca en nós e átanos con supercordas ao abismo
ao tacto galáctico dos liques
e á tataravoa que se mutou soa na noite
para dar coa palabra e darte a luz
Non podemos curarnos a curiosidade.
Pedímoslle peros á alma, que sempre os dá
e unha vida sen sinestesia
sábenos menos a vida, non?
En canto a ti...
-Perdoa, como lectora teño tamén algo que dicir
-Claro, adiante
«Curiosa
mente...
de Curiosidade, 2017
No matter what distance separates you, be it the width of a lab bench or the breadth of the universe, you mirror each other
Se ti foses un fotón e eu outro
cada texto significaría que me afectas a cada intre
que levo na boca o que che quedou por dicir
por ser parte de unha saga máis grande
como estes puntos suspensivos –...que veñen de, que van a...–
e debémonos á sagacidade de escoitar e traducir
falar cando é poderosamente preciso.
Poderosamente.
Tanto ten canta distancia vos separe, así sexa unha mesa de laboratorio ou a vastedade do universo, espelládevos unha ao outro.
Espellámonos. Espallámonos.
Irmán. Irmá. Que doada esta física incrible.
Eramos ti un fotón. E e eu outro.
De As neuronas irmás, 2018
«If you are a woman and wish to become pre-eminent in a field, it's a good idea to (a) invent it and (b) locate it in an area either so badly paid or of such low status that men don't want it»
Joanna Russ
Ela? Ela non me escribiu. Non. Foi a auga. A rotación terrestre.
A tradición. Ou a tradución. Ou alguén que fala ben dela. Pero, ela?
Ah, non, ela non. Non me escribiu.
Non me descubriu ela. Co seu ollo en chamas, a súa man a sangue.
Como ía descubrirme fóra de órbita, no cultivo espectral da placa.
Como ía ela observar os raios que ninguén observa!
Co seu ollo a sangue, a súa man en chamas.
Non me escribiu esa man. Non. E de ter sido ela, non son daquela un poema. Nin moito menos ecuación correcta.
Son outra cousa. Se son dela, algo que non é para tanto.
Copiado ou descuberto por outros. Por eles. Os que valen.
Pero ela, na súa adolescencia? Devorando páxinas e colos?
Ela triangulando o ceo con esa vaxina láctea?
Sostendo curuxas vivas, agrélanlle raíces nas ás.
Mitocondrias doutro mundo que é moi quen de nutrir coa súa hormona.
No seu orondo mes de embarazo, ela... escribirme a min, poema esvelto?
Ela, que vin durmirse aleitando á súa cría, suor con suor,
dente con carne... a min, paper aséptico?
Invisible? Difícil? Pobriña? Boa prologando textos alleos.
Boa curiosa, ela, si. Todo iso, si.
Pero Autora de min como Texto? En serio?
Falamos da mesma Ela?
Lique a invadir o palimpsesto da historia.
Bacteria molesta, flor que non louva o seu ramo.
Non sei, chámaa como queiras.
Debe de ser ela porque é imposible
facela calar.
inédito, 2017
EVA VEIGA
chegar así
no bico da luz
dende tan lonxe
a unha horta exactamente como esta
e abrollar na flor do limón
(A luz e as súas cicatrices, 2006)
o soño da razón
dando voltas un cínife que muda
de cor e perspectiva
na boca os túneles as minas todas
as encrucilladas quén volve atrás
mirar o seu óxido a súa pantomima
tatuada xa no tempo
(A distancia do tambor, 2014)
A Margarita Ledo
I
as palabras
semellan estar sempre
onde nunca son
II
as unllas
perforando
a distancia do tambor
(imán tatuándose
a néboa
entra sempre máis dentro)
hai un camiño ignorado
e atravesa as tempas
sen a penas deixar rastro
agás un corte seco por onde empezar
e a pel lembra o perfume
das laranxeiras
debuxa unha flor branca
mahmud darwish tiña un limoeiro en Palestina
e os seus ollos non volveron ver a primavera
a auga desoriéntase
polas follas
mirar nos petos un anaco velocísimo
de animal doente que amou unha vez os gonzos do aire
e rillar na luz adelgazando o músculo íntimo da lingua
aquí había un sol nacente de piedade
no chamado das escadas que se apoian na lentura
a memoria espera
a que se firan outros vales da mesma elevación
a pomba saíndo dun machinal de neve
a abrirse azul por entre os libros borrados da mañá
esvaecéndose os pupitres da guerra e da melancolía
III
a música enrama
un fío de caos
IV
medir
salvar a casa
do tempo
V
terma amor desta gadaña
á sombra non me deites
(A distancia do tambor, 2014)
Para J. A.
Hai un lugar con auga e canaveiras
na miña imaxinación.
É un lugar de difícil acceso
e non sei realmente o que alí acontece.
O meu corazón detense
a unha distancia prudencial
e vólvese xa remando.
Sen afondar
(Soño e vértice, 2016)
se só puidese
achegar a ti este desexo...
sen ver ábresme de pedra
teño un corpo na luz
a súa escura palpitación
enraíza neste abismo
desvíveme
e nácenlle as miñas ás ao vento
(Soño e vértice, 2016)
sabes acaso
cómo vén
contra nós
ese zapato de lagosta
cos seus móbiles
de arcanxo
fóra de si
non temos
para darlle
un corazón cru
só crianzas
só crianzas
sabes cómo vén
di en realidade
sabes cómo vén
contra nós
contra nós
(Silencio percutido, 2016)
ser en
ti
puro instante
que expira e abre
a un tempo
a flor do mundo (A distancia do tambor, 2014)
Por entre o bosque de raiceiras, máis dentro da nudez do sangue, na espiñal urdime das palabras, a ceo aberto, extraendo o seu brillo orixinal, a laboriosa man do desamparo.
(A distancia do tambor, 2014)
non esperes
a que se erga o tempo
nunha bandada de ánades
o amor agárdao
todo de ti
(Soño e vértice, 2016)
Para Bernardo Martínez e Fito Ares
tocar con ramas
o rastro dos paxaros
deixar que veñas
Soño e vértice,2016)
corazón
como a pedra
no estanque
caes en min
sempre
no centro
(silencio percutido, 2016
volver alí
por leña
por amor
polo comezo
escuro
do dicir Silencio percutido, 2016)
MARIA DO CEBREIRO
1.
O que nós sentimos está para alén das árbores.
Nin a música nos salva nin a terra nos condena.
Non hai estrela que o escoite nin fábula que o transmita.
Ningunha imaxe nos traduce.
Somos o coro sen a traxedia.
Somos a vida sen a morte. Non somos a morte.
Cando o sol sexa un círculo de lume.
Cando da nosa roupa non se desprendan fíos,
migas do noso prato, suor do noso esforzo.
Cando o universo comprenda que conseguiremos detelo
como unha detonación suspende o aire.
Cando a nosa sombra se extenda sobre a terra
igual que un tranvía de chuvia no deserto.
Pertencemos ao mundo como as dúas pezas que fan unha tesoura.
Pertencemos ao tempo como unha ovella
Lo que nosotros sentimos está más allá de los árboles.
Ni la música nos salva ni la tierra nos condena.
No hay estrella que lo escuche ni fábula que lo transmita.
Ninguna imagen nos traduce.
Somos el coro sin la tragedia.
Somos la vida sin la muerte. No somos la muerte.
Cuando el sol sea un círculo de fuego.
Cuando de nuestra ropa no se desprendan hilos,
migas de nuestro plato, sudor de nuestro esfuerzo.
Cuando el universo comprenda que conseguiremos detenerlo
como una detonación suspende el aire.
Cuando nuestra sombra se extienda sobre la tierra
igual que un tranvía de lluvia en el desierto.
Pertenecemos al mundo como las dos piezas que hacen una tijera.
Pertenecemos al tiempo como una oveja a la mano que la corta hasta desnudarla.
No somos la fuerza bruta ni las raíces.
No somos ni el topo ni el cóndor.
Somos el desamor, pero somos el sexo.
Somos el hambre, pero somos el pan.
No tenemos voz para que nos la deis.
No tenemos cuerpo para que lo abracéis.
Nadie ha roto nuestros sueños porque nunca soñamos.
Nadie ha pisado nuestra vida porque nunca tuvimos suelo.
Le llamáis violencia a nuestra pasión por la verdad.
No hay herida sin sangre, si tiempo sin historia.
Pero nosotros no golpeamos la puerta del mundo para entrar.
Nosotros golpeamos la puerta del mundo para que no se duerma.
2.
O FRÍO
O vento atravesa a ferida do corpo
dun xeito tan sensible que non se trata
xa dunha invasión nin dun sinal de pertenza.
É como se o interior entrase no exterior.
Dixéronlle que a ferida curaría, pero ninguén lle dixo
canto vai estrañar a ferida cando sande.
Que o vento e o frío entren no corpo
e a fagan tremer é unha cousa dificilmente
comparable a ningunha outra. É unha cousa capaz
de desfacer a fronteira entre o amor e o que se ama,
o límite entre a creación e as criaturas,
a distancia entre o acto de nacer
e ese recén nacido que somos ante
o acontecemento extraordinario
de que o vento entre en nós
a través da pequena ferida do frío.
EL FRÍO
El viento atraviesa la herida del cuerpo
de un modo tan sensible que ya no es
una invasión ni una señal de pertenencia.
Es como si el interior entrase en el exterior.
Le dicen que la herida curará, pero nadie le dice
cuánto va a extrañar la herida cuando sane.
Que el viento y el frío entren en el cuerpo
y la hagan temblar es una cosa difícilmente
comparable a ninguna otra. Es una cosa capaz
de deshacer la frontera entre el amor y lo que se ama,
el límite entre la creación y las criaturas,
la distancia entre el acto de nacer
y ese recién nacido que somos ante
el acontecimiento extraordinario
de que el viento entre en nosotros
a través de la pequeña herida del frío.
3.
LÚA
—Os músicos non son de ningún sitio.
Na habitación do hotel observa
os calcañares, o revés
do seu corpo. —Por que
non te descalzas?
Quero ver o que pasa cando tocas.
Faleille do veciño: —Cres
que lle doen os labios?
—Eu non toco a trompeta.
—Ven aquí.
Detense nas feridas.
—Son cicatrices? —Non.
A pel vólvese dura
pero quedan
as marcas. —Son pregos?
—Non me doen.
Achégase á ventá. A señora do baixo
baleira o cubo diante do portal.
—Hai meses que non chove.
O chan está moi seco, parece que ten
sede. —Queres ver como se abre?
—O deterxente non é un río.
Ás veces tarda días en facer as maletas.
—As cidades, os coches, as horas que toquei.
Non se pode dicir que estiveramos xuntos.
(A contaminación, as diferencias.)
—E despois qué fixestes?
—Onde a pel se concentra é coma un vello,
se lle acaricio os pés teño a impresión
de que podo tocar toda a súa vida.
—Preguntácheslle algo?
—As cicatrices son o seu silencio.
(Os calcañares son o seu traballo.)
—É vulnerable ao tacto. Non é humilde.
Díxome: —Abre a ventá.
Confunde a súa imaxinación coa súa memoria.
LUNA
—Los músicos no son de ningún sitio.
En el cuarto de hotel observa
los talones, el revés
de su cuerpo. —¿Por qué
no te descalzas?
Quiero ver lo que pasa cuando tocas.
Le hablo de mi vecino: —¿Crees
que le duelen los labios?
—No toco la trompeta.
—Ven aquí.
Se detiene en las heridas.
—¿Son cicatrices? —No.
La piel se vuelve dura
pero quedan
las marcas. —¿Son pliegues?
—No me duelen.
Se acerca a la ventana. La señora del bajo
vacía el cubo delante del portal.
—No llueve desde hace varios meses.
El suelo está muy seco, tiene
sed. —¿Quieres ver cómo se abre?
—El detergente no es un río.
A veces tarda días en hacer las maletas.
—Las ciudades, los coches, las horas que toqué.
No se puede decir que estuviéramos juntos.
(La contaminación, las diferencias.)
—¿Y qué hicisteis después?
—Donde la piel se junta es como un viejo,
si acaricio sus pies tengo la impresión
de que puedo tocar toda su vida.
—¿Le preguntaste algo?
—Las cicatrices son su silencio.
(Los talones son su trabajo.)
—Es vulnerable al tacto. No es humilde.
Me dijo: —Abre la ventana.
Confunde su imaginación con su memoria.
4.
POESÍA ERÓTICA
Coa intelixencia, agora,
Non coas mans.
A loita ás veces gáñase na mente.
As mulleres escriben.
O poema ten corpo.
O amor non ten medida.
Ninguén falou de amor neste poema.
POESÍA ERÓTICA
Con la inteligencia, ahora, no con las manos.
La lucha a veces se gana en la mente.
Las mujeres escriben.
El poema tiene cuerpo.
El amor no tiene medida.
Nadie ha hablado de amor en este poema.
5.
ISMAEL E AGAR NO DESERTO
Onde estabas ti cando eu fundaba a terra (…)
cando as estrelas da alba cantaban a coro?
Libro de Xob 38: 4-7
Repara nos dentes do río, na súa mordedura de auga calma.
Repara no tacto do río entre os dentes da pedra,
que necesita máis dun cento de anos para se conmover.
A culpa non é da súa mocidade. É que onda o corpo del, ela é a pedra.
O ceo baixa negro e eu comprendo que teño dúas pernas pero só un corazón.
Que teño dous pulmóns pero un só corpo.
Que a vibración do sangue é circular e alterna.
Comprendo que o deserto ten a extensión exacta para verte,
que o tamaño do mundo foi alterado de xeito substancial cando naciches
e que nin se expandiu nin se encolleu. Que fuches, coma os santos, concibido
pero non enxendrado. Que coma eles podes oír voces pero non a túa voz.
Agar era unha escrava no medio deserto. Ismael é o profeta dos feridos,
a voz dos animais, o pé dos coxos. Ismael é o misterio da chuvia antes da nube,
o esqueleto dos barcos, a parte azul da chama. Ismael planta estrelas
nos campos de cereal. Sementa millo e medo en cada páxina.
Deixa as flores vermellas entre o limo do lago. Deixa a cinza na boca,
a herba fresca no ventre. Nas mans, auga salgada.
O deserto ama os fillos ilexítimos. A súa lei é a loucura e a calor
ISMAEL Y AGAR EN EL DESIERTO
¿Dónde estabas tú cuando yo fundaba la tierra (…)
cuando las estrellas del alba cantaban a coro?
Libro de Job 38: 4-7
Fíjate en los dientes del río, en su mordedura de agua estancada.
Fíjate en el tacto do río entre los dientes de la piedra,
que necesita más de cien años para conmoverse.
La culpa no es de su juventud. Es que junto a su cuerpo ella es la piedra.
El cielo baja negro y yo comprendo que tengo un par de piernas
pero un solo corazón. Que tengo dos pulmones pero solo un cuerpo.
Que la vibración de la sangre es circular y alterna.
Comprendo que el desierto tiene la extensión exacta para verte,
que el tamaño del mundo fue alterado de modo sustancial cuando naciste
y que ni se expandió ni se encogió. Que fuiste, como los santos, concebido
pero no engendrado. Que como ellos puedes escuchar voces
pero no puedes escuchar tu voz. Agar era una esclava en el medio del desierto.
Ismael es el profeta de los heridos, la voz de los animales, el pie de los cojos.
Ismael es el misterio de la lluvia antes de la nube, el esqueleto de los barcos,
la parte azul de la llama. Ismael planta estrellas en los campos de cereal.
Siembra maíz y miedo en cada página. Deja las flores rojas en el limo del lago.
La ceniza en la boca, hierba fresca en el vientre. En las manos, agua salada.
El desierto ama a los hijos ilegítimos. Su ley es la locura y el calor
ROSALIA FERNANDEZ
PULSO 4
O silencio berra nos teus ollos
como un solo de baixo introvertido.
Podo descifrar as notas que calas
e adozalas con trinos imposibles.
Podo inventar un pentagrama en branco
para agochar os teus segredos.
Pero prefiro agardar
Sentir como te achegas…
A túa lingua fala sen palabras
coa palleta dos meus beizos,
e a nosa canción soa dentro de min,
marcando o ritmo dun corazón enmudecido.
Apaga a voz
e dime que esta noite non vai amencer.
En clave de sol
GÚSTO-NOS
Agarda!
Estamos atados
pola mesma lingua,
enredados en idéntica
papila gustativa.
Vibra. Bebe o ruxir
que nos deglute sen tragar.
Brinca o lume loiro
da fala lene.
Pero agarda.
Non rompas o compás.
As palabras de sabores
sóñannos saltos imposibles
sobre ápices entrelazados.
Podemos ser traficantes de padais
ou afinar o asubío desta serpe.
Podemos chuspir letras amargas;
sentir o doce tombo
dos beizos salgados.
E o bico barbitúrico da lúa.
Podemos protexer ós fuxitivos.
Mais agora agarda.
A única fronteira
é a nosa lingua de area. No horizonte.
Átonos
ESCENA VII: (esquina)
As esquinas da rúa
que fago pola noite
son as proas da cidade.
Eu, o máis fermoso mascarón.
Nacín madeira de serea;
o meu canto fuma
rosas dos ventos
en solapas descoñecidas.
Desorientadas xa.
E os peixes que teño nos beizos
Coñecen
todos os buratos do suburbio.
Porque cada crepúsculo
atracan, nas miñas costas,
demasiados barcos desnortados.
Din que me movo
en danza oceánica;
que bico coa vertixe do nordés.
Comprenden que cobre
por fabricar amor.
Pero ninguén sabe
con cantos piratas
teño que deitarme
antes de poder durmir.
Fantasía
Viven para escoller;
morren
en canto elixen a primeira etiqueta.
Se medras con eles
ofértanche alernativas de ocasión.
Así, vas vestindo
os seus féretros cerebrais
e comezas
a carreira de defunto.
A min nunca me gustaron
as opcións humanas;
por iso inventei
outra forma de existencia.
O meu planeta é o malabar
que sempre está no aire;
ese acorde imposible de soster;
a cor dun fogo de artificio;
o infarto dos orgasmos.
Eu habito o que imaxino;
son o capitán transhumante
das miñas fantasías.
Hoxe só teño
os versos que soñei,
polo que farei noite
neste poema.
Fantasía
Viven para escoger,
mueren
en cuanto eligen la primera etiqueta.
Si creces con ellos
te ofrecen alternativas de ocasión.
Así vas vistiendo
sus féretros cerebrales
y empiezas
la carrera de difunto.
A mí nunca me gustaron
las opciones humanas;
por eso inventé
otra forma de existencia.
Mi planeta es el malabar
que siempre está en el aire;
ese acorde imposible de sostener;
el color de un fuego de artificio;
el infarto de los orgasmos.
Yo habito lo que imagino;
soy el capitán trashumante
de mis fantasías.
Hoy sólo tengo
los versos que soñé,
por lo que haré noche
en este poema.
OBRAS
Percorro,
con tacto oleiro,
cada curva
da túa pel.
Vou moldeando
as formas
que adquires
ao sentir
as miñas xemas.
Sabes
que podo xirar
o torno dos labios
ata amasar
outro home
no teu ser.
E, aínda así,
abandonas
o control;
para que che esculpa
os ouveos
do gusto
sobre a epiderme
construída.
TÚNEL
A música
dos teus dentes
na miña pel
anuncia un estrondo de saxos
con swing.
Entre as grutas
do seu son
rastreas
orgasmos melódicos
con pulso kamikaze.
Sopra!
Esgota o alento
nas tebras
do túnel
que nos esconde.
Ninguén escoitará
as chaves metálicas
da túa voz
en min. Aquí;
onde as nosas sombras,
insomnes,
escintilan o baile
dos que soñamos espertos.
Baixo terra.
EUGENIA SANMARTIN
CONTIGO SOÑÉ UN HOMBRE
si te hubiera detenido en la calle
hoy, cuando pasaste
con las manos en los bolsillos
tralaraleando los pies al andar...
hubieras vuelto la vista
y nuestros ojos se hubiesen encontrado
como antes
seguro que sonreirías
y habría magia
porque tú conmigo soñaste una mujer
pero me detuve yo
escogí dejarte pasar
te miré hasta el final
serio saltimbanqui borracho
esquivando el coche
ligero sobre tus pies
elegante en el giro
pude ver la camisa blanca
que desabroché varias veces
sobre tu pecho
y pasaste sin verme
yo te vi más pequeño
delgado, fino como el alambre
tralaraleando los pies
grotesco, goyesco, gallesco
si te hubiera detenido
hubieras visto un vacío en mi ojo izquierdo
una sonrisa quebrada
una ternura infinita igual que triste
un fin a los conejos saliendo de las chisteras
no habría casi palabras
no dirías: contigo soñé una mujer
si te hubiera detenido
es posible que yo hubiera visto eso mismo
en tu ojo izquierdo o en tu pie derecho
o en tu mano del alma
mejor es así
serás en mi mano el ángel que me cayó del cielo
y siempre habrás soñado conmigo
una mujer
Tiven que firmar un papeliño conforme o que ía dicir eu aquí estaba todo conforme a lei... propiedade
intelectual, etc. Tiven 24 horas pra firmar... e puxen aí que La Comemanzanas estaba axeitada á regra. Por certo que
hoxe La Comamanzanas ten a regra.
Comemanzanas foi Eva, comeu a froita da árbore prohibida e a botaron do edén, a botaron do edén co Adán.
Adán comeu un trozo de manzana e gustoulle e tal... pero FORA DO PARAÍSO POLA CULPA DE EVA.
Comemanzanas foi Brancaneves, bueno xa sabedes non? Realmente comer non comeu, quedoulle aquí na
gorxa e durmiu, non puido, tragala... logo xa bueno, o príncipe e blablabla.
Cando eu vivía en Lavapiés, na miña buhardilla-Torreón Flotante, ás veces había pouco de comer na casa.
Pero sempre había manzanas e sopa. Manzanas e sopa.
E aí, entre manzanas e sopa La Comemanzanas pensaba si ser Eva, Brancaneves ou quen coño ser.
LA COMEMANZANAS
I
como manzanas
por las mañanas
II
subida a un manzano
brotó la sangre
un día de mayo
subida a un manzano
me senté a pensar
un día de mayo
y dormí en la rama
ni sé la de años
de la manzana el corazón
atravesado en a garganta
III
un príncipe llegó
sopló mi coraza de cristal
desperté y desperté con su lengua en mi boca
escupí la manzana
y abandoné a los enanos
TIC-TAC-TIC-TAC-TIC-TAC
IV
quiero subirme a los manzanos
y él: súbete a mí
acompañame a los manzanos
y él: come de mi fruta
V
hoy no he dormido
un montón de trocitos de manzanas
he comido
el primero es el más difícil de tragar
da sueño
TIC-TAC-TIC-TAC-TIC-TAC
VI
me fui a los manzanos sin ti
me seguiste
comiste conmigo
yo agitaba los árboles sobre ti
y te llovían manzanas
contra ti
contra tu dolor y tu reproche
contra la cuerda que atabas todas las noches
entre mi tobillo y el tuyo
rezaba porque llegara a ti un olor nuevo
por ejemplo de cerezas
rezaba y me sentía santa
rezaba para no tener que cortar la cuerda
con mis manos de santa
¡cerezas!
y tú la desatas
y te llevas tu dolor
rezaba también para dejar de comer manzanas
para escupir todos los pedazos
y no desatar la cuerda
con mis manos de santa
pero comía manzanas
cada vez más sola
y te tiraba manzanas
cada vez más lejos
cada vez más sola
cada vez más cuerda
cada vez más hambre
comer la fruta y tirar las semillas
los corazones, rezaba, en tierra fértil
la cabeza vacía
cada vez más santa
las semillas no germinaban
y yo no me dormía
TIC-TAC-TIC-TAC-TIC-TAC
VII
hoy no he dormido y el día parece extraño
comí manzanas y bebí vino
sola
aporreé las paredes y le pregunté al techo
por qué
sola nada
bebí más vino y pregunté
por qué nada
VIII
subida a mi árbol
sombrío y borracho
más dulce que la fruta me cayó un ángel en los brazos
los ángeles tienen sexo
y vuelan
y cantan como los ángeles
lo malo es que lo hacen todo el rato
lo de cantar, lo del sexo y lo de volar
tenía piel de hace mil años
su olor cantaba amor de hace mil años
cuando se ponía terrenal corrían aguas de hace mil años
y volamos
y cantamos
como los ángeles
lo malo es que no podemos hacerlo todo el rato
lo de cantar, lo del sexo y lo de volar
los ángeles no comen manzanas
yo puse manzana en tu boca
manzana y vino
y ahora, tu sexo de ángel
toca allí en lo profundo pero no llena
y sombríos y borrachos
bailamos en las ramas de los manzanos
la danza de las cabezas vacías
locos, desorbitados
bailé hasta el árbol dormido
volaste
TIC-TAC-TIC-TAC- TIC-TAC-TIC TAC-TIC-TAC-TIC-TAC-TIC-TAC
ES TARDE
se acabó la hora de la merienda
y que sea otra el bocadillo de las ansias
se acabó la hora de los listos con hambre
no queda café ni bollos
los platos gimen desde el fregadero
la que madrugó que los calme
yo, que no,
salgo para no oirlos
recojo las piernas sobre el banco
me como las uñas
eructo un poquito
es tarde por la tarde
La Comemanzanas salió a la calle y puso en el pecho un letrero : OBRAS
y...
EL CORAZÓN EN OBRAS (canción)
Subirme al poste
y coger el hilo
de la luz.
Comerme
la galleta que
pone cómeme.
CÓMEME.
Y entrar por las
tetillas izquierdas
de los pechos.
Para hacer
cabriolas con
el hilo de la luz.
Enganchándolo
al andamio de
los corazones en obras.
TIC-TAC-TIC-TAC- TIC-TAC-TIC TAC-TIC-TAC-TIC-TAC-TIC-TAC
e agora eu non quero ser Eva nin Branca... eu quero comerme todas as mazás que me de a gaña e con quen me de a
gaña sen que ninguén me castigue.
E quero falar claro, do desexo, da carne, do amor...
Quiero hacerlo
cada vez con más intensidad
el deseo
a flor de piel.
Quiero hacerlo
de la única forma que reconozco
el amor
a ras del cielo.
Con las yemas de los dedos cargadas de amor
con la boca chorreando amor
con el coño palpitando amor
quiero hacerlo.
Si vienes, tú,
que sea de frente e igual
el deseo
a ras del pecho.
Si vienes tú
de la única forma que reconozco
el amor
a flor de aliento.
Con la punta de los labios cargados de amor
con los ojos chorreando amor
con la polla henchida de amor
de la única forma que quiero hacerlo.
POEMA FORA DA COMEMANZANAS, ADICADO Á TODAS E TODOS OS QUE SOMOS SALVAXES,
PORQUE PARA MIN POESÍA SALVAXE É UN RECODO
EL RECODO
caen los días como gotas de agua helada
pero el recodo del río está tan hermoso
tan hermoso
que la vista de su belleza produce dolor
esa indomable belleza rodeada del insulto del asfalto, el cemento y el plástico
caen las horas como latidos de un corazón desordenado
pero la sola posibilidad de comunión y ternura es tan vibrante
tan vibrante
que me fluyen los deseos a borbotones
como el agua del río en el recodo
caen los días y las horas y brotan las hojas
y yo ruego que seamos
aunque no seamos más que por un instante
ruego ardientemente que seamos un recodo
de belleza indomable entre los días y las horas
que seamos como el salvaje jardín que brota en el recodo
belleza insultante contra el cemento, el orden y la electrónica
que triunfe la palabra que sale del roce de los labios que la pronuncian
la palabra que revela el cuerpo que la encarna y el alma desnuda
que triunfen los ojos directos y las palabras abiertas
como gotas de agua helada en un día de mucho calor
que vibre en el aire la comunicación y se estremezcan los oídos
se estremezcan hasta el esternón y se licúen las rodillas
se abra paso la comunión y la ternura
como en la tierra las raíces del indomable jardín que brota en el recodo