A arte generativa é uma das principais tendências para o mercado em 2023
A partir da coleta de dados de obras de arte originais feitas por artistas humanos e disponibilizados na internet, a Inteligência Artificial Generativa é capaz de compilar, reproduzir e criar a partir dos traços artísticos reverenciados no mercado das artes. Ao explorar a IA Generativa no mundo da arte, releituras de obras conhecidas como as de Van Gogh, Tarsila do Amaral ou Pablo Picasso (imagens acima) ganham novas combinações de cores, formas, estilos e movimentos incorporados em outros períodos artísticos.
Para o galerista Paulo Varella, especialista em Estética da Imagem pela Escola de Cinema e Televisão do Reino Unido, o uso da IA Generativa “pode mudar significtivamente a forma de consumo e produção no mercado artístico”. Pois, além de ser usada para criar reproduções artísticas de uma maneira mais rápida e eficiente, o auxílio prestado pela IA Generativa reduz os gastos de produção do artista, torna o consumo de arte mais acessível e possibilita novas formas de produzir arte que antes não era possível.
Por ser programada, a ferramenta segue regras estéticas pré-estabelecidas em sua formulação, é treinada para reconhecer e aplicar determinados estilos de pinturas, sons e estruturas artísticas previamente armazenados. No entanto, Varella faz uma ressalva: "é importante lembrar que a IA não pode substituir a criatividade humana e a experiência artística única que vem com a interação direta com a obra de arte.” Por ser uma Inteligência que replica informações extraídas de outras obras, a tecnologia não possui um senso estético próprio como os seres humanos, o que a impede de criar formatos originais, de essência artística. Cristina de Proprios Martinez, professora em desenho gráfico digital da Universidade Europeia de Madrid, publicou recentemente uma pesquisa em que explica o processo de criação da arte generativa como uma relação entre o artista e a máquina. É ele quem conduz o algoritmo, a partir de uma estrutura de descrição e análise, para o objetivo que deseja alcançar, com comandos anteriormente definidos, considerando quatro componentes principais: entidades, processos, interação ambiental e resultados sensoriais.
Segundo Martinez, ao usar o nível apropriado de descrição, é possível identificar as entidades envolvidas no processo generativo, ou seja, conjunto de informações que foram colhidas pelo algoritmo para a criação. Por sua vez, processos são os mecanismos de troca que ocorrem dentro de um sistema generativo, que necessariamente envolvem entidades que realizam operações ou interagem entre si. Dessa forma, todos os sistemas generativos operam dentro de um ambiente maior de onde podem extrair informações ou insumos sobre os quais agir. “Referimo-nos aos aspectos vivenciados de uma obra generativa como seus resultados sensoriais ou simplesmente resultados, nós descrevemos e examinamos sua relação com a percepção, processo e entidades.” acrescenta.
Obras de artes criadas por IA Generativa:
A pintura "The Portrait of Edmond de Belamy", criada por um algoritmo de aprendizado profundo desenvolvido por um grupo de pesquisa em IA. A pintura foi vendida por mais de 400 mil dólares em um leilão em 2018. Um dos três estudantes de 25 anos responsáveis pela criação da obra explicou que o programa analisou 15 mil retratos.
The Portrait of Edmond de Belamy
2. A série de pinturas "AI Dungeon", referenciada em milhões de livros e obras de arte. A série foi criada pela empresa de tecnologia NVIDIA. A empresa pontua que os artistas estão usando a tecnologia para superar a originalidade e criatividade que são esperadas do trabalho. “Sem a AI como ferramenta, colaboradora ou inspiração para uma produção criativa não seria possível por nenhum dos dois elementos individualmente”.
3. A música "Daddy's Car", criada por um algoritmo que imitou o estilo de compositores famosos como The Beatles e Mozart. A música foi criada pelo algoritmo Flow Machines, desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia de Paris e a Universidade de Tokyo.
O artista e pesquisador em arte digital, Leonardo Penna, ao aplicar a IA em suas criações, comenta que a utilização da tecnologia na arte contemporânea contribui no processo imersivo com o público, a fim de uma maior integração entre o som, o ambiente e a intenção da arte na construção de exposições interativas, mas também defende que elas sejam apenas um meio de facilitação do trabalho e não o resultado final. “Com a IA Generativa eu consigo me concentrar na estética e na poética da minha arte, sem demandar maiores esforços para a tecnicidade do trabalho”, relata Penna.
A Inteligência Artificial Generativa tem mudado o mercado de arte, ao permitir que artistas explorem novas possibilidades criativas e estéticas a partir de uma base de referências. Segundo a SP-ARTE, produtora cultural, a arte digital está entre as principais tendências para o mercado no ano de 2023. Os recentes lançamentos de plataformas e aplicativos com este fim, demonstram o potencial dos recursos tecnológicos para o mundo das artes.