O uso de ferramentas digitais tem se popularizado entre professores do Ensino Básico e das universidades, mas as tecnologias de Inteligência Artificial Generativa estão apresentando novas perspectivas para o ensino e aprendizagem dos estudantes. O ChatGPT e o aplicativo Duolingo Max são exemplos desse mecanismo, que já são utilizados em sala de aula. As discussões em torno do assunto vão desde o plágio aos pontos positivos, como a criação de exercícios e de materiais de apoio para os alunos.
O ChatGPT é desenvolvido pela OpenAI, que tenta simular um ser humano em conversas com os usuários. O Duolingo Max oferece duas novas funções do aplicativo original, por causa da tecnologia GPT-4: a explicação personalizada sobre a resposta certa ou errada do usuário e a possibilidade de conversação na língua desejada. Até o momento, a plataforma não chegou ao Brasil.
O Duolingo Max e o ChatGPT como uma alternativa de aprendizado
Em 2021, em nota, o gerente-diretor de produto da empresa do Duolingo, Edwin Bodge, afirmou que a nova versão do aplicativo tem como objetivo apoiar no desenvolvimento contínuo da plataforma de maneira que torne a experiência de aprendizado mais personalizada e eficaz. Apesar do Duolingo Max ser uma ferramenta privada, a IA Generativa presente na plataforma pode servir como um instrumento de combate a desafios educacionais. Com a disponibilidade da tecnologia em serviços de distribuição digital, como lojas de aplicativos, a utilização poderia ampliar o acesso ao aprendizado de idiomas. Com isso, alunos de qualquer lugar, com acesso à internet, poderiam praticar e melhorar as habilidades no idioma.
O processo de aprendizagem é diferente para cada pessoa, pois sofre influência das experiências educacionais e da vida pessoal. Com a proposta do Duolingo Max, é possível que os estudantes aprendam em um ritmo próprio e adaptado às necessidades individuais.
Mais do que apenas uma ferramenta de perguntas e respostas, o sistema tem capacidade para cumprir diversas tarefas humanas de forma rápida, como a criação de textos explicativos e roteiros de podcasts. Conforme o professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Sidnei Renato Silveira, pesquisador da área de Inteligência Artificial, a IA Generativa pode contribuir para estimular os processos de ensino e aprendizagem, assim como outras Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação (TDICs). Ele afirma que a geração atual de alunos já nasceu imersa no mundo virtual e, por isso, as escolas e as universidades precisam adaptar-se para atender essa nova necessidade de uso de tecnologias.
Aplicação da IA Generativa na educação
A tecnologia não precisa necessariamente revolucionar a sala de aula. No entanto, pode contribuir para que professores e alunos trabalhem conteúdos mais abstratos e facilite o aprendizado. Alguns exemplos de aplicação:
Podem ajudar na criação de exercícios mais eficientes, que estimulem a criatividade dos alunos e os incentivam a aprender mais sobre o conteúdo;
Professores e educadores podem usar a tecnologia para criar materiais didáticos, como perguntas para questionários, exercícios e resumos de conceitos;
É possível desenvolver novos materiais a partir de um original, possibilitando a criação de conteúdos extras, como leituras e resumos dos pontos abordados em aula;
É possível criar até mesmo roteiros para vídeo aulas ou podcasts com auxílio de ferramentas que contam com tecnologia generativa, como o próprio ChatGPT e o Chat Bing;
Pode auxiliar no processo de criação de conteúdos específicos para alunos com dificuldades de aprendizagem, como a dislexia e o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
Problemáticas do uso IA Generativa no ambiente escolar
Em entrevista ao Jornal da Universidade de São Paulo (USP), o professor de educação da instituição, Rogério de Almeida, afirma que “ele [o ChatGPT] funciona como um modelo de linguagem e consegue fazer uma redação com conteúdo e uma produção de sentido que é possível enganar as pessoas, de modo que a gente não saiba se aquele texto foi produzido por humano ou por um robô”.
O robô conversador, como está sendo chamado, foi banido de escolas públicas de Nova York, nos EUA, para evitar que os estudantes usem a ferramenta para concluir todos os trabalhos das aulas, inclusive plagiando outros trabalhos que já estão disponíveis na internet. Segundo informações do site New York Post, o professor de filosofia Darren Hick, da Universidade de Furman, nos EUA, ao ler uma redação de um dos alunos, notou no uso do ChatGPT a falta de referências e algumas palavras que tornavam o texto sem sentido. Além da prática da “cola”, é difícil descobrir que o texto foi produzido pelo robô, porque trata-se de um material único, que não é acusado pelo sistema de plágio de trabalhos daquela Universidade. Hick explica que, apesar de ter concordância nas frases, o texto tende a ser completamente equivocado, entretanto, para temas mais gerais, tende a ser mais difícil descobrir se foi produzido ou não por uma inteligência artificial.
A experimentação do Chat GPT em salas de aulas
O professor conta que em uma das disciplinas ministradas por ele na Universidade, foi solicitado aos alunos que formulassem perguntas ao ChatGPT, relacionadas ao conteúdo abordado. O objetivo da atividade era coletar mais evidências sobre o uso desse tipo de ferramenta nos processos de ensino e de aprendizagem. O docente destaca: “Como educador e Cientista da Computação, acredito que não devemos ter medo das novas tecnologias e, sim, buscar formas de utilizá-las a nosso favor”, explica.
O professor Silveira realizou alguns testes com o chatbot e, em contato com perguntas mais complexas, muitas vezes as respostas retornadas estavam erradas. Para questionamentos mais genéricos, os resultados são mais adequados. Então, as informações erradas fornecidas ao usuário são consideradas também uma problemática do uso.
Por utilizar técnicas de gamificação - aplicação de elementos de jogos, como progresso, pontuação, desafios e rankings em contextos escolares - e proporcionar uma experiência personalizada para cada usuário, o Duolingo Max surge como uma ferramenta com potencial de auxiliar no aprendizado de línguas nas escolas. A docente da UFSM e pesquisadora da área de ensino em inglês, Daiane Kummer, explica que “as tecnologias têm tudo para influenciar de uma forma positiva. Quando são bem pensadas pelos professores, elas agregam experiência para os estudantes”.
A professora ressalta que o aplicativo seria um bom instrumento para desenvolver conhecimentos em línguas estrangeiras, mas que a presença do educador não pode ser substituída, já que as plataformas não dão conta do contexto social e humano dos estudantes: “o professor conhece a necessidade da turma, qual linguagem deve ser utilizada, qual o texto ideal para trabalhar. Sem falar que alguns alunos têm mais facilidade com o aplicativo, outros vão precisar de outras estratégias de aprendizagem. Uma sala de aula é diversa e a máquina pode acabar generalizando.”
Ainda não é possível projetar como o GPT-4 poderia ser replicado para o maior número de pessoas, considerando a desigualdade social no Brasil, mas a tecnologia apresenta potencial de aprendizado de idiomas que pode ajudar a reduzir as barreiras para o acesso à educação. A falta de estrutura nas escolas brasileiras prejudica o uso da ferramenta. “Vai aumentar o abismo que existe entre as escolas particulares e as escolas públicas. Nem todas as escolas possuem laboratórios de informática. Algumas, inclusive no nosso estado [Rio Grande do Sul], possuem problemas de infraestrutura (salas inadequadas, problemas de ventilação, prédios com problemas estruturais)”, ressalta Silveira, docente da UFSM.
Fornecer aprendizado acessível e gratuito combateria barreiras financeiras para o acesso à educação. A comunidade educacional e iniciativas de jornalismo voltados à educação do mundo todo têm ressaltado o aplicativo.