Design, Estética e Funcionalidade

Layne Tomaz

O designer é um profissional que sempre visa solucionar problemas, de forma a constantemente se encontrar idealizando a criação de novos produtos funcionais. Contudo, a funcionalidade por si só não é capaz de transformar um produto em uma grande ideia, como podemos ver na frase “A arte ornamental é um ingrediente necessário para tornar completos os resultados da perícia mecânica” (DYCE apud HESKETT, 1998, p.21-3). Para tal, é preciso que se pense também na estética da forma, uma vez que esta muitas das vezes consegue atrair mais usuários do que a própria funcionalidade do produto.

E isso é notável quando pensamos em certos objetos de decoração cuja única função é o embelezamento do cômodo em que se encontra. Questão que se aplica perfeitamente às bugigangas, visto que estas não cumprem a tarefa que se proponham a realizar. Contudo, como possuem uma estética bastante agradável, acabam por serem enxergadas como um objeto decorativo.

Para exemplificar essa questão, pensemos na bicicleta de tostão. Ela foi uma das primeiras bicicletas a ser criada. Ela possuía uma roda dianteira absurdamente grande em comparação a roda traseira, a fim de dar um maior equilíbrio ao ciclista. Entretanto, esses fatores previamente citados somados ao seu banco alto, acabavam por dificultar a sua utilização. Logo, “A forma certamente relacionava-se à função mecânica, mas esta não era muito eficiente” (HESKETT, 1998, pg. 32). Ou seja, apesar de realmente facilitar a impulsão do ciclista ao permitir um equilíbrio maior, ela não era capaz de desempenhar a sua função corretamente por ser desconfortável e facilitar a ocorrência de acidentes graves.

Bem, “O design tem uma relação dupla. Em primeiro lugar, uma estrita referência à utilidade na coisa desenhada; e, secundariamente, ao embelezamento ou ornamentação dessa utilidade”. Essa fala foi publicada no Journal of Design e me faz pensar sobre como muitas das vezes primeiramente nós pensamos na funcionalidade do produto, em como ele será útil e, apenas depois disso, em seu embelezamento. E ao refletir sobre isso se tornou claro para mim o quão importante a estética é para o público, algo que podemos analisar através das cerâmicas de Matthew Boulton e Josiah Wedgwood.

O empresário Boulton produzia produtos mais belos e sofisticados do que os de Wedgwood. E ele fazia isso como forma de atrair atenção para a sua empresa, mesmo que não obtivesse um lucro propriamente dito com essas linhas. Esses “Seus designs tiravam sua qualidade estética de um aperfeiçoamento dos materiais utilizados e não de referências estilísticas” (HESKETT, 1998, pg. 25). Uma vez que Boulton desenvolveu métodos capazes de embelezar de uma forma barata. Ele inventou o Sheffield Plate que basicamente era um banho de prata numa base de cobre, o que já reduziu bastante a produção ao reduzir drasticamente a quantidade de prata necessária para a produção, e o Vermeil que necessitava apenas de uma amálgama de ouro e mercúrio para transformar peça de bronze em objetos dourados.

“O ornamento não era visto meramente como um acréscimo, mas como tendo uma identidade própria” (HESKETT, 1998, pg. 21). Tendo isso em vista, Wedgwood primeiramente buscava entender o que estava popular entre os seus clientes a fim de entender bem o que eles desejavam e combinar esses desejos a um acabamento ornamental, dando um ar mais requintado à peça. Esse requinte mesmo em peças baratas possibilitou que uma de suas obras se tornasse tão bela ao ponto de ser aceita como um presente pela rainha britânica que a apreciou bastante, de forma que ficou conhecido como “Louça da Rainha” e possibilitou o destaque comercial de Wedgwood.

Contudo, a beleza que o empresário trabalhava nessa época hoje em dia já não é mais considerada bela. Elas eram exuberantes, até porque muitas delas eram feitas com inspiração no estilo Rococó, um estilo cheio de conchas, flores e demais adornos. No geral, atualmente se busca muito um design minimalista, clean. Ou seja, ele precisa ser útil e belo, mas essa beleza precisa necessariamente ser clara e sucinta. E um bom exemplo disso pode ser retirado do livro Form and Function: "Têm sido alcançada, primeiro, pela estrita adaptação das formas às funções e, segundo, pela eliminação gradual de tudo que seja irrelevante e inadequado” (GREENOUGH, 1958, pg. 38).

Outro ponto que requer uma atenção especial é como a estética gerou uma grande influência na percepção do público sobre uma determinada empresa. E um ótimo exemplo para essa questão é a política de design corporativo da London Transport, o sistema responsável pela maior parte do transporte londrino e que surgiu graças a um conglomerado de 165 empresas de ônibus, bondes e trens. Bem, “Por volta do fim século XIX, o design de locomotivas havia não só atingido novos ápices de desempenho e eficiência como também lutava por uma perfeição estética que fosse um anúncio móvel da companhia operadora” (HESKETT, 1998, pg. 32). Esse exposto aconteceu justamente porque a Metropolitan Railway, que era a companhia de metrô que deu origem a London Transport, finalmente percebeu o quão importante é a estética para a permanência e ascensão de uma empresa no mercado. Algo que, depois desse estalo de design corporativo a London Transport conseguiu exercer muito bem ao decidir padronizar o fardamento dos funcionários, a encomendar tecidos estampados inéditos criados por designers têxteis que era usados servir como capa para estofado em todos os transportes da companhia e, também, a encomendação de uma tipografia exclusiva da companhia criada por Edward Johnston e a criação de cartazes lúdicos e belos espalhados pela cidade, também criados pelo mesmo.

Fonte: John Henry, 1910, Lloyd Too much of a Good Thing .

Por fim, tanto a funcionalidade quanto a estética são fundamentais para que haja um bom design. Uma vez que a funcionalidade por si só não é mais capaz de suprir as necessidades da população. Na verdade, imagino que parou de ser suficiente ainda na época da pedra lascada, quando o ser humano ainda não havia se familiarizado com a arte e havia recém aprendido a forjar objetos. Dessa forma, também, a estética no design não é suficiente por si só. De maneira que devemos sempre nos atentar não apenas ao que é belo, mas também em se aquilo condiz com o projeto em questão, mesmo que a estética, como falado anteriormente, seja uma ótima propaganda para uma empresa.

Referências bibliograficas:

Fonte: HESKETT, John. Desenho Industrial. Brasilia: José Olympio, 1998

  • Texto Do Artesanato Tradicional à Arte Industrial - pp. 10-26

  • Industrialização e a Busca da Harmonia - pp. 27-50

Bike Evolution | Bicycle, Racing bikes, History. Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/189080884325735011/?autologin=true&amp_client_id=CLIENT_ID(_)&mweb_unauth_id=%7B%7Bdefault.session%7D%7D&from_amp_pin_page=true. Acesso em 28 de abril de 2021.

HENRY, John. Lloyd Too much of a Good Thing . 1910. Disponível em: http://poulwebb.blogspot.com/2013/08/london-transport-posters-part-1.html. Acesso em 28 de abril de 2021.

Ficha Técnica:

Texto desenvolvido por Layne Rayssa Leandro Tomaz para a disciplina Introdução ao Estudo do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Design - Abril de 2021. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo Boufleur (http://estudossobredesign.blogspot.com).