Design Funcional e Arte Industrial

Daniel Santos

Imagem 1: Zarah Colburn

Fonte: https://www.colegioweb.com.br/bi ografia-letra-z/zerah-colburn-omatematico.html

Imagem 2: Gottfried Semper

Fonte: https: https://pt.wikipedia.org/wiki/G ottfried_Semper


Zarah Colburn, grande engenheiro de sua época e especializado em locomotivas a vapor, escreveu um tratado em 1871 para a população geral intitulado de Engenharia das Locomotivas e Funcionamento das Ferrovias, em um trecho de sua obra ele diz: (“Ninguém que aspire ser engenheiro deveria embarcar em qualquer jogo imaginativo com as formas ou proporções do mero mecanismo, mas... se aplicar um propósito mecânico qualquer pode ser realizado”. Colburn, 1871, pg 27). Do ponto de vista artístico, é um pensamento bastante retrógado e conservador, mas não era um pensamento individual e exclusivo de Colburn, pelo contrário, a própria Bauhaus, a primeira escola de design do mundo, ensinou por muitos anos que o modelo de design a ser seguido era o design funcional ou funcionalismo, daí que vem a frase “a forma segue a função”, mas seria pensamento a forma correta de se tratar o desenho industrial como um todo? Gottfried Semper acreditava que havia sim conciliação entre arte e design, Heskett registra sobre Semper em sua obra que: (“Reconheceu a separação entre a arte e a indústria, mas afirmou que a herança do passado e especificamente as tradições artesanais tinham que ser varridas antes de ser possível a criação de uma nova arte baseada na aceitação e comando da mecanização”. Heskett, 1957, pg 27), mas qual dos dois estaria correto? Semper ou Colburn?

Para falar sobre Colburn e seu ponto de vista do design funcional, precisamos avançar um pouco no tempo aonde surgiram essas denominações e a primeira escola de design do mundo, a Bauhaus. (”Bauhaus foi a escola de arte moderna, arquitetura e design fundada em 1919 durante o final da primeira guerra mundial na cidade de Weimar na Alemanha”. Canal Zaira Rodrigues, Youtube 2019) fundada pelo arquiteto Walter Gropius, a escola foi fechada em 1933 no regime de Hitler por reconhecer a arte moderna como “degenerada”, fugindo do estilo regente na época da Segunda Guerra, o estilo clássico presente nos prédios, móveis e mais diversos materiais de consumo, a filosofia da Bauhaus pregava: (“a criação de peças leves com estruturas metálicas e com poucos ornamentos para que fossem produzidas em larga escala”. Canal Zaira Rodrigues, Youtube 2019) essas peças leves e pouco ornamentadas tinham essas características justamente para facilitar a possibilidade de reprodução em massa, facilitar a industrialização do produto em questão, por essa questão que ornamentos eram tão indesejados, coerentes ao ponto de vista de Colburn, eram inúteis, não acrescentavam nada a parte mais importante do trabalho, a sua função: (“Resultados comerciais são agora o objetivo central da Engenharia e o Autor não tem simpatia com essa afetação que exclui a consideração de tais resultados”. Colburn, 1871, pg 27).


Imagem 3: Bauhaus

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/901976/10 0-anos-da-bauhaus-10-coisas-que-todoarquiteto-precisa-saber

Então Semper sempre esteve errado? Seria mesmo a estética do trabalho, inútil? Não, há quem concorde com Samper, ele acreditava que em um futuro não distante haveria um meio de conciliação entre o design e a arte para favorecimento da sociedade como um todo: (“tenho certeza de que mais cedo ou mais tarde haverá uma mudança para o benefício e honra da sociedade sob todos os aspectos”. Semper, 1852, pg 28), eis que vemos um estilo do design que manifesta justamente essa vontade, profecia, o que você preferir chamar que Samper anunciou, o styling por exemplo, (“Entre os anos trinta e trinta e cinco surgiram assim, na América do Norte, poderosas organizações de especialistas (como as de Walter Dorwin Teague, Raymond Loewy e Henry Dreyfuss) cuja tarefa principal consistia em estruturar a melhor maneira de <<tornar desejáveis>> ou atraentes os produtos já gastos pelo uso”. Dorfles, 1991, pg 49) proporcionar elegância ao objeto, não necessariamente arte pela arte, surgiu principalmente para aquecer o mercado, o capitalismo após a primeira guerra mundial e Crash da Bolsa em 1929 mas acabou destacando esse aspecto artístico do design. Muitos criticaram o styling, a própria Bauhaus foi contra o estilo, argumentando que ia contra os princípios do design, e de fato ia contra a filosofia da escola em si, antes objetos de formas simples e leves de forma que facilitasse a reprodução, agora surgiam objetos com formatos mais aerodinâmicos e orgânicos, alguns até que faziam sentido como os carros, outros simplesmente pela função de estilizar o produto como cadeiras, chaleiras, apontadores, canetas, ferros de passar, abajures, qual a necessidade de um abajur aerodinâmico? Ele não corre nem consegue voar ou nadar, permanece inerte, mas essa é a grande questão do styling, mesmo que o abajur não voe, não quer dizer que ele não fique mais elegante se estruturado de uma maneira diferente, pena que Semper não viveu o suficiente para presenciar o movimento, logo ele que via a decoração como elemento integral do produto, talvez ficasse lisonjeado com as escovas de dente elétricas do Shrek que são vendidas de forma tão comum hoje em dia.

Imagem 4: Escova de dentes elétrica do Shrek

Fonte: http://blodonto.blogspot.com/2012/12/ escovas-convencionais.html

No fim das contas, o que seria a forma correta de fazer design? Seria ela direto, funcional, com propósito de planejar, projetar, idealizar, designar, conceber, idealizar, conceber e apenas? Ou poderia ela ser também relacionada a forma, volume, traço, cor, estética e aparência do produto? Cremos que os conceitos de funcionalismo e styling já conseguem conviver em paz no século 21, ora, se a igreja católica e os evangélicos não entram em guerras desde 1648, quem dirá os designers que tanto colaboram entre si por amor à profissão e à arte, se um designer se considera um artista, quem vai dizer o que é arte e o que não é, em 2016 um jovem de 17 anos que visitava um museu em San Francisco decidiu fazer uma brincadeira e deixar um óculos no chão do museu, algum tempo depois visitantes já estavam amontoados apreciando e fotografando a obra de todos os ângulos possíveis, concluísse que se pessoas conseguem fazer arte ou a impressão de arte apenas por brincadeira, quem conseguiria contabilizar a criatividade e o valor do produto final de um bom designer, talvez como Ariano Suassuna e Chico Science, que chamava Suassuna de “mestre” enquanto que Suassuna criticava o estilo musical americanizado de Chico, talvez Zarah Colburn e Gottfried Semper vivessem uma situação semelhante de amor e ódio se fossem vivos ainda hoje.

Imagem 5: Óculos no museu de San Francisco

Fonte: https: https://g1.globo.com/planetabizarro/noticia/visitantes-confundem-oculos-no-chao-como-obrade-arte-nos-eua.ghtml

Imagem 6: Ariano Suassuna

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/07/1331 237-morre-no-recife-o-escritor-ariano-suassuna-aos87-anos.shtml

Imagem 7: Chico Science

Fonte: https://vermelho.org.br/2017/02/02/umcordel-para-chico-science/

Referências:

- HESKETT, John. Desenho Industrial. Brasília: José Olympio, 1998

-DORFLES, Gilo. O Design Industrial e sua Estética. Lisboa: Ed 70, 1991

-BAUHAUS: a Escola que influenciou a Arte, Arquitetura e Design Moderno protegem. [S. l.: s. n.], 2010. (2 min). Publicado pelo canal Zaira Rodrigues. Disponível em: . Acesso em: 28 de abril de 2021.

Ficha Técnica:

Texto desenvolvido por Daniel Santos Cavalcante para a disciplina Introdução ao Estudo do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Design - Abril de 2021. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo Boufleur (http://estudossobredesign.blogspot.com).