Resumo
Este relatório técnico apresenta a indicação e a priorização de formas de controles biológico e químico para a praga quarentenária ausente Lobesia botrana. Trata-se do resultado esperado para 2023 da Contribuição para Inovação 2 (C.I. 2) “Prospecção de estratégias de controle químico e biológico para os insetos-pragas quarentenárias ausentes Toxotrypana curvicauda, Lobesia botrana e Bactrocera dorsalis“ (Embrapa SEG n.40.18.03.007.00.03) do Projeto “Estratégias para subsidiar ações de monitoramento e controle de insetos-pragas presentes e quarentenárias ausentes no território brasileiro” - DefesaInsetos (Embrapa SEG n.40.18.03.007.00.00 – Execução autorizada pelo DSV/SDA-MAPA (Ofício n.28/2019/CGPP/DSV/SDA/Mapa- Processo SEI n.21000.050281/2018-59 - SEI n.7101489).
Levantamentos de informações sobre aspectos biológicos de L. botrana, como também de cultivos hospedeiros priorizados, de potenciais agentes de controle biológico e de agrotóxicos utilizados no exterior para seu controle químico foram realizados. Com atenção ao controle biológico da PQA L. botrana, parasitoides e predadores foram identificados em literatura científica mundial, tendo sido priorizados aprofundamentos com os parasitoides, realizados também em literatura técnico-científica internacional. Como resultado, 80 espécies de parasitoides associadas a L. botrana foram identificadas. Posteriormente, também com base em literatura, entre essas espécies foram identificadas as de Habrobracon hebetor (Say, 1836) e Bracon mellitor (Say, 1836), já presentes no Brasil. A análise de informações sobre esses dois parasitoides, com foco nos seus respectivos potenciais de parasitismos em L. botrana resultou na necessidade de busca de outras espécies presentes no Brasil para potencial uso em estratégias de controle biológico da PQA, caso a praga ingresse no Brasil. A espécie Trichogramma pretiosum Riley, 1879 (Hymenoptera: Trichogrammatidae) foi selecionada para maiores aprofundamentos pelo projeto, por também se encontrar no país parasitando Lepidoptera da mesma família de L. botrana e pela disponibilidade de resultados de pesquisas já disponibilizados. O uso de técnicas de geoprocessamento em SIG ArcGIS subsidiou a realização de zoneamentos territoriais de áreas nacionais aptas à PQA L. botrana, considerando, ou não, tanto a presença de cultivo hospedeiro de uva, priorizado em trabalho conjunto realizado pela Embrapa e DSV/SDA/MAPA (FIDELIS et al., 2018), quanto à presença dos cultivos hospedeiros de uva, ameixa, amora, alecrim, caqui, kiwi, oliveira, pêssego, maçã, nectarina ou pera localizados, ou não, em áreas frágeis nacionais. As áreas frágeis aqui consideradas foram aquelas com presença de aquíferos livres, solos porosos e pluviosidades médias superiores a 250 mm.ano-1 e apresentadas em planos de informações geográficas já obtidos por técnicas de geoprocessamento em SIG ArcGIS pelo projeto (FERRACINI et al., 2020, 2022). Zoneamentos territoriais de áreas aptas ao parasitoide T. pretiosum também foram disponibilizados. Os zoneamentos citados foram realizados com base em dados de literatura para os insetos, T. pretiosum e/ou L. botrana, e nacionais para os fatores abióticos, áreas com plantios de potenciais hospedeiros de L. botrana, aspectos geopedológicos e malha municipal. Esses zoneamentos também subsidiaram outras atividades realizadas, entre elas a identificação de áreas aptas ao uso do controle químico e do controle biológico para as estratégias de controle da PQA L. botrana.
Com foco na identificação de formas de controle químico para L. botrana, 41 princípios ativos (p.a.) de agrotóxicos foram identificados em literatura técnico-científica internacional como já utilizados no controle da praga no exterior. As potenciais toxicidades desses ingredientes ativos às abelhas foram recuperadas em literaturas técnico-científicas e bases de dados internacionais. Do mesmo modo, informações sobre as propriedades físico-químicas desses princípios ativos foram recuperadas. Estas últimas foram utilizadas em modelos matemáticos do tipo screening (do Índice de Gus e dos métodos de Goss e de Cohen (EPA)), conforme demandado pelas suas respectivas entradas de dados, para viabilizar a identificação do potencial de transporte (lixiviação e/ou escoamento superficial (run-off)) dos p.a. em solo e em água. O modelo de Cohen (EPA) também demandou o conhecimento de presença de áreas nacionais com aquíferos livres, solos porosos e pluviosidades médias superiores a 250 mm.ano-1; aqui considerados como áreas frágeis já apresentados pelo projeto DefesaInsetos em planos de informações geográficas, obtidos por técnicas de geoprocessamento em SIG ArcGIS (FERRACINI et al., 2020, 2022). Nesse contexto, a avaliação de potencial de transporte foi realizada para 41 p.a.. O resultado obtido indicou a necessidade de cautela no uso, principalmente em áreas frágeis, devido aos potenciais alto (A) ou médio (M) de serem transportados dissolvidos em água (por GOSS) ou de lixiviar (L ou T) (por GUS ou EPA) para 27 princípios ativos. Com relação ao potencial de transporte por escoamento superficial, adsorvidos aos sedimentos do solo, os resultados identificaram condições potenciais (M ou A) para que ocorram a partir do uso de 31 princípios ativos. Em relação às toxicidades desses ingredientes ativos às abelhas, os resultados obtidos, com base em literatura, indicaram que estas se manifestam de moderadamente a altamente tóxicas para a maioria dos p.a. avaliados. Toxicidades de baixa a moderada foram identificadas para nove p.a. com uso aprovado no país, desde que atendendo às orientações de aplicações, formulações e épocas/períodos de usos adequados com relação à toxicidade às abelhas também identificadas. Porém, pelo apresentado, a seleção de uso dos p.a. deve ser também orientada conforme os potenciais de transportes aqui identificados e com os zoneamentos territoriais disponibilizados. Os zoneamentos apresentando as áreas aptas a L. botrana considerando tanto a presença de cultivo hospedeiro de uva quanto a presença de outros cultivos hospedeiros identificados como de interesse nacional (uva, ameixa, amora, alecrim, caqui, kiwi, oliveira, pêssego, maçã, nectarina ou pera), indicaram as localidades brasileiras onde monitoramentos preventivos e estratégias de controles químico e/ou biológico deverão ser mais demandados, em caso de entrada da PQA no país. Por sua vez, os zoneamentos realizados considerando as áreas aptas a L. botrana com presença dos cultivos hospedeiros de uva, ameixa, amora, alecrim, caqui, kiwi, oliveira, pêssego, maçã, nectarina ou pera localizados em áreas frágeis, sinalizam as localidades brasileiras onde deva haver cautela no uso dos p.a. de alto ou médio potenciais de transportes dissolvidos em água e/ou associados aos sedimentos do solo. Frente ao exposto, na ausência de produtos autorizados no país e/ou que não atendam aos potenciais de transportes de p.a. seguros para uso em áreas frágeis, recomenda-se o uso do bioagente T. pretiosum, orientado conforme os zoneamentos de áreas nacionais mais favoráveis às suas respectivas liberações inundativas, aqui também disponibilizados com foco em áreas aptas a L. botrana.
O projeto DefesaInsetos está sendo financiado exclusivamente por recursos do Sistema Embrapa de Gestão (SEG) e os resultados aqui apresentados subsidiam políticas públicas de sanidade vegetal apoiadas no Manejo Integrado de Pragas com foco nos controles químico e biológico, prospectado de forma preventiva, e na sustentabilidade ambiental de áreas com cultivos hospedeiros da PQA L. botrana, caso esta praga seja detectada no país.
Relatório original: 189 páginas