Resumo

Este relatório técnico apresenta a indicação e priorização de formas de controles biológico e químico para a praga quarentenária ausente Bactrocera dorsalis Hendel, 1912 (Diptera: Tephritidae). Trata-se de um resultado esperado para 2023 da Contribuição para Inovação 2 (C.I. 2) “Prospecção de estratégias de controle químico e biológico para os insetos-pragas quarentenárias ausentes Toxotrypana curvicauda, Lobesia botrana e Bactrocera dorsalis“ (Embrapa SEG n.40.18.03.007.00.03) do Projeto “Estratégias para subsidiar ações de monitoramento e controle de insetos-pragas presentes e quarentenárias ausentes no território brasileiro- DefesaInsetos“ (Embrapa SEG n.40.18.03.007.00.00 – Execução autorizada pelo DSV/SDA-Mapa (Ofício n.28/2019/CGPP/DSV/SDA/Mapa- Processo SEI n.21000.050281/2018-59 - SEI n.7101489). Levantamentos de informações sobre aspectos biológicos de B. dorsalis, como também de seus principais cultivos hospedeiros, de potenciais agentes de controle biológico e de agrotóxicos utilizados no exterior para seu controle químico foram realizados. Com atenção ao controle biológico da PQA B. dorsalis, parasitoides e predadores foram identificados em literatura científica mundial, tendo sido priorizados estudos mais detalhados com os parasitoides, realizados também com base em literatura técnico-científica internacional. Assim, 29 espécies de parasitoides associadas a B. dorsalis foram recuperados dos levantamentos realizados, onde posteriormente foram constatadas, com base em literatura nacional, que cinco espécies já se encontram presentes no Brasil, a saber: Spalangia endius Walker, 1839 (Hymenoptera: Pteromalidae), Pachycrepoideus vindemmiae (Rondani, 1875) (Hymenoptera: Pteromalidae), Diachasmimorpha longicaudata (Ashmead, 1905) (Hymenoptera: Braconidae), Fopius arisanus (Sonan, 1932) (Hymenoptera: Braconidae) e Tetrastichus giffardianus Silvestri, 1915 (Hymenoptera: Eulophydae). A análise dessas informações, com foco nos respectivos potenciais de parasitismos na PQA, resultou na priorização das espécies D. longicaudata, F. arisanus e T. giffardianus para o uso nas estratégias de controle biológico de B. dorsalis, caso essa PQA ingresse no Brasil. Destas, as espécies F. arisanus e T. giffardianus foram selecionadas para maiores aprofundamentos pelo projeto. O uso de técnicas de geoprocessamento em SIG ArcGIS subsidiou a realização de zoneamentos territoriais de áreas nacionais aptas à PQA B. dorsalis, considerando, ou não, a presença de 18 cultivos hospedeiros (abacate, banana, cacau, café, caju, caqui, laranja, limão, tangerina, feijão, goiaba, maçã, mamão, manga, maracujá, melão, melancia e tomate) e/ou áreas frágeis nacionais, consideradas pelo projeto. As áreas frágeis aqui consideradas foram aquelas com presença de aquíferos livres, solos porosos e pluviosidades médias superiores a 250 mm.ano-1 e apresentadas em planos de informações geográficas já obtidos por técnicas de geoprocessamento em SIG ArcGIS pelo projeto (FERRACINI et al., 2020, 2022). Também disponibilizou zoneamentos territoriais de áreas aptas aos dois potenciais bioagentes de B. dorsalis: os parasitoides F. arisanus e T. giffardianus. Os zoneamentos citados foram realizados, com base em dados de literatura para cada inseto-alvo e nacionais, para os fatores abióticos, áreas com plantios de potenciais hospedeiros de B. dorsalis, aspectos geopedológicos e malha municipal. Também subsidiou a entrada de um dos modelos screening utilizados para avaliação de potencial de transporte de princípios ativos de agrotóxico. Com foco na identificação de formas de controle químico para B. dorsalis, vinte e quatro princípios ativos (p.a.) de agrotóxicos foram identificados em literatura técnico-científica internacional como já utilizados no controle da praga no exterior. Os potenciais de toxicidades desses compostos químicos às abelhas foram recuperados em fontes técnico-científicas e bases de dados internacionais, nas quais também foram prospectadas as respectivas propriedades físico-químicas desses ingredientes ativos. Estas últimas foram necessárias para o uso de modelos matemáticos do tipo screening, conforme demandado pelos modelos do Índice de Gus e dos métodos de Goss e de Cohen (EPA)), os quais foram empregados para a identificação do potencial de transporte (lixiviação e/ou escoamento superficial (run-off)) de cada p.a. em solo e em água. O modelo de Cohen (EPA) também demandou o conhecimento de presença de áreas nacionais com aquíferos livres, solos porosos e pluviosidades médias superiores a 250 mm.ano-1; aqui considerados como áreas frágeis, já apresentados pelo projeto DefesaInsetos em planos de informações geográficas, obtidos por técnicas de geoprocessamento em SIG ArcGIS (FERRACINI et al., 2020, 2022). Nesse contexto, a avaliação de potencial de transporte foi realizada para 23 p.a., dado que a fosfina (gás) não pode ser realizada pelos modelos considerados. O resultado obtido indicou a necessidade de cautela no uso, principalmente em áreas frágeis, de ciantraniliprole, ciromazina, clorpirifós, diazinona, diclorvós, endossulfam (banido), espinosade, fenitrotiona, fipronil, formotiom (banido), foxim, isazofós (banido), nalede, quinalfos (banido) e triclorfom (banido), pelo potencial identificado para serem transportados dissolvidos em água ou lixiviar. Com relação ao potencial de transporte por escoamento superficial, adsorvidos aos sedimentos do solo, os resultados identificaram condições potenciais para que ocorram a partir do uso de beta-cipermetrina, carbofurano, cialotrina (não consta em listagem de uso autorizado), ciflutrina, cipermetrina ciromazina, clorpirifós, deltametrina, endossulfam (banido), fenitrotiona, fipronil e quinalfos (banido), devido aos médio ou alto potenciais para transporte associado a sedimentos de solo identificados pelo método de GOSS. Toxicidades às abelhas, predominando de moderada a altamente tóxicas, foram identificadas para os p.a. avaliados. Quatro p.a. (ciromazina, espinosade, malationa e nalede) apresentaram condições para serem aplicados, desde que atendendo às orientações de aplicações, formulações e épocas/períodos de usos adequados com relação às toxicidades às abelhas. Assim, a seleção de uso dos p.a. deve também ser orientada conforme os potenciais de transportes aqui assinalados e com os zoneamentos territoriais disponibilizados. Os zoneamentos apresentando as áreas aptas à B. dorsalis considerando a presença dos 18 cultivos hospedeiros de interesse nacional indicaram as localidades nacionais onde monitoramentos preventivos e estratégias de controles químico e/ou biológico devam ser mais demandadas, em caso de entrada desta PQA no país, dada às condições de desenvolvimento ótimo consideradas para o inseto-praga. Por sua vez, os zoneamentos realizados considerando as áreas aptas à B. dorsalis com presença dos 18 cultivos hospedeiros localizados em áreas frágeis sinalizam as localidades brasileiras onde deva haver cautela no uso dos p.a. de alto ou médio potenciais de transportes dissolvidos em água e/ou associados aos sedimentos do solo. Frente ao exposto, na ausência de produtos autorizados no país e/ou que não atendam a potenciais de transportes de p.a. seguros para uso em áreas frágeis, recomenda-se o uso dos bioagentes F. arisanus e/ou T. giffardianus, orientado conforme os zoneamentos de áreas nacionais mais favoráveis às suas respectivas liberações inundativas, aqui também disponibilizados com foco em áreas aptas a B. dorsalis. O projeto DefesaInsetos está sendo financiado exclusivamente por recursos do Sistema Embrapa de Gestão (SEG) e os resultados aqui apresentados subsidiam políticas públicas de sanidade vegetal apoiadas no manejo integrado preventivo (com foco nos controles químico e biológico) e na sustentabilidade ambiental de áreas com cultivos hospedeiros da PQA Bactrocera dorsalis, em caso de sua entrada no país.

Palavras-chaves: agrotóxicos; biocontrole; modelos; praga quarentenária; mapeamentos; Brasil.

Relatório original: 166 páginas