Resumo
Este relatório técnico apresenta a identificação e priorização preventivas de formas de controles biológico e químico indicados para a mosca-das-frutas do mamão Anastrepha curvicauda Gerstaecker, 1860 (syn. Toxotrypana curvicauda Gerstaecker, 1860) (Diptera: Tephritidae), praga quarentenária ausente (PQA) no Brasil. Levantamentos de informações sobre aspectos biológicos de A. curvicauda, bem como de seus cultivos hospedeiros, de potenciais agentes de controle biológico e de agrotóxicos utilizados no exterior para seu controle químico em frutíferas hospedeiras de mamão ou manga (priorizadas pela importância econômica para o Brasil) foram realizados. Com atenção ao controle biológico da PQA, os principais inimigos naturais identificados em literatura científica mundial foram três parasitoides (Hymenoptera: Braconidae): Diachasmimorpha longicaudata (Ashmead, 1905), Doryctobracon toxotrypanae (Muesebeck, 1958) e Opius hirtus Fischer, 1963. Aprofundamentos posteriores, realizados em literatura, indicaram que D. longicaudata já ocorre em território nacional e que outras espécies de parasitoides, presentes no país, vêm sendo empregadas como estratégias de controle biológico de outras espécies de pragas também pertencentes ao gênero Anastrepha. Destes últimos, dentro da família Braconidae foram identificados na subfamília Opiinae os parasitoides Doryctobracon areolatus (Szépligeti, 1911), Doryctobracon crawfordi (Viereck, 1911), Utetes anastrephae (Viereck, 1913) e Opius bellus Gahan, 1930, enquanto na subfamília Alysiinae ressaltou-se o parasitoide Asobara anastrephae (Muesebeck, 1958). Evidenciou-se também a espécie Aganaspis pelleranoi (Brèthes, 1924), da família Figitidae subfamília Eucoilinae. Contudo, considerando relatos de taxas de parasitismo em larvas de A. curvicauda no exterior e a disponibilidade do parasitoide no Brasil, D. longicaudata foi priorizado como uma boa alternativa para a continuidade de estudos, aqui realizados visando principalmente ao controle biológico da PQA. Com foco na identificação de formas de controle químico para A. curvicauda, oito princípios ativos (p.a.) de agrotóxicos, a saber abamectina, deltametrina, espinosade, malation, piretrina, permetrina, tiociclan e tiometon, utilizados no controle da praga no exterior foram identificados em literatura técnico-científica e bases de dados internacionais. Do mesmo modo foram recuperadas as respectivas propriedades físico-químicas e potenciais de toxicidades às abelhas desses compostos químicos. Modelos matemáticos do tipo screening (Índice de Gus, método de Goss e método de Cohen (EPA)), fazendo uso de parte dessas informações, foram utilizados para propiciar a identificação do potencial de transporte (lixiviação e/ou escoamento superficial (run-off)) desses p.a. em solo e em água. Um dos modelos screening também demandou o conhecimento de presença de áreas frágeis nacionais, aqui consideradas como aquelas com presença de aquíferos livres, solos porosos (unidades hidrolitológicas aflorantes/freáticos dos tipos sedimentar granular (Gr) e sedimentar/metassedimentar de natureza química/orgânica cársticas (K) nacionais) e com pluviosidades médias anuais acima de 250 mm. Assim, técnicas de geoprocessamento em SIG ArcGIS e de modelagem de nicho ecológico GARP (plataforma OpenModeller) foram utilizadas para obtenção de zoneamentos territoriais de áreas aptas à PQA A. curvicauda, considerando, ou não, as áreas mais favoráveis ao parasitoide Diachasmimorpha longicaudata, a presença de frutíferas hospedeiras da PQA (manga ou mamão) e/ou áreas frágeis, realizados com base em dados de literatura para os insetos-alvo e nacionais para os fatores abióticos, áreas com cultivos hospedeiros, aspectos geopedológicos e malha municipal. A seleção de uso dos p.a. foi orientada conforme os respectivos potenciais de transportes obtidos e com base nos zoneamentos territoriais disponibilizados. Os zoneamentos apresentando as áreas aptas a A. curvicauda com presença das frutíferas avaliadas indicam as possíveis localidades nacionais onde monitoramentos preventivos ou estratégias de controles químico e/ou biológico devam ser mais demandados, em caso de entrada da PQA no país. Os zoneamentos realizados considerando as áreas aptas a A. curvicauda com presença das frutíferas hospedeiras em áreas frágeis sinalizam as localidades nacionais onde deve haver cautela no uso dos p.a. de alto ou médio potenciais de transportes dissolvidos em água e/ou associados aos sedimentos do solo. Nesse contexto, a avaliação do potencial de transporte dos p.a. avaliados indicou a necessidade de cautela no uso, principalmente em áreas frágeis, de espinosade, tiociclan e tiometon, pelos médios potenciais apresentados para transporte quando dissolvidos em água, e de deltamentrina, piretrina e permetrina, pelo alto potencial do primeiro e pelos médios potenciais dos demais para transporte associado a sedimentos de solo. A toxicidade de cada p.a. às abelhas resultou na identificação de espinosade como p.a. de baixo potencial tóxico a esses polinizadores, com algumas ressalvas assinaladas. Zoneamentos indicando as áreas aptas ao melhor desenvolvimento do parasitoide D. longicaudata e da PQA A. curvicauda em áreas com frutíferas hospedeiras, com ou sem áreas frágeis, foram também disponibilizados no intuito de indicar os locais mais favoráveis às liberações do bioagente. Os resultados aqui apresentados, com foco na identificação e priorização preventivas de formas de controles biológico e químico da PQA, constituem parte do conteúdo previsto como entrega de resultado em 2023 da Contribuição para Inovação 2 (C.I. 2) “Prospecção de estratégias de controle químico e biológico para os insetos-pragas quarentenárias ausentes Toxotrypana curvicauda, Lobesia botrana e Bactrocera dorsalis“ do Projeto “Estratégias para subsidiar ações de monitoramento e controle de insetos-pragas presentes e quarentenárias ausentes no território brasileiro- DefesaInsetos“ (Embrapa SEG n.40.18.03.007.00.00 – Execução autorizada pelo DSV/SDA-Mapa (Ofício n.28/2019/CGPP/DSV/SDA/Mapa- Processo SEI n.21000.050281/2018-59 - SEI n.7101489). O projeto DefesaInsetos está sendo financiado exclusivamente por recursos do Sistema Embrapa de Gestão (SEG) e os resultados aqui apresentados subsidiam políticas públicas de sanidade vegetal apoiadas no controle biológico e na seleção de princípios ativos (controle químico) preventivos para uso em estratégias de manejo da PQA A. curvicauda em frutíferas hospedeiras, mamão ou manga, com foco na sustentabilidade ambiental desses cultivos agrícolas, em caso de sua detecção no país.
Palavras-chaves: agrotóxicos; biocontrole; praga quarentenária; mapeamentos; modelos matemáticos.
Relatório original: 121 páginas