Patativa do assaré

Patativa do Assaré

(Kamila Angelo Delagado)

Antônio Gonçalves da Silva (05/03/1909 - 8/07/2002) nasceu em Assaré CE, faleceu aos 93 anos. Antônio Gonçalves é o famoso Patativa do Assaré, um conhecido poeta popular, compositor, cantor e improvisador brasileiro.

“Eu, Antônio Gonçalves da Silva, filho de Pedro Gonçalves da Silva, e de Maria Pereira da Silva, nasci aqui a 5 de março de 1909, no Sítio denominado Serra de Santana, que dista três léguas da cidade de Assaré. Com a idade de doze anos, frequentei uma escola muito atrasada, na qual passei quatro meses, porém sem interromper muito o trabalho de agricultor. Saí da escola lendo o segundo livro de Felisberto de Carvalho e daquele tempo para cá não frequentei mais escola nenhuma. Com 16 anos de idade, comprei uma viola e comecei a cantar de improviso, pois naquele tempo eu já improvisava, glosando os motes que os interessados me apresentavam. Nunca quis fazer profissão de minha musa, sempre tenho cantado, glosado e recitado, quando alguém me convida para este fim.” (Depoimento disponível no site da Academia Brasileira de Literatura de Cordel).

O apelido de Patativa surgiu quando tinha vinte anos de idade, é uma referência a um pássaro, sua poesia era comparada ao encanto do canto desta ave. Patativa ganhou vários prêmios e títulos por suas obras, entre elas estão 10 livros de poesia:

Inspiração Nordestina - 1956

Inspiração Nordestina: Cantos do Patativa -1967

Cante Lá que Eu Canto Cá - 1978

Ispinho e Fulô - 1988

Balceiro. Patativa e Outros Poetas de Assaré - 1991

Cordéis - 1993

Aqui Tem Coisa - 1994

Biblioteca de Cordel: Patativa do Assaré - 2000

Balceiro 2. Patativa e Outros Poetas de Assaré - 2001

Ao pé da mesa – 2001

E vários poemas conhecidos: A Triste Partida, Coisas do Rio de Janeiro, Se existe inferno, Cante lá que eu canto cá, entre outros. Para além do Brasil seus livros foram traduzidos para vários idiomas, e também se realizaram estudos sobre eles na universidade francesa Sorbonne, na cadeira de Literatura Popular Universal. O poeta ainda é patrono da 15º cadeira da ABLC, e em 1979 se apresentou no Teatro José de Alencar dando origem à um LP chamado Poemas e Canções, gravado e editado por Raimundo Fagner e lançado pela CBS.

Como mencionado no depoimento da ABLC, Patativa, mesmo sem muito estudo, se entregou à produção de cultura popular, focalizado no povo marginalizado e oprimido do sertão nordestino. E é com a sua linguagem “simples” e poética que conquistou o público. O poema Triste Partida é um dos mais conhecidos do autor e foi musicalizado por Luiz Gonzaga. O poema possui 19 estrofes e 114 versos heptassílabos, confira as duas primeiras estrofes :

“Setembro passou

Outubro e Novembro

Já tamo em Dezembro

Meu Deus, que é de nós,

Assim fala o pobre

Do seco Nordeste

Com medo da peste

Da fome feroz

A treze do mês

Ele faz experiência

Perdeu sua crença

Nas pedras de sal,

Mas noutra esperança

Com gosto se agarra

Pensando na barra

Do alegre Natal.”

(19-, p.1)

A poética do retirante nordestino é um lamento de tristeza por sua partida, o nordestino clama a Deus e pede por amparo durante a ausência de chuvas no sertão. Leia as estrofes iniciais de outro poema, intitulado Emigração (e consequências):

“Neste estilo popular,

nos meus singelos versinhos,

o leitor vai encontrar

em vez de rosas espinhos

na minha penosa lida

conheço do mar da vida

as temerosas tormentas

eu sou o poeta da roça

tenho mão calosa e grossa

do cabo das ferramentas

Por força da natureza

sou poeta nordestino,

porém só canto a pobreza

do meu mundo pequenino

eu não sei contar as glórias

nem também conto vitórias

do herói com seu brasão

nem mar com suas águas

só sei contar minhas máguas

e as máguas do meu irmão

De contar a desventura

tenho sobrada razão

pois vivo da agricultura,

sou camponês do sertão

sou um caboclo roceiro,

eu trabalho o dia inteiro

exposto ao frio e ao calor,

sofrendo a lida pesada,

puxando o cabo da enxada

sem arado e sem trator.

(1977, p.1)

Novamente identificamos uma temática, que é recorrente, na obra do autor: a dureza da vida no sertão nordestino, a emigração como única saída, o sofrimento do povo no norte e no sul, mais adiante Patativa trata das consequências dessa emigração, e mais uma vez de como o povo nordestino suporta os flagelos da vida, muitas vezes, trilhando caminhos inimagináveis para vencer a fome. Emigração (e consequências) possui 16 páginas, 42 estrofes: décimas (10 versos), e podemos perceber a recorrência das rimas nas três primeiras estrofes que são: ABCBDDEFFE.

Referências:

ASSARÉ, Patativa do. A Triste Partida. Juazeiro do Norte: Univ. Reg. do Cariri - Urca: Vozes: Lira Nordestina, [19-], 8p. Disponível em <http://acervosdigitais.cnfcp.gov.br/DocReader.aspx?bib=Literatura%20de%20Cordel%20-%20C0001%20a%20C7176&PagFis=55885&Pesq=triste%20partida>. Acesso em: 15 de maio de 2020.

ASSARÉ, Patativa do. Emigração (e consequências). Juazeiro do Norte: [s.n.], 1977, 16p. Disponível em <http://acervosdigitais.cnfcp.gov.br/Literatura%20de%20Cordel%20-%20C0001%20a%20C7176/31837>. Acesso em: 15 de maio de 2020.

FRAZÃO, Dilva. Patativa do Assaré, Poeta popular, 05 de mar. de 2020. Disponível em <https://www.ebiografia.com/patativa_assare/>. Acesso em: 15 de maio de 2020.

Patativa do Assaré. Grandes cordelistas. Disponível em <http://www.ablc.com.br/o-cordel/grandes-cordelistas/>. Acesso em: 15 de maio de 2020.

RAMOS, Jefferson Evandro Machado. Patati da Assaré: Biografia resumida, obrar, poemas, repentes, literatura de cordel e outras informações, 11 de nov. de 2019. Disponível em <https://www.suapesquisa.com/biografias/patativa_assare.htm>. Acesso em: 15 de maio de 2020.