serra azul - piúdo

Serra azul - Piúdo

(Victor Hugo Gabriel e Margarida da Silveira Corsi)


Luiz Eduardo Serra Azul Filho falece nesse dia 6 de junho. Poeta, humorista, sonetista, parodista, compositor e cordelista, o Piúdo, como era popularmente conhecido, se vai e nos deixa a sua belíssima poesia e a memória de um grande humor que animava até a folha mais murcha no deserto. Os amigos, mobilizados pela tristeza destacam essa exímia característica de Serra Azul de conseguir unir o humor a poesia, como é o caso do folheto Seu André, o professor de seu lunga (2008), que provoca forte riso do leitor:

Se alguém o perguntasse:

- Tem remédio par ao rato?

Ele por cima da bucha

Respondia imediato:

- Me diga que é que ele sente

Que eu receitarei no ato.

Sua escrita está marcada em versos, especialmente imbuídos de graça e humor, como : Enigmas, charadas e outros desafios, mas também apresenta outros temas O grande encontro de Camões com Salomão e Rodolfo Teófilo (em coautoria com Rouxinol do Rinaré); A vida de Monteiro Lobato; adapatações como O patinho feio e Dona Guidinha do poço em cordel. Destacamos ainda produções em que fazia a defesa da natureza, como acontece com o poema publica na linha do tempo da página do Face do amigo Rouxinol do Rinaré, que começa assim:“Eu vejo o mar com uma manto/ prateado de magia,/ um véu de soberania/ tremulando sobre um canto...”

Nessa brevidade da vida, vão-se os gigantes e ficam os textos. Nós do Cordel em Exposição, trazemos informações acerca deste cordelista e destacamos nossas condolências aos familiares e amigos. Uma triste perda ao cordel.

Nascido em 30 de julho de 1967, Piúdo percorreu, ao longo de sua vida, trilhas marcadas pela poesia e pelo humor. Não poderia ser diferente! Em entrevista ao poeta e cordelista Evaristo Geraldo, descobrimos que essa mistura de pequeno e miúdo foi o que gerou o codinome conhecido.

Pequeno e miúdo, o Piúdo fazia Cordel é como gente grande! E era, de fato! Em 2002, participou do I concurso paulista de Literatura de Cordel, tendo sido classificado entre os 20 melhores. Publicou diversos cordéis e livros. Participou do projeto “Rodas de poesia e performance poética”, foi vice-diretor de patrimônio da SOPOEMA – Sociedade de poetas e escritores de Maracanaú. Além disso, foi um dos fundadores e participantes do Jornal “A Porta”, que surgiu em decorrência do movimento “A Porta Cultural dos Aletófilos”, fundado em 1999 por um grupo de amigos, inspirados pelo famoso movimento “Padaria Espiritual”, em Fortaleza.

A Padaria Espiritual foi um movimento que assim como o padeiro-mor, Antônio Sales descreve, ficou “organizada, na cidade de Fortaleza, capital da “Terra da Luz”, “antigo Siará Grande”. Em resumo, era “uma sociedade de rapazes de Letras e Artes, denominada Padaria Espiritual, cujo fim era fornecer pão de espírito aos sócios em particular, e aos povos, em geral.” (1. artigo do estatuto dos padeiros, Antônio Sales).

Esse movimento deu origem ao jornal “O Pão”, no qual os letrados faziam críticas ao clero e a uma certa elite regional. Inimigos declarados desta elite, conforme o 25º artigo do estatuto dos padeiros pontua, assinavam o que escreviam com pseudônimos, para que o clero e a polícia não os identificassem. Um século mais tarde, inspirados no movimento da Padaria Espiritual, surge, portanto, “A Porta Cultural dos Aletófilos” - Aletófilos que vêm do grego – amigos da verdade - encabeçada pelos poetas e amigos Rouxinol do Rinaré, Francisco da Silva, Alex Magno, Paiva Neves e o nosso Piúdo, em Maracanaú, Fortaleza. Assim como os padeiros do século XIX, esses poetas do final do século XX assinavam pseudônimos, e posteriormente, inclusive, muitos se tornaram conhecidos por estes pseudônimos, como foi o caso de Rouxinol do Rinaré. Deste movimento, surgiu o jornal “A porta” que possuiu 4 edições, nas quais esses grandes nomes do cordel publicavam seus poemas e distribuíram pra entidades culturais do país e para escolas do entorno de Fortaleza de forma gratuita. De acordo com entrevista concedida a nós do grupo Cordel em Exposição, o poeta e cordelista Rouxinol do Rinaré destaca que o jornal “A porta” foi mesmo uma porta de entrada para muitos dos integrantes, inclusive para Piúdo.

Suas obras podem ser encontradas na Cordelaria Flor da Serra e Rouxinol do Rinaré Edições & Folheteria.


Fontes:

RINARÉ, Rouxinol do In:. https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10213556235699806&id=1819828238&ref=content_filterRINARÉ, Rouxinol do. Entrevista.

GERALDO, Evaristo. Entrevista.

DA SILVA, Francisco. In: https://m.facebook.com/francisco.silva.393?ref=content_filter

http://cordelariaflordaserra.blogspot.com/