lITERATURA DE Coldel: da Europa para o Brasil

Literatura de cordel - da Europa para o Brasil - via oralidade

Margarida da Silveira Corsi (UEM/DLM)

Cascudo (1984, p.24) afirma que a matéria do cordel “foi feita para o canto, para a declamação, para a leitura em voz alta” e que, por esta razão, será rapidamente inserida aos hábitos da “improvisação popular” e assimilada à “poética dos desafios, dos versos, nome vulgar da quadra nos sertões do Brasil”, a qual, mais tarde será substituída por sextilhas, septilhas e décimas, nos romances de cordel. Acerca da importância da tradição literária oral, Cascudo (1984, p.194) acrescenta que: “são os elementos da literatura oral, aqueles que decorrendo de fontes impressas, mantêm, visivelmente, a tradição dos trabalhos de convergência literária no ambiente popular”.

De acordo com Oliveira (2012, p.120), são os romances inspirados no Romanceiro que traduzem em versos setissilábicos as histórias trazidas da Península Ibérica e que, até hoje, encantam cordelistas e leitores. O conjunto de histórias em versos, originárias de países europeus, narradas oralmente, provenientes do romanceiro se popularizou no Nordeste do Brasil, recontando histórias como: História do Imperador Carlos Magno e dos doze pares de França, História da Princesa Magalona, História da Imperatriz Porcina, História da Donzela Teodora, História do grande Roberto do Diabo ou Roberto de Deus, História de João de Calais. Com exceção da história da Donzela Teodora que vem no Oriente, as outras narrativas citadas são originárias da tradição medieval francesa e chegaram à Península Ibérica a partir de traduções ou adaptações feitas entre os séculos XIV e XVII.

As histórias trazidas da Europa para o Brasil e recontadas oralmente passaram a ser impressas em folhetos de cordel, em oficinas tipográficas, a partir do século XIX, assumindo elementos da linguagem e da cultura local, em formato e estilo tipicamente nacionais. De acordo com informações de Maxado (1982, p.46), as tipografias pioneiras eram montadas nos fundos das casas e a família do tipógrafo executava as tarefas: “Compunha os tipos móveis, cortava o papel, imprimia, encadernava, gravava na madeira, vendia [...]”. Acerca disso, Abreu (2006, p.61) acrescenta que o os folhetos começaram a ser impressos, “no final do século XIX, na Paraíba, onde alguns homens pobres e talentosos adquiriram prensas manuais de jornais” e “montaram pequenas gráficas em suas casas”, transformando em folhetos “os poemas que tinham composto”.

Apesar de se ter notícias de outras produções anteriores, de modo geral, os pesquisadores atribuem a Leandro Gomes de Barros o legado de ter iniciado a publicação da arte popular cordelizada, em 1893, por ser “o primeiro a imprimir regularmente folhetos” (LUNA E SILVA, 2010, p.74) e a Silvino Pirauá de Lima a substituição da quadra pela sextilha e a publicação do primeiro romance de cordel, intitulado História do capitão do Navio.

Até meados do século XX, a arte dos cordelistas não era conhecida como Literatura de cordel, “o nome vem de Portugal e Espanha, onde os livretos, antigamente, [...] eram expostos em barbantes, como roupa no varal” (LUYTEN, 1992, P.39). No Brasil, os livretos eram expostos em malas ou sobre um lençol, para facilitar a retirada quando apareciam os fiscais. Aqui, eram chamados de folhetos, livretos, romances ou histórias contadas, mas os pesquisadores, no final da década de 1960, relacionando sua origem à Península Ibérica, resgataram o nome Literatura de cordel e o transmitiram aos cordelistas que o incorporaram à sua arte. Segundo Santos e Marinho (2011, p.03), “o uso do termo literatura de cordel foi se popularizando, a partir dos folhetos da Editora Luzeiro” que “trazia impresso no verso de seus folhetos o nome ‘Literatura de Cordel’ e uma definição, explicando que esta tinha se originado em Portugal e que o nome era cordel, pois os exemplares eram vendidos em cordões”. Hoje, o nome está ligado à toda poesia popular do nordeste que envolva romance de cordel, peleja, ABC, folhetos de circunstância, marco, folha volante, entre outros.

Este texto é parte de trabalho intitulado “O ROMANCE DE CORDEL COMO RESSIGNIFICAÇÃO DO ROMANCE FRANCÊS – da Europa para o sertão” in: FLECK, G.F.; CORSI M.S.; CANDIDO, W.R. (Orgs). A pesquisa em Literatura e leitura na formação docente – experiências da pesquisa acadêmica à prática profissional no ensino. Volume 2. Campinas-SP: Mercado das Letras, 2018.

Referencias

ABREU, Márcia. Cultura letrada: literatura e leitura. São Paulo: Editora UNESP, 2006.

CASCUDO, Luis da Camara. Literatura oral no Brasil.3.ed. Belo Horizonte : Itatiaia ; São Paulo: Edusp, 1984.

LUNA E SILVA Vera Lúcia de. Primórdios da Literatura de Cordel no Brasil – Um Folheto de 1865. Graphos. João Pessoa, Vol. 12, N. 2, Dez./2010 - ISSN 1516-1536. pp.74-80

LUYTEN, Joseph M.. O que é Literatura popular. 5ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1992.

MAXADO, Franklin. Cordel: Xilogravura e ilustrações. Rio de Janeiro: Editora Codecri, 1982. 90p.

OLIVEIRA, Carlos Jorge Dantas de. A Formação da Literatura de Cordel Brasileira, Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela (USC), 2012. 381 fls. Tese de Doutorado (Programa de Doutorado em Teoria da Literatura e Literatura Comparada – Faculdade de Filologia, Universidade de Santiago de Compostela – 2012).

SANTOS, Luciany Aparecida Alves; MARINHO, Ana Cristina. Narrativas culturais da Literatura de Cordel brasileira. Cultura & Tradução. João Pessoa, v.1, n.1, 2011. pp.01-09.