ANTONIO LAFUENTE ABRE O 30º COMPÓS

Antonio Lafuente no Tecnológico de Monterrey (ITESM). Foto. Paolaricaurte


O professor e pesquisador Antonio Lafuente é o convidado que irá proferir, no dia 27 de julho, às 14h40, a conferência de abertura do 30º Encontro da COMPÓS (Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação), com o tema La comunicación de la ciencia y la construcción de un nuevo pacto social (A comunicação da ciência e a construção de um novo pacto social).

Natural de Granada, na Espanha, Lafuente é doutor em física e pesquisador na área de estudos da ciência do Centro de Ciências Humanas e Sociais do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) da Espanha. Atualmente, tem como foco de interesse a escala urbana da ciência, especialmente as práticas relacionadas às noções de procomún (os commons), cultura da prototipagem, laboratório cidadão e ciência aberta.

Por dez anos, entre 2007 a 2017, Lafuente dirigiu o Laboratorio del Procomún, do MediaLab-Prado, em Madri, Espanha. Hoje, coordena a plataforma digital "A Aventura de Aprender", em que defende a ideia de que os movimentos sociais e coletivos cidadãos, entendidos como comunidades de aprendizagem e articulação política local, deveriam se tornar parte do sistema educativo. Um dos pressupostos do projeto está relacionado com a hipótese de que o conhecimento é uma empresa colaborativa, coletiva, social e aberta. "Sem aventura não há aprendizagem, pois as tarefas de aprender e produzir são cada vez mais indissociáveis das práticas associadas ao partilhar, colaborar e cooperar", informa a página do projeto (http://laaventuradeaprender.intef.es/home).

Lafuente é autor de dezenas de livros, mais de cem artigos e capítulos de livros, além de ter dirigido diversas coleções editoriais sobre ciência, entre eles: ”Los caballeros del punto fijo" (1987), "Mundialización de la ciencia y cultura nacional" (1992), "Ciencia colonial en América” (1996), "Guia del Madrid Científico: ciencia y corte" (1998), "El carnaval de la tecnociencia” (2007), "Las dos orillas de la ciencia" (2012) e "¡Todos sabios!" (2013).

Em 2020, lançou "slowU: uma propuesta de transformación para la universidad", em parceria com David Gómez (https://antoniolafuente.contently.com/). O slowU foi inspirado nos chamados movimentos slow, que pregam o fazer lento, e tempo é o que se faz necessário para o surgimento de novos questionamentos, para a escuta e o experimentar juntos. A obra, um conjunto de textos reunindo quatro anos de experimentação, não se apresenta como uma metodologia a ser fielmente seguida, mas um texto aberto, como explicam os autores, para ser reutilizado, modificado e experimentado como se deseje. A pessoa é colocada no centro de interesses, e os aprendizados informais, que se produzem fora da academia, são valorizados.

Para conhecer um pouco do pensamento de Lafuente e de alguns dos conceitos que integram suas reflexões, pincelamos abaixo alguns trechos de entrevistas e de textos assinados pelo professor.



BENS COMUNS

"O mundo que habitamos está repleto de bens comuns criados por todos para tornar a vida coletiva viável. Linguagem, gastronomia e festas são exemplos que poderiam compartilhar do mesmo pedestal reservado às criações coletivas, junto com as sementes, a tabuada e as brincadeiras infantis. A justiça, a palavra divina e a ciência, além das montanhas, florestas e luz do sol, também são bens comuns. O ângulo de rotação do eixo da Terra, o genoma humano e a tabela periódica dos elementos são bens comuns que possuem uma característica única: para reivindicá-los, eles devem primeiro ser descobertos. Se os bens comuns criados pelos humanos em seu trânsito pelo planeta são abundantes, os bens descobertos e por descobrir são ainda mais numerosos."

Trecho do artigo "Para uma cartografia afetiva dos Comuns”, em:

https://outraspalavras.net/descolonizacoes/para-uma-cartografia-afetiva-doscomuns/



A CULTURA DA CRÍTICA E A CULTURA DO CUIDADO

"A ciência é um dos terrenos da crítica. Não é o único, nem o mais visível. Os que se gabam de ser críticos são aquelas pessoas da literatura, das artes, das ciências humanas e também, portanto, das ciências sociais. O que eles chamam de 'espírito crítico' muitas vezes percebido como arrogância banal. E é por isso que nós desconfiamos dessa forma de nos desenganarem, que, do outro lado do espelho, é percebida como uma maneira de nos deixar nus. Justamente o oposto daquilo que esperávamos: alguém que nos ajudasse a encontrar as roupas para não nos deixar na intempérie. Abandonados ao acaso, novamente, sem redenção.

A cultura do cuidado não é só compaixão. Precisamos dela, também, para criar outros mundos possíveis e dar espaço às diferentes práticas cognitivas de que precisamos aprender a apreciar. Se o crítico é quem vê mais e melhor, quem cuida possui como ferramenta fundamental de trabalho o tato. Se a simbologia reservou para os inteligentes a figura da coruja, do livro e dos óculos de armação grossa, aqueles que cuidam são representados como pessoas que acariciam com os olhos, com os gestos e com as mãos. As mãos alcançam lugares que os olhos nem conseguem imaginar. O tato é a chave que abre a porta que nos permite imaginar outros mundos possíveis, baseados em cumplicidade, empatia e vulnerabilidade. Nos cuidados, explora-se sem propósitos e sem condicionantes, se avança entre suspeitas e desconfianças, até chegarmos ao lugar onde experimentaremos a companhia como uma benção. Ou uma epifania."

Trecho do artigo "Elogio cognitivo à potência dos cuidados”, em:

https://outraspalavras.net/descolonizacoes/elogio-a-potencia-cognitiva-dos-cuidados/



CIÊNCIA POR AMOR

"Ciência por amor evoca economias políticas de conhecimento que não estão dominadas pelo imaginário do autor, do especialista e do proprietário. Ciência por amor contém um convite à reflexão sobre o que a ciência deve à cidadania e não tanto sobre o que a sociedade deve à ciência. Ciência por amor aspira a visualizar como atores decisivos nos espaços do conhecimento algumas figuras históricas frequentemente ignoradas nos relatos da ciência, como, entre outros, o público, os amadores, os ativistas e os hackers."

Trecho de "Ciência por Amor: sin autores, sin expertos, sin propietarios",

texto de apresentação de um curso ministrado pelo professor, em: https://antoniolafuente.contently.com/



Izabel Kranz