Família Asháninka. Estado do Acre, Brasil, 2016. Foto: Sebastião Salgado.
Os povos originários, guardiões de saberes ancestrais e de uma profunda conexão com a terra, representam um pilar fundamental para a diversidade cultural e a sustentabilidade ambiental em todo o mundo. A necessidade de sua valorização, embora historicamente negligenciada, é um tema amplamente discutido e difundido ao longo dos anos, impulsionado por líderes políticos, pesquisadores, filósofos e, principalmente, pela luta dos próprios movimentos indígenas, que têm pautado esse debate globalmente. Sua inestimável contribuição abrange desde práticas de manejo sustentável que protegem a biodiversidade e auxiliam no combate às mudanças climáticas, até ricos sistemas de conhecimento em medicina, agricultura e filosofia, que oferecem perspectivas únicas para os desafios contemporâneos da humanidade.
Essa valorização, no Brasil, transcende a reparação histórica ou o multiculturalismo liberal. Ela se revela como uma condição indispensável e urgente tanto para a autocompreensão do Brasil como nação quanto para a construção de um futuro socialmente justo e ecologicamente viável para o planeta. Os povos originários não são um apêndice da história brasileira, mas seus coautores fundamentais, cuja presença e agência moldaram a nação desde o seu início. Os saberes, práticas, costumes e a própria língua do cotidiano no Brasil são permeados por contribuições indígenas duradouras. Esses elementos definem a singularidade da cultura brasileira e representam um patrimônio vivo que enriquece a identidade nacional.
Krenak resiste à ideia de que "somos todos iguais", argumentando que esta é uma ferramenta de homogeneização colonial que apaga a diferença e a diversidade. A luta indígena é pelo direito de permanecer diferente, de manter múltiplos modos de vida. Valorizá-los significa valorizar essa pluralidade como fonte de resiliência para toda a humanidade.
Para Krenak, o "fim do mundo" não é um apocalipse futuro, mas um processo que os povos indígenas vivenciam há 500 anos através de massacres, epidemias e da destruição de seus mundos. As crises globais atuais, como a climática e a pandêmica, são apenas a expansão desse processo para o mundo "civilizado". Esta reformulação da narrativa é poderosa: os povos indígenas não são apenas vítimas a serem salvas, mas sobreviventes experientes de um apocalipse que detêm o conhecimento sobre como resistir a ele.
Povo Enawenê Nawê construindo barragens de madeira na estação da pesca. Fonte: Site www.survivalbrasil.org
Estudantes Indígenas. Foto: Jana Pessôa/Governo do Mato Grosso
Historicamente, os povos indígenas foram marginalizados do sistema educacional superior, um cenário que começou a ser transformado após a promulgação da Constituição Federal de 1988. Este marco legal reconheceu o direito à cidadania, à manifestação cultural e a uma educação específica e diferenciada para os povos originários. A partir desse momento, a luta e a reivindicação dos movimentos indígenas ganharam força, impulsionando a efetivação de políticas e programas que, nos anos 2000, passaram a se materializar em diversas frentes.
Para ampliar o acesso dos povos indígenas ao ensino superior, existem leis federais e estaduais que reservam vagas para esses candidatos. A chamada Lei de Cotas (Lei Federal 12.711/2012), por exemplo, determina que as instituições de ensino superior destinem vagas para indígenas, desde que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas.
Apesar dessa legislação garantir esse direito aos indígenas somente em 2012, diversas Universidades brasileiras já haviam implementado medidas para suprir esse déficit na ampliação de acesso à educação.
A primeira iniciativa documentada de ação afirmativa para o acesso de estudantes indígenas ao ensino superior no Brasil partiu da Universidade Federal de Roraima (UFRR), que instituiu o primeiro vestibular específico para indígenas no primeiro semestre de 1999. Essa iniciativa antecedeu em anos qualquer outra legislação estadual ou federal sobre o tema, demonstrando que a demanda social por inclusão em regiões de forte presença indígena impulsionou ações concretas antes mesmo que marcos legais mais amplos fossem estabelecidos.
A Lei Estadual nº 13.134, de 18 de abril de 2001, do Paraná, é um marco por ser a primeira legislação estadual a instituir uma política de reserva de vagas para indígenas no ensino superior. A lei estabeleceu a reserva de três vagas fixas para serem disputadas exclusivamente por indígenas das sociedades paranaenses nos vestibulares de cada uma das universidades estaduais. Em 2006, essa quantidade foi ampliada para seis vagas através da Lei nº 14.995. A partir da lei, foi criada a Comissão Universidade para os Povos Indígenas (CUIA), que é responsável por organizar o Vestibular Específico Interinstitucional e, crucialmente, "acompanhar pedagogicamente os estudantes indígenas nas universidades".
A Universidade de Brasília (UnB) também é uma instituição pioneira no Brasil na implementação de políticas para o acesso de povos indígenas, adotando medidas como a aprovação de cotas raciais em 2003 e a criação de um vestibular específico em 2005. O impacto dessa política foi significativo: no primeiro semestre de 2003, negros e indígenas representavam apenas 4,3% dos alunos da UnB, um número que saltou para 48% em 2019. Essa política de acesso, fortalecida por um Acordo de Cooperação Técnica com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), tem se mostrado eficaz em abrir as portas da educação superior para os estudantes indígenas, com a oferta de um número expressivo de vagas, como as 240 disponibilizadas para o Vestibular Indígena de 2025, que completa-se 20 anos desde sua implementação.
Estudantes Indígenas no ICC. Foto: Luis Gustavo Prado/Acervo UnB
Apesar da longa data e dos muitos avanços realizados para garantir o acesso à UnB, existem dados que demonstram que o ingresso não é suficiente para assegurar a eficiência dessas políticas de inclusão. Um estudo de corte que analisou a trajetória de 108 estudantes indígenas que ingressaram na UnB entre 2004 e 2013 revelou que, até 2017, apenas 25,5% haviam concluído o curso, enquanto uma parcela alarmante de 43,5% havia sido desligada da universidade.
Dados de 2022 da Secretaria de Administração Acadêmica (SAA) mostram que a Universidade reúne 229 estudantes indígenas, distribuídos em 61 cursos de graduação, e que 77 indígenas se graduaram pela UnB e 68 concluíram a pós-graduação na instituição, sendo 50 mestres e 18 doutores. Esses números, se considerado o pioneirismo da universidade no acesso aos estudantes indígenas, não condiz com o resultado esperado por essas políticas de ingresso e vagas que têm sido reservadas.
Outro parâmetro que pode ser analisado são os dados informados pelo Cebraspe, que registrou 1.143 inscrições homologadas no Vestibular Indígena UnB/Funai 2025 destinado a selecionar candidatos indígenas para o ingresso nos cursos de graduação oferecidos pela Universidade de Brasília (UnB), no primeiro e no segundo semestres letivos de 2025. Porém, os editais finais disponibilizados registram que, das 240 vagas distribuídas para os dois semestres de 2025, apenas 77 alunos efetuaram a matrícula no primeiro semestre e 14 alunos no segundo semestre, dado preocupante se considerado o número de indígenas homologados para realizar o vestibular inicialmente, levantando a questão do motivo para não adesão e evasão desses estudantes.
A chegada de estudantes indígenas às universidades, impulsionada por políticas de cotas e vestibulares específicos, revela que o acesso não garante a permanência. A falta de moradia adequada é uma das principais causas de evasão e retenção, e a implementação desses espaços em outras universidades brasileiras evidenciou ainda mais a importância de se construir e proporcionar espaços de qualidade para esses estudantes, que além de criar um ambiente que favorece o sucesso acadêmico, reforça a importância da história, cultura, valores e presença desses povos na sociedade brasileira.
Acrescenta-se que, os estudantes enfrentam dificuldades com a adaptação a um ambiente acadêmico que, por vezes, não dialoga com suas epistemologias e cosmovisões, além do enfrentamento diário do racismo e da discriminação. O desafio central da assistência estudantil para este público é a dissonância entre as políticas de acesso e a efetividade das políticas de permanência, principalmente no primeiro semestre de ingresso à universidade. Esses dados não são apenas estatísticos; eles refletem desafios materiais e socioculturais que persistem, apesar dos auxílios existentes.
As residências estudantis comuns, como a CEU da UnB, não foram projetadas para acolher as especificidades culturais dos povos indígenas. A falta de espaços para manter suas tradições, como rituais e culinária, contribui para a sensação de isolamento e estranhamento. A existência de um espaço como a Maloca, demonstra o reconhecimento da universidade sobre a necessidade de um ambiente culturalmente adaptado, mas as limitações de uso e ocupação do espaço reduz de forma significativa o impacto positivo que poderia ser alcançado com a criação da Maloca.
Como a moradia/estadia não é permitida nesse espaço, e seu uso não é livre, sendo vinculado apenas a atividades de cunho acadêmico, os alunos seguem sem um espaço destinado a manter seus modos de vidas, culturas e práticas, em um local acolhedor e seguro.
A entrada na universidade muitas vezes coloca o estudante indígena em um ambiente de choque cultural, onde ele pode ser alvo de racismo, preconceito e desconhecimento por parte de colegas e, por vezes, até de professores. O artigo “Trajetória Formativa de mulheres-estudantes indígenas na Universidade de Brasília” conclui que “O racismo é a principal dificuldade enfrentada pelas estudantes indígenas em suas trajetórias formativas, justamente porque ele abarca um conjunto de violências institucionais e estruturais que são reforçadas por outros problemas de ordem financeira, pedagógica, psicológica, epistemológica.”
A moradia exclusiva, serve como um espaço de acolhimento, pertencimento e segurança. Nela, os estudantes podem conviver com outros que compartilham suas vivências, fortalecendo suas redes de apoio e reduzindo o sentimento de vulnerabilidade e solidão. Mais do que um dormitório, essas moradias se tornam centros de vivência cultural. Elas permitem que os estudantes mantenham e compartilhem suas tradições, saberes e línguas, criando um ambiente que fomenta a interculturalidade e valoriza a diversidade. Esse tipo de espaço demonstra um reconhecimento institucional da universidade em relação à existência e à resistência dos povos originários, transformando-a em um lugar mais inclusivo.
O presente trabalho de conclusão de curso, portanto, justifica-se pela urgente necessidade de traduzir os dados de evasão e as demandas qualitativas por um ambiente mais acolhedor e representativo em uma proposta arquitetônica concreta. A proposição de uma nova moradia estudantil indígena na UnB não é apenas uma questão de infraestrutura, mas uma estratégia de permanência que aborda os desafios da evasão de forma integral, combinando o suporte material com a valorização cultural. O projeto visa criar um espaço que não apenas acomode, mas que também sirva como um ponto de acolhimento e resistência, onde as identidades e os saberes dos povos indígenas sejam respeitados e fortalecidos. A justificativa para este projeto é, em última análise, a necessidade de fechar a lacuna entre as políticas de acesso da UnB e a realidade da permanência, assegurando que o ingresso na universidade se torne uma trajetória de sucesso e diplomação para todos os estudantes indígenas.
O estado da arte é destinado a apresentar referências dentro do mesmo tema, aprimorando e aprofundando a abordagem inicial, oferecendo um panorama abrangente sobre como esses programas funcionam na prática, suas condições construtivas, com foco em iniciativas brasileiras.
As moradias estudantis indígenas implementadas em universidades brasileiras, como as da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), partem de um princípio fundamental: não se trata apenas de oferecer um teto, mas de criar um espaço de acolhimento que fortaleça a identidade cultural e contribua para a permanência e o sucesso acadêmico dos estudantes.
Diferentemente das moradias estudantis convencionais, o programa de necessidades desses equipamentos é complexo e multifacetado. A análise de projetos como o da UFSC revela que o processo de concepção é intrinsecamente participativo, envolvendo diretamente os estudantes indígenas na definição das premissas projetuais. Essa abordagem colaborativa é crucial para que o resultado final não seja uma imposição de modelos arquitetônicos hegemônicos, mas sim uma tradução espacial das suas necessidades e cosmovisões.
Os programas geralmente contemplam, além dos dormitórios individuais e coletivos, espaços de convivência que permitem a realização de práticas culturais, rituais e o fortalecimento dos laços comunitários. A presença de cozinhas coletivas amplas, áreas para fogueiras, espaços para artesanato e para o cultivo de plantas medicinais são elementos recorrentes e essenciais para a manutenção dos modos de vida indígenas no ambiente universitário.
A avaliação da eficácia de uma moradia estudantil indígena reside, fundamentalmente, na percepção e na experiência de seus usuários. A pesquisa sobre o impacto social da Casa do Estudante Indígena na UFSM, por exemplo, aponta para a importância do espaço na preservação da cultura e no sentimento de pertencimento dos estudantes, o que impacta positivamente sua trajetória acadêmica.
No entanto, avaliações pós-ocupação (APOs) sistematizadas e publicadas, que analisem de forma aprofundada a funcionalidade dos espaços, o conforto ambiental, a adequação cultural e a satisfação geral dos moradores, ainda são raras. A realização de estudos de caso aprofundados, com metodologias que combinem abordagens qualitativas (entrevistas, grupos focais, observação participante) e quantitativas (questionários, medições de conforto ambiental), é um passo crucial para aprimorar futuros projetos.
Projeto do Laboratório de Projetos (LabProj/ARQ), em 2018, teve por objetivo desenvolver um projeto de arquitetura para uma proposta de moradia para estudantes indígenas da UFSC.
O projeto se estrutura a partir de estudos e levantamentos que consideram aspectos específicos como diferenças culturais e etnias, modos de vida e relações socioambientais, tecendo reflexões acerca dos ambientes naturais e espaços construídos e suas relações com o comportamento, identidade e memória dos estudantes indígenas. Foi feito um trabalho projetual participativo com os estudantes indígenas por meio de diálogos e interações com as etnias envolvidas em seu território tradicional (Aldeia) para definição das diretrizes projetuais e desenvolvimento do programa de necessidades. A apresentação do projeto foi feita durante vivências com esses estudantes na implantação do projeto, utilizando de maquetes e desenhos para facilitar o diálogo e a participação dos estudantes indígenas no processo de projeto.
Espaço do fogo. Fonte: Caderno MEI UFSC (2021).
Localização e implantação do projeto. Fonte: Caderno MEI UFSC (2021).
Plantas por pavimento do projeto desenvolvido pelo LabProj da UFSC
Fonte: Caderno MEI UFSC (2021).
O projeto ainda não foi construído, havendo a inauguração em 2024 do novo Alojamento Estudantil Indígena, local de moradia e convivência para estudantes indígenas, no Campus de Florianópolis, no bairro Trindade, em um edifício que foi reformado e mobiliado para receber esses estudantes.
Foto da moradia indígena na UFSC . Fonte: Site ndmais.com.br (2024).
Foto da moradia indígena na UFSC . Fonte: Site ndmais.com.br (2024).
Foto da moradia indígena na UFSC . Fonte: Site ndmais.com.br (2024).
Foto da moradia indígena na UFSC . Fonte: Site ndmais.com.br (2024).
Na Universidade Federal de Minas Gerais, as “Casas-bioma” oferecem 35 vagas, representando um passo intermediário do projeto de construção de moradia indígena nas imediações do campus Pampulha. Elas foram inauguradas em 2023 e foram especialmente planejadas para serem ocupadas pelos estudantes oriundos do vestibular suplementar. Três foram inauguradas inicialmente: a Casa Cerrado, nos limites entre os bairros Serra e Centro, onde vivem atualmente nove estudantes indígenas; a Casa Amazônia, no bairro Liberdade, habitada por outros nove alunos; e a Casa Caatinga, no bairro São Luiz, onde vivem sete discentes. Juntas, as três moradias podem receber até 35 alunos.
A Casa Cerrado busca servir aos alunos que cursam graduação na Faculdade de Direito e no campus Saúde, enquanto as casas Amazônia e Caatinga situam-se no entorno do campus Pampulha, sede do principal complexo de prédios e cursos da UFMG.
Foto da moradia indígina na UFMG . Fonte: Site www.cedefes.org.br (2023).
Foto da moradia indígina na UFMG . Fonte: Site www.cedefes.org.br (2023).
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul o processo para a implementação dessa moradia estudantil se iniciou a alguns anos. Em março de 2022, o Coletivo de Estudantes Indígenas da UFRGS ocupou um prédio abandonado próximo a Faculdade de Educação, que foi doado pela prefeitura para a UFRGS e posteriormente devolvido à prefeitura. A ocupação teve como objetivo principal pressionar a universidade para que esta promovesse alguma resposta à reivindicação por uma Casa do Estudante Indígena.
“Estamos retomando o que é nosso.” frase do Woie Xokleng, mestrando em Educação e representante do coletivo de estudantes indígenas da Universidade. O prédio anteriormente destinado à Creche da Universidade é a Casa do Estudante Indígena (CEI) atualmente.
Ocupada desde o início de abril deste ano, após um longo processo de reivindicação, a CEI abriga, 46 pessoas, em sua maioria mães com seus filhos e estudantes que ainda permanecerão por mais tempo na Universidade, considerados prioridade, e os demais estudantes indígenas seguem morando na Casa do Estudante Universitário (CEU) por falta de espaço para atender a todos que necessitam.
Foto da ocupação indígena no edifício abandonado da UFRGS . Fonte: Site da UFRGS (2022). Foto: Alass Derivas
Casa do Estudante Indígena UFRGS . Fonte: Site da UFRGS (2022).
A Universidade Federal de Santa Maria inaugurou em 2018 a Casa do Estudante Indígena Augusto Ópẽ da Silva.O bloco inaugurado possui três andares, com uma área total de 1.244,16 m². A casa oferece 96 vagas de moradia, exclusiva para estudantes indígenas, e capacidade para abrigar 96 estudantes. Finalizada no início de 2018.
Casa do Estudante Indígena UFSM. Fonte: Site da UFSM (2018).
Casa do Estudante Indígena UFSM. Fonte: Site diariosm.com.br (2018).
Planta da CEU. Fonte: ceplan.unb.br
Dentro da Universidade de Brasília, o modelo que existe atualmente é de uma casa do estudante que atende as demandas gerais dos alunos que necessitam desse tipo de infraestrutura, não sendo destinada exclusivamente para alunos indígenas.
Casa do Estudante Universitário (CEU) da Universidade de Brasília (UnB) foi originalmente concebida como alojamento para atletas do centro olímpico da universidade na década de 1970. Posteriormente, o edifício foi adaptado para servir como moradia estudantil, sendo inaugurado para este fim em 1972. Ao longo dos anos, a CEU passou por reformas significativas para melhor atender às necessidades de seus moradores. Uma reforma de grande porte teve início em 2012 e foi concluída em 2014. Essa obra modernizou os 90 apartamentos existentes e adequou a infraestrutura do local.
Atualmente, a CEU tem capacidade para abrigar 360 estudantes de graduação em seus dois blocos, A e B juntos. Dentre os apartamentos, dois por bloco são especialmente adaptados para atender a estudantes com deficiência, seguindo padrões de acessibilidade e permitindo a presença de acompanhantes, se necessário. A tipologia construtiva dos apartamentos duplex é de aproximadamente 67 m², com exceção dos adaptados, que foram feitos unido duas unidades, tendo o dobro da metragem. Cada unidade é mobiliada para oferecer condições adequadas de moradia e estudo. A arquitetura do complexo segue o estilo modernista predominante no campus Darcy Ribeiro, com o uso de concreto aparente.
CEU UnB. Fonte: Site www.unbimagens.unb.br
Apartamento adaptado. Fonte: Site www.unbimagens.unb.br
Interior dos alojamentos. Fonte: Site www.unbimagens.unb.br
Interior da Maloca. Fonte: https://campusitofacunb.com.br/artigos/diversidade-no-campus-entenda-os-movimentos-de-estudantes-minorizados-da-unb/ Foto: Gabriel Borges
Maloca
Projeto Arquitetônico: Alberto Alves de Faria
Projeto Estrutural: Alan Dias
Cidade: Brasília, DF - Universidade de Brasília
Ano: 2009
A Maloca da Universidade de Brasília (UnB) é uma edificação de grande importância simbólica e funcional, cuja arquitetura é diretamente inspirada nas habitações tradicionais indígenas. Estruturalmente, o edifício é construído predominantemente em madeira e possui dois pavimentos.
Antes da construção do edifício próprio de 400 m², a "Maloca" existia como conceito confinado a um espaço precário. Relatos históricos indicam que, inicialmente, a universidade cedeu uma pequena sala — referida pelos estudantes como a "salinha" — para servir de ponto de apoio.
Este espaço provisório tinha a finalidade oficial de ser um local de estudo silencioso e reuniões. Contudo, a dinâmica cultural dos estudantes rapidamente ressignificou o ambiente. A "salinha" tornou-se pequena demais para as demandas de socialização, rituais e debates políticos que a crescente comunidade indígena exigia. Segundo o estudante Hauni Monteiro, a conquista do terreno para a construção definitiva foi uma batalha subsequente, que só ocorreu após a saturação completa das possibilidades de uso daquela sala improvisada. A transição da "salinha" para o projeto da Maloca representa a passagem de uma política de "concessão" (onde a universidade empresta um canto) para uma política de "territorialidade" (onde os indígenas constroem sua própria casa).
O projeto, concebido a partir de um esboço dos próprios estudantes indígenas, busca materializar a presença e a cultura dos povos originários no ambiente acadêmico.
Sua geometria é marcada por um formato circular, semelhante a uma oca, com um vão aberto no centro que remete aos pátios centrais das aldeias, um espaço de convivência e realização de rituais.
Para além de seus aspectos construtivos, a Maloca funciona como um Centro de Convivência Multicultural e um ponto de apoio fundamental para os estudantes indígenas. O espaço é utilizado para reuniões, discussões de pautas, planejamento de atividades, além de servir como um local de acolhimento, acompanhamento psicopedagógico e fortalecimento dos laços comunitários, sendo considerado por eles uma "segunda casa" dentro da universidade, onde podem expressar suas culturas e articular suas demandas.
Perspectiva da estrutura da Maloca. Fonte: Site timbauestruturas.com.br
Perspectiva da estrutura da Maloca. Fonte: Site timbauestruturas.com.br
Perspectiva da estrutura da Maloca. Fonte: Site timbauestruturas.com.br
A principal referência projetual se dá na forma da edificação e na materialidade. O pavimento superior, que se abre no centro como um mezanino, possibilita não só a entrada de luz e vento, como possibilita que o usuário visualize o que está acontecendo no "coração" do edifício, integrando os usos dos espaços.
O guarda corpo também possui plasticidade que remete a cultura indígena.
Foto da abertura zenital. Fonte: Site timbauestruturas.com.br
Foto do pátio interno da Maloca. Fonte: Site timbauestruturas.com.br
Foto do exterior da Maloca. Fonte: Site timbauestruturas.com.br
Foto acabamento da vedação. Fonte: Site timbauestruturas.com.br
Foto do guarda-corpo do mezanino. Fonte: Site timbauestruturas.com.br
Foto brise móvel. Fonte: Site timbauestruturas.com.br
Memorial dos Povos Indígenas. Fonte: Site arteforadomuseu.com.br. Foto: Joana França (2010).
Memorial dos Povos Indígenas
Projeto: Oscar Niemeyer
Cidade: Brasília, DF
Ano: 1987
Idealizado pelo casal de antropólogos Darcy e Berta Ribeiro, o projeto arquitetônico do Memorial dos Povos Indígenas é uma obra de Oscar Niemeyer. O local abriga o Museu de Artefatos Indígenas e um Centro Cultural.
Projetado em forma de espiral, em referência à maloca redonda dos índios Yanomami, é um museu dedicado à cultura indígena brasileira, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 2007.
O Memorial compreende uma construção circular com 70 metros de diâmetro, com salas abrindo para um grande pátio interior. A área plana útil do museu é de apenas 792 m2 e o restante é de área descoberta, destinada a jardins, e de rampas, pois o formato interno do prédio é em caracol.
A estrutura em concreto armado, formado por uma galeria curva e em declive (área expositiva e auditório), na parte interna do memorial é revestida por vidro que permite uma visão da arena interna, atualmente utilizada para apresentações e rituais indígenas. A área construída é de aproximadamente 1600 metros quadrados.
O museu conta com um espaço de exposições, um laboratório de restauro, um telecentro, com nome oficial de Estação Digital Mário Juruna, voltado a inclusão digital e pesquisas, um espaço para realização de eventos com capacidade para 300 pessoas e um jardim externo tem capacidade para 1.000 pessoas, além da arena para rituais indígenas.
O projeto tem como principal fonte para referência a solução arquitetônica da cobertura que fica no centro do edifício. Ela proporciona proteção em dias de chuva e sol, além de funcionar como elemento acústico. O som atinge essa cobertura e reverbera nesse átrio, dispensando o uso de aparelhos de áudio e som em dias de apresentações.
Memorial dos Povos Indígenas. Fotos: Nivaldo Martins
Memorial dos Povos Indígenas. Fotos: Nivaldo Martins
Memorial dos Povos Indígenas. Fonte: Site acrosstheuniverse.blog.br e brasil.un.org (2018)
Memorial dos Povos Indígenas. Fonte: Site acrosstheuniverse.blog.br e brasil.un.org (2018)
Centro de Proteção Ambiental de Balbina. Fonte: Site revistaprojeto.com.br. Foto: Severino Porto.
Centro de Proteção Ambiental de Balbina
Projeto: Severiano Porto
Cidade: Vila de Balbina, Amazonas
Ano: 1983
O complexo localizado na Vila de Balbina, no município de Presidente Figueiredo, Amazonas, destaca-se por sua profunda integração com a paisagem e cultura locais, sendo um exemplo notável de arquitetura bioclimática e regionalista.
Concebido com a finalidade de acompanhar os impactos ambientais causados pela construção da hidrelétrica de Balbina, as edificações do Centro foram divididas em duas alas distintas em torno de um espaço aberto de uso múltiplo e um espelho d’água. Com programa extenso, que incluía alojamento e residências, apenas a ala do projeto destinada ao abrigo dos laboratórios foi construída, e, infelizmente, atualmente encontra-se abandonada e se deteriorando rapidamente.
O Centro de Proteção Ambiental de Balbina foi feito próximo à hidrelétrica e utilizou as madeiras provenientes do desmatamento do local para sua construção. Neste projeto, Severiano foi adaptando a estrutura às peças de madeira e bolou alguns encaixes na própria obra. A cobertura do edifício, feita em cavaco (casca de árvore) foi produzida no próprio local, a partir de uma pequena fábrica montada com esse intuito.
A principal característica da obra é a sua imponente e sinuosa cobertura de madeira, que se estende por todo o complexo, unificando os diferentes blocos funcionais sob um único e orgânico elemento. Esta cobertura não apenas protege as edificações do sol equatorial e das chuvas intensas, mas também promove a ventilação natural cruzada, um dos pilares da concepção do arquiteto.
A cobertura possui aberturas zenitais e grandes beirais que, aliados à disposição dos edifícios, criam um eficiente sistema de ventilação natural. O ar quente é expelido pelas aberturas superiores, enquanto a sombra e a ventilação cruzada garantem o conforto térmico no interior dos ambientes, dispensando em grande parte o uso de ar-condicionado.
O complexo foi implantado de forma a respeitar a topografia original do terreno e a vegetação existente, minimizando o impacto ambiental da construção. Os blocos são interligados por passarelas cobertas que serpenteiam pela área, proporcionando uma transição suave entre o ambiente construído e a floresta.
A principal referência projetual de Severiano Porto para o Centro de Balbina foi a arquitetura vernacular amazônica, em especial as habitações dos "caboclos" e das populações ribeirinhas. O arquiteto estudou e absorveu a sabedoria construtiva local, que por séculos desenvolveu soluções simples e eficazes para as adversidades do clima equatorial. Elementos como os telhados de duas águas com grande inclinação, o uso de materiais locais e a elevação das construções em relação ao solo são reinterpretados de forma contemporânea no projeto.
Centro de Proteção Ambiental de Balbina. Fonte: vitruvius.com.br. Artigo: “Sintaxe e processo, que futuro(s)?” Gonçalo Castro Henriques. (2016)
Centro de Proteção Ambiental de Balbina. Fonte: vitruvius.com.br. Artigo: “Sintaxe e processo, que futuro(s)?” Gonçalo Castro Henriques. (2016)
Centro de Proteção Ambiental de Balbina. Fonte: vitruvius.com.br. Artigo: “Sintaxe e processo, que futuro(s)?” Gonçalo Castro Henriques. (2016)
Centro de Proteção Ambiental de Balbina. Fonte: vitruvius.com.br. Artigo: “Sintaxe e processo, que futuro(s)?” Gonçalo Castro Henriques. (2016)
Acesso central ao Parque del Jaguar. Fonte: Site arquitecturaviva.com (2025)
Parque del Jaguar
Projeto: Coletivo de Arquitetura C733
Cidade: Tulum, México
Ano: 2021-2024
A principal finalidade desta construção e do parque como um todo é a de servir como um amortecedor entre a crescente área urbana de Tulum e a frágil reserva da biosfera, protegendo os ecossistemas e a rica herança cultural da região. O parque busca promover um turismo mais consciente e sustentável, ao mesmo tempo que oferece espaços de lazer e educação ambiental para a comunidade e os visitantes.
Diante do rápido crescimento urbano de Tulum, um destino turístico popular na costa caribenha, e da ameaça que isso representa para a paisagem, o Jaguar Park surgiu como uma iniciativa interinstitucional cujo principal objetivo é proteger e melhorar os ecossistemas naturais, estabelecendo um limite simbólico e funcional que permita tanto o aprendizado quanto a livre circulação da vida selvagem — especialmente onças — bem como preservar elementos valiosos, como o sítio arqueológico maia e o sistema de cavernas subaquáticas de Sac Actún.
Foi construída uma divisa de mais de 18 km com um muro de contenção de calcário e taludes de vegetação que permitem a passagem da vida selvagem e sua integração com o entorno. O local foi expandido para quase 30.000 m², conectando habitats fragmentados. Conflitos sobre a propriedade da terra, degradação ambiental e superlotação turística foram resolvidos, e a mobilidade foi reorganizada com trilhas, ciclovias, transporte elétrico e nova infraestrutura para visitantes.
A inspiração para o estilo arquitetônico é uma reinterpretação contemporânea da palapa tradicional maia. A palapa é uma construção aberta, com um telhado de folhas de palmeira secas, utilizada há séculos na região por sua eficiência em climas quentes.
A forma circular, com a abertura central (implúvio), é uma característica marcante que remete a estruturas cerimoniais e comunitárias maias. Essa abertura permite a entrada de luz natural e a ventilação cruzada, criando um microclima agradável e diminuindo a necessidade de climatização artificial.
A cobertura é feita com técnicas e materiais tradicionais da região, como a madeira e a própria palha, integrando a construção à paisagem e valorizando o conhecimento artesanal local. A base das colunas e outras alvenarias frequentemente utilizam pedra da área.
A arquitetura do centro de visitantes é um exemplo de design passivo. O amplo telhado gera sombra abundante, e a permeabilidade da estrutura permite que a brisa circule livremente, estratégias fundamentais para o conforto térmico no clima tropical da Península de Yucatán.
Planta do acesso central do parque. Fonte: Site arquitecturaviva.com (2025)
Acesso central do parque. Fonte: Site arquitecturaviva.com (2025)
Vista superior do acesso centro do parque. Fonte: Site arquitecturaviva.com (2025)
Estrutura de praça da área central do parque. Fonte: Site arquitecturaviva.com (2025)
Estrutura de praça da área central do parque. Fonte: Site arquitecturaviva.com (2025)
A escolha do sítio se deu por parte das demandas que os alunos indígenas apresentaram via formulário e debates feitos em reuniões presenciais na Maloca com estudantes da Associação dos Acadêmicos Indígenas da UnB. A necessidade maior é a proximidade com o Campus Darcy Ribeiro, local que concentra a maior parte das aulas. Um ponto importante a ser levado em consideração é a necessidade de espaço e privacidade. Muitos estudantes relatam ter medo e insegurança de praticar seus rituais por não saberem como as pessoas não indígenas reagiriam. O contato com a natureza também é um ponto importante para esses estudantes conseguirem manter a relação com a terra.
Através do Zoneamento do Plano Diretor do Campus Darcy Ribeiro foi possível identificar o tipo de ocupação para cada área do campus e definir possíveis locais para implantação do projeto.
A prioridade na escolha do terreno foi na área próxima ao lago e Centro olímpico, com atenção nas áreas que seriam permitidas essa ocupação e construção.
Conforme o plano diretor do Campus Darcy Ribeiro, a área avaliada para viabilidade de execução do projeto se enquadra na zona de conservação ambiental. Essa, está listada para os seguintes usos:
Mapa UnB de acordo com as Zonas do Plano Diretor. Fonte: Zoneamento do Campus Darcy Ribeiro (2023)
Zona de Conservação Ambiental:
Composta por áreas de vegetação nativa de Cerrado alterado, com grande potencial para restauração e/ou com uso restritivo definido, incluindo:
A. Zona de Conservação Ambiental 1 - Centro Olímpico: Área integrante da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) do Centro Olímpico, definida pelo Zoneamento Ambiental do Lago Paranoá (Decreto nº 33.537, de 14 de fevereiro de 2012).
B. Zona de Conservação Ambiental 2 – Jeanine Felfili: Área com vocação para a pesquisa.
C. Zona de Conservação Ambiental 3 – Parque da Colina: Área com vocação para uso comunitário e de lazer.
D. Zona de Conservação Ambiental 4 – Norte: Área destinada à restauração da paisagem do Cerrado, em continuidade ao Arboreto por meio dos corredores de fauna e flora.
E. Zona de Conservação Ambiental 5 – Estação Experimental de Biologia: Área com vocação para a pesquisa.
Diretrizes da Zona de Conservação Ambiental:
I. Áreas prioritárias para recuperação e restauração ambiental, incluindo manejo e erradicação de espécies exóticas.
II. Restauração da paisagem natural de forma a resguardar os processos ecológicos e a recomposição natural do ecossistema por meio do manejo e recuperação de áreas degradadas.
III. Áreas aptas a receber compensação ambiental para restauração, em conformidade com a legislação Distrital e Federal, aprovada pelo órgão ambiental.
IV. Formação de trilhas interpretativas.
V. Plantio de espécies nativas para formação de corredores de fauna e flora.
VI. Considerar o estabelecido no Código Florestal (Lei Federal nº 12.651) e no Decreto Distrital nº 39.469.
VII. Restauração ecológica.
VIII. Promover melhoria na acessibilidade da edificação inserida no interior da Zona de Conservação Ambiental 2 – Jeanine Felfili.
IX. Promover preferencialmente o cercamento do Centro Olímpico em toda a sua extensão para evitar invasão, despejo de resíduos, materiais diversos e degradação, com estudo para definição dos parâmetros adequados do cercamento, que considerem a mobilidade da fauna.
Dando destaque ao tópico VI, são permitidas estruturas de baixo impacto conforme código Florestal. De acordo com o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), a Resolução CONAMA nº 369/2006 e a Portaria IPHAN nº 166/2016 essas são as atividades/estruturas permitidas para essa zona:
Tabela resumo das atividades permitidas na Zona de Conservação Ambiental. Fonte: Plano Diretor Campus Darcy Ribeiro (2023), Código Florestal, CONAMA e IPHAN
Dessa forma, foi definido que o terreno para essa implantação ficaria localizado nessa área próxima ao Centro Olímpico, definida pelo Plano Diretor como Zona de Conservação Ambiental, sendo passível para construção nesse caso específico destinado a moradia de população tradicional.
Mapa DF. Fonte: Google Earth (2025)
Mapa UnB com marcações do Plano diretor por zonas. Fonte: Google Earth (2025)
Mapa UnB com demarcação do terreno escolhido. Fonte: Google Earth (2025)
O Plano Diretor do Campus Darcy Ribeiro, de dezembro de 2023, os gabaritos (limites de altura) permitidos para edificações na Universidade de Brasília (UnB) não são uniformes em todo o campus. As regras variam significativamente conforme a zona em que a construção está localizada, com o objetivo de preservar o patrimônio cultural, as características paisagísticas e a integração com o plano urbanístico de Brasília.
O princípio geral que norteia a ocupação do campus é a manutenção da Escala Bucólica de cidade-parque, valorizando a predominância da horizontalidade da paisagem e de alturas inferiores a três pavimentos em todo o Campus Darcy Ribeiro.
Gabaritos por Zona de Ocupação:
Tabela de gabaritos permitidos por zonas dentro do UnB conforme plano diretor. Fonte: Plano Diretor Campus Darcy Ribeiro (2023)
Considerando que a Zona onde se localiza o terreno não possui previsão para gabarito máximo, o adotado será o das edificações do entorno, sendo o máximo de 4 pavimentos.
Curvas de nível de 5 metros. Fonte: Site www.ide.df.gov.br (2025)
Curvas de nível de 5 metros. Fonte: Site www.ide.df.gov.br (2025)
O campus Darcy Ribeiro, por si só, abriga uma significativa diversidade de espécies do Cerrado, e na região do Centro Olímpico é comum encontrar árvores e arbustos típicos deste bioma, como ipês, pequizeiros, sucupiras e paus-terra, que se destacam por suas cascas grossas e galhos retorcidos, características de adaptação ao clima da região, com uma estação seca bem definida.
Além da vegetação nativa, a área do Centro Olímpico e seu entorno contam com um projeto paisagístico que inclui extensos gramados, ideais para a prática de esportes e lazer, e o plantio de diversas espécies de árvores, tanto nativas quanto exóticas, que proporcionam sombra e contribuem para a amenização do clima local.
Imagem do terreno escolhido. Fonte: Google street view (2025)
Imagem do acesso ao CO e terreno escolhido. Fonte: Google street view (2025)
Imagem do acesso ao terreno escolhido. Fonte: Google street view (2025)
A principal condicionante climática para o projeto arquitetônico é a drástica variação da umidade relativa do ar, que pode despencar a níveis desérticos, abaixo de 20%, durante a estiagem, impactando o conforto térmico e a saúde dos usuários. Para esse clima é crucial adotar estratégias de arquitetura bioclimática, considerando a carta solar para implantação da arquitetura para aproveitar a luz natural sem superaquecer os ambientes internos, a implementação de ventilação cruzada para garantir a renovação do ar e o resfriamento passivo, e o uso de materiais com boa inércia térmica, que ajudam a estabilizar as temperaturas internas ao longo do dia e da noite. Além disso, a proteção contra a radiação solar direta é fundamental, sendo recomendável o uso de brises, marquises e varandas generosas. A incorporação de pátios internos e o uso de vegetação também são estratégias eficazes para aumentar a umidade e criar microclimas mais agradáveis no entorno imediato das edificações.
Os ventos predominantes em Brasília vêm do leste durante a maior parte do ano, especificamente de janeiro a novembro. Esta direção é a mais frequente, com picos de frequência chegando a 87% em alguns dias de agosto, indicando uma forte influência do leste na circulação dos ventos na região. Outra corrente de vento relevante para essa área é a dos ventos vindos no sentido noroeste, que são mais predominantes no período de chuva em Brasília.
O clima é tropical de altitude, com temperatura média de 22 °C e variações que vão de 13 °C a 28 °C ao longo do ano, se considerada a média dos últimos 30 anos
Gráfico de umidade relativa do ar do Distrito Federal. Fonte: Projetee (2025)
Gráfico de chuva anual do Distrito Federal. Fonte: Projetee (2025)
Gráfico de temperaturas anuais do Distrito Federal. Fonte: Projetee (2025)
A população da UnB é diversificada, composta por estudantes, professores e técnicos de todo o Brasil e do mundo. É uma comunidade com alta atividade política, cultural e científica. A cultura local é marcada pela intensidade da vida acadêmica, eventos, congressos e manifestações artísticas. No Plano Piloto, a população tem a maior renda média do país.
A população que frequenta o Campus Darcy Ribeiro é de aproximadamente 50 mil pessoas, formada por uma comunidade universitária diversa, com estudantes de todo o Distrito Federal, de outros estados e países.
A Universidade de Brasília (UnB), campus Darcy Ribeiro, está localizada no Setor de Áreas Isoladas Norte (SAIN), de acordo com o Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) do Distrito Federal, estabelecido pela Lei Complementar nº 803/2009 e suas atualizações.
Dentro do zoneamento do PDOT, o campus da UnB está inserido na Zona Urbana do Conjunto Tombado (ZUCT). Essa classificação se deve à sua proximidade e integração com o Plano Piloto, área tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.
A ZUCT tem como principal diretriz a preservação das características do conjunto urbanístico de Brasília, o que impõe parâmetros específicos de uso e ocupação do solo para a região. Para fins de planejamento urbano e territorial do Distrito Federal, a UnB não se enquadra em um setor habitacional ou comercial tradicional, mas sim, em um setor específico de áreas isoladas, com uma classificação de zona urbana que visa à proteção do patrimônio histórico e cultural de Brasília.
A UnB ocupa uma vasta área no Setor de Áreas Isoladas Norte (SAIN), funcionando como uma transição entre diferentes setores da cidade, conforme o plano diretor. Suas fronteiras são bem definidas por grandes avenidas e marcos geográficos:
O campus é margeado pela Avenida L3 Norte, uma via crucial que o separa e ao mesmo tempo o conecta à Asa Norte a partir da via L2, onde encontram-se as Superquadras Norte (SQNs), áreas residenciais de blocos de apartamentos. Nas proximidades da L2 Norte encontram-se os comércios locais das superquadras 200 e 400, com seus restaurantes, cafés, mercearias e toda sorte de serviços e opções de compra, servindo de apoio, não apenas para seus moradores, mas também para a comunidade universitária, que utiliza desses serviços pela proximidade com a UnB, permitindo que muitos estudantes e funcionários acessem os serviços a pé ou por um curto trajeto de transporte.
A universidade possui uma relação privilegiada com o Lago Paranoá. Uma extensa área verde separa os edifícios acadêmicos da orla, proporcionando um ambiente cênico e tranquilo para lazer e contemplação. A proximidade com o lago confere ao campus uma atmosfera de parque, com vistas abertas e um microclima mais ameno. Nessa direção, também se encontram o Setor de Clubes Esportivos Norte e o acesso a pontos como a Península dos Ministros.
O entorno da UnB é servido por algumas das vias mais importantes de Brasília, garantindo boa acessibilidade:
Avenidas L3 e L4 Norte: São as duas vias de acesso direto ao campus. Possuem velocidade média de 50km/h e alta de 80km/h em diferentes trechos.
Avenida L2 Norte: É a via que conecta a universidade aos blocos residenciais e comerciais e que dá acesso direto ao Eixão. Caracterizada por ser uma via de fluxo médio (60km/h).
Transporte Público: Diversas linhas de ônibus circulam pela L2 Norte e param em frente às principais entradas da universidade, conectando-a a praticamente todas as regiões administrativas do Distrito Federal.
Dentro do Campus também são distribuídos pontos de parada, destinados para linhas específicas.
Ciclovias: A região é bem servida por ciclovias, que ligam o campus à Asa Norte, ao Parque Olhos D'Água e ao Eixo Monumental, tornando a bicicleta um meio de transporte popular entre os estudantes.
Os princípios norteadores deste projeto de moradia estudantil foram estabelecidos através de uma abordagem multifacetada, unindo a pesquisa acadêmica com a participação direta da comunidade indígena da Universidade de Brasília (UnB).
O Estado da Arte forneceu a base teórica, permitindo uma profunda compreensão de como a tipologia de moradia indígena foi desenvolvida no Brasil. Essa pesquisa inicial, foi essencial para a elaboração de um Programa de Necessidades que vai além das demandas imediatas, abrangendo aspectos culturais e saberes construtivos.
Paralelamente à pesquisa, o contato direto com os estudantes indígenas da UnB, representados pela Associação dos Estudantes Indígenas da UnB (AAIUnB), e a realização de um processo participativo definiram os requisitos essenciais do projeto. Há anos, estes alunos reivindicam uma moradia adequada na universidade, o que levou à criação de um comitê para avançar nesta proposta. Para coletar e reunir mais informações para criação do programa de necessidades, foi desenvolvido um formulário, com perguntas que ajudaram a aprofundar o entendimento sobre os desejos e as necessidades dos estudantes.
A escolha do terreno é uma diretriz projetual de suma importância, pois o local deve ser capaz de atender às demandas específicas de espaço e vivência dos estudantes indígenas. Eles necessitam de uma área grande que possibilite a expressão cultural, a realização de atividades rituais (que muitas vezes geram ruído e precisam de um local mais afastado para evitar incômodos à vizinhança), e espaços para acampamento para receber seus "parentes". Além disso, é fundamental que o espaço proporcione contato direto com a natureza, com acesso à água e fogo, essenciais em seus costumes. Por essa razão, o terreno escolhido possui acesso ao Lago Paranoá, está inserido em uma zona de conservação ambiental com vasto Cerrado ao redor, e está intencionalmente afastado das áreas de estudo do campus que exigem silêncio. Contudo, a implantação mantém-se dentro dos limites da UnB e em localização privilegiada, próxima à CEU (Casa do Estudante Universitário), facilitando a integração no dia a dia acadêmico e possibilitando a troca com os demais alunos, sem gerar exclusão.
Outra diretriz crucial é que a arquitetura reflita esteticamente a cultura desses povos. A intenção é incorporar na materialidade e nas formas construtivas elementos que remetam aos saberes vernaculares dos povos originários.
Dessa forma, o projeto busca inspiração nas moradias indígenas, chamadas pelos povos de oguassu, majoca ou maloca – que significam "casa grande". Tradicionalmente, essas edificações são construídas integralmente com materiais vegetais e naturais, como palha e cipós, utilizando madeira para facilitar o encaixe das peças. Conforme o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU), a arquitetura varia de acordo com o clima e a escolha de materiais locais.
O arquiteto José Afonso Botura Portocarrero, professor e pesquisador de arquitetura indígena, destaca que "a moradia indígena é a primeira casa brasileira" e que, nas aldeias, as casas costumam seguir um padrão de igualdade, muitas vezes dispostas em formato ortogonal ao redor de uma grande praça central utilizada para atividades comunitárias, festas e rituais sagrados. Portocarrero é coorganizador do livro Tecnoíndia: Arquitetura, antropologia e tecnologias indígenas em Mato Grosso, uma referência importante neste estudo.
Em termos de dimensionamento, as moradias tradicionais podem atingir grandes dimensões (até 150 metros de comprimento), sendo internamente divididas em espaços menores de convívio, como a oca (de origem tupi) ou a oga (no guarani).
Dimensionamento e Público-Alvo
O projeto final almeja contemplar aproximadamente 60% dos estudantes indígenas atualmente matriculados na UnB. O público total estimado é de cerca de 204 alunos, com o seguinte detalhamento:
128 vagas destinadas à moradia integral.
76 vagas rotativas reservadas para um alojamento temporário.
Essa edificação temporária será destinada especificamente aos calouros, garantindo um auxílio de moradia emergencial e acolhimento imediato no início do curso.
Programa de Necessidades
O terreno de cerca de 33.000m2 (3,3hectares) possui área suficiente para acomodar o programa de necessidades que foi desenvolvido em conjunto com os estudantes indígenas por meio de reuniões e coleta de dados via formulário.
A edificação ocupará cerca de 2.500m2 a 3.500m2 (em um ou dois andares), mantendo espaço suficiente para as grandes áreas externas de lazer e rituais (Fogo, Redário, Roça), e preservação área de vegetação de Cerrado e a faixa próxima ao Lago Paranoá.
Tabela de metragem quadrada por ambiente.
Tabela de metragem quadrada por ambiente.