O Entendimento de que a variedade de manifestações relativas à Viola de Arame presente no Brasil é o resultado híbrido de diversas influências culturais, trajetórias musicais, fluxos migratórios, e, sobretudo, resultado da afirmação de identidades regionais expressas através da Música norteia esse Atlas tocado!
Dessa forma, segue mapeamento das paisagens culturais aqui tocadas. Abaixo, Vc navegante, terá total acesso as seis composições autorais para Viola de Arame solo e, ainda, a bibliografia utilizada na minha dissertação de mestrado. Neste compêndio de publicações, geógrafos/sociólogos/historiadores/músicos/violeiros, de suma importância para o desenvolvimento desta plataforma digital, poderão ser consultados, lidos e ouvidos! No que tange a Viola de Arame em todo seu vigor inventivo/evolutivo atual, seguem exemplos incontornáveis de se conhecer, ler, estudar e tocar:
Ivan Vilela, Paulo Freire, Tavinho Moura, Chico Lobo, Roberto Corrêa, Almir Sater e Marcus Ferrer.
Inicialmente, um mapa-síntese dos principais ciclos de ocupação do território brasileiro está igualmente disponível como instrumento de compreensão e incentivo à pesquisa sobre a relação entres os citados períodos e o desenvolvimento da Viola de Arame no Brasil.
Referências:
CAMPOS DE CASTRO, T. ‘A Paulistânia, o mineiro e o italiano: processo histórico, acesso à terra e a experiência histórica e cultural numa Moda de Viola’, 2018.
CASTAGNA, Paulo. Fontes bibliográficas para a pesquisa da prática musical no Brasil nos séculos XVI e XVII. São Paulo, 1991.
CORRÊA, Roberto Nunes. Viola Caipira: das práticas populares à escritura da arte / Roberto Nunes Corrêa. – São Paulo: R. Corrêa, 2014 253 p.: il
CORREA, Roberto. A arte de pontear viola. Brasília, Curitiba: Ed. Autor, 2000.
CORRÊA, R.L “Espaço: um conceito-chave da Geografia”. in Geografia: conceitos e temas/ organizado por Iná Elias de Castro, Paulo Cesar da Costa Gomes, Roberto Lobato Corrêa- 2º ed.- Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2000.
CLAVAL, Paul. “A VOLTA DO CULTURAL” NA GEOGRAFIA , Mercator Revista de Geografia, UFC, v. 1, n. 1, p. 19 – 28, 2002.
Documentário ‘Sou Viola Caipira’. Disponível em: https://goo.gl/5XxHKo (Acesso em 06/02/2021)
FREIRE, Paulo. Eu Nasci Naquela Serra--: A Vida De Angelino De Oliveira, Raul Torres, Serrinha. Editora Paulicéia. 1996.
FERRER, Marcus de Araújo. A viola de 10 cordas e o Choro: arranjos e análises. 2010. Tese (Doutorado em Música) – Programa de Pós-Graduação em Música, Centro de Letras e Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
GUIMARÃES ROSA, J. Grande sertão: veredas. Terceira edição, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
HOLLER, Marcos Tadeu. Uma história de cantares de Sion na terra dos Brasis : a música na atuação dos Jesuítas na América Portuguesa (1549-1759). 2006. 252 p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes, Campinas, SP.
IPHAN. Dossiê de registro do fandango caiçara. 2010. Pgs: 51-53. Disponível em: file:///C:/Users/danie/OneDrive/%C3%81rea%20de%20Trabalho/MESTRADO/Dossi%C3%AA%20Fandango%20Caicara%20IMAGEM.pdf. Acesso em: 10/07/2020.
LEITE, 1938, tomo 1, 1938 in IPHAN, “Assentamentos jesuíticos: territórios e significados”, Rio de Janeiro, 2008.
MAIA, K.Q. Catira: A legitimação de uma comunidade por meio de uma tradição popular, 2005.
NOGUEIRA, Gisela Gomes Pupo. Viola com anima: uma construção simbólica. 2008. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo.
NÓR, Soraya. p. 123 Paisagem e ambiente: Ensaios - N. 32 - São Paulo - p. 119 - 128 - 2013)
PINTO, Aloysio de Alencar, A melodia do Nordeste e suas constâncias modais, Revista do Instituto do Ceará, p. 237 – 246, 1994.
PINTO, João Paulo do Amaral. A viola caipira de Tião Carreiro. 2008. 371 p. (Dissertação de mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes, Campinas, SP.
‘Registro dos toques dos mestres de Fandango’. MARCHI, Lia. Documentário Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7YQrRL7Qotc&feature=emb_title Acesso em 20/02/2020.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro- A formação e o sentido do Brasil. Rio de Janeiro, companhia das letras 1995.
RODRIGUES, Carmem Lúcia. O Lugar do Fandango Caiçara: natureza e cultura de "povos tradicionais", direitos comunais e travessia ritual no Vale do Ribeira (SP). 2013. 281p. Tese (doutorado)- Universidade de Campinas, SP.
Site oficial do jornal O correio de Minas. Disponível em: https://www.correiodeminas.com.br/violas-de-queluz-lafaiete-celebra-seu-maior-simbolo-cultural/ . Acesso em 04/09/2020.
Site oficial do projeto Bossa criativa- Arte pra toda a gente. Disponível em: https://www.bossacriativa.art.br/realidades Acesso em 15/01/2021
SOSTER, Sandra Schmitt, Missões Jesuíticas como Sistema, 2014.
SCHAFER, R. Murray. The Soundscape : Our sonic environment and the tuning of the world. Rochester, vt. : Destiny Books, 1977.
Tavinho Moura e Beto Lopes, Título da obra: ‘O Fruto do Ouro’, Álbum: ‘O Anjo na Varanda’, 2017, 3pontas/Dubas Música Ltda.
VILELA, Ivan. Vem Viola, vem cantando. Estudos Avançados, USP, v. 24, n. 69, p. 323 – 347, 2010.
‘Zefinha’ Elomar Figueira Mello (Compositor). Elomar Figueira Mello (Intérprete, Violão e canto) Título do álbum: ‘...Das Barrancas Do Rio Gavião’. Selo: Philips / 6349.073. Ano: 1973.
https://causasecausosangradosreis.blogspot.com/2016/09/a-viola-angrense-unica-no-mundo.html (Acessado em 28/04/2019 ) http://clubdaviola.blogspot.com/2008/03/tipos-de-violas.html ( Acessado em 28/04/2019 )
https://pt.wikipedia.org/wiki/Viola_brasileira ( Acessado em 16/04/2019 )
http://docplayer.com.br/63932697-Violas-brasileiras-sonora-brasil-circuito.html (acesso em 05/04/20)
Bibliografias utilizadas na construção do mapa:
http://atlas.fgv.br/marcos/bandeiras-e-bandeirantes/mapas/bandeiras-e-entradas (consultado em 29/08/2019)
O mapa-síntese abaixo oferece uma visão sintética dos quatro processos históricos-territoriais comumente citados na literatura associada à Viola de Arame. De outra maneira: Ilustra a relação entre tais processos e a dinâmica de uso do citado cordofone no Brasil.
Dessa forma, o cartograma intitulado: ‘Viola de Arame: Tramas Territoriais', ilustra:
-A expansão dos jesuítas no Brasil partindo de núcleos urbanos embrionários localizados ao longo do litoral, no intuito de embasar o argumento de que a Viola de Arame se localizou e se desenvolveu inicialmente no litoral brasileiro;
- A área de influência da atividade bandeirante que resultou determinante para o processo de interiorização da Viola de Arame;
- O ciclo do ouro iniciado no século XVIII, que desencadeou a configuração de uma classe média de artesãos, músicos, luthiers e instrumentistas que viriam por definir parte das Minas Gerais como uma ‘região violeira’;
- A chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808, no intuito de desvelar a relevância simbólica desse fato ao desuso e, mesmo, à estigmatização da Viola de Arame nas principais urbes brasileiras do século XIX;
Referências:
Portaria IPHAN n. 127, de 30 de abril de 2009 in: NÓR, Soraya (2013)
IPHAN, Dossiê de Registro do Fandango Caiçara. 2011. <Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Dossi%C3%AA%20Fandango%20Caicara.pdf> Acesso em 20/07/2019
VILELA, I. Vem viola, vem cantando. Estudos Avançados, v. 24, n. 69, p. 323-347, 1 jan. 2010.
https://causasecausosangradosreis.blogspot.com/2016/09/a-viola-angrense-unica-no-mundo.html (Acessado em 28/04/2019 ) http://clubdaviola.blogspot.com/2008/03/tipos-de-violas.html ( Acessado em 28/04/2019 )
https://pt.wikipedia.org/wiki/Viola_brasileira ( Acessado em 16/04/2019 )
http://docplayer.com.br/63932697-Violas-brasileiras-sonora-brasil-circuito.html (acesso em 05/04/20)
Imagens e bibliografias utilizadas na construção do mapa:
Viola Branca: https://docplayer.com.br/81828529-Na-trilha-da-viola-branca.html ( Acessado em 16/04/2019)
Viola Caiçara: https://fandangodoparana.blogspot.com/2010/11/exposicao-de-instrumentos-musicais-do.html (Acessado em 02/04/2020)
Viola Angrense:https://www.youtube.com/watch?v=a7A2WNVT0jE (Acesso em 02/04/2020)
Desde meu longo período vivendo na Europa, 11 anos no total, minha atuação profissional como instrumentista de Viola de Arame se deu e se dá sob forma de concertos comentados, onde busco associar o repertório a ser interpretado às paisagens culturais brasileiras concernentes. Dessa forma, ao fazer menção aos simbolismos territoriais caipiras, cito, por pura analogia figurativa e, admito, como artifício de sensibilização do espectador, o título do livro do autor Guillermo Cabe Infante denominado: ‘Três Tigres Tristes’. O faço, para atentar o público que a cultura caipira, estendida numa enorme porção de território, é fruto da miscigenação entre o europeu, o índio e o negro, todos em desalento, ‘emsimesmados’ e ‘adentrados’ num sertão de simbolismos, onde o isolamento cotidiano e a fala profunda e direta se fazem presentes na descrição de sua paisagem.
Visto o acima desvelado, infere-se que manifestações culturais coletivas e comunitárias, sejam de cunho religioso, sejam pagãs, ganham vulto de fortalecimento identitário. Pois, através destas práticas sociais, produz-se o encontro e a celebração do duro cotidiano da lida com a terra e, ainda, atenua o supradito isolamento diário.
Nesse sentido, as duas composições abaixo baseiam-se em ritmos usuais em aglomerações festivas: O Cateretê e a Querumana.
Violeiros mineiros como Zé coco do Riachão, Renato Andrade e Tião Carreiro talvez sejam o exemplo maior de refinamento popular aplicado ao instrumento. A criação do toque ‘Pagode de Viola’, atribuída a Tião Carreiro, tornou-se, citando (CORRÊA, Roberto, 2014, p. 114), o marco inicial do movimento que o autor denomina como ‘Avivamento da Viola’, muito devido sua inventividade, rebuscamento no uso das síncopes e na sua projeção fonográfica, fato fundamental para a difusão da Viola de Arame como instrumento solista. Ainda que estabelecido profissionalmente em São Paulo, a inventividade de Tião Carreiro me remeteu, numa tentativa de ilustração simbólica e de livre interpretação, à uma continuidade dos processos criativos mestiços mineiros provindos do século XVIII e seus rastros históricos de vanguarda artística.
A composição abaixo consiste numa evocação livre do referido ritmo.
Imagem: LCADAVAL, Desenho sobre aquarela. 'Janelando'. LCADAVAL todos direitos reservados e cedidos para este site.
Imagem: LCADAVAL, Desenho sobre aquarela. 'Caiçara'. LCADAVAL todos direitos reservados e cedidos para este site.
"[Ser caiçara] é permanecer como eu sou, saber as coisas do mato, plantar, usar coisas do fandango, se apaziguar um com outro pra fazer um fandango. Essas coisas é coisa de caiçara, esse tipo é ser caiçara."; "É uma tradição que não pode parar!"[1]
Relato de ‘Zé Pereira’, rabequista e fundador do grupo Fandangueiros do Ariri, no município vizinho a Cananéia
A epígrafe acima exposta, atribuída por Carmen Lúcia Rodrigues em sua tese de doutoramento, à um interlocutor caiçara denominado ‘Zé Pereira’, ilustra de forma clara a relação deste ethos com o Fandango. Há de se destacar a relevância da citada autora para os propósitos desta plataforma digital e para a composição abaixo, pois o compêndio de relatos por ela desenvolvido coincide sobremaneira à concepção de Espaço Vivido e a percepção da Paisagem Cultural aqui empregada.
[1] Rodrigues, Carmem Lúcia. 2013, p.45 ‘O Lugar do Fandango Caiçara: natureza e cultura de "povos tradicionais", direitos comunais e travessia ritual no Vale do Ribeira’.
Imagem: LCADAVAL, Desenho sobre aquarela. 'Mariazinha'. LCADAVAL todos direitos reservados e cedidos para este site.
Imagem: LCADAVAL, Desenho sobre aquarela. 'Milou'. LCADAVAL todos direitos reservados e cedidos para este site.
A relação entre a localização dos grandes meios de produção econômicos e a cultura daqueles que geram a riqueza, é dizer: A massa trabalhadora que vive o espaço modificado e o traduz em versos, danças e música, consiste numa práxis corrente quando se trata de domínios da ciência como a Geografia Cultural, Antropologia e etnomusicologia.
Na sua obra ‘Cultura Popular Brasileira’, o antropólogo Alceu Maynard de Araújo transcorre toda narrativa baseando-se no que denomina “As áreas culturais brasileiras segundo as técnicas de subsistência” (ARAÚJO, 1973).
Assim, no que concerne a composição a ser aqui apresentada, fiz referência a um ritmo intrinsecamente relacionado à cultura boiadeira fronteiriça ao Paraguai. Me refiro a Guarânia. Tal distinção teve o intuito de ilustrar o quão versátil e propícia a novas influências a Viola de Arame se mostra.
Referências:
Imagens e bibliografias utilizadas na construção do mapa:
Viola Machete: Foto por Pedro Matallo, em http://docplayer.com.br/63932697-Violas-brasileiras-sonora-brasil-circuito.html <acesso em 02/04/2020>
Viola de Queluz: https://musicamagia.wordpress.com/2010/07/29/viola-para-sempre/ <acesso em 02/04/2020>
Viola de Cocho: http://www.culturadecuiaba.com.br/site/tag/cururu/ <acesso em 02/04/2020>
Viola Caipira: https://www.google.com/search?q=viola+caipira&sxsrf=ALeKk00Djqb38IDwwCENNjo-OjhgA7la-A:1614812716877&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwic3PiSnpXvAhXJHLkGHaR1AXIQ_AUoA3oECBYQBQ&biw=1366&bih=657#imgrc=Qq3ECUMcAOfEXM <acesso em 02/04/2020>