Se pararmos para pensar, a comunicação mais importante que temos ao longo do dia não é com outras pessoas, mas connosco mesmas. Aquela vozinha interna que nunca se cala — sabes do que estou a falar, certo? É ela que dita o nosso estado de espírito, que influencia as nossas escolhas e até como nos vemos no mundo. Melhorar essa comunicação interior não só transforma a forma como lidamos com nós próprias, mas também como navegamos a vida. É sobre isso que quero falar hoje.
Eu costumava ter uma relação complicada com a minha "voz interior". Era crítica, dura e, muitas vezes, apontava mais os meus erros do que reconhecia os meus acertos. Se cometia uma falha, era como se uma multidão estivesse a gritar “Como é que foste capaz?!” dentro da minha cabeça. Mas um dia, depois de ouvir tantas vezes que a forma como falamos connosco influencia tudo, decidi tentar mudar. Afinal, como é que podia esperar viver com mais paz se eu era a minha maior sabotadora?
O primeiro passo foi começar a observar os meus pensamentos. Parece simples, mas não é. Requer prática, porque muitas vezes estamos tão habituadas a ouvir o que aquela voz diz que nem questionamos. Comecei a prestar atenção, sem julgamento, ao que vinha à superfície. Em situações de stress, reparava em frases como: “Isto vai correr mal” ou “Não vais conseguir.” Percebi que a minha comunicação interna estava, muitas vezes, carregada de medo e dúvida.
O que fiz a seguir foi questionar esses pensamentos. Perguntava a mim mesma: “Isto é mesmo verdade? Ou é só um reflexo de um medo que estou a sentir agora?” E, de forma quase mágica, percebi que muitos desses pensamentos eram exageros ou histórias que eu contava a mim mesma com base no passado. Não tinham a ver com o presente, e muito menos com a pessoa que eu queria ser.
A autoconsciência também cresceu quando comecei a adotar uma prática simples: escrever. Sempre achei que diários eram coisas de adolescentes, mas, um dia, resolvi experimentar. Pegava num caderno e anotava como me estava a sentir, sem filtros. Havia dias em que escrevia páginas cheias de frustrações, mas depois de despejar tudo ali, sentia-me mais leve. O que aconteceu com o tempo foi que comecei a notar padrões – situações que desencadeavam inseguranças, ou até momentos que me faziam sentir genuinamente bem. Foi como ter um mapa emocional em mãos.
Outra mudança foi começar a falar comigo mesma como falaria com uma amiga. Se uma amiga chegasse até mim desmotivada ou insegura, nunca lhe diria: “És um desastre completo.” Pelo contrário, incentivaria e lembraria o quão capaz ela é. Então, por que razão não fazia o mesmo comigo? Esse pequeno ajuste – tratar-me com gentileza – fez uma diferença imensa.
Melhorar a comunicação interior não é algo que acontece de um dia para o outro. É um processo contínuo, cheio de altos e baixos. Mas cada pequeno passo conta. Hoje, sempre que aquela voz crítica aparece, consigo acolhê-la, mas não deixo que ela tome conta. Falo comigo de forma mais amorosa e clara, e isso ajudou-me a ver a vida com mais leveza.
Se estás a sentir que a tua voz interior te está a puxar para baixo, lembra-te: tens o poder de mudar isso. Começa por te ouvir com atenção, questiona os pensamentos negativos e, acima de tudo, trata-te como tratarias alguém que amas. No fundo, essa relação contigo mesma é a base para tudo o resto. E acredita, quanto mais gentileza e compreensão colocares aí, mais a tua autoconsciência vai florescer e a tua vida vai transformar-se.