Salvador-Bahia - 09 a 11 de dezembro de 2024
Universidade Federal da Bahia - FFCH - ILUFBA
O evento tem como objetivo principal promover debate interdisciplinar sobre percepções dos mundos antigos – intermediadas em geral por traduções e, consequentemente, por visões de tradutores – e busca oferecer atividades voltadas à divulgação de estudos da Antiguidade para as comunidades interna e externa à universidade, promovendo interlocução com questões contemporâneas (gênero, descolonização, transculturalidade).
A Antiguidade é um período variado em tempo e espaço. Muitos foram os povos e culturas e complexas as sociedades e estruturas que se desenvolveram do quarto milênio AEC (com a ascensão da civilização suméria) até a segunda metade do primeiro milênio EC (em que profundas mudanças culturais, políticas e religiosas marcam o início do que se convencionou chamar Idade Média). Consequentemente, a Antiguidade se tornou objeto de inúmeros ramos do saber, tais como Arqueologia, Ciência Política, Filosofia, História e Letras, as quais exploraram os diversos aspectos nela compreendidos, muitas vezes mediados pela tradução e pelas visões que as traduções apresentaram ao longo do tempo. No debate entre e no interior destas disciplinas, também não é pequena a quantidade de leituras diversas que esses povos e culturas suscitaram e ainda suscitam, e por vezes muitas traduções de textos antigos são repropostas, de modo que cada século costuma retraduzir esses textos. Além disso, nos estudos dos mundos antigos, sempre dependentes dos documentos (e de sua tradução) e da cultura material supérstites, descobertas arqueológicas e novas formas de leitura e de recompreensão constantemente transformam conhecimentos enraizados e abalam convicções profundamente estabelecidas até mesmo no ambiente acadêmico.
Apesar de seu grande apelo no imaginário coletivo na maioria das sociedades modernas, o período é pouco conhecido do público em geral em toda sua amplitude. Normalmente, entra-se em contato com informações cristalizadas e estereotipadas pelos meios de massa e pelo pouco tempo disponível para tratar do tema na Educação Básica. Isso leva a concepções frequentemente postas em questão pelas novas pesquisas. Assim, por exemplo, enquanto certa explicação tradicional para a dissolução do Império Romano do Ocidente colocava a ênfase no declínio da escravidão, estudos mais recentes mostram a pervasividade da instituição nos séculos IV e V EC. Por outro lado, elementos importantes, mas ainda pouco divulgados dessas culturas demoram a ingressar no conhecimento geral. É comum que se enfatizem os períodos chamados “clássicos” de Grécia e Roma, enquanto outras eras, como o período dos sucessores de Alexandre Magno e os últimos séculos do Império Romano ainda são menos conhecidos e divulgados (o que inclui traduções que costumam não ocorrer para esses períodos). Por fim, as novas leituras sobre os temas já conhecidos também costumam chegar ao público tardiamente. Enquanto os estudos tradicionais focam na história militar-política, com ênfase nos setores dominantes destas sociedades (em geral homens e aristocratas) novas leituras estudam setores invisibilizados até mesmo nas fontes, como mulheres, trabalhadores, escravizados, entre outros. Também se revisou a própria maneira de interpretar as fontes já conhecidas. Como os Estudos da Antiguidade como os conhecemos se firmaram nos sécs. XVIII e XIX, muitos dos pontos de vista engendrados no período foram influenciados pelas ideologias vigentes, como o eurocentrismo, o orientalismo e o colonialismo. Ao longo dos sécs. XX e XXI, com as mudanças históricas e de paradigma, novas maneiras surgiram de ler as antigas fontes. A própria área de estudos da tradução tem revisto, nos últimos anos, certas convicções que povoaram a recepção dos textos antigos, muitas vezes com afastamentos ou amenizações ideológicas de certos lugares de discurso das obras tomadas para tradução.
O evento mobilizará pesquisadoras e pesquisadores nacionais e internacionais que investigam sociedades, culturas, literaturas e filosofias antigas, para popularizar, entre os públicos baiano e lusófono em geral, as discussões acerca da diversidade dos mundos antigos e de sua recepção. Na Equipe Executora e no pessoal convidado ao evento, haverá representantes de Arqueologia, Filosofia, História e Letras, para a construção de um debate interdisciplinar. O evento também fomenta a relação entre a Graduação e a Pós-Graduação. Ademais, conecta os seguintes grupos de pesquisa sediados na UFBA, registrados no CNPq: Cultura Material, Antiguidade e Cotidiano (CMAC – História); Filosofia Antiga em Traduções (Filosofia); Núcleo de Antiguidade, Literatura, Performance e Ensino (NALPE – Letras); Grupo de Pesquisa em Tradução de Poesia (POETRA – Letras). O evento acontecerá durante três dias, com carga horária aproximada de 20h e será composto de atividades na UFBA, como conferências, oficina, painéis de discussão de temas específicos, rodas interdisciplinares de conversas com estudantes de pós-graduação e de Iniciação Científica.