RESUMO 42 | COMUNICAÇÕES
Sobre a influência da Guerra Fria na Filosofia da Ciência: Uma análise do viés da filosofia do século XX baseada na tese de George A. Reisch
TIJANERO, María G. | UFRJ, Brasil
É interessante entender como evolucionou a Filosofia da Ciência desde seus primeiros dias até hoje. Uma peça chave para compreender esse percurso, é desembrulhar o que aconteceu no meio da publicação do combativo Manifesto do Círculo de Viena e da última das vinte monografias da International Encyclopedia of Unified Science.
O movimento que assinou aquele Manifesto empirista e anti-metafísico apontava bater de frente ao idealismo, considerava a ciência como elemento fundamental nessa empresa e assinalou, em mas de uma ocasião, que aquilo era essencial para o progresso da humanidade. Contudo, muito longe dos planos iniciais do projeto que inaugurou a Filosofía da Ciência como disciplina, o empirismo lógico tem sido considerado como se houvesse mantido uma postura unitária, que mal tem sido reduzida às proposições e métodos da ciência. Essa consideração pode ser rastreada até um dos manuais da Filosofia da Ciência mais importantes e consultados até hoje, The Structure of Scientific Theories de Frederick Suppe. É simplista só dizer que a análise de Suppe publicado em 1977, foi parcial ou errada. É mais interessante dar conta do que aconteceu para que a agenda inicial do Círculo de Viena, terminasse naquilo que interpretou Suppe e que até hoje é dito sobre o empirismo lógico.
Para George A. Reisch o empirismo lógico foi visto dessa maneira, porque o projeto que começou o Círculo de Viena, mudou de maneira drástica na década de 1950. Segundo ele a Guerra Fria foi um dos fatores que impediu levar cabalmente a agenda inicial, condicionando o que devia ser trabalhado, a relevância dos temas a serem selecionados, as abordagens e o que a partir daí resultaria filosoficamente interessante e tratável. As pressões políticas nesse período foram comuns em muitos (ou todos) os ámbitos sociais, e atingiram também o exercício e desenvolvimento da filosofia da ciência. Essa influência encaminhou à disciplina recém criada hacia formas pretendidamente apolíticas e altamente abstratas.
Após da morte de Otto Neurath, e também após da Segunda Guerra Mundial, Phillip Frank e Charles Morris tentaram reestabelecer o Instituto para a Unidade da Ciência nos Estados Unidos, mas seus esforços não prosperaram dado o clima de medo que permeou no cenário intelectual norte-americano. Ao tempo que personagens como Horace Kallen chamavam de “totalitária” a empresa da Unidade da Ciência, o furor anti-comunista que podia acusar de anti-patriótica a qualquer pessoa foi incrementando, coisa que levou à maioria dos filósofos ficaram à margem dos acontecimentos, adaptando-se a eles para não virar alvo de perseguição. Assim, naquele episódio do século XX, a filosofia da ciência foi orientada hacia o que George A. Reisch chamou “as ladeiras geladas da lógica”. Sem menosprezar a importância da atividade formal na filosofia, apresento uma proposta de análise da história da Filosofia da Ciência e um ponto de partida para olhar àquilo que, infelizmente, teve que ser ignorado na disciplina filosófica de recente criação nesses anos.