RESUMO 41 | COMUNICAÇÕES
O sentido da lógica: Deleuze e a dialética hyppoliteana
TEIXEIRA, Yasmin de O. A. | UNIFESP, Brasil
A filosofia deleuziana é perpassada por uma recusa da tradição metafísica tributária da representação, marcada por uma imagem dogmática ou moral do pensamento que tem sua primeira raiz no platonismo e sua forma avançada na dialética hegeliana. Deleuze declara que sua obra é, por isso, expressão do anti-hegelianismo generalizado de um momento histórico que não se atém mais aos desígnios da identidade e do negativo: a dialética seria, então, o campo problemático da lógica e ontologia da diferença. Esse antagonismo tem como mediação fundamental a obra de Jean Hyppolite, Lógica e existência, que tem por princípio romper com toda interpretação antropológica ou humanista da lógica de Hegel. A leitura hyppoliteana da dialética exerce influência importante sobre a geração pós-estruturalista, em especial sobre Deleuze. Assim, a tarefa de construção de uma filosofia da diferença passa por um antagonismo em relação às concepções dialéticas que se mostra produtivo no que diz respeito à formulação dos principais problemas a partir dos quais o pensamento deleuziano se move. Na concepção anti-humanista de Hyppolite sobre o Logos como movimento do Absoluto, que se põe ao se diferenciar de si e se diz através do discurso humano, Deleuze vê a possibilidade de uma nova lógica, compartilhando o diagnóstico de que é necessário sair da antropologia e ir em direção a uma ontologia do sentido. O objeto deste trabalho foi compreender a relação crítica entre a filosofia da diferença de Deleuze e a lógica dialética segundo a interpretação de Hyppolite. A dialética compromete-se com a necessidade de apreender o verdadeiro e postular uma identidade entre o pensamento e a coisa, censurando as concepções que não ultrapassam a reflexão exterior e compreendem os objetos como meros fenômenos relativos ao sujeito, abdicando da reflexão sobre o ser mesmo. Há, antes de tudo, uma reflexão do ser sobre si mesmo: é o próprio Absoluto que se reflete diferindo-se de si – ou seja, se contradizendo – e se pondo como fenômeno e como pensamento, que se diferencia de si mesmo e se põe como sentido ao se contradizer. Se não há transcendência, se a essência se encontra já na aparência e o Absoluto se põe reflexivamente no fenômeno, é porque o ser se diz no homem pelo discurso. O absoluto está já aí, não como essência atrás da aparência mas como ser que se pensa e se diz como sentido. Tal ideia de uma imanência radical da lógica ao fenômeno é compartilhada por Deleuze - sua censura em relação à dialética se refere, entretanto, à ausência de uma ideia adequada da diferença em si, que não seja levada até a contradição.