RESUMO 32 | COMUNICAÇÕES
A hermenêutica da facticidade: uma linguagem originária na fenomenologia de Martin Heidegger
ONATE, Neusa R. | UNIOESTE, Brasil
Ao analisarmos a questão do ser pensada através de arcabouços conceituais e de arquitetônicas sistematizadas que compõe a vasta história da filosofia, chegaremos ao conhecimento da grande dificuldade da mesma, de seu caráter decisivo, bem como de toda a sua problemática. Com a pretensão de engendrar um empreendimento que se propõe a superar monumentais dificuldades, Heidegger se lança à possibilidade de descrever o fáctico e histórico ser-aí enquanto origem de todo o sentido. Cujo empreendimento leva o filósofo alemão a elaborar uma fenomenologia do tempo enquanto fundamento, a qual demandaria de um discurso que descreva o originário sem descaracterizá-lo. Ora, somente uma ciência originária outorgaria competência à tal descrição. Para tanto, o discurso de uma cronologia fenomenológica não poderia, de modo algum derivar dos intentos da tradição, sejam eles oriundos da filosofia ou das ciências positivas, pois, como é sabido, estas jazem em declínio à falta de um embasamento filosófico. O objeto de estudo de uma ciência da origem é a própria origem enquanto fundamento, esta, por sua vez, por ser aquilo pelo qual tudo é, não poderia ser descrita a partir de recortes extraídos de visadas vinculadas ao ser-aí histórico. Com esta indicativa, resta considerar, portanto, um tipo de visada desvinculada de tal âmbito, isto significa que a descrição da origem carece de uma recondução da visada do ser-aí histórico para as estruturas de fundação que o ser-aí mesmo é. Não obstante, o que temos aqui é uma investigação fenomenológica deste mesmo ente supremo que transita e se constitui como diferença ontológica. A investigação, portanto, é fenomenológica e sendo assim, o tema perfaz a indagação da totalidade das estruturas da existência do ser-aí, cujo tema ontológico exige uma linguagem que seja capaz de tal descrição. Nosso objetivo, portanto, é expor os aspectos centrais que compõe e tornam possível uma linguagem que descreva o fenômeno do ser enquanto tempo em tal filosofia. Consideraremos os seguintes pontos em nossa exposição, a partir dos quais, sustentamos a hipótese de que a hermenêutica da facticidade é uma linguagem interpretativa originária pela qual uma investigação fenomenológica se torna possível em Martin Heidegger: 1) A indicação formal, como sentido metodológico se caracteriza pela função ancestral, cuja plenitude de seu sentido é adquirida na explicação fenomenológica mesma. 2) A totalidade de sentido se articula em três distintas orientações semânticas, o sentido de conteúdo (Gehaltssin), o sentido referencial (Bezugssinn) e o sentido de execução (Vollzugssin), em cujos sentidos articulados se constitui o “fenômeno”. 3) A totalidade de sentidos articulados a partir desta tripla estruturação só pode ser explicada fenomenologicamente. 4) Heidegger determina certas características fundamentais do ser-aí enquanto posições prévias, cujos sentidos apontados nas direções prévias tornam-se originariamente acessíveis pela indicação formal. 5) A posição primordial dentre as demais modalidades de ser do ser-aí é a compreensão. Esta possui três elementos constitutivos que são: posição prévia (Vorhabe), visão prévia (Vorsicht) e entender prévio (Vorgriff), em cuja inter-relação opera a dinâmica da compreensibilidade e seus devidos desdobramentos implicam na hermenêutica enquanto interpretação originária dos fenômenos.