RESUMO 27 | COMUNICAÇÕES
A concepção funcional de a priori de Pap como elo entre filosofia analítica e pragmatismo americano
HUFFERMANN, Jeferson D. | UFRGS, Brasil
Historicamente, pelo menos até a metade do século XX, uma estratégia comum de explicação acerca do conhecimento das leis mais gerais e fundamentais da natureza consistia em atribuir-lhes um estatuto diferenciado, de conhecimento a priori. (Cf. Greenberg, 2001; Stump, 2015) Ao se investigar a discussão sobre o estatuto concedido ao conhecimento dos princípios fundamentais das ciências naturais, ao menos nos últimos duzentos anos, a noção de conhecimento a priori se revela, assim, de crucial importância. No resgate dessa discussão encontra-se uma proposta pouco explorada na bibliografia, na qual se verifica o encontro de elementos advindos das concepções de dois autores, C. I. Lewis (1923) e John Dewey ([1938] 1986): a concepção funcional de a priori de Arthur Pap (1943, 1944 & [1946] 1968). Pap elaborou uma teoria ou concepção funcional de a priori, visando explicar os aspectos regulativos e descritivos que estamos dispostos a atribuir, prima facie, aos princípios que formam a base ou fundamento das ciências. De acordo com sua abordagem estaríamos autorizados a asserir os princípios dado que eles foram enrijecidos (fixados) num corpo coerente de conhecimento de modo a servir como critério para investigação futura. De maneira deveras econômica, pode-se afirmar que de acordo com Pap os princípios da ciência são regras constitutivas dos fenômenos que visam explicar, de tal modo que a adesão a tais princípios é condição para sua inteligibilidade. Um dos termos utilizados para referir aos princípios é “convenção”, no intuito de defender que não são, em sentido estrito, proposições. Acompanhando essa tese, a partir da teoria afirma-se que os princípios de uma ciência, tomados em conjunto, descrevem uma realidade idealizada. Além de ser uma concepção que merece atenção por si só, a teoria funcional do a priori de Pap pode ser compreendida como ocasião em que se entrecruzam ideias advindas de distintas vertentes filosóficas, como o convencionalismo de Poincaré, o neo-kantianismo de Cassirer e o pensamento do Círculo de Viena. Com foco na relação entre a concepção de Pap e ideias oriundas do pragmatismo de Lewis e Dewey, pode-se afirmar que Pap visa aprimorar algumas posições desses autores. Este trabalho foca, primeiramente, na apresentação da noção de “conceito definidor” ou “teste categórico” de Lewis, da distinção entre proposições gerais e universais de Dewey, bem como de uma imagem da ciência que pode ser desenhada a partir do destaque a tais conceitos. O passo seguinte consiste em examinar a apropriação crítica de tais conceitos por parte de Pap. Em linhas muito gerais, pode-se dizer que os conceitos pragmatistas acima referidos permitem engendrar uma imagem da ciência como prática hipotético-dedutiva na qual se pode determinar quais sentenças são testes categóricos ou proposições universais independentemente do contexto de investigação. Para Pap, entretanto, a imagem pragmatista da ciência é insuficiente por não privilegiar, como objeto de análise, as práticas científicas efetivas. É justamente ao admitir o que chama de “ponto de vista dinâmico” sobre as práticas científicas que a abordagem de Pap se mostra original, pois nela os testes categóricos ou proposições universais são como princípios funcionalmente a priori – ideia que, ao final da exposição, será delineada em detalhes.