RESUMO 22 | COMUNICAÇÕES
As relações entre a Física experimental e a Física matemática
DA SILVA, Pedro H. Ciucci | PUC-SP, Brasil
A experiência é a fonte única da verdade: só ela nos pode ensinar algo de novo, só ela nos pode dar certezas, são duas afirmações incontestáveis. Mas então, se a experiência é tudo, qual é o papel da física matemática? Já que aparenta ser inútil, e talvez mesmo perigosa, que interesse terá nela a física experimental?
No entanto, dado que a física matemática existe e, inegavelmente, já prestou muitos serviços, será necessário explicar porque. Observar não é suficiente; é necessário utilizar essas observações e, para tal, fazem-se generalizações. Sempre se procedeu assim. Mas a lembrança dos erros passados tornou o homem progressivamente mais circunspecto, cada vez se observa mais e se generaliza menos.
Em cada século critica-se o século precedente, acusando-o de ter generalizado de forma demasiado rápido e ingênua. Descartes, que olhava os Iónicos com piedade, hoje faz-nos sorrir. Sem dúvida que os nossos filhos rirão de nós, um dia. Não poderemos então ir direitos ao fim e assim escapar à troça dos vindouros? Não será possível contentarmo-nos apenas com a experiência? Não, é impossível, isso significaria negar completamente o verdadeiro caráter da ciência. O cientista tem que trabalhar com método. A ciência faz-se com fatos, tal como uma casa se faz com pedras, mas se uma acumulação de fatos fosse uma ciência, então um monte de pedras seria uma casa.
Existe boas e más experiências. Estas últimas acumulam-se em vão; que se façam cem ou mil, um único trabalho de um verdadeiro mestre, bastará para que as más experiências sejam esquecidas. Bacon conhecia bem essa realidade, foi ele que inventou o termo experimentum crucis. Um fato é um fato, um estudante lê a temperatura em um termômetro sem tomar precauções, pouco importa, ele leu-a, e se só o fato conta, aí temos uma realidade com o mesmo estatuto que as peregrinações do rei João sem Terra. Porque é que o fato do estudante ter feito essa leitura não tem qualquer interesse, enquanto que o fato e um físico habilitado fazer outra leitura pode ser, pelo contrário, muito importante? É que da primeira leitura nada pode concluir. O que é então uma boa experiência? É aquela que nos faz conhecer mais do que um fato isolado, é aquela que nos permite prever, ou seja, é aquela que nos permite generalizar. Sem a generalização, a previsão é impossível. As circunstâncias nas quais se realizou uma experiência nunca se reproduzem totalmente. Portanto, o fato observado nunca se repetirá.