RESUMO 20 | COMUNICAÇÕES
Realidade e tempo entre a “Dissertação de 1770” e a “Crítica da Razão Pura”: Uma análise da influência de Lambert e de Mendelssohn na filosofia madura de Kant
CHABBOUH JR. Marco A. | PUC-SP, Brasil
Em 1770, Immanuel Kant publicou sua dissertação Forma e princípios do mundo sensível e do mundo inteligível. Entre as teses centrais daquele texto, o filósofo de Königsberg defendia que o tempo não era nem real e nem objetivo. Naquele mesmo texto, no entanto, Kant não oferece nem uma definição ou explicitação da noção de realidade e tampouco uma explicação do significado da irrealidade do tempo. No mesmo ano, Johann Heinrich Lambert e Moses Mendelssohn, dois de seus mais influentes contemporâneos, endereçaram cartas a Kant nas quais objetavam justamente contra a tese de acordo com a qual o tempo seria irreal. Mais de uma década depois, com a publicação da primeira edição da Crítica da Razão Pura, o filósofo de Königsberg, além de dedicar um item de sua “Estética Transcendental” para responder às objeções de seus correspondentes e além de dedicar um parágrafo para descrever o status da irrealidade do tempo, desenvolveu uma nova distinção que tinha como centro a noção de realidade: o tempo teria realidade empírica, mas nunca realidade absoluta; teria validade objetiva relativamente aos aparecimentos (Erscheinungen), mas não seria nada no que diz respeito as coisas em si. Na minha comunicação, eu pretendo mostrar qual a necessidade sistemática da nova distinção apresentada na Crítica da Razão Pura tendo em vista (i) a manutenção da tese de que o tempo é irreal e (ii) a apresentação das objeções de seus contemporâneos. Para isso, primeiramente, mostrarei de que maneira a doutrina da irrealidade do tempo é desenvolvida na Dissertação de 1770 como uma consequência do caráter não sensível do tempo e da confrontação com as posições de Isaac Newton e de Gottfried W. Leibniz. Em seguida, apresentarei o conteúdo das objeções focando especialmente no texto da carta de Lambert de outubro de 1770. Logo após, exporei o conteúdo das alterações feitas no texto de 1781: (i) a elucidação do significado da irrealidade do tempo; (ii) a distinção entre realidade empírica e realidade absoluta e; (iii) a afirmação de que o tempo é empiricamente real, mas absolutamente irreal. Por fim, concluirei que embora possa se discutir se houve ou não alteração na doutrina kantiana do tempo entre a Dissertação e a Crítica, há uma indiscutível alteração de paradigma de objetividade que, apesar de prefigurada no texto de 1770, encontra seu pleno desenvolvimento e sua plena expressão a partir da recém formulada noção de realidade empírica.