O método de redução fenomenológica aplicado ao problema da empatia
Juliana Alexandre
A emergência do problema da empatia pode ser remontada aos debates realizados pelos filósofos moralistas britânicos, como David Hume, no postulado da simpatia a partir da relação entre ideias e impressões. Para Hume, a percepção pode ser dividida em impressões e ideias, que se diferenciam: (i) pelo grau de vivacidade das impressões, que se constituem enquanto impressões (sensitivas) ou sentimentos (impressions of reflection); (ii) pela estruturação das ideias enquanto pálidas cópias das impressões, isto é, a partir ideias das sensações e ideias da reflexão; e, (iii) pelo grau de confiabilidade das impressões, em detrimento das ideias. Assim, vislumbrando-se o problema da simpatia enquanto a recepção de sentimentos e inclinações de um outro, via comunicação, Hume, aponta a simpatia como evidência da possibilidade de conversão de uma ideia em uma impressão – mecanismo básico de estruturação do sentimentalismo moral.
A recepção alemã do problema recebe a atenção de diversos autores, como Schiller na empatia como experiência estética, mas toma vultos com Theodor Lipps, que cunha efetivamente o termo Einfühlung não somente para designar uma resposta estética aos objetos inanimados, mas também a fusão de sujeito observador e objeto de observação, seja ele inanimado ou vivo, a partir de um mimetismo interno automático e inconsciente.
O problema adentra efetivamente no debate fenomenológico a partir de Husserl, com a discussão acerca da constituição do outro como um alter ego, isto é, como um outro Ich ainda centralizado em suas próprias experiências psíquicas (Ichpole), o que implica: (i) na consideração da empatia não só como a possibilidade de acesso aos estados emocionais do outro, mas também de seus estados cognitivos; e (ii) adstringindo a empatia à esfera do encontro entre sujeitos (Fremdsubjektem).
Diante desse cenário, Edith Stein intenciona tratar do problema básico da empatia, de forma que as inquietações encadeadas pelos seus interlocutores, como a problemática da empatia ética ou a empatia como experiência estética, possam se tornar inteligíveis, ou seja, tem por finalidade a determinação da essência da empatia. Para isso, dispõe do método de redução fenomenológica partindo (i) das vivências indubitáveis do Eu, nesse caso, especificamente da percepção; e, (ii) do fenômeno da coisa, perceptível.
Ou seja, suprimindo-se a positivação da existência, inclusive frente ao Eu enquanto objeto, resta apenas como objeto investigativo sua própria pessoa e o mundo enquanto fenômeno. Dessa forma, para o vislumbre do problema da empatia, parte-se de que: (i) somente quando o Eu é o sujeito experimentante ele será indubitável; (ii) a vivência própria dessa investigação verte pela vivência da percepção; (iii) a percepção que aqui interessa não é a de outros corpos físicos disponíveis no mundo, mas de outros sujeitos externos ao Eu, cujas vivências psíquicas também tomamos conhecimento; isto é, a investigação tem por base esclarecer como qualquer coisa que nos aparece além do corpo físico é dada pela nossa percepção como constituída de consciência.
A partir desses pressupostos metodológicos, Edith Stein segmenta o restante da sua investigação a partir da estruturação básica dos atos a partir dos quais a experiência do outro pode ser compreendida, da constituição do Eu e, por fim, da compreensão da empatia enquanto conhecimento da esfera espiritual da pessoa.