Kasimir Twardowski e a teoria dos juízos existenciais em sua tese sobre Descartes
Jesuino J. Pires
Nosso objetivo é apresentar a teoria do juízo de Kasimir Twardowski tal como desenvolvida em sua tese sobre Descartes Idee und Perception: eine Erkenntnis-theoretische Untersuchung aus Descartes, de 1892. De maneira específica investigaremos dois pontos relevantes para a compreensão do assunto: primeiro no que diz respeito a teoria dos juízos existenciais sob a influência de Franz Brentano e em segundo lugar os elementos de mudança da mencionada teoria na obra posterior Zur Lehre vom Inhalt und Gegenstand der Vorstellungen: eine psychologische Untersuchung, de 1894. A abordagem de Twardowski sobre esse tema, pressupõe algumas teorias brentanianas, tais como: a divisão dos fenômenos psíquicos em três classes: representação, juízo e emoções; a teoria dos juízos existenciais e a teoria da evidência. O ponto intrigante, é que em Zur Lehre, Twardowski pouco fala sobre os juízos, apenas menciona-os em comparação com as representações e como um dos argumentos para a distinção entre conteúdo e objeto. Por outro lado, Twardowski dedica grande parte de sua dissertação de 1892 tratando da teoria dos juízos e de seus elementos. Neste texto aprofundaremos o primeiro ponto mencionado acima, tendo em vista a importância da teoria dos juízos para Twardowski e para a escola de Brentano de forma geral. Brentano em Psychologie vom empirischen Standpunkt (1874) segue Descartes na classificação dos fenômenos psíquicos em três classes: representação, juízo e amor e ódio, e o ponto de partida de Twardowski é investigar o conceito de percepção para Descartes diante dessa divisão. A grande dificuldade encontrada por Brentano e Twardowski é o de classificar a percepção cartesiana, sendo que ela parece não poder ser identificada com nenhuma das três classes de fenômenos, mas ainda assim, ela continua sendo um fenômeno psíquico. Twardowski argumenta que a ideia para Descartes é o objeto do juízo, ao passo que a percepção clara e distinta é o pré-requisito ou aquilo que determina a vontade para o juízo. As funções que a percepção e a ideia exercem para o juízo são diferentes, e por isso mesmo elas não podem ser identificadas. Percepção clara e distinta é interpretada por Twardowski como uma Wahrnehmung, ou seja, como percepção interna em termos brentaniano. Assim, o juízo evidente pressupõe sempre a percepção clara e distinta como seu fundamento. Nota-se que em 1892 Twardowski parece seguir estritamente a teoria brentaniana, mas o ponto importante a ser destacado é que a sua preocupação neste momento é exatamente em pontos problemáticos sobre a teoria do juízo.