Altos custos afastam alunos do sbpjor

Por Lara Costa

Por conta dos preços elevados de passagens e hotéis, professores e alunos não poderão comparecer à vigésima edição do SBPJor, realizada na Universidade de Brasília entre os dias 8 e 10 de novembro. Custos podem chegar a R$ 2.587 para professores e R$ 2.440 para alunos e se tornam especialmente altos para alunos das regiões norte e sul que precisam desembolsar, em média, R$ 3.000. 


A SBPJor é um evento científico aberto para estudantes e professores universitários do Brasil e do exterior. Organizado pela Faculdade de Comunicação (FAC) da Universidade de Brasília (UnB), o encontro busca apresentar e debater temáticas urgentes do mercado e da pesquisa jornalística e apresentar projetos de pesquisa inéditos. 


Danilo Perez está no último semestre de jornalismo na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), no interior do Rio Grande do Sul, e foi um dos estudantes que teve de desistir da participação no congresso. Após incentivo de sua orientadora de TCC, Danilo buscou passagens para Brasília, mas o preço elevado, cerca de R$1000 desestimulou o aluno, que chegou a lançar uma campanha de financiamento coletivo, mas sem sucesso. 


“Na minha cabeça que fazendo a vaquinha, iria de alguma forma arranjar dinheiro, só que foi um valor que me pegou muito de surpresa”, desabafou o aluno. 

Danilo Queiroz, aluno de jornalismo na Usp, não pode vir ao evento.

Já Danilo Queiroz, estudante da Universidade de São Paulo (USP), conheceu a SBPJor por ter se envolvido mais na iniciação científica recentemente e também por causa do custo de deslocamento, não pôde vir ao evento. 

Desde abril, ele tem se relacionado mais com as organizações científicas e percebe alguns obstáculos em relação ao deslocamento. “Elas difundem muito pouco essas organizações, eu acho que fica muito segmentada para os pós-graduandos, e os alunos da graduação não conseguem esse contato. Fiquei sabendo mais que os professores vão, mas eles não estimulam os alunos. Eu acho que é uma crítica assim que eu faço que não só na USP mas eu sinto que em outros resultados acontecem da mesma forma. Participei dos eventos e eu consegui sentir também que as outras necessidades elas desenvolvem muito pouco”. 

Desigualdade regional 

De todas as regiões, estudantes do da região Norte são os que precisam lidar com os custos mais elevados: R$ 3.823 em média. O alto preço das passagens das capitais da região para o DF, além da necessidade de escalas em outras cidades, é o principal responsável.

A segunda região mais cara é o Sul, em que cada estudante gastaria em média R$ 3.098, seguida pelo Sudeste com média de R$ 2.682,75, Nordeste com média de R$ 2.680,33 e, por último e Centro-Oeste, que devido a proximidade com o Distrito Federal, é a região que gasta R$ 2.439,33; o menor preço das regiões.


O orçamento total considera preços gastos com passagens de avião para ida e volta de cada um dos 26 estados para o DF; taxa de inscrição dos alunos de fora da UnB (R$ 210), hospedagem em hotéis (R$ 200) e alimentação (R$ 90), estes últimos considerando os valores gastos em Brasília.

Falta de apoio aos estudantes

Tendo em mente as dificuldades associadas à viagem, a Unipampa apoia os estudantes aprovados para a participação de congressos e apresentações. O valor, no entanto, não supre todas as necessidades, e a presença ainda é difícil. 

“A Unipampa apoia, mas é um valor tão alto que eu creio que esse apoio acaba ficando meio irrisório. Você acaba tendo que sair a maior parte do meu bolso. E eu acho que tem muita burocracia. É um processo gigante para algo que é fundamental na nossa carreira acadêmica”, destaca Perez

Para o estudante, as universidades e a organização da SBPjor poderiam ter lidado melhor com esses esses problemas burocráticos. Ele acredita que já “poderia ter algo pré-estabelecido desde janeiro, no começo do ano, se baseando por um calendário de eventos que inclua a SBPJor, viabilizando a possibilidade de ida dos alunos. E em novembro ter alguma coisa pensada para nos ajudar, de forma que não falte algumas semanas ou um mês para ter de fazer vaquinha, por exemplo. Eu acho que tinha que ter um apoio melhor.’’

Já Danilo Queiroz defende que as organizações poderiam se comunicar de forma mais assertiva com as universidades, que devem divulgar mais e incentivar a participação entre os estudantes da graduação na SBPJor. “Se perguntar a minha turma o que é SBPJor, vai saber só quem faz iniciação científica, já quem não faz fica muito deslocado. Eu acho que é um grande prejuízo para os estudos de pesquisa em comunicação, porque poderíamos ter tantas outras pesquisas e assuntos sendo abordados, mas não conseguimos porque é restrito aos que fazem iniciação científica”.

Por trás do problema 

Procurado para falar sobre o assunto, o assessor científico da SBPJor afirma preocupação por parte da organização em divulgar o evento para graduandos e cita dois fatores que dificultam isso: a pandemia e os cortes na pesquisa. “Isso é uma questão que envolve as universidades, e o próprio recurso para investimento em pesquisa e informação dos estudantes”. 


Diante do cenário de desmonte da pesquisa, a SBPJor tem como prioridade principal, no momento, garantir os recursos disponíveis para a produção do evento. Com isso, há baixo incentivo de participação do evento para os graduandos. 


“Nós fazemos parte do fórum de ciências humanas e letras ligado a Sociedade Brasileira de Ciência (SBPC), então temos nos esforçado em certo sentido para expansão de recursos para pesquisa brasileira, em específico no jornalismo que é o nosso foco. Então buscamos a garantia de recursos nas universidades públicas e também nos órgãos de fomento, como CNPQ, a CAPES e as próprias fundações também estaduais”, detalha.