Não é segredo para ninguém o meu “sentir” associativista.
Não é pois de estranhar que de tempos em tempos aqui traga nesta rubrica, temas relacionados com isso mesmo.
Não falta quem se arrogue de associativista, quem encha o peito para depois expirar palavras tantas e tantas vezes ocas de validade, desde logo porque não se é associativista apenas porque num ou noutro momento, por este ou aquele motivo pontual, se fez ou faz parte de uma associação, mesmo que seja na sua liderança.
Não faltam exemplos de pseudo-associativistas (deixem-me chamar-lhes assim) que antes, mas mais incompreensivelmente após, a passagem por uma ou outra associação, esquecem, ignoram e nalguns casos até dificultam a sua existência.
Se os contássemos, seriam mais ou menos os mesmos que teimam em pensar e dizer que “…quando eu lá estava é que era…”!!! Enfim…
É claro que encaminho esta minha opinião no sentido do associativismo formal, ou seja, ligado às instituições, sem no entanto ignorar que os verdadeiros associativistas, podem sê-lo com carácter informal, sem pertencerem a qualquer organização que não a própria sociedade, em que todos têm responsabilidades e em que todos podem contribuir de uma ou outra forma para o bem comum.
Mas voltemos às instituições…
Todos nós temos naturalmente preferências, podemos gostar mais de música, tocada ou dançada, gostar mais de desporto, de teatro, ou de qualquer outra área…podemos nesse sentido, canalizar mais o nosso empenho para uma ou outra vertente, mas não precisamos, não devemos ignorar as outras, tal como certamente não apreciamos que ignorem aquelas a que mais nos dedicamos.
Todos nós temos pessoas de quem gostamos mais, de quem gostamos menos, que evidentemente podem prestar o seu contributo às associações, o que não deverá na minha opinião condicionar a nossa colaboração, ou pelo menos a nossa adesão às diferentes iniciativas, até porque “as pessoas passam, as instituições ficam”.
O verdadeiro associativismo, apesar de não ser uma profissão, apesar de não ser remunerado (digo eu), tem que ser “sentido”, a full-time.
Ou se é, ou não se é associativista. Não se pode simplesmente ir sendo, conforme interesses colaterais.
E repito a ideia de que para se ser associativista, não é preciso ser director, é preciso sobretudo ser colaborador, ser entusiasta, ter no mínimo uma palavra amiga para dar!
Virando agulhas…mas não totalmente, até porque vou continuar no tema, eis-nos no meio de uma tão propalada crise.
Todos os dias e desde há meses, ouvimos falar na necessidade de apertar o cinto, de estarmos preparados para cortes e outras afirmações do género.
Só os mais distraídos poderiam pensar que vindo os cortes de cima para baixo, atingindo Ministérios, Municípios, Freguesias, atingindo enfim o bolso de cada um de nós, as associações poderiam passar incólumes.
Não sei (na data em que escrevo estas linhas) se no nosso Concelho vão ou não existir cortes para o ano corrente, no que diz respeito às associações. Acredito contudo e a avaliar por notícias recentes que tal vai mesmo suceder.
Começam aliás a fazer-se ouvir algumas vozes contra esta situação, que apesar de concordarem com a inevitabilidade de tal medida, alegam o facto de no final de um ano, estar em causa o subsídio desse mesmo ano.
Fosse eu um demagogo populista, e pôr-me-ia na primeira linha junto de quem assim pensa…mas o sentido de responsabilidade de quem tem a obrigação de ponderar um pouco o que diz, leva-me a agir de forma diferente.
Sei bem (mas sei mesmo, não ouvi dizer) as dificuldades com que as associações se confrontam no seu dia a dia.
Também sei o que é programar, calendarizar, orçamentar a contar não só mas também com o respectivo apoio municipal, e chegar ao final do ano sem o dito!!!
Ainda sou do tempo em que “apenas” dois anos de subsídio em atraso era bom, três normal e quatro começava a ser preocupante (mas acontecia).
Mas desse tempo, sou eu e muitas outras pessoas, que só se não lembram, se optaram por esquecer!
Evidentemente esse será um cenário desconhecido apenas para os mais jovens, e que tendo chegado a estas lutas nos últimos dez anos, não terão noção sequer da realidade que os antecedeu.
Tudo isto para dizer o quê?
Alguns catastrofistas apontam a possibilidade de cortes nos subsídios, como o fim anunciado das associações, referindo a propósito que os investimentos foram feitos a contar com tais valores e que não há forma de suprir tal situação, etc, etc, etc.
Ora, é óbvio que também eu reconheço um acréscimo de dificuldades por essa via, mas, acho uma tremenda falta de respeito por si próprio da parte de quem diz isso, ou então por outro lado, um enorme reconhecimento a todas as mulheres e homens que em tempos difíceis, outros mas igualmente difíceis (que já existiram), conseguiram com dificuldades muito maiores, ou pelo menos iguais, levar “o barco a bom porto”, ou no mínimo a “porto seguro”.
Será que as famílias que sem qualquer aviso prévio deixaram de receber abono para os filhos, viram os seus ordenados congelados, nalguns casos reduzidos, vão atirar a toalha ao chão e desistir?
É que também não tiveram oportunidade de reformular orçamentos…o banco concerteza não leva em linha de conta, o facto por exemplo de já não terem abono para os filhos!!!
Dir-me-ão que são medidas para o futuro…mas não é verdade.
Muitas delas tiveram aplicação imediata ou quase!
Perguntarão porque razão se a situação era má, não foram as associações avisadas de tais hipóteses mais cedo…parece-me que provavelmente porque terá existido (e porventura continuará a existir) a tentativa de minimizar os seus efeitos nefastos.
Contudo, não posso deixar de lançar uma interrogação…será que sabendo desde meados de 2008 que vivemos tempos de crise, as associações tiveram a necessária contenção e alguma cautela, ou nalguns casos terão feito o contrário do que seria normal, aumentando as despesas sem prever sequer o congelamento ou mesmo a diminuição das receitas???
Espero sinceramente que as associações possam continuar a contar com o apoio do estado e das autarquias locais, mas a coerência de quem condena alguns parasitas da sociedade que sem necessidade ou justificação vivem dos subsídios (RSI e outros), leva-me a desejar também, que este possa ser um momento de viragem em que as associações percebam também que terão tão melhor futuro, quanto menos dependerem de subsídios!