Lembro que o primeiro grande desafio, que tive em minha carreira como Diretor Financeiro foi elaborar um relatório de custos de uma grande organização da área de educação, que passava por um momento delicado em seus resultados financeiros e não conseguia realizar análises e decisões mais assertivas, por não possuir nenhum relatório de custos sobre os seus produtos e serviços que oferecia, mesmo sendo uma organização com mais de 40 anos de existência. Destaco também, que em vários trabalhos realizados em consultoria, esta foi uma realidade encontrada, poucas empresas com algum relatório de custos, que se identifica de forma clara a composição dos custos para a produção de algum produto ou prestação de serviços. Ou seja, quando estas empresas percebem que os resultados econômicos e financeiros apresentam pioras, lembram que não possuem algum reporte que possam ajudar para sair da situação complexa que se encontram. Planejar e implantar a gestão de custos em uma organização torna-se um grande desafio e a necessidade de encontrar profissionais competentes um desafio ainda maior. O mercado de oportunidades profissionais de gestão de custos no Brasil oferece muitas oportunidades. Então pergunto para você, como podemos, por meio da gestão de custos, garantir melhores resultados econômicos e financeiros para as organizações e assim garantir a sua perenidade?
Bem, o que você faria então para implantar a gestão de custos em uma organização? O meu desafio que comentei anteriormente, de uma organização com mais de 40 anos ainda não possuir a gestão de custos, e eu na frente deste processo de implantação. Por onde começar? O que eu deveria fazer? Possuía conhecimento necessário para implantar a ferramenta de gestão de custos? As bases de dados da organização, sendo operacionais e financeiras, me permitiam subsidiar uma análise de custos? E o principal, os gestores da organização estavam preparados para trabalhar com a gestão estratégica de custos subsidiando o processo decisório deles?
Você estará comigo no decorrer deste livro, ajudando a compreender este contexto e adquirindo conhecimentos necessários para podermos responder às dúvidas aqui sugeridas
Ao observar os gestores de uma organização, percebe-se que o processo de tomar uma decisão possui um grau de complexidade relevante, porque ao tomar uma decisão se faz necessário um conjunto de competências e habilidades.
Mas estes processos de tomar decisões nas organizações acontecem a todo momento, e o gestor, na abordagem da gestão de custos, precisa possuir os recursos adequados.
No case anteriormente proposto, de como implantarmos a gestão de custos em uma organização, as competências necessárias que você irá trilhar são:
● Ponto 1: compreender o contexto operacional das organizações;
● Ponto 2: entender os conceitos da gestão de custos;
● Ponto 3: escolher a metodologia de custeio adequada ao processo decisório.
Para iniciar nossa conversa, vamos definir o que é uma gestão de custos na visão de alguns autores clássicos. Shank e Govindarajan (1997, p. 13) salientam que o surgimento da gestão estratégica de custos resulta da mistura de três temas subjacentes, cada um retirado da literatura sobre gestão estratégica:
1. Análise da cadeia de valor;
2. Análise de posicionamento estratégico;
3. Análise dos direcionadores de custos.
Cada um deles representa uma corrente de pesquisa e análise, em que a informação de custos é modelada sob uma luz muito diferente daquela em que é vista na contabilidade gerencial tradicional.
Conforme Porter (1990, p. 31):
A cadeia de valores desagrega uma empresa nas suas atividades de relevância estratégica para que se possa compreender o comportamento dos custos e as fontes existentes e potenciais de diferenciação. Uma empresa ganha vantagem competitiva, executando estas atividades estrategicamente importantes de uma forma mais barata ou melhor do que a concorrência.
Conforme Porter (1990, p. 35), as atividades de valor da cadeia de valores demonstrados na figura 2, a seguir, podem ser genericamente divididas em atividades primárias, que correspondem às atividades envolvidas na criação física do produto e na sua venda e transferência para o consumidor e, assim, podem ainda ser subdivididas em cinco categorias – Logística Interna, Logística Externa, Operações, Marketing e Vendas e Serviço – e em atividades de apoio – que sustentam as atividades de apoio e a si mesmas por meio do fornecimento de insumos, tecnologia, recursos humanos e outras funções (PORTER, 1990).
Figura 1 - Cadeia de Valores / Fonte: Porter (1990, p.35).
Descrição de imagem: na figura 1, observa-se as atividades de apoio que são demandas de aquisição em uma organização, que compreende: Infraestrutura da empresa, Gerência de Recursos Humanos, Desenvolvimento da Tecnologia e Aquisição. As atividades de apoio suportam as Atividades Primárias, que são: Logística Interna, Operações, Logística Externa, Marketing e Vendas e por último Serviço. As atividades primárias representam a geração de valor da organização (margem).
Michael Porter é um dos pesquisadores clássicos do posicionamento estratégico nas organizações ao enfrentarem as concorrências do ambiente, ou seja, as forças competitivas. Porter (2008) afirma que se pode definir o posicionamento estratégico da organização para superar a concorrência.
São três as estratégias principais do posicionamento estratégico: liderança no custo total, diferenciação e enfoque. O posicionamento em liderança no custo é uma das diferenciações que se aplica em todo o ambiente produtivo. O posicionamento do enfoque refere-se ao mercado e sua participação, e o posicionamento da diferenciação de produzir serviços e produtos com um valor agregado diferente da sua concorrência.
A abordagem na liderança do custo total é como fazer um produto ou serviço com custo menor que a concorrência
Kim e Mauborgne (2005) definem que a criação do valor ocorre quando a organização obtém economias de custo mediante a eliminação e a redução dos atributos da competição setorial e aumenta o valor para os compradores, ampliando e criando atributos que nunca foram oferecidos pelo setor.
Segundo SANTOS (1999, p.46), a gestão estratégica é definida como "o processo de tomada de decisões e a implementação de ações que visa a conceber, desenvolver, implementar e sustentar estratégias que garantem vantagens competitivas a uma organização".
Megliorini (2007) aborda a dimensão da tecnologia que precisa ser utilizada com intensidade para a diferenciação na gestão de custos.
Nesse sentido, os administradores, contadores, engenheiros de produção entre tantos outros profissionais organizam suas atitudes a fim de gerenciar os recursos disponíveis com custo compatível para seus produtos e serviços.
Desta forma, a gestão de custos está relacionada ao gerenciamento inteligente dos gastos que uma organização opera em seus processos produtivos (indústria, comércio e serviço), ou seja, de forma eficiente afim de potencializar suas ações como: melhor margem de lucro; oportunidades de investimentos com resultados esperados; processo decisório mais assertivo; planejamento consciente; entre outros.
A gestão de custos é um ramo da contabilidade, que assim como a contabilidade, classifica, registra, organiza, aloca, relata, organiza os gastos da organização do passado, presente e futuro, gerando um conjunto de informações para auxiliar o processo de gestão dos gestores. Estas informações subsidiam então o processo de gestão que compreende desde o planejamento, execução e controle.
Segundo Santos et al. (2015, p.11)
Dessa forma, pode-se conceituar que o custo como sendo o consumo de ativos necessários para a produção do produto ou para colocação da mercadoria às disposições dos clientes no estabelecimento comercial, de forma que a empresa alcance os seus fins específicos, expressos em termos monetário, ou para prestação de serviços aos clientes.
Quando falamos do Objeto de estudo da gestão de custos, podemos dizer que são muitos, pois ele está relacionado em como a organização se estrutura, sendo os principais objetos os relacionados aos processos produtivos e processos administrativos, ou seja, os produtos que são fabricados, comercializados e serviços prestados. Neste processo de produção existem os estoques de insumos, estoque de produtos acabados, mão de obra direta, entre outros.
Toda ciência possui seus objetivos e a contabilidade ou gestão de custos não poderia ser diferente, podemos elencar alguns objetivos:
a) Fornecer informações para o processo decisório de uma organização, em seus mais diversos níveis hierárquicos (gerenciais), para as etapas de planejamento, execução e controle. Estas informações auxiliam na formação do preço de venda, quantidades a serem produzidas, redução de gastos, melhoria de processos etc.
b) Comparar por meio do controle de custos os gastos planejados e realizados, apurando assim os pontos de atenção e melhoria de desempenho. Sendo assim, o custo subsidia outra ferramenta de gestão chamada orçamento.
c) Determina o lucro da organização (rentabilidade e lucratividade), por meio da apuração do resultado de determinado período.
d) Permitir a avaliação de estoques para atender demandas legais e fiscais.
e) Apurar o custo dos produtos fabricados ou produzidos e dos serviços prestados, em caso de empresas comerciais o custo da mercadoria vendida.
Indico a leitura do artigo Evolução Histórica da Contabilidade e dos Sistemas de Gestão de Custos para compreender um pouco do contexto histórico da gestão de custos e a relevância para as organizações. A gestão de custos como um instrumento para alcançar os resultados desejados e garantir o aumento de produtividade e lucratividade. Boa leitura!
A importância da gestão de custos nas organizações, atualmente, é ponto crítico de sucesso, pois conhecer os custos operacionais torna-se uma informação estratégica para a manutenção da organização em seu ambiente e promove seu crescimento, mas existem alguns pontos de destaque:
Os benefícios com um software de gestão são inúmeros, podemos citar alguns:
a) Aumento de Lucros;
b) Melhor eficiência operacional e administrativa;
c) Garante competitividade no mercado;
d) Permite analisar os gastos, suas classificações e impactos nos resultados;
e) Permite encontrar seu ponto de equilíbrio econômico e financeiro.
Em relação aos conceitos básicos é importante você entender corretamente os conceitos referentes à gestão de custos. A relevância deste tema está também relacionada à comunicação, pois a gestão de custos inicia na comunicação entre colaboradores ou áreas de uma organização, onde precisamos entender os eventos operacionais e administrativos que ocorrem na organização para poder registrar estes eventos de forma adequada e gerar informações ao processo decisório.
Além da comunicação, as corretas compreensões dos seis itens, a seguir, conceituados indicam uma boa prática de gestão, pois pode parecer que eles representam as mesmas coisas para pessoas com pouco conhecimento na área econômica e financeira, mas a correta classificação influência em diversas outras dimensões de gestão econômica e financeira de uma empresa, como a gestão de fluxo de caixa, elaboração do balanço patrimonial, análise de indicadores, elaboração de projeções, entre outros.
Outro ponto relevante após uma correta classificação é compreender quais são os produtos e serviços que apresentam margens de contribuição suficientes para que a empresa possa ter lucro econômico e financeiro em suas operações.
A necessidade da classificação está interligada com a própria ciência contábil, que precisa evidenciar a informação para sua finalidade e funcionalidade a que se destinam.
O futuro demanda uma competição digital cada vez mais acirrada. Desta forma, o acesso às informações certas no momento adequado para o processo decisório torna-se fator crítico de sucesso. Muitos são os desafios para a gestão de custos das organizações, mas eu gostaria de citar algumas:
a) Acompanhar as mudanças tecnológicas;
b) Acompanhar as normativas nacionais e internacionais das práticas contábeis;
c) Atender demandas de reportes (relatórios) mais adequados ao processo decisório;
d) Capacitação em ferramentas de gestão de informações, como exemplo o BI (business inteligence) entre outras.
Agora, eu e você estaremos conversando sobre os seguintes termos: Gastos, Custos, Despesas, Investimentos, Perdas e Desperdício, segue:
Gastos
A terminologia de gasto é um conceito amplo na gestão de custos. De acordo com Wernke (2005), gasto é uma terminologia utilizada para descrever as operações ou transações econômicas/financeiras realizadas por uma organização. Estas operações se materializam por meio de obrigações contraídas com terceiros, sejam fornecedores, bancos, colaboradores entre outros. Estas obrigações podem estar relacionadas à aquisição de matérias-primas, mão de obra, insumos em geral. O gasto está relacionado a todas as operações que precisam do seu respectivo pagamento em algum momento, sejam de ordem operacional ou administrativa, assim como operações de investimentos.
Custos
Todo e qualquer valor (gasto), que é aplicado no processo produtivo de mercadorias e oferta de prestação de serviços, é classificado como um custo. Como exemplos de gastos classificados como custo, temos: matéria-prima, energia elétrica, água, mão de obra, manutenção de máquinas e equipamentos, aluguel da fábrica, entre outros.
Em uma dimensão financeira são os recursos aplicados diretamente nos processos de produção ou da oferta de serviços que atendem às atividades fins da organização. Sem o custo uma empresa não consegue realizar seus fins, ou seja, o custo é um fator elementar para a geração de receitas e obtenção de lucros. O importante é a organização encontrar uma relação entre o aumento das receitas relacionadas ao aumento de custos e possível aumento dos lucros, o que nem sempre é possível.
Na visão de Martins et al. (2015, p. 9) é a expressão monetária do consumo, da utilização ou da transformação de bens ou serviços no processo de outros bens ou serviços. Ou seja, todo gasto, desde o início até a finalização da produção de um produto ou a prestação de um serviço é considerado um gasto classificado como Custo.
Despesas
Poderíamos iniciar a conceituação de despesas informando que despesa não é custo, pode parecer óbvio, mas este é um ponto de maior erro de compreensão por quem não tem conhecimento sobre o tema de gestão de custos. Despesa é o que não está relacionado ao processo de produção de produtos ou mercadorias e a oferta de serviços. Iniciando uma conceituação mais técnica corresponde aos recursos desembolsados no processo de administração geral da organização, assim como o objetivo de manter as atividades da empresa para a geração de receitas. As despesas, assim como os custos reduzem seu lucro, mas são gastos necessários para o funcionamento da organização, exemplo de despesas são: gasto com propaganda, comissões de venda para os vendedores, salários de áreas administrativas, entre outros.
Desperdícios
Os gastos que estejam ocorrendo na organização, que não agregam valor as suas atividades são compreendidos como desperdícios, pois eles não agregam valor nem para a organização e nem para o cliente, ou seja, todos perdem neste processo. O desperdício afeta o lucro de uma empresa, reduzindo-o.
Como exemplo de desperdícios, podemos citar vários fatores:
Excesso de estoques de produtos acabados ou matéria-prima;
Transporte: movimentações de produtos, itens, equipamentos de forma desnecessária;
Ociosidade de tempo das equipes (pessoas) ou de máquinas e equipamentos;
Excesso de produção além da demanda de vendas, ocasionando o item 1, excesso de estoques;
Fabricação de produtos com defeito ou serviços prestados fora do desejado pelo cliente.
Perdas
Claro que a perda é algo não desejado em qualquer momento da vida de uma pessoa física ou uma pessoa jurídica (organizações), mas elas acontecem e afetam os resultados de uma empresa, redução de seus lucros e margens de lucratividade. A perda ocorre em eventos indesejados (anormais) no ambiente produtivo ou administrativo de uma empresa, elas não fazem parte das operações, mas ocorrem. As perdas em grande parte não podem ser previstas de ocorrerem, mas muitas organizações se preparam para evitá-las, por meio de mecanismos de prevenção.
Exemplos de situações que podem gerar uma perda são: incêndios, acidentes, inundações, furtos, roubos entre outros.
Investimentos
Um gasto necessário para a continuidade de uma organização são seus investimentos, ou seja, todo gasto desembolsado na expectativa de aumentar os resultados da empresa no futuro. Por exemplo, na compra de uma máquina para o processo de produção, item este que geralmente despende grandes montantes de recursos financeiros para sua aquisição, precisam contribuir com vários períodos de resultados da empresa, meses e anos. Importante também no exemplo citado, que a compra desta máquina pode possibilitar um aumento de produção e aumento de vendas.
Uma outra abordagem é compreender que o investimento é um alto gasto inicial em um objeto que irá contribuir nos resultados de médio e longo prazo da empresa. O pagamento deste investimento com o passar do tempo se deve ao aumento de produção, vendas e resultados.
Antes da realização de um investimento, estudos são necessários para projetar o uso deste novo objeto e seus resultados futuros, pois este investimento pode tornar-se uma perda.
Exemplo de investimentos são: aquisição de uma nova máquina, de um terreno, de um prédio, de instalações, veículos, entre outros.
Na Figura 2, a seguir, conforme Wernke (2005), temos uma síntese dos conceitos vistos até este momento:
Figura 2: Síntese das Definições Básicas / Fonte: Wernke (2008).
Descrição de imagem: na Figura 2, uma síntese das principais definições para Gasto (Abrange os Demais Conceitos), Perda (Gasto involuntário, desejado), Custo (Gasto no processo de fabricação), Desperdício (Gasto que não agrega valor do ponto de vista do cliente), Despesa (Gasto administrativo para obter receita) e Investimentos (Gasto ativado com expectativa de benefício futuro) na visão de Wernke (2008).
Além dos conceitos observados até este momento, outras 4 variáveis precisam ser compreendidas. Todo gasto pode ser um Custo ou uma Despesa, além desta classificação outras quatro precisam ser realizadas, se o custo ou despesa são:
a) Variável ou Fixo;
b) Direto ou Indireto.
Na figura, a seguir, temos uma visão geral dos critérios de classificação de um gasto:
Figura 3 - Resumo dos Conceitos e Classificações / Fonte: Perez Jr. et al. (2010) .
Descrição de imagem: a Figura 3 ilustra de forma sistemática as relações de Custo e Despesas. Tanto custos como despesas, derivam-se em Fixos e Variáveis. A figura ilustra as diferenças conceituais entre custos e despesas, fixos e variáveis.
As despesas podem ser classificadas em fixas ou variáveis. Conforme Figura 3, a despesa fixa não varia conforme volume de vendas de uma empresa, ou seja, independente da organização comercializar uma unidade ou várias unidades de seu produto, este desembolso de dinheiro irá ocorrer e não está vinculado à quantidade de produtos vendidos. Exemplo de despesas fixas são: aluguel, material de escritório, despesas administrativas entre outros.
As despesas variáveis estão vinculadas de forma direta ao volume de vendas (receitas) da organização. Elas irão ocorrer de forma proporcional a este aumento de vendas. Um exemplo clássico de despesas variável é a comissão de vendedores sobre as vendas realizadas.
Em relação aos custos, a classificação é diferente da despesa na relação ao volume de vendas, aqui, a variação da produção que irá determinar as classificações em fixa ou variável. O custo fixo ocorre independente do montante de produtos produzidos, assim como os custos variáveis ocorrem conforme o volume de produção.
Os outros dois critérios de classificação dos Custos e Despesas são: Direto ou Indireto.
Os custos direto são gastos que possibilitam serem identificados de forma objetiva por meio de sistemas de controle do sistema produtivo. Quando não existem estes controles, a apropriação dos gastos deve ocorrer por meio de rateios, ou seja, de forma subjetiva.
Despesas diretas são, nada mais, do que as despesas variáveis, pois são as despesas que estão diretamente (por isso do nome) ligadas à atividade-fim da empresa, ou seja, à produção e venda do produto ou serviço.
Após a compreensão da classificação dos gastos, as metodologias de custeio determinam o valor apropriado aos produtos produzidos ou serviços prestados.
Os métodos de custeio, dependendo de sua metodologia, podem ter finalidades e objetivos específicos. Estas metodologias existem para atender às necessidades das empresas. As principais finalidades dos métodos de custeio são de medir, avaliar, mensurar os objetos de estudo da gestão de custos, desta forma, os métodos de custeio contribuem na geração de informações para os mais diversos usuários e, assim, contribuir em seus processos decisórios de forma confiável, relevante e oportunas.
Para Megliorini (2007, p. 2), “existem diferentes métodos de custeio, que são adotados de acordo com os objetivos visados pela empresa”.
Os métodos de custeio determinam o valor de custo a ser imputado a um único produto produzido, serviço ou mercadoria. O método de custeio é o caminho a ser percorrido que determina o resultado (lucro ou prejuízo) da comercialização de um produto, serviço ou mercadoria. O método de custeio precisa do detalhamento dos custos de produção e a sua adequada classificação.
Por que as determinações dos valores unitários de custos de cada unidade produzida são importantes? Porque estes dados, por exemplo, são utilizados para determinar o valor dos estoques, que serão informados à contabilidade para elaboração das demonstrações financeiras, o valor unitário também ajuda na determinação da rentabilidade de cada produto, contribui na formação do preço de venda, na eliminação de produtos com altos custos de fabricação, na ampliação de linhas produtivas rentáveis etc.
Uma sugestão de um vídeo para que você possa se inspirar é a história de superação de alguns participantes de um vídeo sobre a gestão de custos produzido pelo SEBRAE do Estado de São Paulo.
Os métodos de custeio que existem na literatura e na prática são inúmeros. A organização precisa escolher o método que mais esteja aderente a forma de mensuração de seus gastos de produção. Esta escolha nem sempre é um processo fácil, porque sua escolha depende dos objetivos e necessidades de cada empresa e cada método possui suas vantagens e desvantagens.
Na Figura 4, a seguir, é possível observamos um modelo de método de custeio, que demonstra por meio de um fluxograma como os custos são apropriados até obter o custo de produção. A Figura também demonstra como acontece uma alocação de gastos do que chamamos na literatura de metodologia tradicional, observem na figura os custos indiretos e sua apropriação.
Figura 4 - Custo de Produção – Metodologia Tradicional / Fonte: Hofer et al. (2007).
Descrição de imagem: na Figura 4, observa-se ao lado direito os Custos de Produção, que é o objeto a ser mensurado, todos os eventos de gastos, que compreendem os custos indiretos (energia, manutenção, administrativo etc), que são rateados aos custos de produção, que somam-se aos Insumos e Mão de Obra. O resultado final são os Custos de Produção.
Observe que a análise e a interpretação da figura iniciam-se com os custos indiretos, parte-se do princípio que a organização classificou seus custos em direto e indireto de forma prévia.
Os custos indiretos indicados na Figura 4, que possui como exemplo gastos com energia, água, qualidade, manutenção, administrativo da produção são alocados aos custos de produção indicado na figura por meio de rateio (base de rateio). Depois da base de rateio, estes gastos são apropriados aos custos de produção.
Os custos diretos da figura são Insumos e Mão de Obra, que são apropriados aos custos de produção sem interferência de bases de rateio.
A compreensão de rateio é uma forma de divisão dos gastos (custos), estes gastos são concentrados em uma base de valores para rateio (base de rateio). Esta divisão considera critérios de apropriar os custos indiretos de forma indireta aos produtos. Esta divisão pode levar certo grau (maior ou menor) de subjetivismo. Modelos matemáticos ou estatísticos podem contribuir na diminuição do subjetivismo.
Os exemplos de custos mais comuns que são rateados em função da sua própria natureza são: aluguel, depreciação, energia elétrica, seguro patrimonial, materiais indiretos, mão de obra indireta entre outros.
Os métodos de custeio mais utilizados e citados na literatura são:
a) Custeio por absorção;
b) Custeio Variável.
c) Custeio RKW;
d) Custeio por atividades;
Custeio por Absorção
Para Megliorini (2001, p. 3), o método de custeio por absorção é mais antigo das metodologias. É o método que aloca aos produtos produzidos ou fabricados todos os custos inerentes ao processo fabril, sejam direto ou indiretos, fixo ou variável. Nesta metodologia, os custos fixos indiretos serão atribuídos ao produto em forma de rateios. É uma metodologia considerada tradicional.
Este método no Brasil é aceito pela legislação fiscal para a valoração dos estoques e tem sua padronização fiscal a longa data.
Para Martins (2003, p. 37) custeio por absorção:
[...] consiste na apropriação de todos os custos de produção aos bens elaborados, e só os de produção; todos os gastos relativos ao esforço de produção são distribuídos para todos os produtos ou serviços feitos.
Este método para fins gerenciais possui limitações, devido principalmente aos rateios realizados para os produtos e serviços que possuem certa subjetividade. Os rateios dos custos indiretos de fabricação, que são absorvidos para as unidades produzidas, são considerados de certa forma como arbitrários, não atribuindo o custo real ao produto ou serviço.
Padoveze (2006) contrapõe que além de ser um método de custeio aceito pela legislação fiscal e contabilidade financeira é um método menos oneroso em seu processo de implantação e manutenção com o tempo.
Na Figura 5 é possível observar o processo completo do funcionamento do método de custeio por absorção:
Figura 5 - Fluxo do Método por Absorção – Metodologia Tradicional / Fonte: Martins (2000, p.62).
Descrição de imagem: Martins demonstra na figura 5, a distinção entre o que é Custos e Despesas. Os custos se dividem em Indiretos e Diretos, nos quais os custos indiretos são rateados aos produtos produzidos. O resultado final apresentado na figura, demonstra o valor da Vendas, menos Custos e Despesas.
Reforçando pela Figura 5 que os custos diretos são alocados direto aos produtos A, B e C, enquanto os custos indiretos são alocados via rateio.
Para obtermos o resultado final da organização conforme Figura 5, observa-se o valor da Vendas, menos as despesas e menos os custos de produtos vendidos.
Custeio Variável
Para Megliorini (2012), diferente do custeio por absorção, no custeio variável somente os custos variáveis são alocados aos produtos e serviços. Complementando esta abordagem Leone (1997, p. 322) argumenta que:
[...] fundamenta-se na ideia de que os custos e as despesas que devem ser inventariáveis (debitados aos produtos em processamento e acabados) serão apenas aqueles diretamente identificados com a atividade produtiva e que sejam variáveis em relação a uma medida (referência, base e volume) dessa atividade. Os demais custos de produção, definidos como periódicos, repetitivos e fixos, serão debitados diretamente contra o resultado do período.
Nesta metodologia, o contraponto é que a organização consegue evidenciar os custos fixos, que são gastos que ocorrem e não tem variação com o volume da produção, ou seja, a estrutura fixa da organização. Desta forma, a organização evidencia de uma parte os custos variáveis que são alocados aos produtos e serviços resultando em uma margem, chamada de margem de contribuição.
A margem de contribuição é o resultado da receita operacional menos os custos variáveis. O resultado encontrado deverá contribuir para pagar os custos fixos da organização, por isso, a terminologia “contribuição”.
No Quadro 1, a seguir, o resumo das vantagens e desvantagens deste modelo:
Quadro 1 - Vantagens e Desvantagens do Método Custeio Variável / Fonte: Bubois, Kulpa e Souza (2006, p.130)[ACCdSB1] [VVB2]
Custeio RKW (Método das seções homogêneas)
Nesta metodologia, a organização é dividida em centros de custos, assim os custos primeiramente são alocados aos centros de custos e depois alocados por bases de distribuição aos produtos e serviços. Os gastos são integralmente alocados a todos os produtos e serviços (custos e despesas).
As criações dos centros de custos, na grande maioria das implantações, estão vinculadas ao organograma hierárquico da empresa, ou seja, cada área pode ser um centro de custo. O centro de custo é uma unidade de controle, que pode ter um responsável pelo seu acompanhamento, na maioria dos casos o gestor daquela área.
A implantação do método de custeio RKW pode ser sintetizado em algumas etapas, sendo:
a) Primeiro a classificação dos gastos, no caso os custos;
b) Implantação da divisão da empresa em centros de custos;
c) A identificação dos custos do item A agora alocados para cada centro de custo;
d) Como no método custeio por absorção, agora, alocamos os centros de custos das áreas indiretas para os centros de custo classificados como direto;
e) Apropriação dos custos que foram alocados nos centros de custos para os produtos e serviços (fase final da alocação de custos).
Custeio por Atividades
Com o avanço das tecnologias nos últimos anos e a intensificação da competição corporativa mundial, a gestão dos recursos torna-se ponto imperativo para a sobrevivência das organizações. A demanda por informações econômicas e financeiras cada vez mais assertiva, torna-se item básico de perenidade. Neste contexto são necessárias metodologias de custeio mais alinhadas a este mercado competitivo e o Custeio por Atividades, ou Custeio Baseado por Atividades (ABC) é uma destas metodologias mais contemporâneas.
O ABC é um método de custeio que aloca os gastos por meio de direcionadores, primeiro aloca para as atividades para depois alocar aos produtos ou serviços ofertados. Esta metodologia surgiu na década de 80.
No Quadro 2, as vantagens e desvantagens do método Custeio ABC:
Quadro 2 - Vantagens e Desvantagens do Método ABC / Fonte: Nakagawa (1994) .
Não deixe de ouvir o Podcast sobre Custos Ocultos. Os custos ocultos são gastos que ocorrem nas organizações que não conseguimos trazer para a “LUZ”, ou seja, o trazer para a luz é elucidar esta informação na contabilidade. Muitos eventos de gastos que ocorrem na organização, não são registrados de forma adequada e, desta forma, podemos ter uma informação com dados incorretos.
Não deixe de assistir o Na Prática, no qual estamos abordando o tema da gestão de custos e como as organizações se utilizam das ferramentas de custos na prática do seu dia a dia, não deixe de assistir.
Até este momento, eu e você observamos a importância da gestão de custos e as principais classificações a serem realizadas na prática na gestão de custos. A classificação adequada determina uma correta mensuração dos eventos operacionais de uma organização e, assim, determina a qualidade dos relatórios e análises que serão realizados para o processo decisório.
A carreira na área de gestão de custos, o que alguns também chamam de contabilidade de custos, possui um campo de oportunidades imenso, pois por meio da gestão de custos mensuramos os valores dos custos e despesas de uma organização e, assim, podemos estimar seus resultados presente e do futuro.
Muitas são as competências desejadas para o desempenho profissional desta área, aqui, elencamos três:
Conhecimento dos tipos de gastos que uma organização realiza;
Entender o impacto dos novos investimentos a realizar pela organização e seus impactos nos custos;
Gerar e analisar relatórios de custos e indicar as melhores decisões ao processo decisório.