"POPULARES", de Mario Amaral (SP)

Popular: adjetivo que qualifica aquilo que pertence ou que é relativo ao povo. Em “Populares”, o autor se autorretrata, trazendo imagens que levam o espectador a soltar a imaginação para descobrir qual expressão popular esta se refere, muitas vezes feita explorando o humor e uma certa dose de surrealismo. O trabalho também busca apresentar a explicação e a origem dessas expressões idiomáticas* brasileiras, sendo uma forma de evidenciar a história e o desenvolvimento da comunicação na língua portuguesa dentro de um contexto cultural. 

* Expressões idiomáticas são recursos da fala e da escrita, que ganham novos sentidos conotativos e ultrapassam seus significados literais quando aplicados em contextos específicos.

Galeria de Imagens

Da pá virada

A origem da palavra é em relação ao instrumento, a pá. Quando ela está virada para baixo é inútil e não serve para nada. Hoje em dia, "pá virada" tem outro sentido. Refere-se a uma pessoa de maus instintos e criadora de casos ou a um aventureiro. Um sujeito da pá virada pode tanto ser um aventureiro corajoso como um vadio.

Cheio de nove horas

No século XIX a marca das nove horas da noite era uma espécie de regulador da vida social brasileira. Quando o relógio marcava 21 horas, era hora de se despedir das visitas e se recolher. Estender-se não pegava bem. Aqueles avistados pelas ruas depois das nove horas eram associados à boemia, aos pândegos. 

Uma pessoa cheia de nove horas é, portanto, aquela pessoa meticulosa, cerimoniosa, apreciadora de regras e restrições, afeita aos códigos sociais que muitas vezes apenas complicam o que é simples. A expressão é utilizada para dizer daquela pessoa cheia de frescuras e manias.

Engolir sapos

A origem da expressão deu-se por umas das histórias escritas na Bíblia: As pragas do Egito. Uma das pragas constituída pela invasão de milhares de rãs, por todo território egípcio. Durante a preparação e a ingestão de alimentos, lá estavam os anfíbios. os animais não apenas invadiam os ambientes, cozinhas, quartos, banheiros-, como também os copos e pratos dos habitantes do reino. Daí o significado: Suportar situações desagradáveis sem qualquer manifestação.

Estar com a macaca

No português, além de designar símios, ela está associada a um comportamento agitado e histérico entre outros adjetivos desvairados. Pode estar associada a outras duas palavras africanas: em quicongo, maka'aka refere-se a ataques de riso em ritos religiosos; em conguês, omakaka é gargalhar. Logo a expressão também tem a ver com euforia e êxtase. 

Botar as barbas de Molho

Usamos essa expressão quando precisamos tomar alguma cautela, ficar atentos ou prevenidos. O termo provavelmente deriva de um provérbio espanhol que diz: "quando você vir as barbas de seu vizinho pegarem fogo, coloque as suas de molho." A ideia sugere que, ao vermos algo de ruim acontecer com pessoas próximas, devemos nos proteger para que o problema não nos atinja. Ao colocar as barbas na agua, estaremos a salvo do incêndio. A barba, durante a antiguidade e a idade Média, costumava ser sinônimo de honra e poder. Tê-la cortada ou raspada por seus inimigos significava, portanto , uma grande humilhação.

Ter sangue de barata

A barata, assim como a maioria dos insetos, não tem sangue (possuí um fluido chamado hemolinfa, que é transparente e não apresenta pigmentos). Dizem que o sangue é condutor de nossa sensibilidade ao coração. Assim, a pessoa referenciada com a expressão seria insensível, agindo portanto com frieza, já que o inseto não possui o sangue "tradicional". Dizemos que alguém tem sangue de barata quando a pessoa não reage a provocações ou situações desagradáveis, conseguindo ficar calma até nas horas mais difíceis. 

Estar com a cabeça a prêmio

No velho oeste americano quando um bandido era procurado pela justiça e era oferecido recompensa para quem o prendesse, dizia-se que o mesmo estava com a cabeça a prêmio. A expressão significa que você está se expondo, dando a sua opinião, correndo riscos.

Colocar panos quentes

Em termos terapêuticos, colocar panos quentes é uma receita, embora paliativa, prescrita pela medicina popular desde tempos remotos. Recomenda-se sobretudo nos estados febris, pois a temperatura muito elevada pode levar a convulsões e a problemas daí recorrentes. Nesses casos, compressas de panos encharcados com água quente são um santo remédio. A sudorese resultante faz baixar a febre. A expressão significa favorecer ou acobertar coisa errada feita por outro.

Chorar as pitangas

O nome pitanga vem de pyrang, que, em tupi, significa vermelho. Portanto, a expressão se refere a alguém que chorou muito, até o olho ficar vermelho. Desde suas origens, essa expressão tem o sentido de "queixar-se", "lamuriar-se". Ela surgiu no Brasil como uma adaptação, influenciada pelos povos indígenas, de uma frase portuguesa muito usada entre os lusitanos: "chorar lágrimas de sangue".

Na língua tupi, a palavra pitanga significa "vermelho". Assim, chorar as pitangas seria o mesmo que verter muitas lágrimas, até os olhos ficarem avermelhados.

Com a corda toda

Antigamente, os brinquedos que possuíam movimento eram acionados torcendo um mecanismo em forma de mola ou um elástico, que ao ser distendido, fazia o brinquedo se mexer. Ambos os mecanismos eram chamados de "corda". Logo, quando se dava "corda" totalmente num brinquedo, ele movia-se de forma mais agitada e frenética. Daí a origem da expressão.

Mario Amaral (SP)

Mario Amaral trabalha com retratos e fotografia autoral. Com seu interesse pela pluralidade e complexidade humanas, busca através do processo fotográfico, instigar possibilidades de empoderamento no fotografado e novas descobertas de sutilezas, fragilidades e faces poéticas da beleza até então nunca percebidas. Mario se interessa por uma estética minimalista na composição das suas imagens, elementos da natureza e tons neutros. Além disso, investiga a pluralidade e complexidade do psiquismo e das produções culturais humanas. Nasceu no Rio de Janeiro, mas vive e trabalha em SP desde 1993. As formações artísticas foram em São Paulo – Fotografia Digital no Instituto Internacional de Fotografia; Fotografia na Escola Panamericana de Arte e Design; Workshop de Retrato, com o fotógrafo Victor Affaro; e Mentoria em projetos autorais com a artista visual Sylvia Sanchez.