"abaeté - raízes d'água", de Ana Pedrosa (BA)

abaeté - raízes d'água

essa série fotográfica foi realizada às margens da lagoa do abaeté, na ocasião da exposição individual motumbá, abaeté, que realizei através do edital ocupe seu espaço - secultba, no equipamento cultural casa da música, no bairro itapuã, salvador/bahia. a série fotográfica presente na ocupação multimídia motumbá, abaeté, foi uma parceria realizada junto à arte-educadora graça maria, em que saudamos a lagoa enquanto entidade natural, que carrega e produz histórias, narrativas e imaginações relacionadas à resistência, ao sublime e à ancestralidade. motumbá é um pedido de bênção, na língua yorubá, trasladada na afrodiáspora brasileira. as lavadeiras/ganhadeiras do abaeté, sabemos, sobrevivem historicamente das águas do abaeté, o complexo sociocultural e econômico da região do abaeté tem nele sua sustentação, sobretudo simbólica. são muitas as canções que cantaram o abaeté: «no abaeté tem uma lagoa escura/ arrodeada de areia branca/ ô de areia branca/ ô de/ areia branca/ de manhã cedo/ se uma lavadeira/ vai lavar roupa no abaeté/ vai se benzendo/ porque diz que ouve/ ouve a zoada/ do batucajé» (dorival caymmi- a lenda do abaeté- 1954), «itapuã, tuas luas cheias, tuas casas feias/ viram tudo, tudo, o inteiro de nós/ itapuã, tuas lamas, algas, almas que amalgamas/ guardam todo, todo, o cheiro de nós/ abaeté, essa areia branca ninguém nos arranca/ é o que em deus nos z/ nada estanca em itapuã/ ainda sou feliz» (caetano veloso- itapuã- 1991). da lagoa ainda nasceu o saudoso grupo musical-performático as ganhadeiras de itapuã (https://www.instagram.com/asganhadeirasdeitapua/), que canta as memórias das nossas tradições culturais.

em ocasião da exposição motumbá, abaeté e como atividade integrada à exposição, oferecemos a oficina narrativas fotográficas às mulheres que viviam entorno da lagoa e às quais tinham com a lagoa uma relação de pertença, de afetividade e de um cotidiano de vivência, trabalho, religiosidade ou familiar. a proposta era da realização de uma vivência fotográfica, em que suas narrativas singulares, de certa forma, fossem contadas. foi uma experiência conjunta fortíssima para todas nós, e muitas das mulheres participantes nunca tinham sido saudadas com um ensaio fotográfico sobre elas. toda a vivência, conversas, afetos e partilhas entorno da lagoa, com a lagoa, gerou essa série forte, que aqui nomeamos de abaeté - raízes dágua. a lagoa do abaeté pertence à área de proteção ambiental parque metropolitano lagoas e dunas do abaeté e tem sofrido, sobretudo nos últimos anos, com ataques ao seu patrimônio ambiental, imaterial e sociocultural. muitas têm sido as movimentações realizadas para proteger o parque metropolitano do abaeté, suas águas, dunas, florestas, sua importância ambiental, cultural, espiritual e simbólica, por agentes culturais, religiosas e zeladoras de matriz africana, políticas, e sobretudo pela sociedade civil que sabem do abaeté como uma riqueza de raiz cultural e ancestral. destaco a organização abaeté viva (https://www.instagram.com/abaeteviva/). aqui, na exposição abaeté - raízes d’água, podemos conhecer algumas das narrativas das mulheres que fazem parte desse ecossistema vivo chamado lagoa do abaeté e que, certamente, são abençoadas pelas donas das águas, do vento, da terra, das matas. viva o abaeté!

Galeria de Imagens

Ana Pedrosa (BA)

Ana Pedrosa é artista visual, poeta e pesquisadora antimanicomial. Graduada em Artes Plásticas pela Escola Guignard/UEMG, com habilitação em Fotografia e Gravura em Metal.

Mestra em Estudo de Linguagens pelo PPGEL/UNEB e Doutoranda em Literatura e Cultura pelo PPGLitCult/UFBA. Desde 2008 atua nos cruzos entre letra e matéria, palavra e visualidades, entre pintura, desenho, bordado, fotografia e audiovisual. Realizou exposições individuais e coletivas pelos Estados de MG, BA, PE, CE, RJ e SP. 

Foi premiada pela X Mostra da Escola Guignard/UEMG e indicada ao prêmio de Artes Plásticas nas categorias melhor artista, melhor poética e melhor técnica, no FESTCC/Portugal. Geriu, curou e participou das Residências Artísticas do Festival Transborda e Espaço Fluxo. Lançou seis livros de poesia, destacando o atual Boa Chuva (Editora TAUP). Participou de quatro antologias e foi contemplada pela 4a Edição do Programa de Bolsas Artísticas da Incubadora DAO. Atuou com mediações e curadorias em arte antimanicomial em Minas e Bahia. Integra o grupo de pesquisa Corpus Dissidente/UFBA. Idealizou e coordena a Revista Dissonante e assina o selo Candeia: Objetos de Arte.