As leucemias linfocíticas podem ser do tipo aguda, quando a mutação ocorre em células jovens, precursoras de linfócitos, como os linfoblastos, gerando leucemia linfocítica aguada (LLA), ou do tipo crônica, quando as mutações ocorrem em linfócitos maduros encontrados em sangue periférico ou até mesmo linfócitos que já apresentam maturação, como os pró-linfócitos, originando a leucemia linfoide crônica (LLC).
Assim como na leucemia mielóide aguda (LMA), as LLA têm, como células multadas, precursores chamados de blastos, apresentando características semelhantes a outras células jovens (núcleo grande, cromatina frouxa, nucléolos, citoplasma agranular e basofílico). Contudo, como eles pertencem à linhagem linfoide, são denominados linfoblastos. Na LLA, há linfoblastos em sangue periférico ou medula óssea que, geralmente, acompanham leucocitose, plaquetopenia e anemia, sendo essas duas últimas alterações encontradas de forma moderada ou acentuada, decorrente da infiltração da medula óssea provocada por células leucêmicas (medula óssea hipercelular). A grande maioria dos pacientes com LLA são crianças, com idade média de 3 a 5 anos. Para essa doença, a imunofenotipagem é essencial, já que identifica se o clone celular pertence à linhagem linfocítica e o tipo de linfócito que está envolvido B ou T.
A LLC é uma patologia predominantemente em pessoas mais velhas, apresentando picos de incidência em indivíduos com idade de 65 anos, aproximadamente. Em 99% dos casos de LLC, a célula transformada é um linfócito B que prolifera lentamente, não responde a estímulos antigênicos e acumula no sangue, linfonodos e outros órgãos, pois não entra em apoptose. No hemograma, é possível observar aumento do número de linfócitos, podendo apresentar linfocitose acima de 5.000 linfócitos/microlitro. Os sujeitos também podem apresentar anemia, neutropenia e trombocitopenia. Essas alterações, quando presentes, mostram-se mais discretas, quando comparadas às leucemias agudas. Os linfócitos leucêmicos são mais frágeis e restos nucleares são comuns na extensão sanguínea, sendo chamados de sombras de Gumprecht. A quantidade de sombras de Gumprecht é proporcional à quantidade de linfócitos clonados. Morfologicamente, os linfócitos leucêmicos são semelhantes aos linfócitos normais. No entanto, podem apresentar cromatina com maior grau de condensação e citoplasma basofílico e escasso. 4 a 25% dos pacientes de LLC podem desenvolver uma anemia hemolítica de causa autoimune. Nos casos de LLC, a imunofenotipagem também é essencial, pois permite identificar se o clone pertence aos linfócitos do tipo B ou T.
Dessa forma, o objetivo desta aula é avaliar os esfregaços sanguíneos de pacientes com LLA e LLC, em microscopia tradicional, a fim de exibir as principais alterações e as células envolvidas na patologia.
Lâmina corada de LLA e LLC
Óleo de imersão
Papel absorvente
Microscópio
Atlas hematológico
Contador de leucócitos
Ajustar o esfregaço sanguíneo na mesa do microscópio
Regular a luz do microscópio: intensidade no máximo, diafragma aberto, condensador alto (não encostar o condensador na lâmina)
Focalizar o esfregaço sanguíneo em objetiva de 100x (começando pela objetiva de menor aumento até de maior aumento)
Escolher a região da lâmina em que será realizada a análise (campo bom no final do corpo e começo da cauda do esfregaço)
Para a contagem diferencial de leucócitos, o esfregaço deve ser percorrido em zigue-zague. A lâmina deve ser atravessada pelo menos uma vez (assim como é feito na avaliação dos eritrócitos). Em caso de intensa leucocitose, assim como ocorre na maioria dos casos de leucemia, a contagem diferencial de leucócitos pode chegar a 200, 300 ou mais células, ao contrário da análise de 100 leucócitos diferentes
Com o auxílio de um contador hematológico, realizar a contagem diferencial de 100 leucócitos
Durante a contagem diferencial de leucócitos, verificar se não há a presença de células jovens com características sugestivas de blastos
Caso haja a presença de células jovens, associar o achado com o valor de leucócitos totais, plaquetas e hemoglobina
Pesquisar alterações, como manchas de Gumprecht, valores de plaquetas e possíveis alterações sugestivas de hemólise
Interpretar os resultados e emitir o laudo
Imagem 1 - Esfregaço sanguíneo de paciente com LLA
Fonte: a autora.
A imagem mostra dois linfoblastos que apresentam as características de célula jovem (blastos): núcleo grande, cromatina frouxa, nucléolos, citoplasma agranular e basofílicos.
Imagem 2 - Esfregaço sanguíneo de paciente com LLC
Fonte: a autora.
No esfregaço do paciente com LLC, é possível observar o predomínio de linfócitos com intensa condensação de cromatina (seta preta), não sendo possível distingui-los dos linfócitos normais. Também são visíveis manchas ou sombras de Gumprecht (seta vermelha). As manchas de Gumprecht são derivadas de linfócitos leucêmicos rompidos durante a confecção do esfregaço sanguíneo.
1) Defina as características observadas no hemograma de um paciente com LLC.
1) Aumento do número de linfócitos (acima de 5.000 linfócitos/microlitros), anemia, neutropenia, trombocitopenia (discretas ou moderadas) e sombras de Gumprecht.
SILVA, P. H. da et al. Hematologia laboratorial: teoria e procedimentos. Porto Alegre: Artmed, 2016.