Sobre o Projeto de Salas de Leitura

De 1989 a 1992, durante a gestão da prefeita Luiza Erundina, o município de São Paulo vivenciou uma experiência singular em termos de educação. Tendo como inspiração e fundamento as ideias de Paulo Freire, então Secretário Municipal de Educação, as escolas, seus diretores, coordenadores, professores, funcionários, alunos, pais e comunidades foram envolvidos em um movimento amplo e participativo de construção de uma educação democrática.

Nomeado como Reorientação Curricular, esse movimento traduziu-se em renovação para as escolas da rede, sob todos os aspectos, fossem eles materiais, curriculares ou de gestão. A partir de um contínuo diálogo entre os diferentes colegiados e as escolas, diversos projetos foram construídos e outros, já existentes, foram repensados à luz das necessidades que se colocavam nessa busca pela qualidade da educação.

Desde o início da década de 1970, a rede municipal já contava com um Programa de Salas de Leitura, nascido de experiências de trabalho conjunto entre escolas e bibliotecas, que resultaram, em 1974, na criação de espaços físicos (salas de leitura) com mobiliário e um pequeno acervo, dentro das próprias unidades escolares. Com atendimento voltado aos alunos dos anos iniciais, as salas de leitura tinham um horário de funcionamento restrito e contavam com o trabalho de um profissional, geralmente readaptado, designado pela direção.

Mas isso não atendia às novas demandas trazidas pelo Movimento de Reorientação Curricular. Era necessário que as escolas tivessem acervos literários e não literários de qualidade, diversificados e atualizados, destinados não só aos alunos, mas aos professores, funcionários e comunidade. E estes acervos deveriam estar acessíveis para manuseio e para empréstimo.

A função do professor responsável pelo espaço da sala de leitura também deveria ser repensada e ressignificada, de forma a dar suporte ao trabalho das diferentes áreas na construção dos projetos interdisciplinares e a ampliar o atendimento, estendendo-o a todos os alunos. As sessões de leitura deveriam se transformar em momentos de diálogo, troca, ampliação de conhecimentos, além de oferecer aos alunos múltiplas oportunidades para desenvolver o gosto pela leitura e a competência leitora.

Para efetivar o Projeto Salas de Leitura, as escolas da rede foram beneficiadas com a chegada contínua de excelentes acervos. A função do Professor Orientador de Sala de Leitura (POSL) foi regulamentada por meio de legislação específica, que previa, entre outras coisas, sua eleição mediante uma proposta pessoal de trabalho e a avaliação de seu desempenho pelo Conselho de Escola. Todos os alunos passaram a ser atendidos, sendo que, em unidades maiores, foi possível eleger mais de um POSL para viabilizar esse atendimento. Por sua vez, os educadores responsáveis pelo trabalho em Sala de Leitura passaram a ter uma maior qualificação, sobretudo em função de sua participação nos grupos de formação permanente, onde era possível estar com seus pares, refletir sobre sua prática, reportar experiências exitosas, discutir as dificuldades e buscar soluções.

(Colaboração: Maria Alice Armelin)