Os fundamentos do esporte adaptado;
Os diferentes tipos de esporte adaptado;
A aplicabilidade dos esportes adaptados nas aulas de Educação Física.
Neste capítulo abordaremos o tema dos esportes adaptados e sua aplicabilidade nas aulas de Educação Física.
A educação inclusiva no Brasil tem como marco a Declaração de Salamanca, de 1994, onde começa-se a refletir de maneira mais aprofundada sobre a necessidade de uma educação mais igualitária, buscando um melhor desenvolvimento educacional e social a todos os indivíduos excluídos deste processo. A declaração, em seu artigo 11, assim se apresenta: “O planejamento educativo elaborado pelos governos deverá concentrar-se na educação para todas as pessoas em todas as regiões do país e em todas as condições econômicas, através de escolas públicas e privadas”.
A partir destas discussões surge a necessidade de se pensar em projetos pedagógicos voltados às escolas inclusivas, para que todos os alunos, independente de suas necessidades especiais, fossem aceitos nas escolas, e nelas permanecessem.
Na área da Educação Física temos então algumas estratégias de inclusão de alunos com necessidades especiais, que são as práticas corporais adaptadas, entre elas os esportes adaptados, que veremos a seguir.
Esporte adaptado não é o mesmo que esporte inclusivo. No primeiro todos os indivíduos praticantes são deficientes; no segundo há uma flexibilização nas regras e estruturas, para que indivíduos com e sem deficiência joguem juntos.
Considera-se esporte adaptado a prática de uma modalidade em que os equipamentos, regras e estruturas são adaptados para uma determinada deficiência (Araújo, 2011). A partir deste conceito pode-se afirmar que a adaptação de um esporte é realizada para que indivíduos com uma determinada deficiência possam realizar a prática do mesmo, usufruindo de todas as qualidades que o esporte oferece.
Segundo o Comitê Paralímpico Brasileiro (2011) em 1945, com o término da Segunda Guerra Mundial, um espólio visto principalmente nos países europeus envolvidos no conflito foi o considerável número de combatentes que sofreram lesões na coluna vertebral, ficando paraplégicos ou tetraplégicos. Isso influenciou o neurocirurgião alemão Ludwig Guttmann a iniciar um trabalho de reabilitação médica e social de veteranos de guerra, por meio de práticas esportivas. Tudo começou no Centro Nacional de Lesionados Medulares de Stoke Mandeville. O próprio neurocirurgião teve sua vida influenciada pela guerra, pois teve de fugir da Alemanha Nazista por ser judeu. Era o início de uma caminhada que culminou com a criação dos Jogos Paralímpicos.
A utilização de cadeiras de roda permitiu que os indivíduos praticassem basquete, arco e flecha, corrida, bocha, tênis, tênis de mesa, tendo como cuidado maior as condições do ambiente para o uso adequado da própria cadeira, visando garantir a integridade dos participantes.
Antes disso já havia uma Organização Mundial de Esportes para Surdos, que realizava suas próprias competições, também chamadas de Jogos Silenciosos, mas as organizações surdas não se consideram pessoas com deficiência, mas parte de uma minoria linguística e cultural.
São realizados os primeiros jogos de cadeirantes e amputados, com apenas 16 participantes, todos ingleses veteranos de guerra;
É realizada a segunda edição dos jogos de cadeirantes e amputados, com a participação de ingleses e holandeses, também veteranos de guerra. Os jogos se tornam internacionais;
Os jogos ocorreram na mesma cidade que sediou as Olimpíadas deste mesmo ano, e foram abertos a deficientes que não eram veteranos de guerra;
Os jogos passaram a receber amputados e deficientes visuais (até então os jogos eram apenas para cadeirantes);
Foi criado o Comitê Paralímpico Internacional.
O termo “paralímpico” se originou da junção de “paraplegia” e “olímpico”. Mesmo com a inclusão de outras deficiências, o nome continuou fazendo sentido, pois o radical grego “para” significa “junto a”, e o evento, de fato, ocorre junto às Olimpíadas. (Universo Retrô).
Desde a Olimpíada de Seul-1988, na Coreia do Sul, e da Olimpíada de Inverno em Albertville-1992, na França, os Jogos Paralímpicos são disputados nas mesmas cidades e locais de competição dos Jogos Olímpicos, em acordo com os respectivos Comitês Internacionais. (Rede do Esporte).
Os atletas surdos não participam das paralimpíadas.
O Comitê Paralímpico Brasileiro disponibiliza uma material teórico que pode ser acessado clicando aqui.
Utilizamos esta expressão ao nos referirmos ao conteúdo do esporte adaptado nas aulas de Educação Física, mas nem sempre temos esta prática verdadeira, pois na escola e nos ambientes esportivos fora dela muitas vezes nos utilizamos de estratégias de adaptação para que todos os alunos possam participar das atividades. Estamos na verdade falando de Educação Física inclusiva, que tem como objetivo maior a equidade entre os alunos, de modo que todos possam participar ativamente das aulas.
Cabe ao professor oferecer atividades interessantes e inclusivas, que favoreçam o desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo dos alunos. Isso não é tarefa fácil, mas muito possível. A Educação Física escolar é a responsável por apresentar ao aluno a cultura corporal de movimento através dos jogos e brincadeiras, esportes, ginásticas, danças, lutas e práticas corporais de aventura, proporcionando a aprendizagem para todos os alunos, com e sem deficiência, levando em conta o potencial de cada um.
O professor deve ter o cuidado de acolher a todos os alunos, sem esquecer de que cada um tem seu próprio ritmo; deve utilizar os sinais visuais para os alunos surdos, e as orientações de mobilidade para os alunos cegos ou de baixa visão; deve possibilitar aos alunos com deficiências físicas o deslocamento no espaço com segurança. Além disso, as atividades devem proporcionar aos alunos com deficiência mental e intelectual a participação ativa, e não a atuação coadjuvante na marcação de pontos, ou na arbitragem.
Do mesmo modo que as atividades de inclusão oferecem a possibilidade dos alunos com deficiências participarem das aulas de Educação Física, podemos utilizar os esportes adaptados (que são específicos para pessoas com deficiência) para incluir todos os alunos na atividade. Abaixo seguem alguns exemplos de como utilizar os esportes adaptados para todos os alunos nas aulas de Educação Física.
Basquete em cadeira de rodas: o jogo é o mesmo do Basquete tradicional, com a diferença de que os jogadores se movimentam em uma cadeira de rodas. Deve-se ter um cuidado com o piso e condições estruturais do local, para evitar acidentes. A sugestão é colocar os alunos que não possuem deficiência física em cadeiras com rodinhas (tipo cadeiras de escritório) para que sintam a dinâmica desta movimentação. Assim todos os alunos ficam em quase igualdade de condições.
Tênis em cadeira de rodas: o jogo é o mesmo do tênis tradicional, e deve-se ter o mesmo cuidado que no item anterior.
Voleibol sentado: todos os jogadores ficam sentados no chão, as jogadas são as mesmas do voleibol tradicional, não sendo permitido a bola tocar no chão.
Bocha: nas disputas desta modalidade, os competidores precisam lançar as bolas coloridas o mais perto possível de uma similar branca (jack ou bolim). Os alunos ficam sentados em cadeiras com rodinhas e limitados a um espaço demarcado para fazer os arremessos. É permitido usar as mãos, os pés e instrumentos de auxílio. Além disso, os alunos com maior comprometimento dos membros podem contar com ajudantes.
Atletismo: o atletismo para deficientes visuais é constituído basicamente por todas as provas que compõem as regras oficiais da Federação Internacional de Atletismo, com exceção de salto com vara, lançamento do martelo, corrida com barreira e obstáculos. A sugestão é dividir os alunos em duplas, onde um fica vendado e o outro fica de ajudante, orientando a mobilidade de seu colega com segurança. Para simular a prática do atletismo por deficiência mental ou física, pode-se utilizar o recurso da cadeira de rodinhas.
Judô: podemos adaptar a luta do judô utilizando vendas nos olhos e fones de ouvidos.
Goalball: esta é uma modalidade esportiva desenvolvida especificamente para pessoas com deficiência visual. É baseado nas percepções auditivas e táteis, como também na orientação espacial. São três jogadores em cada equipe, que lançam a bola, rolando no piso da quadra, para tentar fazer o gol. A outra equipe tenta impedir o gol com os três jogadores deitando-se no chão para realizar a defesa da bola lançada pelo adversário e, assim, a disputa segue em duas etapas; vence o jogo a equipe que consegue o maior número de gols. Para a utilização nas aulas de Educação Física a sugestão é o uso de vendas para os olhos, com o acompanhamento de outros alunos sem as vendas.
Futebol de cinco para cegos: esse esporte pode ser desenvolvido por pessoas com cegueira total ou até, no máximo, a percepção da luz, sem a distinção de objetos, assim como por pessoas com baixa visão. Para uso na Educação Física a sugestão é o uso de vendas nos olhos por todos os jogadores, prática já adotada no esporte desde 1984. A bola do jogo deve ter guizos em seu interior.
Futebol PC: cada time tem sete jogadores (incluindo o goleiro) e cinco reservas. A partida tem o tempo de 60 minutos, divididos em dois tempos de 30, com um intervalo de 10. Não existe regra para impedimento e a cobrança lateral pode ser feita com apenas uma das mãos, rolando a bola no chão. Para as aulas de Educação Física pode-se dificultar a movimentação dos alunos agrupando-os em duplas, ou ainda isolando um ou os dois braços.
Esgrima em cadeira de rodas: podemos novamente utilizar as cadeiras com rodinhas e “espaguetes”, para simular o combate da esgrima.
Pegue o balão: Esse é um jogo de competição, que deve ser praticado em uma quadra coberta e podem participar cadeirantes ou não. Todos os estudantes deverão ficar sentados e amarrar um balão na cintura, os cadeirantes estarão com os balões amarrados atrás da cadeira. Cada jogador deve tentar estourar o balão do colega, ao mesmo tempo que precisa proteger o seu. Vence aquele que ficar com o balão ileso enquanto os dos outros colegas estiverem estourados. (DIEHL, 2006).
Caranguejobol: O jogo é realizado entre duas equipes, com o mesmo número de jogadores. É como um jogo de futebol, mas os participantes só poderão se movimentar pela quadra sentados ou suspendendo o quadril, com o apoio apenas das mãos e dos pés – utilizados para o chute.
Adivinhe pelo tato: os participantes tem os olhos vendados e ficam com as mãos nas costas. O professor vai passando um objeto atrás do outro para que os alunos percebam de que objeto se trata. Depois, coletivamente, a turma faz a listagem dos objetos percebidos.
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA: Sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais. Salamanca – Espanha, 1994. Disponível em https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000139394 Acesso em 22/12/2022
ARAÚJO, PF. Desporto adaptado no Brasil. São Paulo: Phorte; 2011. v. 1.
BRASIL. Empresa Brasileira de Comunicação – EBC. Você sabe quando aconteceu a 1ª paralimpíada? Disponível em https://memoria.ebc.com.br/infantil/voce-sabia/2012/08/voce-sabe-quando-aconteceu-a-primeira-paralimpiada Acesso em 22/12/2022
BRASIL. Rede do Esporte. Disponível em http://rededoesporte.gov.br/pt-br/megaeventos/paraolimpiadas/historia Acesso em 20/12/2022
MAGALHÃES, Leticia. A história dos Jogos Paralímpicos e sua expansão no decorrer dos anos. Blog Universo Retrô. 12/09/2016. Disponível em https://universoretro.com.br/a-historia-dos-jogos-paralimpicos-e-sua-expansao-no-decorrer-dos-anos/ Acesso em 21/12/2022
Comitê Paralímpico Brasileiro. Disponível em https://www.cpb.org.br/
DIEHL, Rosilene Moraes. Jogando com as Diferenças: jogos para crianças e jovens com deficiência. São Paulo- SP. Phorte, 2006.
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
Design Instrucional: Gabriela Rossa
Diagramação: Marcelo Ferreira
Ilustrações: Rogério Lopes / Lucas Dias
Revisão ortográfica: Ane Arduim