EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS DE 1ª ORDEM
Prof. Ana Regina Gregory Brunet
Prof. Ana Regina Gregory Brunet
A estabelecer correspondências entre equações diferenciais e outras áreas da matemática e áreas afins;
Estabelecer sequência lógica no processo de desenvolvimento do raciocínio e habilidade de argumentação;
Identificar, representar e utilizar o conhecimento algébrico para a resolução de problemas, bem como levantar conjecturas e elaborar estratégias para resolver problemas.
No livro Escritos Populares, o físico Ludwig Boltzmann, um dos criadores da Termodinâmica e teoria cinética dos gases, escreveu sobre a filosofia da ciência e a descrição da natureza pela matemática. Nos capítulos introdutórios, Boltzmann levanta a pergunta de por que a natureza pode ser descrita por equações diferenciais. Não existe uma resposta precisa para a pergunta feita por Boltzmann, mas sabemos que uma grande quantidade de fenômenos pode ser descrita por equações diferenciais.
A busca por soluções de equações diferenciais ordinárias é nosso principal objeto de estudo neste capítulo, bem como a modelagem de fenômenos associados. Existem inúmeras técnicas/métodos desenvolvidos para encontrar as soluções de equações diferenciais, porém desenvolver modelos matemáticos confiáveis para descrever fenômenos depende do bom senso aliado ao método científico.
Iniciaremos com a apresentação das equações diferenciais ordinárias de 1ª ordem. Retomaremos o problema da garrafa apresentado no Capítulo 1, e seguiremos com os modelos fenomenológicos da lei de Resfriamento de Newton, lei de crescimento e decaimento, concentração de misturas de solutos com diferentes concentrações, circuitos em série.
Equações Diferenciais Ordinárias (EDO) são equações nas quais comparece a derivada de ordem n de uma ou mais funções desconhecidas dependentes de uma única variável independente. Estudaremos, neste capítulo, o caso mais simples: EDO 1ª ordem.
O exemplo mais elementar que podemos ter de uma equação diferencial ordinária é: dy/dx = 0 ou y’ = 0. Essa equação é facilmente resolvida com o que você estudou no Cálculo. Vale lembrar que nem toda integral tem solução e, por vezes, pode ter solução, mas não existir método analítico para determiná-la. O mesmo ocorre com equações diferenciais em geral.
No caso de y’ = 0, buscamos uma função cuja derivada é zero, ou seja, a função procurada é uma constante. Esse é um caso particular de equações diferenciais da forma dy/dx = f(x). Chamaremos tais equações de Imediatas e elas podem ser avaliadas com os recursos desenvolvidos nos cursos de Cálculo.
Uma equação diferencial possui a característica de resumir informações e conceitos. Um exemplo desse poder de concisão são as equações da cinemática, que podem ser resumidas em uma única equação diferencial, a saber:
Esse tipo de equação pode ser considerado um caso particular das equações diferenciais, que podem ser resolvidas por separação de variáveis.
A importância da técnica de separação de variáveis se encontra na grande quantidade de fenômenos que podem ser modelados por esse tipo de equação. Como motivação para nosso estudo, faremos a modelagem de um problema que vimos no Capítulo 1, relacionado à fenomenologia associada a um tanque cheio de água que possui um furo em sua superfície lateral. Para obter a função que expressa o alcance horizontal em função da altura de líquido no tanque, temos de resolver uma EDO através da separação dos infinitésimos diferenciais.
Nosso problema se resume em obter uma expressão matemática que modele o alcance de um jato horizontal de um tanque cilíndrico que possui um furo em sua superfície lateral. Ou seja, essa é a mesma situação que contemplamos no final do Capítulo 1. No vídeo, podemos observar que à medida que a coluna de líquido diminui o alcance horizontal do respectivo jato também diminui.
Para nossa construção, faremos uso de uma simulação da Universidade do Colorado, em que podemos observar tal fenômeno e, por fim, testar o modelo que aqui desenvolvemos.
Observando as imagens 1 e 2 percebemos que quanto menor a coluna de água menor é o alcance horizontal do jato lateral.
Assista ao vídeo com a simulação do fenômeno com o professor Rafael Valada!
Podemos testar nosso modelo de duas formas, a saber, aplicando o tempo t =0 e verificando se obtemos o alcance máximo, visto que esse era um ponto conhecido desde o princípio. Por outro lado, podemos verificar para qualquer tempo qual é o alcance, e comparar o resultado teórico (nosso modelo) com o resultado experimental (simulação), e, ainda, verificar o tempo que leva para que o alcance seja zero.
A(0) = Amax
A(t*) = 0
Assim, partindo da simulação podemos obter os seguintes dados:
Dessa maneira, a equação, admite a seguinte forma:
A(t) = - 0,734255 t + 27,98
Dada nossa expressão final, podemos aplicá-la à determinação do alcance para qualquer tempo compreendido na faixa 0 < t < tA. Dessa forma, vamos determinar o alcance para um valor de t próximo a 15 segundos, e verificar qual o erro percentual entre o valor calculado e o valor medido através da simulação, onde
Uma EDO separável é aquela na qual podemos separar as variáveis e possui a forma:
Ou seja, a equação poderá ser escrita na forma:
h(y) dy = g(x) dx
Após a separação, integram-se em ambos os lados da igualdade e, resolvendo cada integral com respeito a variável indicada no diferencial, obtém-se:
H(y) = G(x) + C
Onde H(y) e G(x) representam, respectivamente, a solução da primeira e segunda integral. A constante C que aparece à direita da igualdade é a soma das constantes das integrais.
A lei do resfriamento de Newton diz que a temperatura de um objeto varia a uma taxa proporcional à diferença entre a temperatura do objeto e a temperatura do seu ambiente.
Essa lei poderia ser chamada Lei de Resfriamento/Aquecimento, pois relaciona a mudança de temperatura de um objeto quando essa temperatura é diferente da temperatura do meio onde foi colocado. A ideia está vinculada ao equilíbrio térmico.
A lei do resfriamento de Newton diz que a temperatura de um objeto varia a uma taxa proporcional à diferença entre a temperatura do objeto e a temperatura do seu ambiente.
Vamos estabelecer nomenclatura:
T: temperatura do corpo (objeto)
Tm: temperatura do meio
t: tempo
k: constante de proporcionalidade
Agora, vamos escrever a lei em linguagem Matemática.
A temperatura de um objeto varia a uma taxa: dT/dt
Diferença entre a temperatura do objeto e a temperatura do seu ambiente: T - Tm.
A lei diz que são proporcionais e toda proporção gera uma constante de proporcionalidade (k). Portanto:
Em qualquer modelo de crescimento/decaimento, a taxa de variação do objeto de estudo está relacionada com a quantidade presente desse objeto. Tais objetos de estudo podem ser: crescimento de populações, decaimento radioativo, leis gerais de presa-predador, entre outros. Vamos apresentar o modelo mais simples desses fenômenos modelando o crescimento de uma população.
Vamos considerar que o crescimento de determinada população seja proporcional à quantidade de indivíduos pertencentes à essa população, ou seja:
Onde k é uma constante de proporcionalidade.
Vimos, no Capítulo 1, que as equações diferenciais lineares de 1ª ordem são equações que podem ser postas na forma:
a1(x) y’ + a0(x)y = g(x) (forma geral)
Quando a função g é identicamente nula, dizemos que a equação é homogênea. Caso contrário, dizemos que a equação é não homogênea.
A forma padrão de uma EDL é com o coeficiente da derivada de mais alta ordem igual a 1. Assim, a forma padrão de uma EDL de 1ª ordem é;
y’ + P(x)y = f(x) (forma padrão)
onde P(x) = a0(x)/ a1(x) e f(x) = g(x)/ a1(x).
Essas equações definem a forma de inúmeros modelos cujas soluções são de grande importância para a Ciência e Engenharia, a saber: a função da corrente elétrica estabelecida em um circuito formado pela associação em série de um indutor e um resistor, função de carregamento de um capacitor associado a um resistor em série, a função de concentração de misturas de solutos com diferentes concentrações, lei de resfriamento de Newton.
Começaremos nosso estudo pela determinação da carga armazenada em um capacitor associado em série a um resistor.
Qual é a carga final no capacitor de um circuito em série resistor-capacitor, sendo R = 100 Ω, C = 100 μF e V(t) = 5 V?
As equações diferenciais lineares homogêneas (EDH) de 1ª ordem podem ser postas na forma: y’ + P(x) y = 0
Nesse tipo de equação diferencial, é possível separar as variáveis. Observe:
Vamos apresentar o método da variação dos parâmetros para resolução de equações diferenciais lineares não homogêneas (EDNH) de 1ª ordem. Para tanto, enunciaremos uma propriedade das equações lineares de ordem n que nos permitirá desenvolver o método.
A solução geral de uma EDNH é dada pela soma da solução da EDH associada com uma solução particular da EDNH.
yNH = yH + yP
Para resolver uma EDNH, devemos primeiro resolver a equação homogênea associada (determinar yH), definida mediante a troca da função f da EDNH na forma padrão por zero, e depois determinar uma solução particular (yP) da não homogênea. Veja a validação do método e esquema de resolução!
A corrente estacionária (iest), é definida como
Ou seja, é a corrente estabelecida no circuito após um grande intervalo de tempo. Observe que i(t) = dq/dt.
Uma equação diferencial é de Bernoulli quando pode ser posta na forma:
Observe que se n = 0 ou n = 1, a equação é linear em y e pode ser resolvida conforme visto. Mas para n diferente de zero e diferente de um, a equação de Bernoulli não é uma EDO linear, mas mediante mudança de variável conveniente (u = yn-1) podemos obter uma EDO linear e resolver com o método conhecido: variação dos parâmetros.
Entenda o método e veja os exemplos!
Ulbra, Matemática Aplicada I, Canoas, 2015.
ZILL, Denis G. Equações Diferenciais com aplicações em modelagem. 10. ed. SP: Centage Learnig, 2106.
BOYCE, William E. e DIPRIMA, Richard C. Equações Diferenciais Elementares e Problemas de Valores de Contorno. 10. ed. RJ: LTC, 2017.
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
Design Instrucional: Gabriela Rossa
Diagramação: Marcelo Ferreira
Ilustrações: Rogério Lopes
Revisão ortográfica: Ane Arduim