EQUAÇÕES DIFERENCIAIS
Prof. Ana Regina Gregory Brunet
Prof. Rafael da Silva Valada
Prof. Ana Regina Gregory Brunet
Prof. Rafael da Silva Valada
A identificar variáveis relevantes e procedimentos necessários para a modelagem de problemas envolvendo equações diferenciais.
Vários princípios que descrevem o comportamento de sistemas ou fenômenos da vida real são proposições, ou relações, que envolvem a taxa segundo a qual as coisas acontecem. Na descrição matemática, as relações são funções e as taxas são derivadas. Quando equações contêm derivadas, ela é chamada de Equação Diferencial e é o objeto de estudo nesta disciplina. Assim, para entender e investigar o comportamento do mundo físico, tais como crescimento de população, decaimento radioativo, oscilações, fluxo de corrente elétrica, reações químicas, entre outros, é preciso saber um pouco de Equações Diferenciais.
Tais descrições matemáticas são chamadas de Modelo Matemático. Para construir um Modelo Matemático de um sistema ou fenômeno, segundo Zill (p. 21), deve-se iniciar com:
(I) A identificação das variáveis responsáveis pela variação do sistema. Podemos a princípio optar por não incorporar todas essas variáveis no modelo. Nessa etapa, estamos especificando o nível de resolução do modelo.
A seguir,
(II) Elaboramos um conjunto de hipóteses razoáveis ou pressuposições sobre o sistema que estamos tentando descrever. Essas hipóteses deverão incluir também quaisquer leis empíricas aplicáveis ao sistema.
Geralmente, modelos matemáticos de sistemas ou fenômenos da vida real têm a variável tempo t. Um bom Modelo Matemático pode fornecer informações de predição sobre o fenômeno que descreve, ou melhor, ele pode fornecer informações sobre o que ocorreu, está ocorrendo ou irá ocorrer; oferece, então, o estado do sistema.
Para verificar se um Modelo Matemático é “bom”, devemos comparar as predições do modelo com fatos conhecidos. Se o resultado não for satisfatório, o modelo deve ser aprimorado. Nesse caso, alteram-se as hipóteses iniciais ou aumenta-se a resolução do modelo. Porém, ao aumentarmos a resolução do modelo, as equações diferenciais que o expressam podem ser de difícil resolução.
Iniciaremos o capítulo com a apresentação desse novo objeto Equações Diferenciais e finalizaremos com Modelagem Matemática.
Apresentamos Equações Diferenciais como uma equação que contém derivadas. Existe um tipo de Equação Diferencial que você conhece dos cursos de Cálculo: as equações Imediatas ou Diretas. A questão motivadora para o estudo da Integral Indefinida é: “Qual é a função F cuja derivada F’ é a função f conhecida?” Ou seja, conhecida a derivada de uma função y (y’(x) = f(x)), queremos determinar a função y. A função y, quando existe, não é única, pois se y1 é tal que y1’(x) = f(x), então y1 acrescida de uma constante real C também terá derivada f(x). Ou seja, existe uma família de funções cuja derivada é a função conhecida f. A unicidade poderá ser garantida quando se tem alguma informação sobre o valor da função y em algum ponto do seu domínio.
Por exemplo, qual a função cuja derivada resulta em 2x? Ou seja:
y' = 2x, y = ?
A função y = x² possui derivada y’ = 2x. Porém, a função y = x² + 1 também satisfaz y’ = 2x; em geral, y = x² + C, onde C é uma constante real, possui derivada y’ = 2x. Portanto, qualquer membro da família de funções a um parâmetro y = x² + C é solução da equação diferencial y’ = 2x, pois satisfaz essa equação. Essa família de soluções pode ser representada no plano cartesiano.
Observe que, se considerarmos todas as constantes reais C, teremos o plano coberto por parábolas. Agora, se sujeitarmos a ED y’ = 2x à condição y(0) = 2 encontrará um único membro dessa família que satisfaz a ED e assume o valor 2 em x = 0, a saber, y = x² + 2.
Formalmente, uma
Equação Diferencial (ED) é uma equação (igualdade entre duas expressões) que contém as derivadas (ou diferenciais) de uma ou mais funções não conhecidas (ou variáveis dependentes), em relação a uma ou mais variáveis independentes.
Classificamos ED por tipo, quanto à ordem e linearidade.
O tipo de uma ED está relacionado com o número de variáveis independentes que comparecem na equação.
Quando a ED contiver somente derivadas ordinárias de uma ou mais funções desconhecidas com relação a uma única variável independente, ela é chamada de equação diferencial ordinária (EDO). Mas uma equação que envolve derivadas parciais de uma ou várias funções de duas ou mais variáveis independentes é dita equação diferencial parcial (EDP).
Veja os exemplos!
A ordem de uma equação diferencial é a ordem da maior derivada que comparece na equação.
Veja os exemplos!
Uma equação diferencial ordinária é dita linear (EDL) se a função incógnita e todas as suas derivadas possuírem grau um e se todos os coeficientes da função incógnita e de suas derivadas forem função apenas da variável independente.
A forma geral de uma EDL de ordem n é:
Onde ai = ai(x), i = 0, 1, 2, 3,..., n são os coeficientes das derivadas sucessivas da função y (consideraremos a função y como derivada de ordem zero) e g = g(x) é uma função independente. Quando a função g é identicamente nula (g(x) = 0, para todo x) a EDL é dita homogênea (notação: EDH); caso contrário, dizemos que a EDL é não homogênea (notação: EDNH).
Veja os exemplos!
Quando falamos em equações, logo vem à mente situações matemáticas nas quais devemos descobrir o valor de alguma incógnita. Equações como, por exemplo:
(I) 5x – 3 = 3x + 1 ou (II) x² - 5x + 6 = 0
São de fácil resolução e suas soluções, nestes casos, pertencem ao conjunto dos números reais. Podemos verificar, por inspeção, que x = 2 é solução da equação (II). De fato,
2² - 5*2 + 6 = 0; 4 – 10 + 6 = 0; 0 = 0 (V)
Ou seja, ao substituir x por 2 na equação, obtivemos uma identidade ou uma igualdade verdadeira. Observe que, se substituirmos x por 1 nessa equação, isso não ocorre!
1² - 5*1 + 6 = 0; 1 – 5 + 6 = 0; 2 = 0 (F)
Isso significa que x = 1 não é solução dessa equação.
Nosso objeto de estudo é equação diferencial. Buscamos uma função (não mais um número!) que satisfaça a equação dada. Formalmente:
Toda função Φ, definida em um intervalo I que tem pelo menos n derivadas contínuas em I, as quais, quando substituídas em uma EDO de ordem n, reduzem a equação a uma identidade, é denominada uma solução da equação diferencial no intervalo.
Veja o exemplo!
A curva integral é o gráfico de uma solução Φ de uma EDO. Sendo Φ uma função diferenciável, ela é contínua no seu intervalo de definição I (também conhecido intervalo de existência, intervalo de validade ou domínio da solução, podendo ser aberto (a, b), fechado [a, b] ou infinito). Nesse contexto, pode haver diferença entre o gráfico da função e o gráfico da solução Φ, ou seja, o domínio da função Φ não precisa ser idêntico ao intervalo I da solução Φ.
Veja os exemplos!
A solução de uma equação diferencial pode ser classificada quanto à forma de expressar.
Solução Explícita: possui a forma: y = f(x)
Solução Implícita: possui a forma: y = f(x, y), ou qualquer solução que não pode ser escrita como y = f(x).
Soluções na forma implícita podem ser reescritas na forma explícita, se e só se forem argumento de uma única função não composta.
Veja os exemplos!
Sempre que calculamos uma integral Indefinida, computamos uma constante arbitrária C. Também chamamos a Integral Indefinida de Primitiva Geral. Ao atribuirmos diferentes valores reais para a constante C, obtemos diferentes primitivas ou antiderivadas da função integrando. De forma análoga, solução de uma equação diferencial contendo uma constante arbitrária é chamada de família de soluções a um parâmetro. Quando a equação diferencial for de segunda ordem ou superior, buscaremos família de soluções a n parâmetros, onde n é a ordem da ED.
Quando uma solução não depende de parâmetros, ela é chamada solução particular da equação diferencial.
Vimos, no início deste capítulo, que y = x² é solução (explícita) da ED y’ = 2x e que sua solução geral é y = x² + C (família de soluções a um parâmetro). A função y = x², então, é solução da equação diferencial e não depende do parâmetro C; portanto, é uma solução particular dessa ED.
Em problemas de sistemas ou fenômenos da vida real, geralmente, procuramos uma solução y para uma ED que satisfaça determinadas condições.
O problema de resolver uma equação diferencial de n-ésima ordem sujeita a n condições especificadas em x0:
Resolver: y(n) = f(x, y, y’,...,y(n-1))
Sujeita a: y(x0) = y0, y’(x0) = y1, y’’(x0) = y2,..., y(n-1)(x0) = yn-1
onde y0, y1, y2,..., yn-1 são constantes reais especificadas, é chamado Problema de Valor Inicial (PVI) e os valores de y(x) e suas n – 1 derivadas em um único ponto x0:
y(x0) = y0, y’(x0) = y1, y’’(x0) = y2,..., y(n-1)(x0) = yn-1
são chamados condições iniciais (CI).
Aqui, algumas questões matemáticas podem ser levantadas:
Sempre é possível encontrar solução para uma equação diferencial sujeita a condições?
Se existe uma solução, essa solução é única?
Tais questões são preocupação, também, de cientistas e engenheiros que utilizam equações diferenciais para modelar seus problemas. Ao modelar uma situação por uma equação diferencial, espera-se que ela tenha solução; caso contrário, existe algum problema no modelo formulado. Além disso, se existir uma única solução, teremos resolvido o problema; caso contrário, maiores esforços serão necessários na busca de solução. O teorema a seguir nos garante condições suficientes (mas não necessárias) para existência e unicidade de solução para PVI de 1ª ordem. Ou seja, o problema de:
Resolver: y’ = f(x,y)
Sujeita a: y(x0) = y0
Seja R uma região retangular no plano xy definida por a < x < b, c < y < d que contém o ponto (x0, y0). Se f(x, y) e a derivada parcial da f com relação à variável y são contínuas em R, então existe algum intervalo I0, contido em [a, b], e uma única função y(x), definida em I0, que é uma solução do PVI de 1ª ordem: y’ = f(x,y); y(x0) = y0.
Em equações diferenciais de 2ª ordem ou superior, é possível garantir existência e unicidade de solução para PVI no qual a ED é linear. Ou seja, podemos garantir uma única solução para o problema de valor inicial:
Resolver: an(x)y(n) + an-1(x) y(n-1) +...+ a1(x)y’ + a0(x)y = g(x)
Sujeita a: y(x0) = y0, y’(x0) = y1, y’’(x0) = y2,..., y(n-1)(x0) = yn-1
O teorema que garante tal fato é:
Sejam an(x), an-1(x),..., a1(x), a0(x) e g(x) funções contínuas em um intervalo I e seja an(x) não nula para todo x nesse intervalo. Se x = x0 for um ponto qualquer nesse intervalo, então existe uma única solução y(x) do problema de valor inicial nesse intervalo.
Veja os exemplos!
Resolver um Problema de Valor de Contorno
É resolver uma ED linear de 2ª ordem ou superior na qual a variável dependente y ou suas derivadas são especificadas em pontos diferentes.
No caso de ED de 2ª ordem:
Resolver: a2(x)y’’ + a1(x) y’ + a0(x)y = g(x)
Sujeita a: y(x0) = y0, y(x1) = y1
As condições a que foi submetida a ED são chamadas Condições de Contorno (CC). Outros pares de condições de contorno para uma ED linear de 2ª ordem são possíveis.
Ou: y(x0) = y0, y’(x1) = y1
Ou: y’(x0) = y0, y(x1) = y1
Ou: y’(x0) = y0, y’(x1) = y1
Um PVC pode ter muitas, uma ou nenhuma solução.
Veja os exemplos!
A maneira apresentada na introdução para a construção de um Modelo Matemático é fundamentada no Método Científico, o qual pode ser resumido nas etapas:
Observar um fenômeno natural;
Propor hipóteses ou um modelo para explicar o fenômeno;
Corroborar, através da experimentação, as hipóteses propostas;
Construir uma teoria.
Para tanto, é necessário que o modelo esteja descrito em termos de quantidades passíveis de verificação experimental a fim de aceitar, refutar ou melhorar a teoria.
A Figura 2 representa uma garrafa pet que possui um pequeno furo em sua superfície lateral. Ao enchermos a garrafa de água e ao liberar o furo lateral, temos o aparecimento de um jato horizontal, que possui alcance horizontal dependendo da coluna de líquido na garrafa. Dessa maneira, o alcance horizontal diminui à medida que a garrafa esvazia.
Nosso objetivo é responder, através de premissas estabelecidas na ciência e de hipóteses empíricas, quanto tempo a garrafa levará para ficar completamente vazia.
Aplicaremos o método científico para responder a essa questão e, assim, levantaremos hipóteses, construiremos um modelo e testaremos esse modelo, confrontando o resultado teórico (modelo) com o resultado experimental.
Quais são as falhas e restrições do nosso modelo?
O modelo não considera a viscosidade do fluido;
A equação
mostra que se t cresce indefinidamente, a altura de líquido começa a crescer levando a uma inconsistência física. Dessa maneira, nosso modelo possui uma restrição quanto ao intervalo de tempo que podemos usar na equação, pois impomos que em tE a altura era nula e para um tempo maior continuará sendo nula, independentemente de quanto tempo passar.
BOYCE, W. E.; DIPRIMA, R. C. Equações Diferenciais Elementares e Problemas de Valores de Contorno. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017.
ULBRA. Matemática Aplicada I. Canoas, 2015.
ZILL, D. G. Equações Diferenciais com aplicações em modelagem. 10. ed. São Paulo: Centage Learning, 2016.
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
Design Instrucional: Gabriela Rossa
Diagramação: Marcelo Ferreira
Ilustrações: Rogério Lopes
Revisão ortográfica: Igor Campos Dutra