A identificar as características ósseas palpáveis das vértebras torácicas e lombares;
A identificar as características ósseas palpáveis das vértebras sacrais e coccígeas;
A conhecer as principais abordagens palpatórias das regiões torácica, lombar e sacrococcígea.
A região torácica é uma das seções mais estáveis e comparativamente mais rígidas da coluna vertebral. Isso pode parecer uma desvantagem, mas desse modo a coluna torácica pode oferecer funções de proteção e suporte e pode servir de junção entre as colunas cervical e lombar e auxiliar nos processos respiratórios.
A coluna torácica e também o tórax abrigam o sistema nervoso simpático: a região central desse sistema localiza-se no corno lateral da medula espinal torácica e por isso a aplicação mecânica de terapia manual e várias outras técnicas são bastante úteis. Essas formas de intervenção são o tema recorrente da discussão no tratamento da dor musculoesquelética crônica. Frequentemente, a coluna torácica e o tórax também são afetados diretamente pelas intervenções traumáticas na cirurgia torácica aberta. Em pacientes mais idosos, essas articulações estão se tornando rígidas como parte do processo adaptativo de envelhecimento. Durante esse tipo de cirurgia, os segmentos torácicos e as articulações costais são colocados em posições extremas e, em seguida, são forçados à inatividade ao longo de semanas. Nesses casos, é preciso muito esforço para condicionar o tórax para respirar corretamente novamente. A compressão do tórax e a mobilização de tecidos moles são importantes técnicas manuais utilizadas em fisioterapia respiratória que requerem certa destreza palpatória.
A coluna lombar suporta o peso da parte superior do corpo, da cabeça e dos braços, sendo que cerca de 60% do peso do corpo é transmitido da coluna lombar para a placa final da primeira vértebra sacral, em uma postura ereta. A coluna lombar se adapta a esse peso com maior densidade óssea, com colágeno e com cartilagem fibrosa para gerar mais estabilidade, força e estrutura.
As seções lordóticas da coluna fornecem orientação espacial para as partes do corpo que são sustentadas por elas: a coluna lombar apoia, ergue e gira a parte superior do corpo. Os discos intervertebrais, ligamentos e músculos também fazem parte dessa “arquitetura” e são responsáveis pela estabilidade na coluna vertebral.
A junção entre a coluna lombar e o sacro é uma região com uma anatomia complexa e que pode gerar muitas disfunções. Isso provavelmente seja devido à carga biomecânica suportada pela coluna lombar, que atua como a junção entre a coluna vertebral livremente móvel e a pelve e o sacro, que são bastante rígidos.
Já o sacro e o cóccix são regiões clinicamente, pois têm relação com a musculatura extensora da coluna vertebral, com o músculo grande dorsal, com diversos ligamentos como os sacroilíacos e com a musculatura pélvica e glútea.
O conhecimento sólido em anatomia, fisiologia e cinesiologia é indispensável para que você, como acadêmico ou profissional, possa exercer de forma eficiente e responsável as técnicas palpatórias.
A anatomia da coluna vertebral é complexa e extensa e neste capítulo iremos nos concentrar somente na anatomia de superfície das colunas torácica, lombar e sacrococcígea. A coluna cervical será estudada juntamente com a cabeça.
A coluna torácica é composta por 12 vértebras intercaladas por discos intervertebrais e é a região da coluna na qual as costelas estão fixadas, assim como músculos relacionados ao movimento e estabilização do tronco e da cabeça. Comentaremos aqui somente sobre a palpação de estruturas ósseas.1
A palpação dos processos espinhosos torácicos faz parte do diagnóstico das disfunções das vértebras dessa região. O surgimento de dor na região torácica não justificada na avaliação musculoesquelética deve ser investigada juntamente com avaliação de um clínico geral, porque pode estar relacionada às vísceras torácicas.
Para localizar os processos espinhosos, é possível usar referências ósseas escapulares para orientação, mas você deve levar em conta que pode ser uma abordagem não muito confiável pelo fato de o tamanho da escápula variar entre os indivíduos. No entanto, você pode usá-la como uma orientação aproximada. As seguintes classificações são recomendadas (Figura 1): o processo espinhoso de T1 e a segunda costela estão ao nível do ângulo superior da escápula; a base da espinha da escápula encontra-se ao nível do processo espinhoso T3; o ângulo escapular inferior está no nível do processo espinhoso de T7 (essas referências aplicam-se apenas à postura corporal vertical).
Figura 1: (a) A escápula sendo usada como referência para identificar os níveis torácicos das vértebras. (b) A posição do polegar e do indicador do profissional aponta a relação entre ângulo superior da escápula e o processo espinhoso da T1. (c) A posição do polegar e do indicador do profissional indica a relação entre a extremidade medial da espinha da escápula e o processo espinhoso da T3. (d) Coluna torácica entre os dedos indicadores do terapeuta.
Fonte: adaptado de TIXA, 2009; REICHERT, 2015.
Primeira possibilidade de palpação dos processos espinhosos (Figura 2) – O paciente posiciona-se sentado, com cifose torácica e você em pé. Palpe as bordas laterais dos processos espinhosos torácicos globalmente, com as polpas de seus polegares.
Segunda possibilidade de palpação dos processos espinhosos (Figura 3) – O paciente posiciona-se em decúbito ventral com os braços ao longo do corpo, apoiados na maca e você em pé. Palpe os ápices dos processos espinhosos torácicos globalmente, posicionando as polpas de seus dedos no sulco mediano posterior da coluna torácica, mantendo um afastamento de, aproximadamente, um dedo transverso entre eles.
Figura 2: Palpação dos processos espinhosos torácicos (primeira possibilidade).
Fonte: adaptado de JUNQUEIRA, 2018.
Figura 3: Palpação dos processos espinhosos torácicos (segunda possibilidade).
Fonte: adaptado de JUNQUEIRA, 2018.
Essas mobilizações relaxam bastante a região torácica, principalmente nos casos em que há um aumento de tensão da musculatura do dorso, da cintura escapular e da coluna torácica.
O paciente fica em decúbito ventral com os braços ao longo do corpo, apoiados na maca e você em pé. Palpe, “em forma de pinça”, dois processos espinhosos. Com a sua mão cefálica, imobilize um processo espinhoso, enquanto a sua mão caudal irá mobilizar o processo espinhoso subjacente (a vértebra de baixo), e vice-versa. Essa manobra pode ser aplicada em todos os processos espinhosos da coluna torácica (Figura 4a).
Mesmo posicionamento da primeira possibilidade. Palpe globalmente os processos espinhosos torácicos com as polpas de seus polegares, mantendo as bordas radiais dos mesmos apoiadas no dorso do paciente ou mantenha um polegar perpendicular ao outro. Faça movimentos laterolaterais, para melhor mobilizá-los (Figura 4b,c).
Figura 4: Manobra de mobilização dos processos espinhosos torácicos. (a) Primeira possibilidade. (b) e (c) Segunda possibilidade.
Fonte: adaptado de JUNQUEIRA, 2018.
Durante a palpação, leve em consideração que os processos transversos torácicos localizam-se profundamente na musculatura paravertebral e isso pode dificultar a sua identificação (em indivíduos magros pode ser mais fácil). Apesar dessa dificuldade, é importante localizar os processos transversos torácicos (Figura 5a) para o diagnóstico, principalmente de alterações costovertebrais e aplicação de técnicas manipulativas locais.
Inferiormente, os processos transversos tornam-se gradualmente mais curtos e apontam mais posteriormente. O comprimento do processo transverso de T1 é importante na busca pela articulação costovertebral (costela mais vértebra torácica). entre a primeira costela e T1. O processo transverso de T1 é aproximadamente tão longo quanto o dedo indicador do paciente. Cada processo transverso possui uma pequena faceta articular em seu aspecto anterior, que forma a articulação costovertebral. A orientação espacial do processo transversal determina a posição do eixo comum para ambas as articulações costovertebrais (do lado direito e do lado esquerdo).
Vértebra subjacente. Posicionamento: o paciente em decúbito ventral e os braços ao longo do corpo, apoiados na maca e você em pé. Posicione, aproximadamente, dois dedos transversos lateralmente a um processo espinhoso da região torácica média para localizar ou palpar, de forma indireta, o processo transverso da vértebra subjacente.
Própria vértebra. Mesmo posicionamento da primeira possibilidade. Posicione, aproximadamente, um dedo e meio ou dois dedos transversos lateral e cefalicamente a um processo espinhoso torácico da região dorsal média para localizar o processo transverso correspondente à própria vértebra.
Posicionamento do paciente em decúbito lateral, de frente para você, que estará em pé. Palpe o corpo de uma costela, com a polpa de seus dedos, e desloque-os em sentido medial até encontrar um sulco; logo após esse sulco, você poderá perceber uma superfície rígida, que é o processo transverso. Com esse posicionamento, o terapeuta pode tentar deslocar a musculatura paravertebral para ter melhor acesso ao processo transverso.
Nas vértebras torácicas, os processos espinhosos são bem longos e, geralmente, a partir de T4 ou T5, começam a se angular para baixo até o nível de T7 e T8. Essa inclinação acaba gerando uma diferença significativa no nível entre a ponta do processo espinhoso e o processo transverso da mesma vértebra. Isso faz com que, ao palparmos um processo espinhoso torácico situado na região entre T4 e T8 e deslocarmos, aproximadamente, dois dedos transversos no mesmo alinhamento horizontal, localizemos, provavelmente, a borda inferior ou o próprio processo transverso da vértebra subjacente. Se, por exemplo, desejamos localizar ou palpar o processo transverso de T5, deveremos colocar dois dedos transversos lateral e cefalicamente ao processo espinhoso dessa mesma vértebra.
A extensão dessa diferença entre o processo espinhoso e o processo transverso de uma mesma vértebra varia de segmento para segmento da coluna torácica. Por isso, alguns autores usam a “regra do dedo”, que usa a largura do dedo indicador do paciente durante a palpação na tentativa de especificar a diferença de altura. Então, quando o terapeuta quer acessar o processo transverso de uma vértebra específica, ele calcula a distância superior usando um certo número de dedos a partir do processo espinhoso. O processo transverso e sua costela correspondente encontram-se na mesma altura. O procedimento descrito aqui também pode ser usado para localizar corretamente as costelas.
Paciente em decúbito ventral, sentado ou em decúbito lateral:
Processos espinhosos T1, T2: mais a largura de um dedo em uma direção superior;
Processos espinhosos T3, T4: mais duas larguras de um dedo em uma direção superior;
Processos espinhosos T5-T8: mais três larguras de um dedo em uma direção superior;
Processos espinhosos T9, T10: mais duas larguras de um dedo em uma direção superior;
Processos espinhosos T11, T12: mais a largura de um dedo em uma direção superior.
Figura 5: Regra do dedo para identificar os processos transversos e o processo espinhoso de uma mesma vértebra. (a) Exemplo usando a largura de 3 dedos. (b) Localização da borda inferior do processo espinhoso de T8; costela correspondente (*). (c) largura de 3 dedos em direção cefálica para encontrar o processo transverso de T8. (d) Palpação da ponta do processo transverso de T8.
Dor e mobilidade restrita nas articulações costais e vertebrais, além de provocarem restrições na respiração, podem interferir também fortemente nas tarefas diárias, por isso a avaliação é tão importante. Três grandes grupos de origem da dor podem ser observados: rupturas internas agudas e crônicas do disco intervertebral; hipomobilidade dolorosa nas articulações zigapofisárias; hipomobilidade dolorosa nas articulações costovertebrais (articulações costais).
A localização da articulação costotransversa é necessária não somente para o diagnóstico das disfunções costotransversárias, mas também para as manipulações vertebrais e costais.
A coluna lombar é a seção inferior livremente móvel da coluna vertebral. Composta por cinco vértebras (Figura 6) livremente móveis, intercaladas por discos intervertebrais grossos que tornam possíveis movimentos extensos de inclinação nos segmentos lombares.
Existem variações anatômicas quanto ao número de vértebras: quando a primeira vértebra sacral é separada do sacro, ela assume o papel de uma vértebra lombar e chamamos de lombarização (isso resulta na coluna lombar possuindo seis vértebras). Já a sacralização é definida como a fusão da quinta vértebra lombar com o sacro (ficam apenas quatro vértebras com mobilidade livre).
A maioria dos sintomas na região lombar está direta ou indiretamente relacionada aos discos intervertebrais (que envolvem também estruturas ligamentares e neurais sensíveis). Isso é um fato conhecido de que as patologias primárias e secundárias do disco intervertebral tendem a ser encontradas em segmentos lombares inferiores de L4/L5 e L5/S1. As principais disfunções do disco intervertebral variam de ruptura interna para as diferentes formas de saliências e prolapsos da substância discal. A fisioterapia inicial entra para avaliar a dor primária e aliviar as estruturas neurais afetadas, facilitando a autocura. A primeira fase de inflamação termina após alguns dias e a fisioterapia, em seguida, aborda o aumento da tensão muscular, posturas adaptativas, imobilização, diminuição da propriocepção e, quando necessário, reposicionamento da substância do disco intervertebral. Nas abordagens terapêuticas é importante avaliar se há tensão muscular excessiva nos músculos paravertebrais para o tratamento de sintomas subagudos relacionados ao disco.
Distúrbios patológicos da coluna lombar também podem ser causados por doenças articulares zigapofisiárias. Existem várias abordagens diferentes para o manejo terapêutico, mas o principal objetivo dessas abordagens é o alívio da dor e estabilização.
Inicie usando a inspeção (observação) para delimitar a região onde se situa o elemento anatômico que desejamos palpar. Se o paciente estiver em decúbito ventral, é obrigatório que ele esteja com os braços ao lado do corpo, apoiados na maca, para manter relaxados os músculos da região lombar.
Nessa posição, você pode tentar delimitar, visualmente, a região lombar: o limite superior, pelas 12as costelas, o limite inferior pelo formato convexo do sacro, e o limite lateral, pela massa muscular dos extensores da coluna.
O sulco formado pela musculatura paravertebral, na linha mediana posterior do tronco, permite-nos delimitar o local onde se encontram os processos espinhosos lombares.
Figura 6: (a) Vértebra lombar em vista póstero-lateral. (b) Processos espinhosos de L1 a L5 entre os dedos indicadores do terapeuta. (c) As mãos do terapeuta estão colocadas sobre a crista ilíaca e seus polegares voltam-se para a região lombar. Se os polegares repousarem naturalmente e forem, portanto, colocados ligeiramente à frente da palma da mão, eles indicarão o disco intervertebral (L4-L5); se os polegares do profissional estiverem no plano da palma da mão, eles indicarão o processo espinhoso da quarta vértebra lombar (L4).
Fonte: adaptado de CAEL, 2013; JUNQUEIRA, 2018.
Os processos espinhosos têm formato quadrangular, são espessos, largos, bem mais curtos que os torácicos e horizontais (Figura 6). Eles fixam a musculatura intrínseca do dorso (multífidos, rotadores espinais e interespinais); os ligamentos supraespinal e interespinais. A anatomia topográfica dos processos espinhosos é importante porque a palpação do processo espinhoso lombar serve como referência palpatória à identificação dos processos transversos lombares correspondentes (Figura 7).
Dores que se situam próximas aos processos espinhosos lombares podem ser decorrentes do acometimento dos ligamentos que se inserem nesses processos. As técnicas manuais específicas que objetivam relaxar o tecido ligamentar podem ser de grande ajuda ao tratamento, além da mobilização dos próprios processos espinhosos.
Posicione-se em pé atrás do paciente que está sentado com cifose lombar. Essa posição de cifose permite um maior afastamento entre os processos espinhosos. Visualize os processos espinhosos lombares e palpe-os com as polpas de seus dedos; deslize seus dedos para os espaços interespinhosos e tente, somente através da palpação, fazer a diferenciação palpatória entre o tecido ósseo e o ligamentar. Em caso de dúvida, faça a percussão sobre o tecido ósseo e ligamentar.
Figura 7: Palpação dos processos espinhosos lombares.
Fonte: JUNQUEIRA, 2018.
Os processos espinhosos de L1 a L4 são bastante amplos e têm uma forma irregular com recortes ao longo de sua face posterior, dando-lhes uma aparência ondulada. Bursas são encontradas regularmente entre os processos espinhosos lombares e torácicos vizinhos. Nem sempre os processos espinhosos da coluna lombar formam uma linha reta (isso vale também para outras regiões da coluna). Os processos espinhosos lombares podem se projetar lateralmente longe da linha média em até alguns milímetros e até 1 cm na coluna torácica e ainda serem vistos como uma variação anatômica não patológica. De uma forma geral, conseguimos colocar a polpa de um dedo entre os processos espinhosos, mas isso pode variar bastante (Figura 6c e 8).
Posicione-se em pé e o paciente em decúbito ventral com os braços ao longo do corpo, apoiados na maca. Palpe com a polpa de seus dedos os processos espinhosos da região lombar, posicionando-os no sulco sagital mediano, mantendo um afastamento de, aproximadamente, um dedo transverso entre eles. Tente distinguir a palpação do processo espinhoso com a do ligamento supraespinal, posicionando a polpa de um dos dedos de sua outra mão em um espaço interespinhoso. Perceba que o ligamento tem uma consistência fibrosa e que apresenta uma pequena complacência à palpação que não está presente na palpação do tecido ósseo.
Figura 8: Palpação direta dos processos espinhosos lombares.
Fonte: JUNQUEIRA, 2018.
Essa manobra é importante para diferenciar e individualizar as vértebras entre si. A própria mobilização dos processos espinhosos permite reconhecer não somente o tamanho do processo espinhoso que está sendo mobilizado, como também sentir o movimento entre as vértebras, na ausência de uma rigidez articular importante. O objetivo é relaxar a região lombar, dando maior conforto ao paciente.
Posicione-se em pé e o paciente em decúbito ventral, com braços ao longo do corpo, apoiados na maca. Palpe “em forma de pinça”, os processos espinhosos da região lombar, globalmente. Mantenha mais ou menos um dedo transverso de distância entre eles. Para melhor diferenciá-los, fixe um processo espinhoso e mobilize o outro. (Figura 9a,b)
Posicione-se em pé, no nível da pelve do paciente que está em decúbito lateral, com um dos joelhos flexionado. Palpe dois processos espinhosos lombares, fixando o caudal e mobilizando o cefálico. O seu joelho que está apoiado no joelho do paciente, irá, por meio de um grande braço de alavanca, auxiliar a fixação do processo espinhoso caudal; seu cotovelo cefálico, da mesma forma, auxiliará a mobilização do processo espinhoso cefálico. Com esse posicionamento, o terapeuta poderá mobilizar os processos espinhosos lombares, utilizando os dois braços de alavanca (caudal e cefálico), e, assim, perceberá se existe alguma restrição de movimento entre eles.
Posicione-se em pé e o paciente em decúbito ventral, com braços ao longo do corpo, apoiados na maca. Palpe “em forma de pinça”, os processos espinhosos da região lombar, globalmente. Mantenha mais ou menos um dedo transverso de distância entre eles. Para melhor diferenciá-los, fixe um processo espinhoso e mobilize o outro. (Figura 9a,b)
Posicione-se em pé, no nível da pelve do paciente que está em decúbito lateral, com um dos joelhos flexionado. Palpe dois processos espinhosos lombares, fixando o caudal e mobilizando o cefálico. O seu joelho que está apoiado no joelho do paciente, irá, por meio de um grande braço de alavanca, auxiliar a fixação do processo espinhoso caudal; seu cotovelo cefálico, da mesma forma, auxiliará a mobilização do processo espinhoso cefálico. Com esse posicionamento, o terapeuta poderá mobilizar os processos espinhosos lombares, utilizando os dois braços de alavanca (caudal e cefálico), e, assim, perceberá se existe alguma restrição de movimento entre eles.
Figura 9: Manobra de mobilização dos processos espinhosos. (a) e (b) Primeira possibilidade. (c) Segunda possibilidade.
Fonte: adaptado de JUNQUEIRA, 2018.
A contagem é importante para se identificar precisamente uma vértebra lombar e também para se delimitar a região lombar.
No caso das disfunções das vértebras lombares, como perdas ou restrições de mobilidade entre elas, é necessário aplicar a técnica manipulativa sobre a vértebra em disfunção, em vez de se manipular aleatoriamente. Lembre que o número das vértebras pode variar e na região lombar não é incomum a existência de uma sexta vértebra.
Posicione-se em pé e o paciente em decúbito lateral ou ventral. Identifique o espaço entre os processos espinhosos de L4 e L5 para poder iniciar a contagem das vértebras lombares: palpe com o indicador o ápice da crista ilíaca e mantenha o seu polegar no mesmo alinhamento horizontal para encontrar, na linha sagital mediana, o espaço interespinhoso L4-L5. A partir dessa referência, posicione as polpas de seus dedos nos processos espinhosos adjacentes. Após ter palpado L4 e L5, desloque os dedos em sentido cefálico para efetuar a contagem das outras vértebras lombares. Caso tenha dúvida, peça ao paciente que intensifique a lordose lombar com o objetivo de mobilizar os processos espinhosos lombares e de diferenciar o nível lombar do nível sacro. Assim, você perceberá que os processos espinhosos irão movimentar-se de forma mais individualizada, comparados ao segmento sacral. (Figura 10a, b)
De uma forma geral, os ápices das cristas ilíacas estão situados no mesmo alinhamento horizontal de L4 e L5.
O paciente se posiciona em decúbito lateral com um dos joelhos flexionado e você fica em pé, no nível da pelve do paciente. Trace uma linha imaginária horizontal, a partir do ápice da crista ilíaca até a linha sagital mediana. Você deve encontrar o espaço interespinhoso L4-L5. Desloque então seu dedo, caudalmente, para alcançar o processo espinhoso de L5, e, logo após, desloque-o em sentido cefálico, para identificar os outros processos espinhosos das vértebras lombares. (Figura 10 c, d)
Figura 10: Contagem dos processos espinhosos lombares. (a) e (b) Primeira possibilidade. (c) e (d) Segunda possibilidade.
Fonte: adaptado de JUNQUEIRA, 2018.
A L5 é uma vértebra de transição entre as regiões lombar e sacral e tem os processos articulares inferiores mais afastados e o processo espinhoso mais curto em comparação às demais vértebras. A palpação do processo transverso de L5 (Figura 11a,b) pode ser a mais difícil da região lombar, não somente pela sua proximidade da asa ilíaca, como também, muitas vezes, por ocorrer a sua sacralização (ou hemisacralização) (Figura 11c), pois é o mais longo de todos os processos transversos lombares.
Variações na anatomia da coluna lombar dificultam a localização do processo espinhoso de L5. Quando três processos espinhosos protuberantes e pontiagudos são encontrados na junção lombossacral, é difícil diferenciar entre L5 e S1 simplesmente olhando para sua forma. Quais opções existem para confirmar a localização de uma estrutura quando nenhum movimento em L5 e S1 puder ser sentido? Como é visto quando a mobilidade é restrita ou quando há hemissacralização? Como os terapeutas podem estar certos de que a palpação está correta quando o processo espinhoso S1 suspeito move-se em S2? A localização está incorreta ou há lombarização presente?
Felizmente, constantes também existem na anatomia. Certas estruturas têm uma forma constantemente recorrente: o processo espinhoso L5 é sempre menor do que o processo espinhoso L4; o processo espinhoso de T12 é sempre menor do que o processo espinhoso L1; a pressão póstero-anterior aplicada a um processo espinhoso move a vértebra ligeiramente anterior.
Posicione-se em pé e o paciente em decúbito ventral, com os braços ao longo do corpo, apoiados na maca. Posicione as polpas de seus dedos no sulco do sacro (a cada lado da crista sacral mediana). Deslize os dedos, empurrando a pele do paciente, em sentido cranial, aproximando um do outro. Quando perceber uma barreira rígida ao deslizamento, terá encontrado o processo espinhoso de L5.
Das vértebras móveis, as vértebras lombares são as maiores e têm os seus processos transversos muito mais longos do que os torácicos e os cervicais. Os processos transversos (ou processos costiformes) são longos, finos e horizontalizados (Figura 6a).
Uma grande quantidade de músculos se fixam nessas saliências, como os músculos posteriores intrínsecos das costas e os músculos abdominais profundos anteriores (por exemplo, pessoas maiores). Quando comparado com as vértebras torácicas, você pode se surpreender com o extenso tamanho de uma vértebra lombar quando palpar ao mesmo tempo os seus dois processos transversos. É muito mais fácil atingir os processos transversos por meio da palpação em pessoas magras, porque os processos transversos estão localizados a vários centímetros da superfície das costas e são completamente cobertos pelos extensores dorsais grossos e salientes.
Primeira possibilidade de palpação do processo transverso (Figura 12a,b) – O paciente em decúbito ventral e você em pé. Posicione, aproximadamente, três dedos transversos, a partir de um processo espinhoso lombar, mantendo um alinhamento horizontal para encontrar o ápice do processo transverso correspondente. É muito importante, primeiramente, aprofundar a palpação com o polegar em direção à maca, estando o dedo situado lateralmente à musculatura paravertebral, para, só então, dirigi-lo medialmente à procura do processo transverso. Ao encontrar uma barreira rígida, que não cede à palpação, você terá encontrado o processo transverso de uma vértebra lombar.
Segunda possibilidade de palpação do processo transverso (Figura 12c,d) – Paciente posicionado em decúbito lateral e o terapeuta em pé. Empurre a musculatura paravertebral e, com os polegares, aprofunde a palpação até encontrar uma superfície rígida, que não cede à palpação, que é um processo transverso lombar.
Figura 12: Palpação dos processos transversos. (a) e (b) Primeira possibilidade. (c) e (d) Segunda possibilidade.
Fonte: adaptado de JUNQUEIRA, 2018.
Articulações zigaposisárias (AZP) ou articulações facetárias podem determinar o potencial de movimento permitido pelos discos intervertebrais. O alinhamento dessas juntas dita a direção e parcialmente a amplitude do movimento segmentar. A diferença anatômica individual envolvendo assimetria do alinhamento das AZPs é chamado de tropismo facetário (pode haver diferenças entre o lado direito e esquerdo no próprio indivíduo). A amplitude de movimento segmentar de flexão lateral e rotação para a esquerda e para a direita podem, portanto, diferir, mesmo em segmentos saudáveis. Por essa razão, o terapeuta compara os lados ao avaliar a amplitude do movimento local.
Para palpar os AZPs, o terapeuta deve superar uma camada de vários centímetros de espessura (25-35 mm) composta pela fáscia toracolombar e pelo multífido e, segundo Reichert (2015), não é possível localizar a articulação palpando os contornos, sentindo a diferença de consistências dos tecidos,ou pelo uso da palpação em movimento. Aplicar pressão no tecido mole pode provocar dor, mas não é possível atribuir a dor definitivamente à pressão das AZP.
O sacro tem forma triangular e possui uma base, um ápice e três faces (pélvica, dorsal e laterais). A base articula-se com a vértebra L5; o ápice articula-se com o cóccix. A face pélvica (Figura 13) possui quatro cristas transversais e os espaços entre elas representam os corpos vertebrais sacrais. Na extremidade das cristas transversais estão os forames sacrais ventrais. A face dorsal (Figura 14) apresenta a crista sacral mediana e lateralmente à ela está o sulco sacral, onde se originam os músculos eretor da espinha e grande dorsal. As lâminas de S5 não se unem na linha mediana e formam o hiato do sacro.
As cristas sacrais intermediárias são compostas por alguns tubérculos, dispostos lateralmente ao sulco sacral; representam a fusão dos processos articulares das vértebras sacras. No nível de S4 a S5, esses tubérculos passam a ter um formato alongado e formam os cornos do sacro. As cristas sacrais laterais estão situadas lateralmente aos forames sacrais e representam os processos transversos. A face lateral possui a face auricular que articula-se com a face auricular do ílio. Em sua metade caudal, encontra-se a AILS (ângulo inferolateral do sacro), onde se inserem os ligamentos sacrotuberal e sacroespinhoso e parte das fibras do músculo glúteo máximo e do músculo coccígeo. O sacro nas mulheres é mais largo, mais curto, mais oblíquo e apresenta uma direção mais dorsal, aumentando o tamanho da cavidade pélvica, além de também aumentar o ângulo sacrovertebral. Nos homens, a curvatura sacra é maior.
Clinicamente importante, pois tem relação com a musculatura extensora da coluna vertebral e grande dorsal; com os ligamentos sacroilíacos posteriores longos e curtos. A CSM pode ser ponto de referência para a palpação do hiato sacral, dos processos espinhosos lombares, do sulco do sacro e dos forames sacrais posteriores.
Os músculos multífido e sacroespinhal (eretor da espinha) integram esse grupo e têm parte de suas origens na crista sacral mediana.
Quando o paciente referir dor nessa região do sacro, você poderá observar que o sintoma doloroso de seu paciente é causado pelo aumento de tensão ou do encurtamento da musculatura extensora da coluna (músculos multífido e sacroespinal, que fazem parte do músculo extensor da coluna). O paciente pode ter feito um esforço não habitual de extensão da coluna vertebral, forçando essa musculatura. Nesses casos, o simples relaxamento das aponeuroses desses músculos, no nível sacral, pode adiantar bastante.
A crista sacral mediana situa-se no eixo da prega interglútea, no prolongamento dos processos espinhosos lombares.
O paciente posiciona-se em decúbito ventral com travesseiro sob o quadril e você em pé, ao lado dele. Palpe globalmente os processos espinhosos das vértebras lombares (Figura 15) com a borda ulnar de sua mão cefálica e com a polpa dos dedos de sua mão caudal, palpe a crista sacral mediana, no mesmo alinhamento vertical de sua mão cefálica. No nível do terceiro ou quarto forame sacral posterior termina a crista sacral mediana e abaixo dela situa-se o hiato do sacro.
Figura 15: Palpação da crista sacral mediana.
Fonte: adaptado de JUNQUEIRA, 2018.
Bastante variável em seu formato. O paciente deve estar em decúbito ventral e com colchão sob o quadril e você em pé, ao lado dele. Palpe a porção distal da crista sacral mediana com a polpa do 3o e 2o dedos de sua mão cefálica. Siga o mesmo alinhamento vertical com os dedos de sua mão caudal e note que, ao terminar a crista sacral mediana, eles afundarão no hiato sacral (Figura 16c). Dependendo do indivíduo, pode ser bastante raso, o que torna mais difícil a sua identificação, mas também pode ser profundo, permitindo que a polpa do dedo do terapeuta aprofunde a palpação.
Os FSP dão passagem para os ramos mediais e laterais das divisões dorsais dos nervos sacrais e inervam a pele da porção medial da região glútea; a pele da região do cóccix é inervada pelas divisões dorsais dos dois últimos nervos sacrais. Uma das causas da sacralgia é o acometimento dos nervos sacrais posteriores e uma forma de fazer o diagnóstico desse acometimento é pela palpação, quando você poderá observar reações do paciente: dores locais (no local da palpação do nervo) ou dor irradiada.
O posicionamento é o mesmo que o da palpação do hiato sacral. Os forames sacrais posteriores estão situados a um dedo transverso lateralmente à crista sacral mediana e um pouco abaixo de seu processo espinhoso correspondente. Coloque a polpa de um de seus dedos num tubérculo da crista sacral mediana e a polpa do dedo de sua outra mão a um dedo transverso lateralmente ao anterior, e um pouco abaixo. Seu dedo então irá afundar em um forame sacral posterior. Palpe suavemente por causa da sensibilidade dos nervos sacrais (Figura 16a,b).
Figura 16: (a) e (b) Palpação dos forames sacrais posteriores; (c) Palpação do hiato sacral.
Fonte: JUNQUEIRA, 2018.
Os cornos do sacro são saliências ósseas (tubérculos), longos, que representam os processos articulares inferiores das últimas vértebras sacrais. Localizam-se, aproximadamente, a um dedo transverso cranialmente ao início da prega interglútea (o início dessa prega situa-se, normalmente, na projeção da articulação sacrococcígea) e um pouco lateralmente a ela.
Mesmo posicionamento da palpação do FSP. Use como referência o hiato sacral, cujas paredes laterais são formadas pelos cornos do sacro. Posicione a sua mão cefálica com o 3º dedo na crista sacral mediana e o 2º dedo no hiato sacral. Posicione o polegar de sua mão caudal lateralmente à prega interglútea e após suba no mesmo alinhamento vertical, para encontrar a borda posteroinferior do corno sacral contralateral à posição do terapeuta (Figura 17).
Figura 17: Palpação direta dos cornos sacrais.
Fonte: JUNQUEIRA, 2018.
A importância clínica do AILS está relacionada ao glúteo máximo, aos ligamentos sacrotuberal e sacroespinal e ao diagnóstico das disfunções sacrais.
O paciente está em decúbito ventral com o colchão sob o quadril e você em pé, ao lado dele. Faça a palpação em duas etapas. Use como referência as EIAS (se situam no mesmo alinhamento vertical dos ângulos sacrais). A distância entre os polegares e os 4ºs dedos de cada mão corresponde, na maioria dos indivíduos, à distância entre EIPS e a AILS. Primeiramente, posicione seus polegares em cada EIPS e após o 4º dedo de cada mão irá substituir os polegares para permitir que eles se desloquem caudalmente (mantendo o mesmo alinhamento vertical). Assim, os seus polegares alcançarão a região abaixo das AILS e irão ao seu encontro, do sentido caudal para o cefálico (Figura 18).
Figura 18: Palpação direta do ângulo inferolateral do sacro.
Fonte: JUNQUEIRA, 2018.
As cristas sacrais intermediárias representam a fusão dos processos articulares das vértebras sacrais. As fibras superficiais do glúteo máximo e os ligamentos sacroilíacos dorsais inserem-se na CSI (a disfunção do glúteo máximo e da aponeurose lombar podem gerar dor).
Use como referência para palpação os cornos do sacro. O paciente está em decúbito ventral com o colchão sob o quadril e você em pé, ao lado dele. Coloque seus polegares sobre os cornos do sacro e desloque-os no sentido cranial, seguindo o mesmo alinhamento vertical, para palpar assim os tubérculos das cristas sacrais intermediárias, que estão medialmente em relação aos forames sacrais (situados a um dedo transverso da crista sacral mediana). As CSI estão a menos de um dedo transverso da crista sacral mediana (Figura 19).
Figura 19: Palpação das cristas sacrais intermediárias.
Fonte: JUNQUEIRA, 2018.
Normalmente, é formado por quatro vértebras e composto pela base e ápice, pelas faces pélvica e dorsal e pelas bordas laterais. Face pélvica: apresenta três sulcos que são a junção de seus corpos vertebrais. Face dorsal: possui tubérculos que representam os processos articulares rudimentares do cóccix (os primeiros tubérculos são os cornos coccígeos) e articulam-se com os cornos do sacro. O cóccix pode variar individualmente em posição e formato. Sua importância clínica está relacionada com o músculo glúteo máximo e os ligamentos sacrococcígeo dorsal e sacrococcígeos laterais. A diminuição ou perda de mobilidade da articulação sacrococcígea pode causar dor e o diagnóstico dessa alteração é feito através da análise dos movimentos do cóccix pela palpação. O paciente relata diminuição da dor quando abordagem manipulativa é aplicada de forma correta.
A base do cóccix localiza-se no início da prega interglútea, a três dedos transversos (de 6 a 7 cm) acima do orifício anal.
Figura 19: Palpação da base do cóccix.
Fonte: JUNQUEIRA, 2018.
É feita por via anal e facilmente palpável pelo toque retal. Percebe-se que o cóccix é levemente móvel com essa palpação.
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Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
Design Instrucional: Luiz Specht e Gabriela Rossa
Diagramação: Vinicius Ferreira e Luiz Specht
Fotos e filmagem: Matheus von Mühller Prates
Ilustrações: Marcelo Germano
Revisão ortográfica: Ane Arduim