Encontros anteriores

Yuri Nascimento (05/07/2023)

Programa de Pós-Graduação em Lógica e Metafísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro - PPGLM/UFRJ

Um embaraço insolúvel: A solução de Tomás Bradwardine ao Paradoxo do Mentiroso

O principal objetivo da comunicação é apresentar a tentativa de solução ao Paradoxo do Mentiroso oferecida pelo lógico medieval Tomás Bradwardine (d. 1349). Trata-se de um trabalho de história da Lógica, cujo propósito é reconstruir a engenhosa teoria de Bradwardine, uma das mais influentes na Idade Média. Em linhas gerais, a estratégia bradwardiniana consiste em rejeitar a validade do argumento que estabelece o Paradoxo, por meio da formulação de uma teoria das condições de verdade que seja capaz de tornar falsas todas as sentenças direta ou indiretamente autofalsificadoras. Nesta comunicação, apresentarei as principais noções mobilizadas por Bradwardine em sua solução e, em seguida, discutirei algumas objeções contra ela, sobretudo em relação à noção bradwardiniana de significação sentencial. Por fim, gostaria de apontar uma interpretação da teoria que parece responder às objeções levantadas. Assista no YouTube.

Alexandre Meyer Luz (28/06/2023)

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Violência Epistêmica

O objetivo principal de minha apresentação é o de oferecer uma reflexão sobre o conceito de “violência epistêmica”. Como pretendo mostrar, atos de violência epistêmicas são corriqueiros, alguns não são percebidos e outros são considerados aceitáveis ou mesmo louváveis. Para chegar a tais resultados, proporei uma análise do conceito geral de “violência”, acompanhada por uma discussão sobre as relações entre a classificação de uma ação como “violenta” e avaliações de tal ação como sendo “apropriada” (ou “inapropriada”) em algum sentido geral.

Com tal framework de fundo, pretendo oferecer 1) uma classificação geral de tipos de violência epistêmica e 2) uma discussão sobre a avaliação de alguns subtipos de ações epistemicamente violentas. Assista no YouTube.

Ana Stela Rossito Carneiro (14/06/2023)

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Sobre a importância da responsabilidade em teorias infinitistas

O infinitismo se propõe como uma teoria da justificação alternativa ao trilema de Agripa. Em ordem de responder ao trilema, inicialmente são apresentados dois princípios, que são a intuição para a teoria, são eles: Princípio de Eliminação de Circularidade e Princípio de Eliminação de Arbitrariedade. De acordo com eles, em uma cadeia justificacional não pode ocorrer repetição e nem ter uma razão última que a encerre. Com a promessa de ser a única teoria capaz de oferecer justificação completa, o infinitismo é uma teoria bastante apoiada no responsabilismo, tratando a responsabilidade como parte valiosa no processo de justificação e aquisição de conhecimento do sujeito. Ponderando o debate sobre responsabilidade centrado nas décadas de 1970 e 1980 (principalmente), em união com a proposta de Peter Klein para justificação, o presente trabalho tem como objetivo abordar as propostas de Responsabilismo de Virtudes e Deontológico, bem como o papel que a responsabilidade possui no infinitismo, seja na proposta mais tradicional ou nas mais alternativas. Assista no YouTube.

Evelyn Erickson (12/06/2023)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Anti-anti-excepcionalismo

Anti-excepcionalismo (AE) sobre lógica diz que a lógica não é uma disciplina excepcional em termos de sua epistemologia. Anti-excepcionalistas rejeitam que lógica seja a priori ou analítica, propriedades associadas a visões fundacionalistas. Uma interpretação comum do AE associa a lógica à ciência, afirmando que ambas compartilham um método de revisão de teorias: inferência à melhor explicação (IBE, da sigla em inglês). Tal abordagem não é livre de problemas, e o presente trabalho argumenta que unificar lógica e ciência por meio de IBE não é uma alternativa tão viável para a epistemologia da lógica quanto aparenta. O trabalho também explora métodos alternativos de revisão para teorias lógicas, propondo um anti-anti-excepcionalismo, sem retornar a uma visão fundacionalista. Assista no YouTube.

César Frederico dos Santos (26/04/2023)

Universidade Federal do Maranhão - NELF

Lógicas como ferramentas cognitivas

Segundo a posição mais comum, lógicas são teorias descritivas, cujo objetivo é capturar aspectos de uma realidade independente (linguagem natural, mundo físico, mundo platônico etc.). Uma corrente alternativa, derivada de Carnap, sustenta que lógicas são, antes de tudo, convenções estabelecidas por seus criadores.  Nesta palestra, rejeito ambas visões e proponho que sistemas lógicos, ao invés de teorias descritivas ou meras convenções, são ferramentas cognitivas cujo propósito está em nos auxiliar a fazer inferências em certos contextos. Para tanto, estabeleço uma analogia entre ferramentas manuais e sistemas lógicos, mostrando como as lógicas funcionam tal e qual ferramentas manuais, com a importante diferença de que lógicas são aplicadas ao âmbito da cognição. Por fim, mostro que, similarmente a ferramentas manuais, as lógicas de fato exibem aspectos representacionais e convencionais, mas ambos subordinados à consecução de sua finalidade instrumental. Assista no YouTube.

Sanderson Molick (19/04/2023)

Instituto Federal do Pará (IFPA-CMI)

Dados lógicos e a revisão de teorias lógicas: uma leitura laudaniana

A tese do anti-excepcionalismo lógico propõe que as verdades lógicas podem ser testadas contra um ampla gama de dados que variam desde construções matemáticas a intuições linguísticas, fatos lógicos ou fenômenos de diversos tipos. Na presente palestra, partirei da hipótese da subdeterminação das teorias pelos dados lógicos como meio para descrever o processo de revisão de teorias lógicas, tal como proposto pelo anti-excepcionalismo. A proposta se baseia no modelo reticulado de Larry Laudan e servirá para explorar tópicos como a discordância entre lógicas rivais e o pluralismo lógico. Assista no YouTube.

Marcio Kléos Freire Pereira (12/04/2023)

Universidade Federal do Maranhão - NELF

Sentidos fazem sentido, até certo ponto

A análise semântica de tradição fregeana para a linguagem natural tem como principal característica a consideração de uma instância intermediária entre os sinais e suas denotações: os sentidos. Além disso, a solução proposta para as dificuldades envolvendo os relatos de atitude proposicional requer um contexto peculiar nos quais trechos desses relatos denotam o que normalmente seriam seus sentidos. Deixando de lado por um instante a polêmica discussão sobre a natureza desses sentidos fregeanos, uma das principais críticas contra essa perspectiva semântica consiste na inconveniência produzida pela derivação de uma hierarquia infindável de sentidos indiretos e denotações indiretas, numa multiplicação aparentemente desnecessária de entidades semânticas. Mostraremos como Graeme Forbes pretende resolver esse problema sem descaracterizar a proposta de Frege.

Sérgio de Souza Filho (30/03/2023)

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

Intencionalidade naturalizada: o problema do conteúdo distante

O objetivo desta apresentação é introduzir o projeto de naturalização da representação mental e defender uma das principais teorias naturalistas da representação mental – a teleosemântica – do problema do conteúdo distante. A intencionalidade é a capacidade de estados mentais representarem o mundo. Por exemplo, minha crença que São Luís é localizada ao norte do Recife representa São Luís como localizada ao norte do Recife. Mas em que consiste em última instância esta capacidade representacional? O projeto de naturalização da intencionalidade é explicar a representação mental em termos puramente naturais. O mercado oferece diversas teorias naturalistas, mas a propaganda corrente é que as chamadas teorias teleológicas (“teleosemântica”) são uma das mais influentes e promissoras. A teleosemântica propõe a redução da noção de representação mental à noção de função biológica. Aqui assumiremos a concepção etiológica de função biológica: a função de um traço biológico é o efeito para o qual tal traço foi selecionado. A tese central da teleosemântica é a identificação das condições de verdade da representação mental com as condições sob as quais tal representação executa sua função biológica. Contudo, a viabilidade da teleosemântica é ameaçada por um problema primeiramente formulado por Fred Dretske, o problema do conteúdo distante, que especifica um caso de indeterminação funcional no que concerne à função biológica da representação mental. Dado que a teleosemântica identifica as condições de verdade da representação com as condições sob as quais tal representação executa sua função, se a função da representação é indeterminada, suas condições de verdade também o são. Nesta apresentação defenderemos uma solução para o problema do conteúdo distante. Desenvolveremos uma extensão da concepção etiológica a fim de determinar a função biológica não apenas a partir da história atual de seleção de traços deste tipo, mas também da história contrafactual. Mais especificamente, a partir da comparação contrafactual de traços biológicos. Argumentaremos que esta proposta soluciona o problema do conteúdo distante ao especificar de maneira não arbitrária e bem fundamentada a função biológica da representação mental. Assista no YouTube.

Para quem quiser saber mais sobre a pesquisa do Sérgio, ele recomenda dois de seus artigos publicados recentemente:

"Can Constancy Mechanisms Draw the Limits of Intentionality?" Disputatio, vol.14, no.65, 2022, pp.133-156. https://doi.org/10.2478/disp-2022-0008

"A dual proposal of minimal conditions for intentionality." Synthese 200, 115 (2022). https://doi.org/10.1007/s11229-022-03483-7

Hugo Ribeiro Mota (12/12/2022)

Universidade de Oslo

Mudando perspectivas através da comunicação

Uma nova onda de estudos sobre desacordos profundos tem se preocupado em aplicar suas teorias em casos reais relacionados a problemas políticos. Avançando ainda mais nesta discussão, esta apresentação trata do que chamo de desacordos profundos sociais, que são desacordos genuínos, persistentes e coletivos sobre questões sociais estruturais. Além de injustiças políticas e sociais, entre suas causas subjacentes estão tipos prejudiciais de exclusão epistêmica. O papel e a eficácia da argumentação é central para sabermos se estes desacordos profundos sociais podem ser resolvidos racionalmente. Avaliando como os teóricos da argumentação têm respondido aos desafios de tais conflitos estruturais, defendo que mesmo as propostas mais adequadas também têm insuficiências significativas. Para dar conta disso, considero o modelo de intercâmbio epistêmico de Novaes (2020) como uma perspectiva mais ampla da argumentação. Um aspecto importante deste modelo está na importância dada à atenção, a qual possui papel fundamental em minha distinção entre duas dimensões cognitivas de desacordos profundos, a saber, a dimensão argumentativa e a dimensão perspectivista. Dada esta distinção, defendo que se existem métodos bem sucedidos para resolver desacordos profundos sociais, eles devem se concentrar principalmente em mudar perspectivas, não apenas um conjunto de crenças. Considerando que a dimensão perspectivista tem sido negligenciada tanto no debate de desacordos profundos como na literatura da teoria da argumentação, eu exploro formas de comunicação não-argumentativas voltadas para a mudança de perspectiva e avalio até que ponto elas são adequadas e úteis para superar conflitos estruturais. Minha defesa será de um método pluralista que utilize formas de comunicação argumentativas e não argumentativas. Veja o resumo completo. Assista no YouTube.

Wilhelm Alexander C. Steinmetz (13/10/2022)

Universidade Federal de Minas Gerais

Cognição Corporificada, Merleau-Ponty e Matemática

Nas últimas décadas se acumularam evidências empíricas (dos campos da neurociência, linguística cognitiva, psicologia e da antropologia da aprendizagem, entre outros) apontando a natureza corporificada da cognição humana. Tais evidências podem ser usadas para informar teorias filosóficas ou para construir uma abordagem filosófica "bottom-up" da matemática. Em especial, estas evidências podem ser de interesse para teorias filosóficas que levam a prática matemática em consideração ou teorias como o Intuicionismo, que enxergam a matemática como construção mental.

No mais, a natureza corporificada da cognição encontra ressonância nas reflexões de Merleau-Ponty sobre a mente como ente inseparável do nosso corpo. Além disso, o olhar fenomenológico pode lançar uma luz sobre aspectos da prática matemática que são mais difíceis de analisar por meio de outras teorias filosóficas da matemática. Assista no YouTube.

César Frederico dos Santos (16/12/2021)

Universidade Federal do Maranhão

Intuições, escolha de teorias e o caráter aperfeiçoador das teorias lógicas

Os anti-excepcionalistas sobre a lógica afirmam que a metodologia lógica não é diferente da metodologia científica quando se trata do processo de escolha de teorias. Dois métodos anti-excepcionalistas de escolha de teorias em lógica são o abdutivismo (defendido por Priest e Williamson) e o predictivismo (recentemente proposto por Martin e Hjortland). Estes métodos têm em comum a crença de que intuições lógicas pré-teóricas constituem parte central dos dados que devem ser levados em conta para a avaliação de teorias lógicas concorrentes. Nesta palestra, eu defendo que intuições não podem fornecer o tipo de dado de que o abdutivismo e o predictivismo precisariam para que fossem métodos viáveis de escolha de teorias em lógica. Como alternativa a estas abordagens, proponho uma visão carnapiana sobre o trabalho de teorização em lógica segundo a qual as teorias lógicas não buscam simplesmente captar intuições pré-teóricas, mas sim melhorá-las. Nesta abordagem, teorias lógicas são transformativas ou melhoradoras, em vez de meramente descritivas de intuições ou da assim chamada logica ens. Assista no YouTube.

Jonas R. Becker Arenhart (02/12/2021)

Universidade Federal de Santa Catarina e PPGFIL-UFMA

Entendendo a evidência em lógica, com uma ajuda dos paradoxos

Diante da grande variedade de sistemas de lógica, a pergunta natural é: há alguma delas que seja correta? A próxima pergunta é: pode ser o caso que mais de uma lógica seja correta? A correção de uma lógica, dizem, é uma questão de descrever corretamente as evidências disponíveis para as teorias lógicas. Nesta palestra, discutiremos uma forma de se caracterizar a natureza das evidências em lógica que difere das abordagens disponíveis. Vamos sustentar que disputas em lógica rapidamente levam a petições de princípio, pelo fato de que o vocabulário lógico alvo da disputa é frequentemente empregado para caracterizar a evidência disponível. Nesse sentido, a evidência em lógica é carregada de teoria. Ilustraremos a tese considerando a disputa entre lógicos clássicos e dialeteístas no tratamento de paradoxos como o paradoxo do mentiroso e o paradoxo de Russell. Ambas as partes sugerem caracterizações radicalmente diferentes das derivações envolvidas em cada caso, de modo que o risco de uma má compreensão mútua é sempre presente. Vamos sugerir que a escolha de teorias deve se basear, nesses casos, em fatores pragmáticos, como o sucesso e fertilidade das teorias. A própria noção de correção de um sistema ganha nova perspectiva. Assista no Youtube.

Ederson Safra Melo (23/09/2021)

Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Paradoxos: contradições e anti-excepcionalismo lógico

Alguns paradoxos têm sobrevivido por séculos entre as batalhas filosóficas que apontam para soluções do problema dos paradoxos. A resiliência de paradoxos, como o do Mentiroso, sugere para alguns que contradições deveriam ser mantidas, tendo em vista que os seus danos podem ser controlados pelo uso de uma lógica paraconsistente. Entretanto, essa estratégia pode levantar suspeitas, considerando que ela viola o que poderia ser tomado como uma boa prática metodológica da ciência que consiste em evitar contradições por meio de revisão teórica. Na apresentação aqui proposta, pretendemos discutir duas estratégias amplas diante das contradições que resultam dos paradoxos: a estratégia que recomenda a acomodação das contradições e a estratégia que recomenda a revisão das contradições. Iremos investigar tais estratégias sob a perspectiva do anti-excepcionalismo lógico que assimila a metodologia da lógica com as ciências empíricas. Diante das diretrizes metodológicas já disponíveis nas discussões de contradições nas ciências empíricas, o resultado é que a estratégia da revisão deve ser preferida, ao menos considerando o estágio atual da ciência. Assista no Youtube.

Henrique Antunes (15/09/2021)

Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Sobre extensões de primeira ordem das lógicas da evidência e verdade

Lógicas da evidência e verdade (LETs) foram concebidas para formalizar o comportamento dedutivo das noções de evidência positiva e negativa, as quais podem ser conclusivas ou inconclusivas. De acordo com a interpretação pretendida, em uma LET, supõe-se que uma evidência conclusiva comporta-se classicamente, ao passo que evidências não-conclusivas podem violar algumas inferências classicamente válidas. Essa diferença é explicitamente representada na linguagem formal através do operador ‘o’, o qual, quando prefixado a uma fórmula A, indica que a evidência disponível para A é conclusiva. Sistemas de dedução natural para as lógicas sentencias da evidência e verdade LETj e LETf foram propostos e investigados, respectivamente, por Carnielli e Rodrigues (2017) e por Rodrigues, Bueno-Soler, e Carnielli (2020). Em (Antunes et al. 2020), foram apresentadas semânticas de Kripke para ambas as lógicas e, em (Antunes et al. 2021), mostrou-se como LETf pode ser estendida a um sistema de primeira ordem com identidade, denominado QLETf. Antunes et al. (2021) descrevem um método geral para interpretar diversas lógicas não-clássicas de primeira ordem que resulta da combinação de valorações com uma interpretação polar das letras de predicado. Além de QLETf, esse método também foi aplicado às versões quantificadas das lógicas FDE, LP e K3 – denominadas, respectivamente, QFDE, QLP, QK3. Em se tratando de QFDE e QLETf, identificou-se que embora a versão inferencial do axioma do domínio constante seja semanticamente válida em ambas as lógicas, ela não pode ser derivada em sistemas de dedução natural nos quais a regra de introdução do quantificador universal é a usual, sendo necessário a adoção de uma regra alternativa. Haja vista a relação entre a nova regra adotada e a inferência do domínio constante, pretendemos, no atual estágio da pesquisa, investigar qual é o resultado de se formularem versões de QFDE e QLETf nas quais aquela inferência não é válida. Mais especificamente, nossos objetivos são: (i) formular semânticas de Kripke com domínios variáveis para ambas as lógicas; e (ii) investigar se os sistemas que contêm a regra usual de introdução quantificador universal são adequados relativamente às semânticas apresentadas em (i). Nesta apresentação, pretendo (1) descrever brevemente os principais resultados em (Antunes et al. 2021), (2) indicar, em linhas gerais, qual é a estratégia a ser adotada para estender esses resultados da maneira indicada acima e (3) discutir alguns problemas conceituais relacionados à interpretação pretendida das LETs de primeira ordem. Clique para ler o resumo estendido. Assista no Youtube.

Jonas R. Becker Arenhart (06/05/2021)

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Dois dogmas do anti-excepcionalismo sobre a lógica

O anti-excepcionalismo sobre a lógica é a concepção de que a lógica não é especial, ela é simplesmente como qualquer outra ciência empírica. Mas essa similaridade não tem sido igualmente desenvolvida em todos os seus aspectos na literatura sobre o assunto. Antes, o que se sugere é que o anti-excepcionalismo está atrelado a uma proposta de epistemologia para a lógica fundamentada no método abdutivo de escolha de teorias, e essa proposta, se diz, tem suas origens no empirismo de Quine. Seguindo essa conexão, nessa apresentação, pretendo discutir o que poderíamos ver como dois dogmas do anti-excepcionalismo, duas teses que são associadas com a visão, e que precisam de uma avaliação mais cuidadosa. O primeiro, diz respeito a alegação de que a escolha de teorias e a epistemologia da lógica são uma e a mesma coisa. Esse dogma indica que o anti-excepcionalismo seria uma espécie de rival para concepções mais tradicionais acerca da epistemologia da lógica. O segundo dogma, relacionado com o primeiro, é a ideia de que mesmo uma teoria lógica precisa encarar fatos ou evidências de algum tipo. O plano é que podemos declarar uma teoria lógica como mais ou menos adequada, e essa relação é determinante na escolha de teorias. Pretendo argumentar que os dois dogmas, quando articulados cuidadosamente, trazem mais problemas do que soluções, e que o anti-excepcionalismo resulta em uma posição mais coerente quando abandonamos eles. Assista no Youtube.

André Neiva (08/04/2021)

Latam Bridges

Carnap e a interpretação lógica de probabilidade

Ao lado de Keynes, Carnap foi sem dúvidas um dos principais defensores da interpretação lógica de probabilidade. De acordo com essa visão, a noção de probabilidade é definida como uma relação lógica entre proposições ou, mais precisamente, como uma relação lógica entre uma hipótese e um conjunto de evidências. Para Carnap, a relação de probabilidade deve ser entendida como uma generalização da noção de acarretamento da lógica dedutiva. Em grande medida, o seu projeto consistia em desenvolver uma teoria da confirmação em termos puramente sintáticos. Assim, relações de confirmação entre diferentes hipóteses e conjuntos de evidências dependeriam fundamentalmente da forma lógica de tais proposições. Nesta palestra, pretendo reconstruir a teoria carnapiana da confirmação e, em particular, a sua versão de bayesianismo objetivo que é desenvolvida na sua obra Logical Foundations of Probability (1950). Por fim, discutirei um dos principais desafios à proposta de Carnap: o novo engima da indução de Goodman. Embora esse problema seja o verdadeiro calcanhar de Aquiles da sua abordagem, mostrarei algumas lições importantes que podemos extrair do bayesianismo objetivo de Carnap. Assista no YouTube.

Gelson Lima (01/04/2021)

Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Revisitando Carnap: ciência e filosofia

A proposta apresentada ao revisitar Carnap pretende mostrar que um dos principais objetivos da filosofia da ciência carnapiana, sobretudo expresso em seu princípio de tolerância linguística, enquanto um “oceano aberto de ilimitadas possibilidades”, é articular um método de resolver ou dissolver disputas e perplexidades filosóficas relativizando-as a um sistema linguístico de referência. Para tanto, pretendemos apresentar um esboço da obra carnapiana a partir de seus critérios de cientificidade, sua posição epistemológica e sua teoria da verdade. O faremos a partir da análise de algumas teses revisionistas que nos ajudam a avaliar a importância de Carnap em discussões atuais em filosofia da ciência, entendidas enquanto análise lógica da linguagem. Assista no YouTube.

Henrique Antunes  (03/12/2020)

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Consistência, Classicidade e Existência

Lógicas livres rejeitam o pressuposto clássico de que todos os termos de uma dada linguagem de primeira ordem denotam indivíduos do domínio de quantificação. De acordo com a interpretação filosófica mais aceita dos quantificadores, esse movimento equivale a abandonar a ideia de que um termo individual deve sempre denotar um objeto existente. Lógicas paraconsistentes e paracompletas, por sua vez, diferem-se da lógica clássica por rejeitarem a validade dos princípios da explosão e do terceiro excluído, respectivamente. Embora sejam subsistemas da lógica clássica, algumas lógicas paraconsistentes (que também podem ser paracompletas), as chamadas LFIs (LFIUs), são, no entanto, suficientemente expressivas para permitir recuperar inferências clássicas sob determinadas condições. Nesta apresentação, pretendo introduzir versões de lógica livre de algumas LFIs e explorar suas possíveis aplicações filosóficas. Especificamente, discutirei como o predicado de existência E, comumente utilizado na formulação das lógicas livres, pode ser combinado com o operador de consistência (ou classicalidade) das LFIs de modo a permitir delimitar o escopo da lógica clássica relativamente aos tipos de objetos sobre os quais se está raciocinando. Ver-se-á que, nos sistemas a serem apresentados, embora a lógica clássica seja irrestritamente válida em se tratando de indivíduos que satisfazem E (i.e., objetos que realmente existem), violações de determinados princípios clássicos ainda podem ocorrer quando raciocinamos acerca de objetos aos quais o predicado de existência não se aplica (e.g., personagens de ficção). Assista no Youtube.

Newton Peron (26/11/2020)

Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)

Quando um nome diz pouco: filosofia da linguagem em Morte e Vida Severina

Desde o artigo “Da Denotação” de Russell de 1905, a polêmica sobre os nomes próprios se tornou um dos principais temas da filosofia da linguagem contemporânea. Grosso modo, para Russell, nomes próprios devem ser entendidos como abreviações de descrições definidas. Descrições definidas, por outro lado, não têm significado por si próprias, embora sejam suficientemente significativas no contexto de uma sentença.

 Em 1950, em seu artigo “Sobre Referir”, Strawson discorda da tese de Russell de que nomes próprios são descrições definidas. Para ele, Russell não distinguiu entre uma expressão e o uso que fazemos de uma expressão: são apenas usos de nomes próprios e de expressões individualizantes que são referenciais ou não.

 Mais tarde, em 1966, em seu artigo “Reference and Definite Description”, Donnellan discordará de ambos, distinguindo denotação de referência. Para ele, ambos ignoraram que descrições definidas podem ter tanto um uso atributivo quanto referencial. 

 A distinção entre função atributiva e referencial de descrições definidas pode iluminar o papel que o nome próprio “Severino” tem no poema “Morte e Vida Severina” de 1955, escrito pelo pernambucano João Cabral de Melo Neto. No poema, o personagem narrador tenta fazer um uso referencial individualizante do seu próprio nome “Severino”, acoplando cada vez uma descrição definida mais específica. Sendo infeliz na tentativa de fazer um uso referencial do seu próprio nome, o personagem narrador desiste e começa a fazer um uso atributivo, visto que “somos muitos Severinos”.

 Longe de oferecer uma interpretação definitiva ao papel do nome “Severino” no poema de Cabral de Melo Neto, tal abordagem donnellaniana se depara com alguns problemas. Que tipo de referência tem um nome ficcional, se é que tem? Se a distinção de Donnellan entre uso atributivo e referencial é, em geral, entendida como uma distinção pragmática – visto que está associada à intenção do falante – o que significa pragmática de um personagem que sequer existe no mundo real? Em que sentido o nome próprio “Severino” em seu uso atributivo não se torna um nome comum, borrando a distinção abismal entre indivíduo e propriedade presente em toda filosofia da linguagem analítica? São essas e outras indagações concernentes à filosofia da linguagem que uma reflexão sobre o riquíssimo poema “Morte e Vida Severina” pode nos fornecer. Assista no YouTube.

Cezar Mortari  (28/09/2020)

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

O que são lógicas modais?

Esta é uma palestra introdutória sobre lógicas modais. Após mencionar motivações que levaram ao surgimento desse tipo de lógica, apresentaremos uma linguagem modal básica, modelos relacionais e falaremos um pouco sobre lógicas modais normais. Para encerrar, apresentaremos alguns sistemas não normais de lógica modal e breves noções de semântica de vizinhanças. Assista no YouTube.