A Coreia do Sul ganhou grande destaque mundial em suas ações de combate a pandemia da Covid-19, o que fez o país se consolidar como um modelo de referência a ser seguido. O primeiro caso confirmado do país foi registrado em 20 de janeiro de 2020, na cidade de Daegu. Desse modo, uma onda de novos casos começou a se espalhar por essa região e posteriormente foi descoberto que esses casos iniciais estavam ligados a um grupo de pessoas de uma seita religiosa. Após observarem o aumento do número de contaminados, o Ministério da Saúde sul-coreano e o Centro de Controle e Prevenção da Coreia do Sul (KCDC) elaboraram uma série de medidas a serem implementadas para impedir que o vírus se disseminasse para outras regiões do país. Essas medidas obtiveram grande êxito, fazendo o país achatar a curva da doença e registrar casos diários de apenas um dígito, até o final do mês de abril.
Porém, no mês de maio, os casos diários começaram a ultrapassar a marca de um dígito, principalmente na capital do país, Seul e seus arredores, alertando as autoridades de saúde para uma possível segunda onda de novos casos, em razão da reabertura da economia, realizada no final do mês de abril. Dessa maneira, esse surto de novos casos tiveram início na região de Itaewon, que é conhecida pela presença de casas noturnas, bares e restaurantes. Tais casos começaram a ser conectados a um homem com diagnóstico positivo da doença, que esteve presente em dois bares dessa região, fazendo com que mais de 28 pessoas fossem contaminadas pelo vírus. Após esses episódios, novos casos foram ligados a uma empresa de tecnologia com condições insalubres, a uma igreja perto de Seul, assim como outros diagnósticos positivos foram associados a um grupo de idosos vendedores ambulantes. Sendo assim, em meados do mês de junho, as autoridades de saúde confirmaram que o país está atravessando uma segunda onda de novos casos. Apesar do aumento do número de casos, eles permaneceram baixos. Contudo, no dia 25 de julho, um registro de 113 novos casos colocaram as autoridades de saúde em grande alerta, sendo que desde o início de abril os casos diários não ultrapassavam a marca de 100. Diante disso, a Coreia do Sul conseguiu solucionar essa situação através de suas medidas sanitárias, fazendo com que o país atingisse novamente a marca de dois dígitos no mês de agosto. Segundo dados do Centro de Controle e Prevenção da Coreia do Sul ( KCDC), no dia 11 de agosto o país tinha registrado apenas 34 novos casos diários.
Entretanto, no dia 13 de agosto, o país sul-coreano tinha registrado 103 novos casos diários, que começaram a aumentar novamente sem sinais de desaceleração, fazendo com que a Coreia do Sul continue a registrar diariamente casos de três dígitos. De acordo com o KCDC, foram registrados 324 novos casos diários no dia 21/08/2020. A maioria dessa nova onda de infecções está concentrada na capital do país, Seul e cidades próximas, em razão da atuação da igreja Sarang Jeil, na qual mais de 623 contaminações foram conectadas a essa instituição religiosa, com base em dados divulgados pelo KCDC. Ademais, outros casos foram ligados a um comício antigoverno realizado no dia 15 de agosto, no qual alguns membros da Sarang Jeil estiveram presentes. Devido a esse ocorrido, as autoridades de saúde estão enfrentando dificuldades em rastrear possíveis infectados, sendo que alguns viajaram de Seul para outras cidades. Além disso, centenas de membros dessa igreja se recusaram a ser testados e para agravar a situação, essa instituição religiosa forneceu uma lista incorreta sobre seus membros para as autoridades sanitárias. Além do mais, segundo as autoridades de saúde, novos casos estão surgindo em pelo menos 16 principais cidades do território sul-coreano. Sendo assim, com o crescente aumento de novas infecções, o governo está alertando para que os cidadãos da capital e cidades dos arredores não realizem viagens para outras regiões do país em um período de duas semanas, a fim de conter o avanço do vírus.
Dentre as medidas sanitárias adotadas, O Ministério da Saúde e Centro de Controle e Prevenção da Coreia do Sul (KCDC) desenvolveram um Kit de teste para Covid-19 no final de janeiro, e posteriormente, no mês de fevereiro, se iniciou uma grande testagem em massa da população em uma parceria com empresas público-privadas. As autoridades de saúde também recomendaram o distanciamento social voluntário, medida que os sul-coreanos acataram e que contribuiu para a diminuição do número de casos nos primeiros meses da pandemia , demonstrando o senso do bem estar coletivo da população sul-coreana. Outras medidas adotadas foram o uso de máscaras de proteção facial, assim como o fechamento de escolas, bibliotecas e instalações de idosos. Uma das particularidades do país no combate à doença, é o uso de tecnologias, no intuito de identificar e rastrear com quem os infectados tiveram contanto. Esse rastreamento é feito através de câmeras de segurança, registros de cartões de crédito, dados celulares e aplicativos de GPS. As medidas mais drásticas são realizadas para pacientes que apresentem sintomas leves da doença. Essas pessoas devem realizar a quarentena obrigatória e instalar um aplicativo nos telefones celulares para alertarem as autoridades responsáveis caso descumpram o isolamento social.
Com o agravamento da pandemia no mês de agosto, o governo sul-coreano determinou que novas medidas sanitárias teriam que ser cumpridas, especialmente em Seul, na qual o vírus demonstrava estar saindo fora de controle das autoridades de saúde. Reuniões internas de 50 ou mais pessoas e aglomerações ao ar livre de 100 ou mais indivíduos foram banidas. Além disso, estabelecimentos de Karaokê , boates, cafés e buffets foram ordenados a fecharem as portas novamente. Da mesma maneira, ficou determinado que bibliotecas públicas, museus e galerias suspendessem suas atividades. Outra medida sanitária imposta foi a proibição de eventos esportivos com plateias. Preocupados com a piora do situação, a Coreia do Sul aumentou o nível de distanciamento social em Seul e na província de Gyeonngi de 1 para nível 2. Caso o nível de distanciamento fosse elevado para 3 nas próximas semanas, aglomerações de 10 ou mais pessoas seriam impedidas e o ensino presencial em escolas deveria ser suspenso e retomado de forma online. Após a implementação dessas medidas mais restritivas, o país parece estar conseguindo retomar o controle sobre o vírus, em decorrência da grande queda de números de casos confirmados no início e meados de setembro. De acordo com dados do KCDC, os novos casos confirmados estão ficando abaixo de 200, pelo 13º dia consecutivo. No dia 15 de setembro, foram registrados 106 novos casos, uma grande diferença em relação aos casos diários do mês de agosto.
Outro problema que o país enfrentou em agosto foi uma convocação de uma greve geral de médicos , internos e residentes. Esses profissionais de saúde protestaram contra a decisão do governo sul-coreano de implementar uma reforma no setor médico, como aumentar as cotas de admissão em faculdades de medicina, além da criação de novas escolas de medicina nas províncias, especialmente em áreas rurais. Caso o governo se recusasse em aceitar suas reivindicações, a Associação Médica Coreana (KMA) havia informado que os médicos de todo o país entrariam em greve, sendo que alguns desses profissionais já haviam aderido a esse protesto desde o dia 21 de agosto. Dessa maneira, esses profissionais confirmaram que pretendiam começar uma greve nacional de 3 dias, começando no dia 26 de agosto, no intuito do governo acatar as suas demandas. Posteriormente, a greve se estendeu por um período maior, acarretando em uma grande fragmentação da opinião pública acerca desse tópico, além do posicionamento de repúdio do governo a esses protestos. Porém , no dia 04 de setembro, foi anunciado que o governo e o setor médico conseguiram chegar a um acordo, determinando que os planos de reforma na esfera médica fiquem em um ponto de espera. Sendo assim, ficou definido que quando a situação da pandemia der sinais de uma alta desaceleração no território, o setor médico e o governo retomarão essas discussões novamente, no intuito de chegarem a um consenso a respeito desses planos de reforma.
O mês de setembro representou um cenário mais estável no país, em virtude das novas medidas sanitárias implementadas para conter a crise. No dia 25 de setembro, o governo sul-coreano estendeu o nível 2 de distanciamento social por todo o território. Essas novas medidas de isolamento social devem vigorar até o dia 11 de outubro. Tais medidas foram colocadas em prática em decorrência do feriado Chuseok, o equivalente ao feriado de ação de graças norte-americano. Esse feriado teve início no dia 30 de setembro e teve seu término no dia 4 de outubro. As autoridades sanitárias recomendaram aos cidadãos para evitarem viagens para outras cidades do país, visto que é bem comum visitar os familiares de outras regiões durante a comemoração desse feriado. Apesar das recomendações, era esperado que quase um 1 milhão de cidadãos viajassem durante o Chuseok, de acordo com dados da Corporação de Aeroportos da Coreia (KAC). Em decorrência disso, as autoridades de saúde estão em um estado de grande alerta sobre como o chuseok vai impactar a crise sanitária, alguns admitiram a possiblidade de ocorrer um aumento no número de infecções, em virtude dos deslocamentos realizados durante o feriado e também devido que no dia 30 de setembro foram registrados 114 novos casos confirmados, fazendo com que o país atingisse novamente a preocupante marca de três dígitos. Apesar desse agravante, desde o início do feriado os registros de casos diários estão estáveis em dois dígitos. Dessa maneira, no dia 05 de outubro, o país registrou 73 casos, de acordo com o KCDC, mantendo a estabilidade de casos de dois dígitos pelo 5 dia consecutivo.
Em outubro, A Coreia do Sul presenciou novamente o aumento do número de infecções, em decorrência do relaxamento de medidas de distanciamento social, chegando a atingir novamente a marca de três dígitos de infecções diárias. No dia 12 de outubro, o governo sul-coreano abaixou o nível de distanciamento social para o nível 1, ou seja, o nível com menor restrições. Desde então novos locais estão se tornando epicentros de novas contaminações, como casas de repousos, hospitais, reuniões sociais, escolas e saunas. Segundo dados da Agência Coreana de Controle e Prevenção de Doenças (KDCA), no dia 29 de outubro foram registrados 125 casos conformados da COVID-19. Ademais, com a chegada da temporada da influenza, as autoridades de saúde estão preocupadas em ter que lidar com duas crises sanitárias simultaneamente. Para piorar a situação, a vacina contra a influenza, oferecida pelo governo, está sobre forte suspeita de estar causando mortes, especialmente em idosos. De acordo com um levantamento feito em 3 de novembro, pela Agência de Saúde Pública da Coreia do Sul, cerca de 88 pessoas morreram após a aplicação da vacina. Porém, as autoridades sanitárias afirmam que não existe nenhuma ligação da aplicação da vacina com os subsequentes óbitos. Esse acontecimento tem provocado uma grande desconfiança da população sul-coreana em relação a vacina, sendo que muitos cidadãos estão se recusando a serem vacinados ou então estão procurando vacinas estrangeiras que cumpram a mesma função. Para acalmar os ânimos da população e incentivar a campanha de vacinação, o Ministro da Saúde, Park Neung-hoo, no dia 27 de outubro, foi visto recebendo a aplicação da vacina. Contudo, as investigações sobre a imunização continuam e os cidadãos se demonstram ainda resistentes acerca da eficácia da vacina nacional.
A chegada do Halloween foi outro motivo de alerta para as autoridades de saúde, especialmente em virtude do aumento de infecções. Sendo assim, boates e bares na região de Seul se ofereceram voluntariamente para fechar suas portas desde o dia 28 de outubro até 3 de novembro, a fim de frear os crescentes números de novos casos. Apesar do constante estado de alerta das autoridades sanitárias e preocupações em como o Halloween irá afetar a crise da COVID-19, o dia 03 de novembro marcou o segundo dia consecutivo em que o país se manteve constante na marca de dois dígitos. Segundo o KCDA, a Coreia do Sul registrou um total de 75 casos nas últimas 24 horas.
Em novembro, a crise sanitária se agravou a enormes proporções pelo país. O descontrole da pandemia se concretizou em razão da temporada de inverno, além da flexibilização de medidas de distanciamento social, acarretando na 3º onda da crise da COVID-19 na nação, gerando a intensificação de vírus respiratórios propiciados pela temporada de inverno, juntamente a fragilização do sistema imunológico da população. Desse modo, dias após o Halloween, especificamente no dia 2 de novembro, o governo sul coreano implementou um novo esquema de isolamento social no país, dividindo-o em cinco níveis, sendo eles nível 1, 1.5, 2, 2.5 e 3. O nível 1 representa o menor grau de restrições. Porém, o nível 3 representa a adoção de medidas extremas, podendo ocasionar um Lockdown em escala nacional. A razão para esse novo sistema se deu ao fato de o governo procurar um novo equilíbrio entre saúde e economia.
Sendo assim, desde o dia 09 de novembro, a nação sul coreana vem presenciando a escalada cada vez maior de novas infecções de três dígitos, em decorrência da rápida disseminação da COVID-19. Esse cenário caótico vem persistindo até o atual mês de dezembro e não demonstra sinais de desaceleração, fazendo com que o país atinja a marca de quase 900 casos confirmados diários, colocando um grande alerta na possibilidade de colapso do sistema de saúde sul coreano. De acordo com dados da KCDA, a Coreia do Sul registrou um total de 880 novas infecções no dia 15 de dezembro. Além disso, esse meio instável está impactando a grandes proporções a saúde psicológica dos profissionais de saúde e epidemiologistas do país, que se encontram a beira da exaustão física e emocional, em virtude das grandes pressões que a crise sanitária está impondo a esses profissionais. Assim sendo, o governo sul coreano precisou efetivar novas medidas restritivas pelo país, a fim de conter o avanço do vírus.
Entre as medidas, o governo decretou nível de distanciamento 2.5 em Seul, onde 75% dos casos estão localizados e na qual a situação está mais alarmante. As demais regiões do país encontram-se no nível 2. Ademais, o governo e autoridades de saúde vem pedindo a colaboração da população para realizarem as celebrações de natal e ano novo de forma online, a fim de contribuírem para o fortalecimento das medidas de distanciamento social. Além disso, as autoridades de saúde estão procurando intensificar o máximo que conseguirem a testagem em massa da população de forma gratuita. Para isso, novos centros de testagem estão sendo em mais de 150 lugares na capital do país, especialmente em setores universitários e na estação ferroviária de Seul. Outras medidas restritivas incluem a redução do transporte público em Seul em horários noturnos, além da redução do horário de estabelecimentos comerciais até as 21:00, incluindo lojas, cafés e karaokês. Da mesma maneira, tais medidas se aplicam a teatros, bibliotecas e repatriações públicas.
Dentre as medidas econômicas adotadas, o governo sul-coreano aprovou um pacote de ajuda econômica para bancos e empresas, da mesma maneira ajuda a trabalhadores para não serem despedidos, oferecendo 90% dos salários dos trabalhadores que estão em isolamento social até o mês de junho. O Banco Central sul-coreano irá fornecer liquidez sem limites a entidades financeiras com o objetivo de reduzir o impacto econômico. No setor do turismo, a Coreia do Sul não impediu a entrada de estrangeiros, mas todo estrangeiro que desembarca no país, principalmente os que chegam de áreas de risco, precisam se submeter a testagem de temperatura e realizar uma quarentena obrigatória em um período de 15 dias. Para reduzir o impacto econômico nas atividades de lazer após a reabertura da economia, estabelecimentos como salas de concerto e ginásios esportivos devem registrar seus clientes com códigos QR, para serem facilmente localizados através de seus telefones celulares, contribuindo para a prevenção de novos casos. No dia 14 de Julho, o Ministério das Finanças e Economia sul-coreano anunciou um pacote chamado " New Deal" , no valor de US$ 133 bilhões para o estímulo e reforma da economia do país. Esse pacote conta com uma parceria de recursos do setor privado para o investimento em novas indústrias, no intuito de criar 1,9 milhões de novos empregos até 2025.
Após a realização dessas medidas e a reabertura da economia em maio, a Coreia do Sul vem enfrentando grandes divergências nos seus diferentes setores. O Ministério da saúde e o Centro de Controle e Prevenção da Coreia do Sul (KCDC) estão enfrentando grandes dificuldades em rastrear novos infectados, em razão da diminuição do distanciamento social e reabertura de serviços. O Primeiro Ministro sul-coreano e oficiais do governo estão fazendo de tudo para evitarem regras de distanciamento social mais rígidas, como aumentar o nível de distanciamento social para 3, com o receio de prejudicar a frágil economia sul-coreana. Após a reabertura gradual de outros serviços, principalmente as escolas entre o mês de maio e junho, o país vem passando por grandes momentos de turbulência, principalmente no mês de novembro e o atual mês dezembro. Sendo assim, com a temporada de inverno, as divergências apresentadas entre autoridades de saúde e o governo, e o completo descontrole da pandemia em escala nacional, é necessário que esses dois órgãos cheguem em consenso, a fim de planejarem e adotarem em conjunto as melhores estratégias para não colocar em risco todo o êxito que o país obteve na batalha contra a Covid-19. Até a data de 16/12/2020, a Coreia do Sul registrava 45.442 casos confirmados, 612 mortes e 32.947 recuperados.
Pedro Henrique Santos Chaves é estudante do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Goiás, possui interesse nas áreas de Políticas Públicas, História mundial e o crescente processo de Globalização.