A abordagem sueca possui várias explicações e foi definida pela autoridade de saúde, com a principal atuação de Anders Tegnell, epidemiologista de 64 anos, responsável pela estratégia da Suécia contra o coronavírus, embora tenha registrado o maior número de mortes no primeiro semestre de 2020 em 150 anos, de acordo com o Escritório de Estatísticas do país. Entre as justificativas para as medidas adotadas está o fato de que na Suécia há muitas pessoas vivendo sozinhas e há menos contato entre gerações do que em países como Itália ou Espanha: mais de metade dos lares suecos são compostos por apenas uma pessoa, a maior proporção da Europa, segundo dados do Eurostat citados pela emissora britânica BBC (Público, 2020).
Acerca das medidas sanitárias, as pessoas de mais de 70 anos e os grupos de risco receberam ordens de evitar o contato com outras pessoas, e as instituições de educação superior tiveram a recomendação de realizar as classes à distância. Entre as medidas mais estritas, inicialmente encontrava-se a proibição das reuniões com mais de 50 pessoas - número que ao longo dos meses iria sofrer alterações conforme a situação do país - e as visitas aos lares dos idosos (Correio Braziliense, 2020). Além disso, no sistema de saúde só são testados os que têm sintomas tão fortes que procuram tratamento hospitalar, ou residentes em lares de idosos que apresentem sintomas, diz a revista Foreign Policy (Público, 2020).
Já no âmbito econômico, a Suécia adotou medidas econômicas para reduzir o custo das licenças médicas, recomendou o teletrabalho e o isolamento ao menor sintoma do novo coronavírus, contudo, os restaurantes e as escolas primárias continuam abertas, e o centro de Estocolmo, mesmo com menos pessoas do que o habitual, está longe de ser uma cidade fantasma (Correio Braziliense, 2020). “[...] O governo quer reduzir as consequências econômicas e proteger nossas indústrias com diferentes pacotes de estímulos do Ministério das Finanças ", disse à BBC Maja Fjaestad, vice-ministra da Saúde da Suécia. Enquanto a indústria do turismo estava, no início de maio, completamente paralisada há semanas em toda a Europa Ocidental, a Suécia e suas estações de esqui permaneciam totalmente operacionais e abertas ao público (BBC, 2020). A estratégia da Suécia de não impor a grande parte da sociedade medidas de isolamento social teve, de início, um grande apoio da população (Terra, 2020), mas não deixa de gerar críticas no plano interno e, principalmente, em nível internacional. O governo rejeita, porém, as acusações de passividade (Estado de Minas, 2020).
Joacim Rocklöv, professor de epidemiologia e saúde pública na Universidade de Umea, no nordeste da Suécia, diz acreditar que a estratégia do governo "não é prudente". "Acho que devemos aprender com a experiência de outros países, mas não aprendemos lições do que está acontecendo na Itália e na Espanha. Devemos aprender com eles, ser mais rigorosos na implementação (de medidas) e garantir que isso não se transforme em uma catástrofe de saúde pública.", em entrevista à BBC Mundo. Mas havia também fortes argumentos a favor da estratégia sueca, pondera o cientista Paul Franks: “A pressão psicológica exercida sobre as pessoas em quarentena pode ser considerável. Os efeitos da restrição intensiva da liberdade de circulação de pessoas também diminuem ao longo do tempo, à medida em que a desobediência social aumenta” (UOL, 2020).
Com o passar do tempo as consequências dessa série de medidas adotadas pela Suécia apareceram. A decisão do país de não impor um bloqueio mais duro em resposta à pandemia da covid-19 resultou em mais mortes que o esperado, e no dia três de junho de 2020 Tegnell disse a uma rádio sueca que o país poderia ter feito mais do que foi feito desde o início da pandemia, apesar de não desqualificar totalmente a estratégia adotada (Terra, 2020). Annika Linde, uma epidemiologista sueca que já trabalhou como conselheira do governo, criticou a resposta da Suécia à pandemia, dizendo que ela deveria ter se concentrado em três eixos: quarentena precoce, maior proteção dos lares de idosos e maior quantidade de testes intensivos e monitoramento em áreas de surtos (Terra, 2020). Quanto aos aspectos econômicos da pandemia, mesmo com o impedimento de fechamento das empresas, a Suécia enfrenta uma crise econômica. O PIB do país caiu cerca 7%, segundo a Bloomberg. O número é semelhante aos de outros membros da União Europeia, muitos dos quais implementaram medidas de quarentena muito mais drásticas (Canaltech, 2020).
Em uma montanha russa de estatísticas, o cenário foi piorando na passagem entre os meses setembro e outubro, que contabilizou o maior número de casos desde abril (Público, 2020). Assim sendo, foram decretadas novas regras para familiares de pessoas com covid-19 (como a maioria da resposta à pandemia na Suécia, não havia penalização para quem não cumprisse: pessoas que vivam com alguém infectado deviam então ficar em isolamento cinco dias e fazer depois um teste (Público, 2020), tendo como exceção as crianças, que podem continuar a ir à escola. Esse aumento na Suécia parecia estar diretamente relacionado com o aumento das celebrações entre os jovens (RFI, 2020).
Na última quinzena de novembro os números continuavam a subir e os leitos de terapia intensiva estavam em grande parte ocupados. Assim sendo, com a constatação de que a imunidade de rebanho ainda era uma possibilidade destoante da realidade, mais regras foram instaladas, por exemplo, o número de pessoas permitidas em eventos públicos teve uma redução drástica, de 300 para 8. Como consequência dessa situação caótica, houve uma significativa alteração no discurso político das autoridades suecas, reconhecendo que as medidas adotadas não foram tão brilhantes quanto era imaginado: "Vai piorar. Cumpra o seu dever e assuma a responsabilidade de impedir a propagação da infecção. Vou dizer de novo. Vai piorar. Cumpra o seu dever e assuma a responsabilidade de impedir a propagação da infecção", afirmou Stefan Lofven, primeiro-ministro do país (Folha de S.Paulo, 2020).
Um relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) realizado nesse período apontou que a Suécia estava entre as nações mais atingidas na Europa, considerando as taxas relativas de mortalidade e casos da Covid-19 e os pares na redução da taxa de transmissão (O Globo, 2020).
Ana Laura Morais faz parte da turma 8 do curso de Relações Internacionais da UFG. Tem um especial interesse em política, história, socioambientalismo e direitos humanos, principalmente acerca de movimentos sociais.