No início de março, a Covid-19 chegou oficialmente a Portugal através de dois portugueses recém-chegados da Itália. No mesmo mês, o país começou a efetivar um plano de contenção da transmissão do vírus, tanto nos serviços públicos quanto nos privados. Alguns hospitais da cidade do Porto começaram a ter dificuldades com casos suspeitos e o país teve que abrir novas unidades para que as pessoas pudessem ser atendidas.
Aos trabalhadores que tiveram que entrar em quarentena foi assegurado o direito de receberem integralmente seus salários durante o período de duração da quarentena, ou seja, 14 dias. Logo, foi anunciada a disponibilização de uma linha de crédito às empresas afetadas, no valor inicial de 100 milhões de euros.
Um dos setores mais afetados pela pandemia foi o de turismo. A TAP Air Portugal reduziu mil voos nos meses de março e abril e suspendeu investimentos. Sendo a única companhia aérea, naquele momento, confiável para fazer viagens no trecho Brasil - Portugal, a frequência de viagens entre os dois países pela TAP foi reduzida a uma vez por mês entre os meses de abril a junho.
Universidades e Institutos logo começaram a ser fechadas. A medida começou pela região norte, na Universidade de Porto e do Minho, mas logo Universidade de Lisboa e de Coimbra também decidiram por suspender as atividades. Ainda em março foram fechadas as escolas, bares e restrições a restaurantes e centros comerciais.
Logo também foram fechados espaços de atividades que poderiam causar aglomeração, como museus e teatros, assim como jogos esportivos e o país entra em estado de alerta com proteção civil. Ainda em março a Ministra da saúde, Marta Temido, afirmou que Portugal entrou em uma fase de crescimento exponencial da epidemia e governo determina o isolamento social, fechando a fronteira terrestre com a Espanha, permitindo somente entrada de cargas e circulação de trabalhadores.
Muitos se perguntavam, particularmente nos jornais espanhóis, como o vizinho Portugal conseguia controlar a pandemia enquanto a Espanha se encontrava em um surto ainda descontrolado. Este país vizinho a Portugal contou com grande número de contaminados e mortos; em contrapartida, a região do Alentejo, mesmo tendo proximidade com a Espanha, foi a última região portuguesa a ser atingida pela Covid-19. Além da suspensão de voos para Itália, foram adotadas medidas sanitárias mais rígidas nos aeroportos e rodoviárias, assim como a redução da frota de ônibus em circulação entre cidades portuguesas.
Em maio, começou a ser implantado o “Plano Gradual de Desconfinamento” com reabertura de estabelecimentos e os transportes começando a normalizar o fluxo, mas com uso de máscaras obrigatório e regras rígidas anti-aglomeração e de higiene. Porém, em junho o aumento do número de casos em Lisboa preocupou e comprometeu a reabertura do país, o que levou à prorrogação das restrições na capital, principalmente em bairros mais periféricos que apresentam maiores limitações de higiene e de distanciamento social.
Em julho, Portugal chegou ao pico do número de mortes e a Ministra da Saúde admitiu que o país tem fragilidades no combate à Covid-19, pedindo à população que se mantivesse resguardada para que a doença não se propagasse. Ainda em julho, o país se viu categorizado como destino inseguro pelo Reino Unido, pois estavam com alto número de novos contágios por 100.000 habitantes. Foi decretado isolamento obrigatório em 19 bairros de Lisboa, que é o centro do problema em Portugal. Além do Reino Unido, Áustria, República Tcheca, Bulgária, Finlândia e Dinamarca também restringiram pessoas provenientes de Portugal. No final de julho, o país registrou a menor taxa de novos casos desde maio, apesar disso o governo estendeu o isolamento até o final de agosto.
Apesar de apresentar fragilidades, as medidas rápidas tomadas por Portugal visando a contenção do vírus e a obediência da população portuguesa ao que as autoridades estavam orientando foram fatores essenciais para que o país conseguisse lidar, na maior parte do tempo, de forma satisfatória com a pandemia.
Em Agosto, as notícias indicaram que mesmo conseguindo se recompor e já tendo ultrapassado a marca dos dois milhões de testes, segundo a Direção-geral da Saúde, o número de casos aumentou, apresentando o total de 58.012 casos e 41.961 recuperados e 1822 óbitos. Mesmo neste cenário a Ministra da Saúde afirmou que a situação do país era estável e que ainda não haveria possibilidade de segunda onda de surto, sendo Lisboa e Vale do Tejo a região com mais novos casos diários, seguida da região norte, Alentejo e Algarve.
Não obstante, em setembro, Portugal entra numa terceira fase de crescimento. Este foi o mês com maior número de infectados, porém com a menor taxa de mortalidade. Neste mês, Portugal retomou às restrições e entrou novamente em estado de contingência que a princípio duraria até outubro.
Essas medidas foram postas devido a um aumento do contágio diário da doença. Vale lembrar que é em setembro que começa ano letivo em Portugal, o que leva ao aumento das pessoas em circulação, principalmente nos transportes,. Somado à isso, a Organização Mundial da Saúde já esperava um aumento no número de mortes por Covid-19 na Europa durante os meses de outubro e novembro.
A crise gerada pela pandemia segue afetando o comercio, pois apesar de muitos estabelecimentos estarem abertos não é há pessoas circulando nas ruas para consumirem e alguns hospitais apresentam falta número de profissionais suficiente para atender à demanda principalmente na região Norte, onde a pressão nos hospitais é maior.
Em outubro, Portugal alcançou novo recorde de número de infectados e de mortes, o que fez o país manter o estado de contingência. O governo também decidiu ampliar a proibição de festivais e eventos semelhantes até o fim do ano e como houve surtos em algumas cidades do Alentejo, escolas foram fechadas na região de Évora e serão feitas, temporariamente, em remoto. Entre o final de outubro e o início de novembro foi proibida a circulação entre conselhos.
Jéssica Pereira de Morais possui graduação em Relações Internacionais pela Universidade Católica de Brasília (2015), mestranda em Economia pela Universidade de Évora. Selecionada na XIV edição do Programa de Estágios nos serviços internos e externos do Ministério dos Negócios Estrangeiros para atuar na Embaixada de Portugal na Tailândia. Atualmente, é servidora pública na Universidade Federal de Goiás.