Sendo uma ilha na Oceania (ver mapa abaixo) com menos território e menos população que países mais de dez vezes maiores nesses quesitos como os Estados Unidos ou o Brasil, a Nova Zelândia tinha condições geográficas favoráveis ou para um desastre pandêmico, ou para se tornar um exemplo no combate ao vírus para o resto do mundo. Veremos a seguir que, graças a uma boa administração de crise, a Nova Zelândia seguiu o segundo caminho e virou um dos maiores exemplos (se não o maior) de sucesso no enfrentamento a corrente pandemia de COVID-19 de 2020.
Tendo o primeiro caso reportado da doença em 28 de fevereiro de 2020, através de uma senhora neozelandesa que esteve no Irã, o governo da Nova Zelândia logo pôs em prática o plano que eles já tinham preparado desde janeiro para quando a doença chegasse ao país. Nas palavras do ministro da saúde David Clark “nós estamos bem preparados porque tivemos tempo para nos preparar” (tradução minha). Assim, o governo neozelandês colocou a senhora que havia acabado de chegar do Irã de quarentena e impôs restrições de viagens do Irã para a Nova Zelândia e vice-versa, visto que os casos da doença no país do Oriente Médio estavam aumentando muito à época. É importante apontar que, antes mesmo da doença chegar ao país, em 2 de fevereiro de 2020, a Nova Zelândia já tinha imposto restrições de viagem entre a China e o país oceânico, visto que o epicentro da então epidemia era à época o país asiático.
As medidas de restrições de viagens do Irã e da China para a Nova Zelândia, contudo, foram criticadas por membros da Universidade de Auckland. Segundo alguns professores desta universidade, eles esperavam o ingresso de intercambistas chineses na instituição naquele ano e, portanto, desaprovavam as medidas de restrições do governo neozelandês. Eles também argumentaram que a decisão do ministério da saúde do país foi puramente política, no que o ministro David Clark negou ao dizer que suas decisões foram “baseadas em conselhos de especialistas em saúde” (tradução minha).
Em março, devido à progressão do vírus, o governo neozelandês tomou uma série de medidas progressivamente mais restritivas contra aglomerações em público e mobilidade para fora do país. Em 20 de março, a Primeira-Ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, anunciou a criação de um sistema de alerta de emergência especialmente para a COVID-19 com 4 (quatro) níveis sendo o primeiro nível de baixo risco de espalhamento da doença e de medidas de contingência e o quarto sendo o nível de mais alto risco e com medidas emergenciais tais como um lockdown. Nesse mesmo dia, Ardern anunciou que o país estava no nível 2 de alerta, significando que aglomerações com mais de 500 pessoas estavam proibidas e pessoas com mais de 70 anos eram altamente aconselhadas a ficar em casa. Ainda neste mesmo discurso, Ardern implorou para as pessoas não espalharem desinformações sobre a doença e pediu para que os cidadãos checassem o site específico do governo neozelandês sobre a COVID-19, no qual teriam “atualizações diárias” (tradução minha).
Já em 25 de março, o alerta subiu para nível 4 em toda a Nova Zelândia e a primeira-ministra Ardern anunciou lockdown no país inteiro, significando que apenas serviços essenciais podiam ficar abertos, as restrições de viagem estavam muito mais severas, os serviços de saúde teriam prioridade máxima de alocação de recursos a partir dali, dentre outras medidas restritivas. O lockdown esteve em efeito até pouco depois de abril, o que significa que a Nova Zelândia esteve em lockdown completo por mais de um mês.
As medidas de restrição foram levadas tão a sério pelo governo, que 300 pessoas foram pegas em flagrante pela polícia violando regras do lockdown. Dessas 300, 16 enfrentariam consequências legais pela violação das medidas restritivas do governo.
Em 3 de junho de 2020, Jacinda Ardern anunciou que o alerta da pandemia estava abaixo do nível 1, o que significa que ainda haveria entrada controlada nas fronteiras do país oceânico, mas que muitos negócios já poderiam voltar a operar normalmente. Além disso, a primeira-ministra neozelandesa também reforçou que medidas preventivas devem continuar a ser tomadas pela população, tais como: lavar sempre as mãos, ficar em casa se sentir sintomas parecidos com gripe, etc.
Até outubro de 2020, a Nova Zelândia conta com 1864 casos ao todo e 25 mortes desde o primeiro caso de COVID-19 no país em fevereiro deste ano. Com a quantidade diária de novos casos estando próxima de zero há meses, o país é considerado exitoso no combate ao vírus e, por mais que as restrições mais severas não estejam mais em curso, o governo neozelandês continua atualizando diariamente a sessão dedicada a COVID-19 no site do ministério da saúde neozelandês.
Por mais que o governo do país oceânico venha fazendo de tudo para diminuir os impactos da pandemia ao mesmo tempo em que a combate, a Nova Zelândia ainda assim terá alguns desafios a superar enquanto a pandemia durar e depois dela, pois, até mesmo sendo um dos maiores exemplos de combate ao vírus (se não o maior), o desemprego aumentou no país para o índice de 5,3%, aumento que só foi visto semelhante durante a crise econômica global de 2009.
Letícia Martins Lima é graduanda do curso de Relações Internacionais pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e possui maior foco/interesse em Política Internacional e Diplomacia, embora as Relações Internacionais como um todo tenham muitos aspectos de seu interesse.