O país diagnosticou o primeiro caso de Covid-19 no dia 21 de fevereiro e desde então o crescimento da doença vinha caindo progressivamente até a casa de um dígito por dia (Veja, 2020), mas a pandemia de Covid-19 afetou diversos setores e acentuou a crise econômica sem precedentes no Líbano, com alta da inflação, restrições draconianas às retiradas de dólares e milhares de pessoas perderam seus empregos ou grande parte de sua renda (Estado de Minas, 2020).
Tudo isso se adiciona à forte pressão que os libaneses sofrem desde outubro, especialmente devido à impossibilidade de acesso às poupanças ou retirar dinheiro de suas contas bancárias, além do fato de que 50% dos libaneses vivem abaixo da linha de pobreza, segundo o Banco Mundial, o que gerou uma grande insatisfação popular e acarretou em uma forte onda de violência e manifestações (UOL, 2020).
O país contava com um dos contágios mais lentos do mundo, adotando uma quarentena ferrenha e proativa. Um primeiro confinamento de um mês foi adotado em meados de março, antes de ser gradualmente suspenso, uma vez que boa parte da população considerava que a pandemia na verdade se tratava de uma conspiração do governo a partir de interesses econômicos. Marwan el-Xahed, um morador da cidade de Tripoli, disse que “Nós não temos coronavírus aqui em Tripoli. Coronavirus é uma heresia.”, quando questionado acerca da sua crença de que tudo havia sido inventado pelo governo (CNN, 2020).
O cenário mudou drasticamente quando o aeroporto de Beirut enfim foi reaberto, em julho, fazendo os números subirem rapidamente (CNN, 2020.). Na sequência, o Líbano presenciou uma espécie de gangorra, impondo quarentenas e toque de recolher quando encontrava um pico de caso e flexibilizando em seguida. Um novo confinamento foi imposto no final de julho, mas durou apenas cinco dias, em razão da explosão no porto da capital que deixou pelo menos 181 mortos e milhares de feridos, no dia quatro de agosto de 2020 (Estado de Minas, 2020).
As autoridades temiam, naquele momento, que o setor da saúde tivesse dificuldades para responder a um novo pico de infecções pelo vírus, especialmente porque alguns hospitais perto do porto foram seriamente danificados, deixando o mundo inteiro em alerta (Estado de Minas, 2020). A explosão acabou por acarretar na ocupação dos hospitais e a destruição de boa parte deles, o que fez eclodir um novo surto da Covid-19 (Exame, 2020).
Diante de um aumento significativo de casos, ainda em agosto o governo libanês impôs um bloqueio e um toque de recolher noturno em todo o país, exceto nas áreas devastadas pela explosão. Mas os protestos do setor privado, já muito afetado após um ano de crise econômica, fizeram com que que as restrições fossem relaxadas uma semana depois (Estado de Minas, 2020).
Um outro agravante da situação - não só do Líbano, mas da grande maioria dos países do Oriente Médio - se trata dos refugiados. No Líbano, mais da metade dos refugiados consultados pelo ACNUR no final de abril relatou ter perdido meios de subsistência, como trabalho diário. Entre os refugiados consultados, 70% relataram que precisavam pular refeições (ACNUR, 2020).
Em novembro as famílias das vítimas da explosão já citada protestam contra o governo, indignadas com a demora nas investigações sobre as causas do incidente. Os parentes das vítimas culpam o “sistema sectário” e sua decorrente elite política pela tragédia. Porém, alegaram confiança de que o judiciário libanês cumprirá seu papel em nome das vítimas, ao emitir uma decisão justa e transparente, reportou a rede libanesa ANN (Monitor do Oriente, 2020).
Entre tantas questões delicadas, outro lockdown foi imposto para o dia 28 de novembro, embora a opinião popular considerasse a posição sem o planejamento necessário, uma vez que o país não se encontra numa situação confortável para suspender trabalhos e adaptar as necessidades da população, uma vez que, "quem tiver suspeitas de estar infectado e desejar fazer o teste sem pagar taxas, muitas vezes tem que esperar até duas semanas para uma vaga nos hospitais", diz Abdelrahman, um dos fundadores do NGO Utopia (Deutsche Welle, 2020).
Objetivando um melhor entendimento do cenário libanês, levanta-se alguns números: de acordo com o Ministério da Saúde, apenas em outubro 42.000 pessoas contraíram o vírus e 277 morreram; no mesmo mês, cerca de 80% dos leitos livres foram ocupados nos hospitais. Além disso, de acordo com a Human Rights Watch (HRW), mais de 55% dos mais de 6 milhões de libaneses vivem na pobreza - o que significa que esse número dobrou em comparação com o ano passado - e, ao mesmo tempo, o preço dos alimentos triplicaram por conta da desvalorização da moeda (Deutsche Welle, 2020).
Ana Laura Morais faz parte da turma 8 do curso de Relações Internacionais da UFG. Tem um especial interesse em política, história, socioambientalismo e direitos humanos, principalmente acerca de movimentos sociais.