Como um dos países mais globalizados e cosmopolitas do mundo, além de próximo do país ponto zero da atual pandemia da COVID-19, o Japão foi o segundo país fora da China a reportar um caso da doença viral. De fato, o país do Leste Asiático reportou seu primeiro caso à 15 de janeiro de 2020, antes mesmo de Xi-Jinping, presidente da China, no dia 25 de janeiro de 2020 ir a público discursar reconhecendo oficialmente a situação epidêmica preocupante partida da província de Wuhan. O infectado do Japão, inclusive, chegava de viagem de Wuhan - China para Kanagawa – Japão.
A resposta do governo central japonês ao primeiro caso de infecção do novo coronavírus foi relativamente rápida, visto que, duas semanas depois do primeiro caso ter sido reportado, o então primeiro-ministro japonês, Shinzō Abe, criou, junto de seus ministros, um gabinete de resposta a então epidemia da COVID-19. A partir dali, o governo japonês passaria a controlar a entrada de cidadãos japoneses retornando de Wuhan e regiões próximas, realizando a testagem em todos nesta condição, mesmo aqueles que não apresentassem sintomas da doença. Esta medida se provou eficiente para conter um rápido espalhamento do vírus até mais ou menos o fim de março, porém se provou difícil de controlar a entrada de novos infectados no Japão quando japoneses começaram a retornar de viagem de países com casos da América e da Europa, segundo o virologista Kawaoka Yoshihiro. Outra importante ação deste gabinete se deu em 27 de fevereiro, quando o premiê japonês requereu o fechamento de todas as escolas do país.
Sendo o país anfitrião da próxima edição dos Jogos Olímpicos internacionais, que deveria ter ocorrido de julho a Agosto de 2020, o Japão, em conjunto do Comitê Olímpico Internacional, decidiu por adiar as Olimpíadas para o verão de 2021. A decisão ocorreu em março, após recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da pressão de atletas de outros países como o Canadá e a Austrália, além de órgãos esportivos de países como Polônia e Alemanha, que afirmaram que não mandariam suas respectivas delegações olímpicas para os jogos caso estes fossem mantidos para Julho de 2020. Nesta situação, o Japão protagonizou uma decisão histórica: nunca antes na história dos Jogos Olímpicos modernos, um país-sede adiou ou cancelou a competição em tempos de paz, o que demonstra mais ainda o caráter histórico da pandemia da COVID-19 e seu grande impacto no mundo inteiro em 2020.
Em abril, Abe declarou estado de emergência nacional no Japão devido à ascensão do número de casos e mortes no país, principalmente na região da Grande Tóquio. Em 25 de maio de 2020, devido à redução no número de novos casos e mortes por COVID-19 no país, Abe retirou o estado de emergência nacional, incluindo Tóquio e Kyoto (as regiões mais afetadas). Contudo, mesmo com o fim do estado emergencial, o ministério da saúde do país asiático continuou a pedir para que a população japonesa adotasse como costume cotidiano medidas de prevenção a COVID-19, tais como: andar sempre de máscara em público, trabalhar remotamente, lavar sempre as mãos e evitar contato com a maioria das pessoas na maior quantidade de tempo possível.
O estado de emergência foi retirado mais rápido do que o previsto muito em razão da economia do país já estar, naquele ponto, sentindo os impactos da pandemia em si. Com isso, o ministério da economia japonês anunciou o direcionamento do equivalente a 40% do PIB do Japão para incentivos econômicos à indústria e ao comércio, já que Abe prometeu proteger empresas e empregos. Justamente por essa aproximação menos severa quanto à pandemia, a popularidade de Abe atingiu uma baixa histórica.
Após o governo japonês afrouxar as restrições no combate a pandemia e os números se manterem estáveis por alguns meses, o Japão viu crescer o número de casos diários da COVID-19 novamente em julho, chegando pela primeira vez desde o início do estado pandêmico em março a 1.000 casos em 24 horas. Além de tudo isto, o primeiro-ministro Shinzo Abe anunciou em agosto a sua renúncia do cargo por razões de saúde. Dentre outras importantes incertezas para o Japão, Abe deixa o cargo em meio a uma alta de casos no país asiático em meio de uma pandemia com fim incerto, e justamente por isso, debaixo de uma chuva de críticas.
Em novembro, os casos no Japão continuam aumentando com experts temendo o que eles chamam de "terceira onda". Uma das causas deste aumento são os incentivos que o governo japonês está dando para o turismo interno, o que causa maior mobilidade entre a população do país e, consequentemente, mais chances de espalhamento do vírus.
Letícia Martins Lima é graduanda do curso de Relações Internacionais pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e possui maior foco/interesse em Política Internacional e Diplomacia, embora as Relações Internacionais como um todo tenham muitos aspectos de seu interesse.